A VIRGINDADE E O CASAMENTO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Penteia o cabelo de tua filha até ela ter 12 anos; protege-a até os 16; depois, dá graças a quem se casar com ela. (Provérbio checo)

 A menina com mais de 10 anos terá que se casar com um pária, se for preciso. (Provérbio tâmil)

 O dicionário de Língua Portuguesa Aurélio define o hímen como sendo uma “prega formada pela membrana mucosa da vagina, cujo orifício externo oclui parcial ou totalmente, e que apresenta uma abertura de forma e diâmetro variáveis.”. E é exatamente essa preguinha que tem trazido sofrimento – e até mesmo morte – a muitas mulheres em várias partes do mundo.

Os ditos populares encontram no tema “virgindade” um campo fértil para expressar o machismo ainda vigente em inúmeros países, cuja bandeira perversa é erguida pela ignorância, pelo patriarcado e por religiões fincadas na misoginia, desconectados com a Ciência ou com as mudanças dos tempos. Um provérbio árabe reza: “A garrafa está melhor com seu lacre e a menina com seu hímen”. Já na Mesopotâmia casavam-se garotinhas impúberes, referindo-se a elas como “pão que não teve tempo de levedar”, ou seja, ainda estavam intactas para serem desfrutadas, mesmo por velhos cuja idade poderia corresponder a meia dúzia de vezes a delas.

Manter a virgindade parece ser tarefa unicamente da mulher. No hebraico, uma virgem é definida como “uma rosa que ainda não se desabrochou”. Em muitas culturas, uma garota era tida como pronta para casar-se ao atingir a idade de 10 anos. Ainda hoje, apesar de as culturas ocidentais, em sua maioria, dizerem que uma jovem de 15 anos encontra-se na adolescência e uma garota de 10 anos esteja na infância – sem formação física e psicológica para assumir uma família –, muitas culturas espalhadas pelo mundo consideram núbeis (casadoiras) meninas em tais idades. E não são poucos os provérbios que justificam tal união.

Por mais estranho que possa parecer, em determinadas culturas as meninas casam antes mesmo de completarem 10 anos de idade. E pior, com homens que podem ser seus pais, tios ou avôs. Como a discrepância de idade é muito grande, elas se tornam viúvas ainda muito jovens, carregando um pesado fardo vida afora, muitas vezes sem o direito de casarem-se novamente. Na sociedade tâmil, no Sul da Índia, por exemplo, existe um provérbio que diz: “Quando a mulher começa a crescer, morre o marido”, referindo-se à esposa/menina. E na Rússia, numa ironia à diferença absurda de idade, um provérbio reza: “A noiva nasceu, o marido monta a cavalo”.

Causa temor aos pais em tais culturas que a filha perca a virgindade, o que diminuiria seu valor de mercado, ou que fique grávida, o que a tornaria incapacitada para arranjar um marido. Por outro lado, eles têm medo de esperar muito tempo e acabar casando a filha com alguém sem valor, ou melhor, sem dinheiro, pois quanto mais nova é a garota, maior é o dote que a família recebe em troca. E tornar-se solteirona é uma dura sina em tais sociedades, servindo a rejeitada de motivo de desdém e chacotas, onde quer que se encontre.

A virgindade ainda é tida por muitas sociedades como um requisito para que a filha seja aceita em casamento. Alegam que a sua perda desonra toda a família (até mesmo tios, primos, etc.). E que afeta, principalmente, a respeitabilidade do pai, dificultando-lhe a possibilidade de encontrar para a garota um bom casamento. Na Índia é conhecido um provérbio que diz: “A castidade da jovem é o seu maior dote”, trocando em miúdos, é o maior dote dos pais.

Ainda que muitas jovens venham a trabalhar fora de casa para ajudar a complementar o orçamento doméstico, a perda da virgindade não é aceita em muitas culturas, sob a alegação de que uma moça de família deve ser resguardada na casa dos pais, onde sua honra e reputação estão a salvo. Um provérbio árabe atesta que “Se a tua filha vai à rua, assegura-te de que a honra se mantenha”. Em muitos países, as mulheres não saem de casa sem a companhia de um homem da família, ainda que seja um garotinho de cinco anos.

É lamentável que certas alas de inúmeras culturas religiosas (islâmicas, hinduístas, cristãs, judaicas, etc.), contribuam para esta visão retrógrada sobre a virgindade, sendo elas, ainda que indiretamente, as responsáveis pela matança e suicídio de muitas jovens. Ao invés de condenar, atiçam o ódio contra as mulheres em seus sermões antiquados, obsoletos e arcaicos. Não fazem nenhuma condenação ao homem – pode prevaricar à vontade –, ao contrário, reforçam a ideia de que ele é o dono do corpo e mente da mulher, levando-o a vangloriar de seu poder. Não precisa ser um sociólogo para descobrir que isso acontece principalmente nos lugares em que a vida financeira é gerida pelo homem, ficando a mulher à margem. E que me perdoem os santarrões, mas os dirigentes religiosos precisam cativar seus fiéis masculinos… Money is money!

