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Artigos variados sobre cinema e a análise de filmes que se tornaram clássicos.

Filme – QUANTO MAIS QUENTE MELHOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A melhor comédia da história do cinema. (American Film Institute)

Esta comédia de Wilder, realizada em 1959, é um dos mais duradouros tesouros do cinema, um filme de inspiração e meticulosa confecção… (Roger Ebert)

Assistir a uma boa comédia é algo que faz bem a todos nós, pois nos dá a oportunidade de desopilar o fígado tão castigado pelo estresse do dia-a-dia. É fato que elas estão aos montes no mercado, mas fugir da mesmice não é nada fácil. Alguns diretores dizem que a comédia é um dos gêneros mais difíceis para se fazer, pois uma pitada de açúcar a mais desanda todo o prato. E ninguém fez uma comédia tão brilhante como o genial cineasta Billy Wilder, cujo enredo é o de uma clássica comédia do besteirol, mas transformado num dos mais belos tesouros da história do cinema.

Se você ainda não assistiu a Quanto Mais Quente Melhor (1959), não sabe o que está perdendo. Imagine uma comédia feita há 52 anos e que ainda continua firme como a número um do cinema. Prova de que é mesmo para tirar o chapéu diante de tanto talento. São 121 minutos saborosos, onde se misturam ingenuidade, sensualidade, clandestinidade, situações geniais, interpretações excelentes e outros ingredientes. Tem como personagens centrais Marilyn Monroe, a principal deusa do sexo dos anos 50, numa interpretação antológica, Tony Curtis e Jack Lemmon. E, como coadjuvantes, atores fantásticos como Joe E. Brown (conhecido no Brasil como Boca Larga, tamanho era o seu sorriso), entre outros. O roteiro do filme é shakespeariano na forma como intercala comédia sofisticada e vulgar, entre heróis e palhaços.

A história passa-se em 1929, época da Lei Seca nos EUA, em que se proibia a comercialização de bebida alcoólica, mas durante a qual se esbaldava a máfia ítalo-americana. Até uma funerária serve de fachada para um cabaré com música ao vivo e coisa e tal.

O filme começa com um carro funerário sendo perseguido pela polícia. Logo o espectador descobre que não existe defunto algum, sendo o caixão uma maneira usada pelos mafiosos, para transportar bebidas para certo clube, que tem como fachada uma funerária. Mas, nos fundos, funciona um cabaré com bailarinas, músicos e scotch servido como se fosse café. Ali estão trabalhando os dois personagens principais, Joe e Jerry, quando o local sofre uma batida policial. Mas os dois músicos conseguem escapar, pois flagraram o policial colocando seu distintivo, antes de dar voz de prisão aos presentes.

Joe (Tony Curtis) é um saxofonista charmoso que sempre leva vantagem em cima de seu amigo desorientado, o contrabaixista Jerry (Jack Lemmon). Andam desesperados à procura de emprego, desde a batida policial no ofício anterior. Quando conseguem um baile de namorados para tocar, têm a infelicidade de flagrar um acerto de contas entre mafiosos, só lhes restando fugir para não serem mortos.

Jurados de morte, Joe e Jerry escapam como se fossem garotas, que fazem parte de uma orquestra feminina, que embarca num trem para tocar em Miami, num famoso hotel, durante três semanas. Joe transforma-se em Josephine e Jerry em Daphne, tentando se equilibrar nos saltos. Enquanto Joe sente-se desconfortável vestido de mulher, Jerry sente-se muito bem e se esbalda.

Sugar Kane (Marilyn Monroe) é a cantora e a tocadora de uquelele (guitarra havaiana) da banda, que possui um fraco por bebidas, “principalmente quando está triste” e exala sensualidade e inocência, ao mesmo tempo. Seu sonho é se casar com um milionário, mas alega que para ela sempre sobra a pior parte do pirulito. Joe passa-se por um milionário, num segundo papel, para conquistá-la. Mas quem fica noivo de um milionário de verdade é Jerry. Osgood Fielding III (Joe E. Brown) apaixona-se perdidamente por Daphne.

No hotel, mil peripécias acontecem, obrigando Joe e Jerry a jogarem todas as cartas para salvar a falsa identidade. E, como sempre, Joe leva a melhor sobre Jerry. Os diálogos são impagáveis, sempre carregados de duplo sentido. Há momentos em que Jerry tem que dizer para si mesmo que é homem, tal é a forma com que abraça a sua personagem de Daphne, enquanto noutros tem que se lembrar de que é uma garota.

