Autoria de Lu Dias Carvalho
O pintor italiano Annibale Carracci (1560-1609), oriundo de Bolonha, foi um dos grandes responsáveis pelo início do período barroco, tendo deixado uma importante contribuição para a pintura. Pertencia a uma família de artistas e estudara a arte de Veneza e a de Correggio. Quando em Roma, o artista viu-se fascinado pelas obras de Rafael Sanzio, sobretudo pela simplicidade e beleza de suas criações, numa época em que os maneiristas tomavam novos rumos.
Uma das obras-primas do artista é o retábulo Pietà que apresenta a Virgem Maria com o filho morto no colo. “Pietà” é uma palavra italiana que significa “piedade”, sendo muito presente na história da arte. Diz respeito à Virgem Maria amparando o corpo sem vida de seu filho no colo. O assunto não tem fontes registradas, mas o que se sabe é que apareceu pela primeira vez em Florença, por volta de 1500, a partir de representações da descida de Cristo da cruz, enfatizando o corpo morto e suas feridas. Tem por objetivo inspirar piedade e tristeza no observador ao ver a dor angustiante de uma mãe (simbolicamente a mãe da humanidade) por seu filho que, segundo a crença cristã, morreu pelos pecados da humanidade, apelando diretamente pela emoção.
Esta obra encontra-se entre as mais belas pinturas do século XVII. O que se sabe com certeza é que foi encomendada pelo cardeal Odoardo Farnese. Não se sabe qual era o seu destino original e tampouco a data precisa em que foi criada. Supõe-se, pelo formato da pintura, que se destinava à devoção particular do responsável pela encomenda, ornando uma capela ou a residência de Farnese. Quanto à data de sua execução, presume-se que tenha sido entre 1598 e 1600. A obra deixou Roma por um tempo, indo para Parma e depois para Nápoles, onde se encontra até os dias de hoje.
A Pietá de Carracci é sem dúvida uma das pinturas mais famosas de seu tempo, como mostram as inúmeras cópias, derivações e transposições de gravuras através dos tempos. Hoje é um verdadeiro cânone da representação da Pietà no período barroco. Antes de executá-la, o artista fez alguns estudos, tendo três deles chegado aos nossos dias, o que permite acompanhar o seu raciocínio na criação de tão belo trabalho. É possível saber que ele modificou a posição do corpo de Cristo na última versão preparatória em relação à primeira, ficando essa bem próxima do resultado final. Na primeira versão a Virgem Maria encontrava-se ajoelhada ao lado do corpo de Jesus que repousava sobre o túmulo.
O quadro é simples, harmonioso e tocante. A Virgem está sentada no chão, tendo parte do corpo de Jesus repousando sobre suas pernas e ventre. A cabeça de Cristo descansa sobre sua mão direita que a ampara ternamente. Seu rosto choroso está voltado para o filho morto, cujas pernas estão estendidas sobre a mortalha branca no chão. Carracci conseguiu repassar, através das feições da Virgem e de sua mão esquerda — retratada num exímio encurtamento — como se perguntasse sobre o porquê de tamanha judiação, repassando muita dor.
A escala monumental das figuras e a composição piramidal repassam a gravidade da morte de Cristo e o grande sofrimento de sua mãe. Um anjo tristonho se debruça sobre o corpo da Virgem e sustenta a mão direita de Jesus Cristo, como se mostrasse a ferida ocasionada pelo prego. À direita da tela está um segundo anjinho, com seu rostinho contristado, que espeta o dedinho na coroa de espinhos de Jesus. Ele olha diretamente para o observador, como se o convidasse a refletir sobre o sofrimento pelo qual passou o Salvador e sobre a dor de sua mãe Maria.
O corpo de Cristo mostra uma beleza apolínea. Seu pé esquerdo, postado à frente do direito, mostra a marca do prego. Em razão de sua postura suas costelas estão visíveis, assim como seus músculos. A pintura carrega um acentuado vigor escu—ltórico. O grupo formado pela Virgem, pelo corpo de Jesus e pelos dois anjos desalentados está próximo ao sepulcro que se encontra aberto. Todos eles, envoltos pela escuridão noturna, repousam sobre a terra pedregosa, só visíveis em razão dos efeitos de luz e das cores de suas vestimentas. Luz e cor agregam à pintura uma atmosfera de grande emoção íntima, lembrando Correggio.
Após presentear Nápoles com esta obra, o cardeal Farnese encomendou outra pintura com o mesmo tema a Carracci e que hoje se encontra no Louvre. Carracci mostra nesta obra a sua habilidade em combinar de forma original o estilo de artistas do passado — Correggio e Michelangelo. A obra acima compartilha várias semelhanças composicionais com a escultura de Michelangelo. Carracci tomou emprestada a composição piramidal, o gesto da Virgem e a fluidez flácida do corpo inanimado de Cristo.
Ficha técnica
Ano: 1599-1600
Dimensões: 156 cm x 149 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Museu de Capodimonte, Nápoles, Itália
Fontes de pesquisa
História da Arte/ E. H. Gombrich
https://it.m.wikipedia.org/wiki/Pietà_(Annibale_Carracci)
https://www.artble.com/artists/annibale_carracci/paintings/pieta
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Lu
Chama a atenção os dois anjos num plano inferior em vez de se situar no alto. Seus olhares não compartilham a cena, o que dá mais força ^à obra. Parece que a presença deles é apenas uma satisfação religiosa.
Antônio
Esta obra de Carracci é extremamente emotiva. Sua Pietà possui uma dignidade tocante. Os anjos reafirmam se tratar de uma obra religiosa.
Abraços,
Lu