 Fontes de pesquisa
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

6 comentaram em “A VIRGINDADE E O CASAMENTO

  1. Marinalva Autor do post

    Lu
    Coitadas das mulheres em geral. Até em países que se dizem civilizados o pensamento masculino continua predominando. O feminicídio e as torturas contra a mulher em nosso país é gritante.

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    1. Lu Dias Carvalho Autor do post

      Marinalva

      O Brasil precisa de leis mais severas em relação a este assunto. A Lei Maria da Penha é de vital importância, mas necessita ser ampliada com adendos mais severos para coibir a misoginia.

      Abraços,

      Lu

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  2. Edward Chaddad

    São desiguais, mesmo com ascensão da mulher no meio social, as relações entre homens e mulheres. Esta desigualdade advém do entendimento de que o gênero feminino é inferior ao masculino, o que sustenta a cruel violência contra as mulheres. As agressões machistas contra a mulher são históricas, passando de gerações em gerações, nelas existindo a violência física e, ainda, simbólica, esta última que desvaloriza a mulher no mercado de trabalho.

    Hoje os dados, ainda em 2022, em nosso país são apavorantes: o anuário mostra que no Brasil 1 mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas. Isto significa dizer que, ao menos 3 mulheres morrem por dia simplesmente por serem mulheres.(Anuário Brasileiro de Segurança Pública foi publicado hoje 28/06/2022). De acordo com dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, que abrangem atos de violência física, sexual, psicológica, moral e patrimonial, a central de atendimento registrou 31.398 denúncias e 169.676 violações envolvendo a violência doméstica contra as mulheres.

    É uma violência assustadora em razão do gênero, machismo insuportável. O Brasil registrou 56.098 estupros de mulheres ao longo de 2021, de acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sendo que a maioria das vítimas são menores de idade.

    “Há 11 anos a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada para combater a violência contra a mulher, mas apenas em 2015, a Lei 13.104, que combate o feminicídio, entrou em vigor. Essa última lei caracteriza ‘feminicídio’ como assassinatos de mulheres motivados pela violência de gênero, isto é, mulheres que são mortas justamente por serem mulheres. O feminicídio é um tipo de ‘homicídio qualificado’ e é, portanto, considerado crime hediondo.

    Estamos falando aqui de misoginia, de repulsa e de ódio ao gênero feminino. Tais sentimentos fazem parte da educação pautada no patriarcado que influencia os homens a acharem que são donos do corpo e da vida das mulheres. Além disso, o patriarcado ensina que as relações de poder entre os gêneros devem colocar a mulher numa posição subalterna à do homem, fazendo-a mera coadjuvante e vítima de sua própria vida, sendo o gênero masculino detentor de poder sobre a mulher, podendo ter controle do seu corpo, sua mente e até mesmo de sua sexualidade.

    A escola, a mídia, a família e a sociedade de modo geral permitem que eles possam crescer gozando de privilégios e acreditando que a mulher deva ser submissa”

    (Trecho do artigo – Precisamos falar sobre feminicídio: a violência contra a mulher tem nome e se chama misoginia – escrito por Luiza Nichetti -Aluna do Curso de História e de Iniciação Cientifica – LEG/UFES.)

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    1. Lu Dias Carvalho Autor do post

      Edward

      Agradeço-lhe por este comentário tão esclarecedor, capaz de tocar profundamente a alma feminina. Ainda bem que existem homens como você. Benditos sejam todos eles! Exemplos como o seu estão a proliferar em todo o mundo. Agradeço-lhe em nome de todas as mulheres de nosso país e do mundo, ainda subjugadas pela misoginia.

      Abraços,

      Lu

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  3. Marcio Silva

    Questões socio-econômicas, polÍtico-religiosas. Questão de honra! No Oriente tudo é baseado no Alcorão, já a India, Indonesia, Tibete é no Bhagavad-Gitã. São países isolados do resto do mundo; tem uma cultura própria, idioma próprio. Daí me lembro do “Livro dos Mortos dos Monges Tibetanos” , muito cultuado e praticado naquela região. Serviu de referência pra “The Magical Mistery Tour” (1967) – The Beatles. Célebre álbum da banda. Que aliás é, de certa forma, uma cópia do “Livro dos Mortos” do Egito Antigo. Aliás, li este livro, responsável pelo meu ingresso no Fraternidade Rosa-Cruz (AMORC), um dos pilares da Maçonaria.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Márcio

      Tenho um grande amigo, Paulo Afonso, que era dono do site Alma Carioca, que é da Fraternidade Rosa-Cruz. Nesse complexo universo de que falo no texto, tudo se mistura: política, religião, economia e conceitos sociais. Não é possível destrinchar tais raízes, sem que uma não se resvale na outra. Estou lhe enviando dois links sobre o assunto. Amigo, muito obrigada pela sua visita e comentário. Será sempre um prazer recebê-lo. Volte mais vezes.

      Abraços,

      Lu

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