Tudo está correndo bem até que a dupla descobre que se encontra na toca da onça. Está sendo realizada no mesmo hotel uma festa de mafiosos. E entre eles encontra-se o chefão que os quer mortinhos da Silva. É aí que vem a parte mais gostosa da comédia, num troca-troca de roupas e num sobe-desce de escadas. E, para azar, vão se esconder debaixo da mesa festiva dos mafiosos, presenciando outro massacre. Passam a ser alvo não apenas de todos os mafiosos presentes como da polícia. Aí o bicho pega!

O diretor e produtor Billy Wilder, austríaco, em 1988 chegou a receber o Oscar dos Oscar pelo conjunto de sua obra. É responsável por grandes clássicos da história do cinema. Quem não se lembra dos filmes policiais Pacto de Sangue e Testemunha de Acusação, onde mostra toda a sordidez da alma humana? Em A Montanha dos Sete Abutres apresenta a manipulação e o sensacionalismo da imprensa, visto ainda nos dias de hoje. Farrapo Humano, ganhador de quatro Oscar no ano de 1946, inclusive o de melhor filme, é o melhor drama sobre alcoolismo feito em Hollywood. Se Meu Apartamento Falasse, responsável por grandes bilheterias, é um misto do que há de melhor na comédia, no romance e na tragédia. Mas o clássico dos clássicos é, sem dúvida, O Crepúsculo dos Deuses, considerado pura arte, que tem como tema o próprio cinema. Wilder recebeu 21 indicações ao Oscar e seis estatuetas, mas sempre considerou Quanto Mais Quente Melhor como a sua obra prima.

Billy Wilder era judeu, por isso, no dia seguinte à chegada de Hitler ao poder, partiu para Paris, depois de vender tudo o que tinha, vindo depois para os Estados Unidos. Perdeu a mãe, o padrasto e a avó no campo de concentração de Auschwitz. Junto com John Huston, foi um dos únicos a se recusar a “dedurar” colegas comunistas na época da caça às bruxas. Morreu aos 95 anos, 2002, em Los Angeles. Dedicou 45 anos de sua vida ao cinema.

Curiosidades

• Curtis e Lemmon, vestidos de Josephine e de Daphne, vão a um banheiro público feminino para testar suas personagens e não foram descobertos.

• Tony Curtis precisou ser dublado nos diálogos em que se passava por Josephine, pois não conseguia manter a afinação da voz por muito tempo.

• Jack Lemmon precisou tomar aulas de tango para fazer o filme.

• Os atrasos, bloqueios de memória e inseguranças de Marilyn Monroe durante as filmagens tornaram-se lendas. Billy Wilder chegou a dizer que, para registrar uma única fala (It´s me, Sugar), foram necessários mais de 60 takes e que havia bilhetes espalhados por todo o set para lembrá-la de outras.

• Tony Curtis, após o término do filme, declarou que beijar Marilyn, era como beijar Hitler.

• As extravagâncias e neuroses de Marilyn durante as filmagens teriam banido qualquer outra atriz, mas os responsáveis pelo filme não levaram nada em conta, pois o que recebiam dela em troca era mágico.

• Marily Monroe recebeu seu único prêmio, O Globo de Ouro, por seu papel em Quanto Mais Quente Melhor, tendo seu talento cômico reconhecido.

• Jack Lemmon foi preterido pela produtora, que queria Frank Sinatra. Wilder manteve-o e seu sucesso foi tão grande a ponto de ser indicado ao Oscar de melhor ator.

• O galã Tony Curtis fez grande sucesso em Quanto Mais Quente Melhor, sendo até hoje, considerado como um dos seus melhores trabalhos.

• Além de uma homenagem aos filmes dos anos 1930, o branco-e-preto foi também um recurso fundamental para dar mais credibilidade à maquiagem de Josephine e Daphne.

• O massacre testemunhado por Joe e Jerry refere-se ao histórico e real Massacre do Dia de São Valentim (o Dia dos Namorados nos Estados Unidos, que é comemorado no dia 14 de fevereiro), confronto sangrento entre mafiosos.

• Wilder foi avisado por um megaprodutor de que seu filme seria um desastre, pois não se podia combinar comédia com assassinato.

• A década de 1950 foi uma das mais conservadoras do cinema americano, com o famoso Código de Hayes. No entanto, Billy Wilder conseguiu transformar num grande sucesso um dos filmes com mais subtextos e duplos sentidos da história.

