Arquivo da categoria: Canto da Amazônia

Artigos sobre a Amazônia brasileira, mostrando, principalmente, sua fauna e flora.

A MAJESTOSA GARÇA BRANCA GRANDE

Autoria de Antônio Messias Costa

garca

Majestosa, de linhas alongadas e voo suave, a garça branca é o habitante mais presente na avifauna da cidade de Belém, onde pode ser encontrada em colônias nas grandes árvores das praças e nos refúgios naturais dos Parques do Museu Goeldi, Mangal das Garças e Bosque Rodrigues Alves, muito embora, isolada ou em pequeno número, pode ser encontrada até mesmo em áreas de drenagens da cidade, onde o seu branco contrasta com a sujeira de ambientes contaminantes, o que indica ser um animal já com uma certa resistência natural a infecções.

Na cidade de Belém, elas almoçam no Mercado de Peixes do Ver-o-Peso, namoram na Praça Batista Campos e usam como local de maternidade (nidificam na copa de uma sumaumeira do Parque) o Museu Goeldi. Elas sabem bem usar as oportunidades que a cidade oferece!

Curiosamente, essas maravilhas aladas, cuja beleza às vezes nos é despercebida por serem tão comuns, possuem, na época reprodutiva, acréscimos de penas diferenciadas, sobrepostas às existentes. Essa roupagem associa-se a rituais não muito elaborados na época de acasalamento.

A natureza é sabia, basta prestar atenção no que acontece. Por exemplo, as aves de plumagem bela, de um modo geral, têm um repertório de canto inexistente ou fraco, ao contrário daquelas de plumagem pobre, que compensam a falta de tal atrativo com a beleza do canto para conquistar. Também existem aquelas aves que unem o canto, a plumagem e o ritual na conquista. Tudo isso é feito pelo macho, já que na maioria dos casos, a fêmea tem plumagem opaca e canto pouco elaborado.

Mas, por que a fêmea é muitas vezes menos favorecida em beleza? Assim, ela é menos percebida pelos predadores e tem mais chance de proteger seus ovos na fase de incubação e, posteriormente, a sua prole. O macho usa o canto para defender seu território e também atrair as fêmeas. Durante a fase de conquista, o macho que se sai melhor, normalmente o mais elaborado e persistente, será o escolhido pela fêmea, e terá a chance de passar geneticamente as suas características e “performances” para as gerações futuras, contribuindo para a perpetuação da espécie, evidentemente se as agressões humanas assim o permitirem.

Um fato inusitado ocorreu em um viveiro coletivo de aves do Parque do Museu Goeldi, em Belém, onde havia muitas garças. Na época de reprodução, uma ave de dentro do viveiro compartilhava a feitura de um ninho no alto do telame, com uma garça de fora, isolada do grupo interno. O que de fato ocorria era que a competição presente no grupo interno, ou mesmo a desproporção entre machos e fêmeas, colocou de escanteio alguns indivíduos menos competitivos, fato que também pode ter ocorrido na colônia de fora, em uma árvore próxima, daí o enlace que não durou muito, em razão das dificuldades que a barreira física impunha.

Outro fato envolvendo as garças deu-se no final do século XIX, quando eram dizimadas nas regiões de Manaus e principalmente no Pará, para que suas penas fossem exportadas para a Europa, onde a moda era utilizar penas nos chapéus da alta sociedade da época. Foi quando o naturalista suíço, Emílio Goeldi, então diretor do Museu que leva o seu nome em Belém, levantou uma forte campanha contra o massacre a que tais aves estavam sendo submetidas.

A garça branca grande, tem o nome científico de Casmerodius albus, é cosmopolita,  sendo encontradas em vários continentes, tem um amplo cardápio, alimentando-se de peixes, crustáceos, anfíbios, répteis, larvas entre outros itens, fator importante para que tenha se proliferado tanto. É vista em grandes e pequenos grupos ou solitárias. A disponibilidade de alimento e a competição por área de reprodução podem influenciar o seu comportamento em relação ao agrupamento.

Nota: Foto do autor.

