Autoria de Lu Dias Carvalho
Na composição Os Amantes do artista colombiano Fernando Botero, a mulher prepara-se para dormir. O homem, diminuto, já se encontra debaixo do cobertor, aparentemente dormindo, pois traz os olhos fechados. Ela se encontra sentada na cama de casal, com parte do rosto encoberto pela camisola que veste. Seus cabelos compridos caem-lhe pelas costas.
Botero usa o nu feminino para expressar com intensidade as formas volumosas. São mulheres roliças, sem vestígio de cintura, com maciças coxas e traseiros protuberantes. Apesar disso, elas possuem boca pequena, seios minguados, diminutos órgãos genitais externos reduzidos a um ínfimo triângulo de pelos escassos. Não carregam qualquer compromisso com a elegância, mas ainda assim são figuras fascinantes, sem angústias, embora haja quem as rejeite. Eu as acho muito fofinhas.
As mulheres de Botero, ainda que se apresentem nuas, não carregam qualquer tipo de erotismo, paixão ou gozo. Ao contrário, mostram-se como mulheres acanhadas, recatadas e, em muitos quadros, respeitáveis, protetoras e maternais. Seus companheiros são quase sempre bem menores. Por isso, o escritor italiano Alberto Moravia assim define os homens e as mulheres da obra de Fernando Botero:
Elas não podem manter uma relação com os seus companheiros, nem se entregarem ou se unirem a eles. E os companheiros, não mais perfeitos que elas, estão expostos às mesmas limitações. É como um destino que ambos estão obrigados a cumprir. Os homens e as mulheres do mundo amórfico de Botero podem, na melhor das hipóteses, gostar uns dos outros e manter uma amizade fraca, mútua e idealizada que não conhece a paixão.
Ficha técnica
Ano: 1969
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 190 x 155 cm
Localização: Galerie Brusberg, Berlim, Alemanha
Fonte de pesquisa
Botero/ Taschen
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No “Grito”, de Munch, e no “Os Amantes”, de Botero, se encontra, aos montes, as asas para voar, voar e ser acariciado e consolado pela doce compreensão do amor, que sofre só até os limites exato do suportamento, sem se deixar esgarçar jamais, para manter a devida tolerância pelas verdades que não foram reveladas, mas que são sons perturbadores, como a inexplicável ganância que corrói até o âmago os que foram seduzidos e o permanente conflito da concentração de bens e capitais; ou como os destinos traçados por justaposição (casuísmo) e não por aglutinação (arrebatamento avassalador), que mesmo sem ser paixão, o são nos momentos quentes do companheirismo que mitiga a solidão pela cumplicidade que obriga, pela admissão da paridade, cumprir o destino desprovido de encantos. Do seu artigo enriquecedor, que li com atenção e reli e tresli com o gosto dos apetites atiçados pelos manjares, sem dúvida que temos que retroagir à admissibilidade de que forças supra-humanas sempre nos mantiveram impotentes diante dos mistérios que operam na natureza, para amá-la pelos legados de suas lições, como a do peixe, uma das mais sublimes: quanto custa mesmo para nós tê-los em nossa alimentação? Quem cuida deles? De quê mesmo eles se alimentam? Fotossíntese e eis o plâncton. E mais, para se quedar boquiaberto: Como plantas e animais microscópicos conseguem nutrir animais marinhos que pesam toneladas? A respeito dos suicidas europeus talvez, em que pese toda nossa condolência e simultânea admiração, não tivessem como desfecho se oscularem a si próprios caso se desnudassem de si para se vestirem dos outros. Pois às vezes a missão não é necessariamente pelo ver dos nossos olhos e nem pelo ouvir dos nossos ouvidos, como bem você disse recentemente, egocêntricos. E quanto maior o transbordamento desse cálice, menos ele consome de sua capacidade infindável de transbordar. Ou seja, quanto mais se usa menos se gasta. E ao derramar-se, mais o amor aquece e inebria os corações, pelas ardentes lavas do seu fogo que queima sem jamais se consumir.
Adorei conhecer você, Lu. Felicidades!
Braga
Seu comentário exala sabedoria, sensibilidade e grandes verdades. Não resta dúvida de que é um grande observador da vida. A minha admiração por você fica expressa no convite que lhe faço para participar deste blog.
Abraços,
Lu