Autoria de Lu Dias Carvalho
O Realismo foi um movimento que surgiu na França em meados do século XIX, tendo como objetivo o afastamento — formal e estilístico — das cenas idealizadas e naturais, assim como da pintura histórica que obedecia aos ditames da arte acadêmica do início do século XIX. Em suma, desejava romper definitivamente com a tradição artística do passado, ao buscar uma arte que deveria ser objetiva em suas representações e referências. Suas sementes foram lançadas quando em Paris, no final da década de 1840, um grupo de artistas, escritores e intelectuais passaram a reunir-se num bar — Brasserie Ander —, onde debatiam os mais variados assuntos, abrangendo desde políticas radicais e questões sociais a tendências artísticas. O local passou a ser chamado de o “Templo do Realismo”, nome que o pintor francês Gustave Courbet viria a usar posteriormente em sua arte.
O desenvolvimento de uma consciência social cada vez maior e de uma crença na democracia e na liberdade individual fez com que revoltas políticas estourassem na metade do século XIX. As ideias fundamentais dos filósofos alemães — Karl Max e Friedrich Engels — que pregavam a igualdade social e a distribuição justa das riquezas, espalharam-se, tornando-se a razão de grande parte da obra realista. Dentre os fatores que contribuíram para que as ideias realistas ganhassem vida estava a situação dos pobres das áreas urbanas e rurais. Eles se viram numa situação de privação e miséria em razão do crescimento descontrolado da população, das inúmeras quebras de safras e do aceleramento da industrialização. Esta junção de fatos acabou gerando como consequência grande instabilidade, resultando na Revolução de fevereiro de 1848 que teve como ganho a garantia do voto universal para os homens, assim como o “direito ao trabalho”. Dentro de tal contexto, os pobres passaram a ter voz na política.
Os pintores realistas aproveitaram-se de tais transformações sociais e políticas para contestarem tudo aquilo que não aceitavam, como o fato de as autoridades artísticas dizerem-lhes tudo o que podiam ou não fazer, ou a presunção de que só um fato importante podia ser algo digno da arte. Também mostraram sua indiferença pelo Romantismo (estilo anterior), ao retratarem pessoas e acontecimentos do dia a dia, usando um estilo de pintura naturalístico, quase fotográfico, tendo como principal objetivo a observação o mais fiel possível. As cenas eram pintadas, na maioria das vezes, em grandes telas com a intenção de dar-lhes a mesma importância conferida às pinturas que representavam grandes eventos históricos. Aos realistas não importava mostrar figuras belas ou feias, mas mostrá-las reais.
O pintor francês Gustave Courbet é tido como o líder do movimento realista, sendo que sua obra intitulada “O Ateliê do Artista” é vista como uma declaração de seus princípios políticos e artísticos. Ao mesmo tempo em que compõe sua obra usando um estilo grandioso, próprio da pintura histórica, aborda uma temática realista ao apresentar seu estúdio onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes sociais. Evidenciava, assim, sua crítica à postura idealizada da arte acadêmica em voga, tanto é que sua tela não foi aceita pelo júri do Salão de Paris de 1855. Em resposta, Courbet construiu um espaço próprio, intitulado “Le Réalisme” que acabou atraindo uma geração mais jovem de artistas parisienses.
Os pintores realistas encontraram no interior rural um lugar propício para suas obras, nas quais retratam principalmente paisagens tristes. As pinturas rurais foram objeto, sobretudo para os artistas da chamada “Escola de Barbizon” que se inspiraram nas cenas pintadas pelo artista inglês John Constantable. Um grupo de pintores sob a liderança de Jean-Baptiste-Camille Corot, Thèodore Rousseau, Jean-François Millet e Charles-François Daubiny criaram essa escola. Eles não só pintaram a natureza como tema principal, como nela inseriram, muitas vezes, personagens, a exemplo de Millet em sua obra “Os Catadores” em que inclui camponeses. Os membros desse grupo tinham em comum, sobretudo, a repulsa pela artificialidade da arte acadêmica. Propunham-se, ao invés de abraçar o academicismo, representar as cenas que viam com o maior realismo possível. Esses artistas foram mais tarde citados pelos impressionistas como inspiração para o novo estilo que criariam — o Impressionismo.
Os críticos que até então conviviam com as formas idealizadas da arte acadêmica achavam tudo aquilo muito bizarro. Para eles, os artistas realistas faziam, na verdade, uma busca deliberada pela feiura. No entanto, os realistas não tinham compromisso com a beleza, mas com a verdade. Transgredir a arte acadêmica à época era tido como um absurdo sob o ponto de vista dos imponentes censores da arte. Achavam, por exemplo, um disparate o tamanho grandioso das pinturas naturalistas que retratavam as cenas rurais que, para eles, tinham apenas a finalidade de transmitir aos cidadãos urbanos certo escapismo. E pior, essas ainda mostravam as condições do trabalho daquela gente, o que, para os conservadores, cheirava perigosamente a socialismo.
A França, ao abraçar um movimento coerente com seus ideais, foi a grande fomentadora do Realismo. As tendências naturalistas, contudo, ainda que em menor escala, ganharam projeção em vários países europeus, como Áustria, Alemanha e Itália, o que possibilitou diferentes graus deste estilo. Em seu contexto, o Realismo também apresentou formas chocantes para a época, sendo vistas pela maior parte dos críticos e público como ofensivas. É fato que alguns artistas realistas tinham por objetivo agredir as ditadoras convenções artísticas, mas também queriam atacar as conveniências sociais que eram, ao mesmo tempo, sociais e artísticas, uma vez que eles tinham compromisso com a realidade. Courbet, por exemplo, ao apresentar sua pintura “As Banhistas” provocou um escarcéu no Salão de Paris de 1853, sendo sua tela vista como ofensa pública. A mesma pressão e crítica sofreu Manet, dez anos depois, com sua tela “Olympia”, uma versão do decantado tema de Vênus.
Obs.: Reforce seus conhecimentos com artigos referentes a este estilo:
Courbet – O ATELIÊ DO ARTISTA
Manet – OLÍMPIA
Millet – AS RESPIGADORAS
Courbet – OS QUEBRADORES DE PEDRA
Teste – A ARTE DO REALISMO
Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha
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