Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os artistas nem sempre tiveram o espaço que lhes é devido na sociedade. No final do século V a.C. eles já tinham ciência de seu poder e maestria, sentimento esse também partilhando pelo público. Contudo, ainda eram vistos como simples artífices, sendo muitas vezes ignorados pelos presunçosos — arrogantes comuns a todas as sociedades, pouco importando a época. As coisas começaram a mudar, quando um número cada vez maior de pessoas começou a ver a criação desses indivíduos como obras de arte e não mais como trabalhos, cuja função, até então, era unicamente religiosa ou política. Foi assim que se deu o grande desabrochar da arte em direção à liberdade.
Diante das mudanças que se processaram na maneira de pensar das pessoas, concluímos, então, que bastou que elas mudassem seu ponto de vista para que a arte cumprisse seu real papel — apresentar a criação do artista e revelar toda a sua criatividade e sensibilidade. A liberdade que lhes foi dada permitiu que houvesse competição entre eles, o que possibilitou a diversidade criativa presente tanto na arquitetura como na escultura e pintura da Grécia Antiga.
O século IV a. C. foi inovador ao dar à arte um novo enfoque. A obra estatutária passou a ser admirada por sua beleza, sendo vista como obra de arte, deixando o artista orgulhoso de sua criação e, em consequência, levou-o a aprimorar-se cada vez mais no seu trabalho. Os gregos que gozavam de uma educação mais refinada faziam da arte pictórica (relativa a pinturas) e da estatuária (relativa a estátuas) um tema para seus debates em praças públicas, do mesmo modo como discutiam poemas e teatro.
O mais brilhante artista grego do século IV a.C. foi Praxíteles, dono de obras graciosas e fascinantes. O seu mais louvado trabalho — cantado inclusive em poemas — representava a deusa Afrodite (Vênus na mitologia romana), a deusa do amor, entrando em seu banho. Contudo, para tristeza de todos nós, amantes da arte, essa obra não chegou aos nossos dias, tendo desaparecido. O fato é que em 200 anos a arte grega passou por magistrais transformações, como nos mostra a obra de Praxíteles que não carrega nenhum sinal da rigidez que caracterizou a arte grega por um tempo.
A pergunta que se faz é como Praxíteles — assim como outros artistas gregos — conseguiu atingir tamanho grau de beleza e equilíbrio? A resposta é a mesma que é aplicada aos dias de hoje — a busca pelo conhecimento. Esses artistas tinham uma grande compreensão do corpo humano, sendo capazes de retratá-lo com beleza e equilíbrio, como mostra a estátua intitulada “Hermes com o Jovem Dionísio” (ilustração à esquerda) — descoberta em Olímpia (cidade grega) no século XIX —, atribuída a Praxíteles. Ela mostra o deus Hermes com o pequeno Dionísio no braço esquerdo, enquanto brinca com ele.
A arte estatuária dos gregos antigos parece ter tomado como modelo seres de um mundo diferente do nosso, ao representar o homem ideal em sua perfeição extremada. A estátua intitulada “Apolo de Belvedere” (ilustração central) apresenta o ideal grego do corpo humano. O deus Apolo traz o arco no braço estendido e a cabeça de lado, como se acompanhasse o voo da flecha. Outra famosíssima obra clássica é conhecida como “Vênus de Milo” (ver link), encontrada na ilha de Milos (ou Melos), situada na Grécia, daí a razão de seu nome. Embora seja simples, tudo nessa obra é harmonioso, daí o fascínio dos turistas por essa estátua que fica no Museu do Louvre em Paris/França.
No fim do século IV a.C. a geração de artistas que precedeu a de Praxíteles criou uma maneira de expressar emoção no rosto de suas estátuas sem que, com isso, comprometesse sua beleza. Os artistas gregos foram responsáveis por quebrar os severos tabus do primitivo estilo oriental — como vimos no mundo da arte egípcia —, pois preferiram trilhar um caminho de buscas e descobertas, apesar de desconhecido, a ficar no mesmo lugar. Agindo assim, enriqueceram seu trabalho, acrescentando-lhe um grande número de características adquiridas através do estudo e da observação. Contudo, suas obras sempre estiveram longe da realidade dos humanos, repassando, sobretudo, a visão intelectual de quem as criou.
Os gregos antigos procuravam na arte uma forma idealizada que expressasse a perfeição da alma e o bom caráter, importantes para a educação do povo, de modo que a estética transformou-se num sinal de valor ético. A fim de que arte grega garantisse seu ideal de beleza, eles criaram um Cânone (ilustração à esquerda) que dizia respeito às proporções entre as partes do corpo humano. Foi o escultor grego de nome Policleto o responsável por escrever esse tratado teórico em meados do século V a.C. Tal documento exerceu influência sobre a futura geração de escultores, ao assegurar que, obtinha-se a perfeição da forma através de relações numéricas precisas, tomando como base as figuras geométricas simples. Uma dessas regras mais conhecidas rezava que a altura do corpo humano deveria corresponder a sete vezes a altura da cabeça.
Uma das estátuas mais famosas da arte grega é conhecida como “Laocoonte e seus Filhos” ou apenas “Laocoonte” (ver link abaixo). Outra obra famosa é “O Lançador de Discos” (ver link abaixo). Um estudioso da arte jamais poderia desconhecê-las.
Exercício:
- VÊNUS DE MILO
- LAOCOONTE E SEUS FILHOS
- O LANÇADOR DE DISCOS
Ilustração: 1. Hermes com o Jovem Dionísio (c. 340 a.C.), obra de Praxísteles / 2. Apolo de Belvedere (c. 350 a.C.) 3. O Cânone de Policleto (c. 450 a.C)
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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