• O filme chegou a ser proibido nos estados do Kansas e no Maine. Mas é visto e admirado até os dias de hoje.

Cenas

• Sugar Kane mostra-se assustadoramente sexy, mas com uma carinha da mais pura ingenuidade.

• O solo de Marilyn Monroe em “I Wanna Be Loved by You”, vestindo um apertado e transparente vestido com gaze cobrindo os seios volumosos. Um foco de luz circular ilumina-a da cintura para cima, acompanhando os movimentos de seu corpo com uma provocante precisão.

• A cena de Joe com Sugar no iate, quando ele reclama que nenhuma mulher consegue excitá-lo. E ela não usa de erotismo, mas beija-o docemente, como se o acalentasse.

• Marilyn prova neste filme, por que nenhum ator ou atriz tinha mais química sexual com a câmera do que ela. Está imperdível em todas as cenas em que aparece.

• A história, na verdade, é sobre os personagens de Lemmon e Curtis, mas Marilyn acaba por roubar a cena, fato que acontece em todos os filmes de que ela participa. Quando ela aparece fica impossível olhar para mais alguém, embora precisasse de muitas tomadas para fazer uma cena.

• A cena em que Joe encontra Sugar Kane na praia, quando ele se apresenta como um herdeiro da Shell Oil.

• A cena do iate em que Joe brinca com a ingenuidade de Sugar.

• A habilidade com que Billy Wilder mostra um oculto simbolismo sexual. Observem como o sapato de Joe, na cena sobre o divã, sobe de uma forma fálica e a observação de Sugar: “Vamos botar mais um pouco de lenha no fogo”.

• O tango dançado por Lemmon e Joe, quando uma rosa entre os dentes de Lemmon vai parar entre os dentes de Brown.

• A cena em que Jerry, deitado e ainda vestido como mulher e com castanholas nas mãos, anuncia seu noivado a Joe.

• Os personagens de Lemmon e de Joe E. Brown encerram Quanto Mais Quente Melhor com um diálogo que, sem dúvida, é uma das pérolas do cinema.

Fontes de pesquisa:
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Cinemateca Veja
1001 Filmes que…
Wikipédia

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Filme – PSICOSE

Autoria Lu Dias Carvalho

psic psica

Não conheço ninguém que não goste da sétima arte e que não sinta prazer em assistir a um bom filme, viajando sem lenço ou documento, cerca de duas horas, para bem longe dos problemas que o perseguem no dia-a-dia. Em tais momentos, perde-se o contato com o próprio eu, muitas vezes ranzinza e aborrecido. E agora, com a perfeição com que vem sendo restaurados os bons filmes antigos, a sedução pelo cinema ficou ainda mais mágica. É quase que impossível deixar de revê-los. Também não podemos nos esquecer do papel importante ocupado pelo DVD, que ao reproduzir cópias de grande qualidade, transfere as salas de projeção para dentro de nossa casa. E com a chegada do BD (Blu-Ray Disc)* a magia ficou completa.

E falando em filmes antigos, trago à baila Psicose em seu quinquagésimo aniversário, uma das mais importantes referências no gênero do terror. O seu diretor não poderia ser outro, senão o grande mestre do suspense Alfred Hitchcock.

Em Psicose, as criaturas sobrenaturais, tão comuns aos filmes do mesmo gênero, como vampiros, zumbis, lobisomens, extraterrestres e outras, são substituídas por um monstro de carne e osso, que poderia ser qualquer um de nossos conhecidos. Sem falar que a explosiva mistura de sexo, loucura e assassinato tornam a história mais abjeta e aterradora.

O filme conta a história de Marion Crane (Janet Leigh), uma moça atraente, que rouba quarenta mil dólares no seu local de trabalho. Após o roubo, abandona a cidade, com um incerto desejo de se unir a seu namorado. Sozinha, dirige durante toda uma noite chuvosa, até parar num motel à beira da estrada. Ali é recebida pelo gerente (Anthony Perkins), que é um homem desajeitado, porém muito cordial. Ao tomar um banho de chuveiro, Marion é surpreendida por uma pessoa, supostamente uma senhora idosa, que a esfaqueia.

A cena, em que Marion é esfaqueada, dura quarenta e cinco segundos, tempo suficiente para eternizá-la como uma das cenas mais emocionantes e assustadoras da história do cinema. O grito aterrorizado da moça, antes de receber a primeira das oito facadas, permanece por muito tempo nos ouvidos do telespectador. Assim como é impossível esquecer a trilha sonora que acompanha cada facada.