O MENINO E A FLORESTA

Autoria de Hely Pamplona

menino

Encontrei Edimundinho, garoto de oito anos, na comunidade de Mocoons, na Ilha de Marajó. Sua mãe foi para a cidade trabalhar como doméstica e ele passou a ser criado pelos avós, coisa muito comum no Norte do país. Os pais partem em busca de serviço nas grandes cidades, enquanto os filhos ficam sob os cuidados dos avós ou parentes idosos, esperando que da cidade chegue ajuda para a família de parcos recursos.

A vida do garoto consiste em brincadeiras nos rios, montar búfalos mansos ou cavalos típicos da Ilha de Marajó. Também ajuda o avô na caça e na pesca. Devido o calor da região, traz sempre o tronco descoberto.

Da porta de sua habitação tosca de madeira, o garoto observa a relva verde e a floresta mais adiante. Em que estaria pensando Edimundinho?

Nota: Foto do autor
Contato: helypamplona@hotmail.com

A FORÇA DA MULHER RIBEIRINHA

Autoria de Hely Pamplona

canoa

Dona Raimunda é o típico exemplo da mulher do interior da Amazônia. Nos seus 84 anos, ela ainda se encontra ativa, remando sua canoa através dos igarapés, em busca da lenha que usará em seu fogão, único meio de coser os alimentos para sustento da família, normalmente compostos por peixe e, eventualmente, caça. O açaí e a farinha jamais podem faltar na alimentação da gente amazônica.

Impressionou-me o vigor dessa senhora, que sobe sozinha o igarapé, manejando sua canoa pesada, cheia de pedaços de árvores mortas, recolhidas na floresta, em meio a tantos perigos: serpentes, animais peçonhentos e, até mesmo ataques de jacarés.

Dona Raimunda possui braços musculosos e rosto marcados pela inclemência do sol. Ela diz que tal serviço é rotineiro em sua vida e que os perigos da floresta e de seus rios não mais a amedrontam. Já conhece bem os caminhos pelos quais navega desde menina, ajudando a família. Conta que não é fácil a vida da mulher ribeirinha, perdida naquele mundão de água e matas.

Nota: Foto do autor
Contato: helypamplona@hotmail.com

VISITANDO MANAUS – (Parte 2)

Autoria de Beto Pimentel

onca

No texto anterior, falava eu de um passeio a Manaus, que agora retomo para contar mais um capítulo.

Cansados e famintos, avançamos por mais meia hora rio acima, e paramos para almoçar à moda  dos ribeirinhos, num  restaurante flutuante à margem do rio. Descanso necessário para podermos enfrentar a caminhada logo mais, a seguir por uma trilha, selva adentro.

Mal acabamos de almoçar num barco restaurante, atracado às margens do Rio Mar, quando o nosso guia nos chamou para iniciarmos a nossa aventura pela Selva Amazônica. A temperatura situava-se na marca de 42 ºC naquela tarde ensolarada de verão. Uma grande quantidade de turistas, em fila indiana, seguia o guia, a partir das margens do rio mata adentro. A trilha era sinuosa e estreita em alguns trechos, tornando-se mais larga em outros. Após caminharmos cerca de 20 minutos, paramos sob a sombra de uma grande árvore.

 – Esta árvore, senhores e senhoras, é um Mulateiro. Planta nativa das regiões tropicais da Amazônia, encontrada na proximidade dos rios, em áreas de várzea e em clareiras de solo argiloso. São também caracterizadas como plantas pioneiras. Esta árvore alcança de 25 a 30 metros de altura, sendo indicada também para o plantio em áreas degradadas. A sua casca é utilizada pelos indígenas para curar cortes, o seu córtex para infecções oculares e sua seiva é utilizada como antibacteriana, antioxidante, repelente e está sendo empregada em cosméticos para a eliminação de manchas de pele, cicatrizes e prevenção de rugas – explicava o nosso guia.

 Protegidos pela sombra das magníficas árvores, seguimos apreciando cada detalhe que a Natureza ia oferecendo aos nossos olhos fascinados, rumo ao nosso destino, que se tratava de um igarapé onde poderíamos apreciar quelônios, pássaros e as demais surpresas que a vida selvagem nos apresenta.

