Autoria de Lu Dias Carvalho
Aqueles que conseguem fazer você acreditar em absurdos, podem fazê-lo cometer atrocidades. (Voltaire)
Segundo o humanista canadense Steven Pinker, a “Revolução Humanitária partiu da República das Letras”. Ele embasa seu argumento no fato de que, quanto maior for a difusão de ideias e pessoas, menor será o uso da violência, pois é a pluralidade que desmistifica a ignorância e a superstição – amuletos usados pela coação e brutalidade. O mais comum é que – quando instruídas – as pessoas fiquem mais conectadas com a realidade, fazem juízo próprio, não se deixam servir de instrumento para indivíduos inescrupulosos e fazem cair por terra, sobretudo, certas ideias bolorentas e fascistas, tais como:
- mulheres gostam de ser estupradas;
- minorias de outras raças são inferiores;
- minorias étnicas atrasam o país;
- crianças devem ser surradas;
- os homossexuais são degenerados;
- mulheres são inferiores aos homens;
- animais não sentem dor, etc.
Uma crença – qualquer que seja ela – que instiga a selvageria ou, que omissa, aceita-a, pode levar uma pessoa a cometer qualquer tipo de atrocidade, se essa unicamente ali fizer sua fonte de buscas, conforme preconizava Voltaire – escritor e filósofo francês. Contudo, tais mazelas veem-se desmascaradas na pluralidade de ideias. É por isso que o pluralismo é combatido pelos que querem trazer na rédea seus adeptos ou seguidores. É o fato de conhecer outros pontos de vista que leva o indivíduo a ser polivalente, a tornar-se um humano melhor dentro da comunidade em que se insere, comprometido com sua gente e também com o planeta, pois encontra-se imbuído pelo respeito às diferenças.
Sabemos que muitas pessoas, principalmente nos meios político e da grande mídia brasileira, fingem acreditar nisso ou naquilo, apenas para manter-se em evidência dentro de um determinado grupo. No fundo, elas têm plena clareza de que estão erradas, mas sentem-se compensadas economicamente nas suas paróquias de olho no status que o grupo proporciona-lhe. Não significa que não tenham agilidade intelectual para discernir o certo do errado. Nada disso. Elas até mesmo manipulam suas respostas de modo a parecerem coerentes, apostando no fato de que outros possam tomá-las como verdadeiras.
Indivíduos existem que abrem mão de tais “benesses” – ainda que as pudessem ter quando assim o desejassem – para serem verdadeiros, universais, polivantes e plurais. E são esses os grandes contribuintes de um mundo mais humanizado. E, como reflete Steven Pinker, “Essa mentalidade reflexiva pode ser fruto de uma educação aprimorada, e pode ser também fruto da mídia eletrônica”, mas que esta última também seja de boa qualidade, primando pela imparcialidade, coerência e, sobretudo, pelo respeito ao leitor – complemento eu.
A pluralidade de ideais também nos leva a entender que as invenções que tanto têm contribuído para o progresso da humanidade são simbióticas, pois umas dependem das outras. Mais uma vez, faço uso das palavras de Steven Pinker, “Inovadores bem-sucedidos não apenas sobem sobre os ombros de gigantes, como também se engajam em uma maciça pirataria de propriedade intelectual, tomando de empréstimo ideias de uma vasta gama de vertentes tributárias que correm em sua direção. […] O que é verdadeiro para o progresso tecnológico pode ser igualmente válido para o processo moral”.
O fato é que ninguém cria nada sozinho e o fator econômico também é importante para as invenções. Para o acesso à internet – a título de exemplo – é impossível computar as milhares de pessoas que contribuíram para que esse veículo existisse, a começar pelo filósofo grego Tales de Mileto que descobriu a eletricidade estática (alguns séculos a.C.), passando por Benjamin Franklin, inventor da lâmpada (século 18), até a condução de dados através de feixes de luz, fluindo pelas fibras óticas, invenção do físico indiano Narinder Singh Kanpany, no século 20.
O pastor estadunidense Martin Luther King é um exemplo de como o contato com a pluralidade de ideias pode tornar um homem melhor. Além de profundo conhecedor da Bíblia e da teologia ortodoxa, ele também leu teólogos tidos como renegados (Walter Rauchenbusch, por exemplo), e filósofos como Platão, Aristóteles, Rousseau, Hobbes, Bentham, Mill, Locke, Nietzsche, etc. Ele dizia: “Todos esses grandes mestres estimularam meu pensamento – tal como eram – e, mesmo encontrando coisas a questionar em cada um deles, ainda assim aprendi enormemente com seu estudo.”. A leitura sobre as ideias do estadista Mohandas Gandhi também muito impressionou o grande líder cristão, ao dar-lhe uma nova ideia sobre como conter a violência – paradoxalmente dela os dois grandes líderes foram vítimas.
Nota: A Escola de Atenas, obra de Rafael Sanzio, ilustra o texto. Encontre o estudo sobre o quadro aqui neste blogue.
Fonte de pesquisa
Os anjos bons da natureza humana/ Steven Pinker/ Edit. Companhia das Letras
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Lu
Artigo que bem define o homem, na maneira de usar o que entende em benefício próprio, no egoísmo natural em ser imperfeito, egoísta, disfarçado.
Excelente análise do comportamento humano. Parabéns por nos instruir em ver a autêntica realidade de tudo!
Abraço,
Paulo Valença.
Paulo Valença
Agradeço a sua presença neste espaço, pois mais do que ninguém entende sobre os paradoxos da alma humana. Parabéns pelo lançamento de seu novo livro.
Abraços,
Lu
Oi, Lu!
Há pessoas que usam antolhos, não enxergam nada a sua volta. São manipuláveis e insensíveis, domesticados conforme interesses de uma minoria. Libertar-se é um ato de coragem e inteligência.
Grande abraço
Leila
Leila
Infelizmente, temos visto inúmeras pessoas aceitarem ser manipuladas pela mídia velha e arcaica, sempre de olho no próprio umbigo, sem jamais voltar o olho para a gente pobre do país. Os manipulados não veem isso, mas o que lhes é ditado, sem procurar a pluralidade das ideias, para depois tomar seu próprio caminho.
Beijos,
Lu