Curiosidades:

• Para gravar a sequência do assassinato, Hitchcock usou setenta posições de câmara, sendo gastos sete dias de filmagem.

• Marion (Janete Leigh) foi o primeiro protagonista de um filme a morrer brutalmente assassinado, antes da metade da projeção de uma película.

• Psicose foi responsável por dar a seu diretor e produtor, Alfred Hitchcock, o título de “mestre do suspense”.

• Hitch, nome carinhoso com que era chamado Hitchcock, não permitia a entrada no cinema depois dos créditos iniciais de Psicose. O que dava ao filme uma aura ainda mais misteriosa.

• A procura por ingressos e as longas e intermináveis filas surpreenderam todos os responsáveis pelo filme.

• Psicose foi um sucesso absoluto de bilheteria, apesar de seu baixo orçamento. Foram gastos US$ 800 mil e ganhos US$ 50 milhões, na época.

• Embora Hitch não quisesse música na cena do banho, acabou cedendo depois de ouvir a trilha sonora que Herrman fizera.

• Janet Leigh, protagonista, não aparece nua no filme. Esse papel coube a uma dublê. Dela aparecem apenas mãos, ombros e cabeça.

• Hitchcock tinha o hábito de aparecer em algumas cenas de seus filmes. Em Psicose é possível identificá-lo, logo no início da trama, parado, de pé, na calçada.

• Sua filha, Pat Hitchcock, participa de uma cena, encarnando o papel de uma colega de trabalho da protagonista.

• Psicose foi feito em branco e preto, por orientação de Hitchcock, como uma opção mais adequada para a história. Assim evitava um visual sanguinolento, que o uso da cor poria em destaque.

• O sangue visto no filme foi feito de calda de chocolate.

• O som produzido pelas facadas, simulando a faca entrando no corpo de Marion, foi feito por um assistente que, fora do plano em que acontecia a cena, esfaqueava um melão.

• Psicose retorna em alta, ao completar meio século de existência, ganhando uma edição especial em Blu-ray. E ainda continua provocando o mesmo assombro, vistos nas platéias da época em que foi lançado.

Um desafio para quem já viu ou ainda verá o filme:

Que recursos técnicos Hitchcock usou, para mostrar a queda do personagem do investigador Arbogast, ocorrida enquanto ele sobe uma escada, em pleno movimento, depois de ser esfaqueado no rosto?

*Blu-ray, também conhecido como BD (Blu-ray Disc), é um formato de disco óptico da nova geração de 12 cm de diâmetro (igual ao CD e ao DVD) para vídeo de alta definição e armazenamento de dados de alta densidade. É um sucessor do DVD, sendo capaz de armazenar filmes de até 180 p Full HD de até 4 horas sem perdas. Requer uma TV Full HD de LCD, plasma ou LED para explorar todo o seu potencial. Obteve o seu nome a partir da cor azul do raio laser.

Fontes de pesquisa:
Revista Isto É/ 7/07/2010
1001 Filmes…
Wikipédia

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Filme – PRECIOSA – UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA

Autoria de Lu Dias Carvalho

preci   precia

Às vezes, eu desejo que não esteja viva. Mas, eu não sei como morrer. Não há nenhum botão, para desligar. Não importa o quão ruim eu me sinta, meu coração não para de bater e meus olhos se abrem pela manhã. (Preciosa)

O filme Preciosa – Uma História de Esperança, ambientado nos anos 80, recebeu seis indicações para o Oscar, concorrendo com o fantástico Avatar em muitas delas. Sendo muito aplaudido pela crítica.

O diretor Lee Daniels, primeiro cineasta negro a ser indicado para o Oscar, retrata temas bem crus, dificilmente vistos no mundo de Hollywood. O roteiro é baseado no livro Preciosa (Editora Record) da escritora americana Sapphire, escrito em 1996, que narra uma história real.

Claireece Precious Jones é uma garota negra, obesa e pobre que, aos 16 anos, não sabe ler e nem escrever. Sofre abuso psicológico, moral e sexual, repetidas vezes, por parte dos pais. É maltratada tanto em casa, quanto na rua. Faz parte do rol das crianças que nascem e vivem numa miséria permanente, aliada à indiferença.