Eu caminhava quase no final da enorme fila, quando um barulho vindo da mata chamou a minha atenção. Olhando para a copa das árvores, percebi uma grande agitação. Eram macacos bugios que ruidosamente saltavam entre os galhos das grandes e altas árvores da Amazônia. Fascinado, fiquei parado, observando o comportamento dos grandes macacos por vários minutos. E, quando o bando de símios se afastou do meu campo de visão, fez-se um grande silêncio na mata. Nesse momento, dei-me conta que também pertencia a um grande grupo de Homo Sapiens, parentes do grupo em cima das árvores, e que necessitava voltar e seguir o meu caminho, junto com os outros da minha espécie. Olhei para todos os lados e não mais vi o grupo. Caminhei na trilha durante cerca de quinze minutos na esperança de encontrá-los. Podia ouvir o silêncio da mata. Mama mia! Havia me perdido!

Entretanto, esta não fora a primeira vez que eu passava por tal experiência. Assim, com passos acelerados na medida do possível, pois havia muitos obstáculos na trilha – restos de árvores cortadas, galhos caídos, etc. – fui caminhando instintivamente pela trilha. De repente, atingi uma clareira no meio da mata e o silêncio foi quebrado bruscamente por um barulho de vegetação seca e gravetos quebrados. Ufa, só pode ser o grupo de turistas!

– Olá, onde vocês estão? – falei em voz alta.

Nenhuma resposta. Olhei em volta da clareira e percebi que do lado oposto ao ponto onde terminava a trilha que me levara até ali, começavam três novas trilhas. E nesse momento, percebi que tinha somente duas opções: voltar pela trilha até o rio ou me aventurar através de um dos três novos caminhos e, com muita sorte, encontrar o grupo. E, foi nesse momento que, voltando os olhos para a direita, que levei um baita susto. A poucos metros, estava uma grande onça pintada. O magnífico felino, no topo da cadeia alimentar da selva, olhava fixamente na minha direção. Também imóvel e tremendo muito, fiquei ali parado, olhando para ele.

Sempre ouvi dizer que desgraça pouca é bobagem. Neste sentido, de repente, sai da mata um menino. Cerca de um metro de altura, cabelos ruivos e com os pés virados para trás. O Curupira. Lembrei-me de que os índios da Amazônia relatam o seu aparecimento para as pessoas que se perdem nas matas e, geralmente, nunca voltam para contar a sua experiência. Lembrei-me do relato de pessoas que passaram por experiências em que a sua existência, aqui neste mundo, ficara por um fio e dizem que a sua vida passara como um filme na  mente. Confesso que foi o que senti. Minutos pareciam segundos. Mas, de repente, ouvi um grande estrondo no céu, seguido por uma voz alta e grave.

 – Sou Tupã! Com um sopro, criei todas as formas humanas, dotando-as de espíritos do bem e do mal. Enviei o Curupira, entidade que defende os animais da caça e da pesca e protege as plantas da extração predatória do homem, para manifestar a minha ira em relação ao mal que os humanos estão fazendo ao planeta Terra. Ele é um ícone muito importante. É preciso começar a conscientizar  as crianças da importância da preservação  da Natureza. Esta entidade não tolera aqueles que depredam a Natureza,  caçam animais por prazer, e pode punir severamente, transformando caçadores em presas. Por outro lado, ajuda as pessoas de coração puro que estão perdidas ou em perigo.

E, como apareceu, a voz se foi. O deus do trovão nada falou sobre a onça. Ainda surpreso, esperava entender o porquê da presença também da onça.  Seria um julgamento! Sim, sem dúvida, o Curupira estava ali para me julgar. Quando garoto, gostava de caçadas – embora quase sempre sem sucesso, para alegria dos pobres  bichos. Agora seria caçado pela onça. Perdido, comecei a rezar alto. Foi quando senti uma forte sacudidela no ombro. Abri os olhos e vi o nosso guia e várias pessoas ao meu redor rindo.

– Acorda homem, estávamos muito preocupados com o seu sumiço. E você aí dormindo sob a sombra desta árvore, feito um bebê.

(*) Foto do autor, iniciando um processo de comunicação com a comadre onça.

Referência:
Projeto Curupira – http://www.kurupira.net/projetokurupira/foclore.php;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_guarani

VISITANDO MANAUS (Parte 1)

Autoria de Beto Pimentel

folha

Sinto o avião desacelerando devagar. Neste instante, uma voz ecoa no sistema de autofalante da aeronave:

 – Atenção senhores passageiros, aqui é o comandante para informá-los que já iniciamos o procedimento de descida para o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, com estimativa de pouso para as 12h33min, hora local. O tempo em Manaus está bom, com poucas nuvens e a temperatura local é de 38ºC no momento.

Olho para o meu relógio de pulso e começo ajustá-lo para o novo fuso horário de Manaus, voltando no tempo 2 horas, pois está em vigor o horário de verão.  A seguir, olho pela janela do grande pássaro de aço. Só vejo nuvens embaixo de um céu de brigadeiro, iluminado pelo sol do meio dia. Distraidamente, folheio uma revista de bordo e encontro um excelente artigo sobre Manaus, seus pontos turísticos, o Rio Mar, seu povo, sua cultura e suas indústrias. Volto a olhar pela pequena janela e não há mais nuvens, somente um belo e imenso mar verde, entrecortado por rios de todos os tamanhos, serpenteantes num imenso mar verde. E, à medida que descemos, as árvores vão se tornando maiores, mais exuberantes. De repente o avião balança fortemente. As luzes de alerta do teto piscam e o alerta sonoro soa.

– Apertem os cintos!

A voz firme da comissária de bordo avisa que estamos atravessando uma área de turbulência. Mas, felizmente dura pouco e o desconforto causado pela turbulência logo passa. Já se passaram 20 minutos do aviso do comandante. Volto a olhar para a mata novamente e, logo à frente, já consigo avistar Manaus.

Não sei bem o porquê, mas toda vez que me aproximo de Manaus, lembro-me de um ditado popular da  região: “ Quem bebe a água do Rio Negro, come o peixe Jaraqui, não sai  mais  daqui!”.

  Não tomar a água do Rio Negro constitui uma hipótese improvável porque é o manancial utilizado para o sistema de tratamento e abastecimento da capital, sendo captada desse importante e emblemático rio. Já comer o Jaraqui, um peixe muito abundante na região e de bom paladar, nunca deixarei essa iguaria de lado. Ir a Manaus e não comer peixe com pirão feito com a farinha local é como ir a Roma e não ver o Papa. Talvez essa seja a razão de eu ter viajado tantas vezes a Manaus!

O dia seguinte da minha chegada à cidade era um sábado que amanheceu magnífico. Acordei às 6 horas, tomei banho, vesti-me e tomei café. Logo chegaram os amigos para um passeio de barco, partindo do cais do Hotel Tropical de Manaus. Barco lotado. Turistas de várias partes do mundo. Torre da Babel a bordo. Na proa, um guia turístico ia explicando a origem e as características de  cada ponto de interesse que  podia ser avistado nas margens do rio.

– Estão vendo aquela marca naquele barranco à  esquerda – dizia o guia – é a marca deixada pela última enchente, mais de 20 metros! Mais adiante, o prédio da primeira cervejaria da região!

Neste momento, avisto um ponto de captação de água para tratamento e distribuição na cidade e comento com o guia a tão falada pureza da água do Rio Negro,  que necessita de  pouca adição de produtos químicos e decantação. Mas o guia corrige o meu comentário. Necessitava, pois, infelizmente, já se constata a elevação de contaminantes químicos e orgânicos em alguns pontos do rio.

O barco continua avançando rio acima, passa sob uma moderna e bonita ponte. O calor é forte, obrigando-nos a tomar muito líquido. Uma turista chinesa, sentada à minha frente dorme, está quase caindo da cadeira, vencida pelo calor. Mas de repente, começamos avistar à frente, alem das águas escuras do Rio Negro, as águas pardas do Rio Solimões. Botos aparecem aqui e acolá, dando boas vindas ao fenômeno do encontro das águas. É o Rio Amazonas nascendo, formando-se, em seu destino de rio mar. Neste instante, de posse do seu potente microfone, o guia explica:

 – As águas não se misturam por quilômetros! Os estudiosos do assunto relatam três motivos para que isso não ocorra: a velocidade das correntezas, a diferença de temperatura e de acidez das águas dos rios.

Permanecemos cerca de meia hora, observando o fenômeno da Natureza, com os botos nos homenageando e circulando junto ao barco. No céu avistam-se revoadas de pássaros, bandos de araras Canindé, tucanos… Puro deleite junto à Natureza.