Quando a diretoria de sua escola, em Nova York, fica sabendo que Clarice está grávida, expulsa-a. O que, na verdade, corresponde à sua segunda gravidez, pois a primeira ocorreu quando tinha doze anos, sendo ambas ocasionadas pelo próprio pai, que a violenta, desde criança, com a permissão de sua mãe. A filhinha nasceu com síndrome de Down.

Ao ser levada para uma escola alternativa, para alunos fora da faixa etária de alfabetização, um mundo novo se abre diante da garota. Ali, ela começa a receber atenção, carinho e incentivo por parte de sua nova professora. Relação essa que vai modificar totalmente a sua vida, quando ela começa a criar uma identidade real para si, longe de sua mãe agressiva, preguiçosa e rancorosa.

Embora traga um enredo dramático, o filme vem conquistando o público americano. Tanto é que foi indicado para receber as estatuetas do Oscar de:

• Melhor filme
• Melhor diretor
• Melhor atriz
• Melhor atriz coadjuvante
• Melhor roteiro adaptado
• Melhor edição

Gabourey Sidibe, responsável pela personagem principal, embora estreante no cinema, protagoniza os momentos mais marcantes do filme, ao lado da comediante Mo`Nique, no papel de sua mãe. O que valeu às duas uma indicação ao Oscar.

Nos momentos mais cruciantes de sua vida, Preciosa cria um mundo imaginativo, totalmente diferente, daquele em que vive e para o qual foge, para se transformar numa estrela de cinema, modelo famosa ou uma mulher poderosa, respeitada pelos homens. Essa é a forma que ela encontra para fugir de sua vida adversa e triste.

A atriz e apresentadora Oprah Wifrey e o dramaturgo e cineasta Tyler Perry são os responsáveis pela produção executiva do filme. Assim como Claireece Precious Jones eles são negros, vieram da pobreza e sofreram abuso sexual.

Fontes de Pesquisa:
Revista Época 08/02/2010
Revista Veja 10/02/2010

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Filme – ONZE HOMENS E UM SEGREDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

osion   osiona

Onze Homens e Um Segredo original é uma cápsula do tempo que nos mostra um grupo de pessoas com grandes personalidades e grandes talentos e que, às vezes, não estavam nem aí para as regras, quando tentavam viver a vida de seu modo próprio. (Karen Croft/ crítica norte-americana)

Eu quis evitar qualquer associação com o original. Aqueles caras – Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford – eram o auge do cool e não queríamos nos comparar com eles. (Steven Soderbergh)

Código de honra dos onze homens: “não ferir ninguém”, “não roubar quem não mereça” e “seguir o plano aconteça o que acontecer”.

Conta a lenda, pois a história jamais foi confirmada, que nos meados dos anos 50, a atriz Lauren Bacall encontrou um grupo de amigos num parque em Las Vegas, em estado desolador, depois de passar 24 horas aceso, farreando. Ao ver a situação do grupo, composto por Frank Sinatra, Dean Martin, Peter Lawford, Sammy Davis Jr. e Joe Bishop, ela exclamou:

Parecem um bando de ratos (rat pack)!

E assim nasceu o famoso grupo Rat Pack, liderado por Frank Sinatra, constituído por amigos inseparáveis, unidos para o que desse e viesse. Amizade essa que teve o seu ápice na década de 1960, mas que durou até o final da vida de cada um. De modo que Onze Homens e Um Segredo (1960) foi criado pelo grupo Rat Pack e também apresentado por ele. Os atores, três deles também cantores, tinham o objetivo de tirar proveito da fama angariada e também se divertirem o máximo.

O diretor Lewis Milestone foi encarregado de dirigir o filme, que se inicia com uma reunião entre os 11 ex-paraquedistas, pertencentes à 82ª Divisão Aerotransportadora da Carolina do Norte, durante a Segunda Guerra Mundial, liderados por Ocean (Frank Sinatra) e Foster (Peter Lawford). Como cada homem possuía habilidades singulares, o plano consistia em ajuntar essas habilidades para dar um grande golpe: roubar cinco cassinos em Las Vegas, ao mesmo tempo, durante os festejos do Ano Novo, época em que os cofres dos cassinos encontram-se abarrotados de dinheiro, na passagem de 1959 para 1960. Aos cinco membros do Rat Pack foram adicionados outros atores. O grupo seria financiado pelo gângster Spyros Acebos (Akim Tamiroff), que está imperdível no filme.