O barco parte calmamente. Cansados e famintos, avançamos por mais meia hora rio acima e paramos para almoçar à moda  dos ribeirinhos, num  restaurante flutuante à margem do rio. Descanso necessário para podermos enfrentar a caminhada logo mais, a seguir por uma trilha, selva adentro.

Referências:

(1)   http://sustainabledevelopment.un.org/ – UNITED NATIONS
(2)   INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Nota: Foto do autor, junto à maior folha do mundo da planta Coccoloba da região Amazônica.

O BICHO-PREGUIÇA

Autoria de Antônio Messias Costa

preguicas

 A palavra “preguiça” nos reporta à falta de vontade para fazer qualquer coisa, morosidade e desmotivação para se movimentar.  Nossa primeira ideia seria a de que dificilmente um bichinho, com todos estes atributos, sobreviveria às várias ameaças que a floresta impõe. Mas não é bem assim ou é quase assim. A preguiça é um animal extremamente frágil, de respiração lenta e tem todas as justificativas para ser como é, ou seja, não é preguiçoso, mas extremamente econômico, fazendo o uso de suas poucas energias, chegando mesmo a dormir até 14 horas, quando a temperatura cai.

 Diferentemente da maioria dos mamíferos, a temperatura desse animal é muito baixa, o que o impossibilita de tremer para produzir calor. Quando a temperatura externa cai, a preguiça fica em estado de letargia e, quando se eleva, o animal vai aos poucos se ativando, lembrando-nos os répteis. Quando sob ameaça, fica simplesmente paralisado. Sob estresse, a preguiça é altamente suscetível a problemas respiratórios, vindo a óbito com facilidade.

 Existem duas espécies de preguiças de dois dedos, denominadas preguiça-real, que são as mais resistentes e podem chegar até 9 quilos. As outras quatro espécies, todas com três dedos anteriores, são extremamente frágeis, alimentando-se basicamente de folhas, brotos e frutos imaturos, e podem chegar a 4 kg. Curiosamente, existe a preguiça pigméia, também com três dedos no membro anterior, mas com a metade do tamanho das outras do mesmo gênero, isolada das áreas de ocorrências das demais espécies, existente na Ilha do Caribe. Este fato leva-nos a compreender as alterações geológicas e climáticas dos continentes, que levaram ao isolamento dos animais e à formação de novas espécies, através dos milhares de anos.

 Ao cair das árvores, a preguiça encurva o pescoço como uma bola, e dificilmente se machuca quando cai no chão da floresta. E se está com filhotes, esses ficam agarrados em seu peito, evitando assim que traumatismos aconteçam. Seus ancestrais eram iguaizinhos aos indivíduos atuais, só que gigantescos, atingindo até 500 kg. Curiosamente, a preguiça raramente cai das árvores, graças aos seus fortes tendões fixos em grandes unhas. Até mesmo quando morta, ela pode passar várias semanas dependurada.

 O bicho preguiça é um fantástico exemplo de economia e de adaptação à vida na floresta, consumindo basicamente folhas, pobre em energia, daí o seu baixo metabolismo, tornando-a dependente do calor externo para aumentá-lo. É um animalzinho muito interessante e injustamente chamado de preguiçoso. Passa o maior tempo de sua vida nas árvores, onde se alimenta, reproduz e se esconde, camuflada pelas algas alojadas em seu corpo provido de pouca massa muscular, longos braços e unhas, pelos e diminuta cauda.

 A preguiça desce ao pé da árvore ou toca na superfície de rio ou lago, apenas uma vez por semana, para defecar, estimulada pela refrigeração da sua pseudo-cloaca (genital externo parecido com o das aves) e seu anus. O seu sistema digestivo lembra-nos o da vaca, com câmaras fermentativas, onde o alimento continua verdinho, mas ela não rumina. Gira sua cabeça a mais de 270 graus para olhar e alcançar as tenras folhas, inflorescências, frutos imaturos, base de sua alimentação.

 Por ser tão frágil e vagarosa, a preguiça é vitima fácil, principalmente na época de queimadas. Pelo estresse de captura e transporte, ela tem seu estado imunológico comprometido, morrendo quase sempre de problemas respiratórios.

Nota: Foto do autor