O filme em questão faz parte das grandes bilheterias do período de 1951 a 1960, em ordem decrescente:

Ben Hur, Os Dez Mandamentos, A Volta ao Mundo em 80 Dias, O Manto Sagrado, Assim Caminha a Humanidade, Sayonara, Onze Homens e Um Segredo, Onde Começa o Inferno, Vidas Amargas, Rastros de Ódio e Juventude Transviada.

Refilmagem de Onze Homens e Um Segredo (2001)

Na refilmagem, o filme inicia-se numa prisão, onde Daniel Ocean (George Clooney) encontra-se preso por roubo, há quatro anos. Após uma audiência, ele ganha liberdade provisória, embora esteja sob suspeição de ter cometido outros doze golpes.

Na mesma noite em que é liberado, Ocean dirige-se a um cassino, onde se encontra com Frank Catton (Bernie Mac), crupiê do local. Convida o antigo conhecido para fazer parte de um plano ousado que tem em mente: roubar três luxuosos cassinos em Las Vegas que possuem um cofre comum e pertencem a Terry Benedict (Andy Garcia). Visita a seguir Rusty Ryan (Brad Pitt), parceiro em outros golpes, cujo trabalho tem sido o de ensinar novos astros da tevê a jogar pôquer.

Segundo os planos, o roubo acontecerá em duas semanas, quando uma grande luta de boxe acontecerá, o que ampliará os valores depositados no cofre. Pois, uma lei obriga os cassinos a terem em dinheiro, nos seus cofres, a estimativa dos valores das apostas do dia. E uma grande luta significa mais movimento e, consequentemente, muitas apostas. Portanto, todo o plano deverá estar pronto para a data em questão.

Ocean e Rusty sabem que para o sucesso de tão ousado empreendimento será necessário um time de excelentes profissionais, todos bem equipados e dignos da mais absoluta confiança. Sabem também que necessitam de uma grande infraestrutura, ou seja, de quem financie o tal empreendimento. Assim, a dupla incumbe-se de aliciar pessoalmente os demais membros faltantes.

O grupo altamente especializado é composto por: Reuben Tishkoff (Elliot Gould), que em retaliação a Benedic, pela perda de seu cassino será o financiador; Livingston Dell (Edie Jemison) que é exímio em equipamentos de escuta e segurança e presta serviço ao FBI; os irmãos Virgil (Casey Affleck) e Turk (Scott Caan) que sabem tudo sobre mecânica e direção de automóveis; Basher Tarr (Don Cheadle) que é expert em explosivos; Saul Bloom (Carl Reiner) que é um grande mestre na arte de representar tipos e que se passará por um excêntrico milionário europeu; Yen (Shaabo Qin), acrobata, que fará uso de sua elasticidade durante o roubo e Linus Caldwell (Mat Damon) que é apenas um ladrão de carteiras, mas como seu pai é amigo da dupla que chefia a gangue foi convidado para fazer parte do roubo.

Uma vez composto o grupo, cada um passa a se incumbir de sua parte no serviço: corte de energia no meio da luta, roubar o sistema de segurança das câmaras eletrônicas, entrada no cofre, detalhes sobre o funcionamento dos cassinos e o mais importante: a construção de uma réplica do cofre, para ser usada durante o roubo, a fim de enganar a segurança. A última tarefa será função de todo o grupo.

Por um motivo que caberá ao espectador descobrir, Ocean foi apresentado ao dono dos três cassinos, Benedict, o que o deixa sob a total vigilância da equipe do mafioso. Embora seja o cérebro do grupo, agora precisa se afastar para que as coisas não desandem. E agora José?

Após o sucesso da refilmagem de Onze Homens e um Segredo, duas sequências foram feitas sob a batuta do mesmo diretor e com o mesmo elenco, mantendo a mesma qualidade do primeiro:

Doze Homens e Outro Segredo – O grupo de Danny Ocean ganha fama internacional na hierarquia mundial de ladrões e incomoda os donos do trono europeu da malandragem. E quando são pressionados pelo vingativo Terry Benedict a devolver o dinheiro do primeiro roubo a seus cassinos, os amigos de Ocean partem para a Europa, tentando recuperar a grana em dois roubos ainda mais arriscados, em Amsterdã e Roma (Cinemateca Veja).

O longa ocorre 3 anos após o primeiro filme. Alguém quebra uma das regras do código dos homens e os denuncia a Benedict, o empresário roubado pela quadrilha de Danny. Ele quer seu dinheiro de volta, e com juros. Então Danny e sua trupe resolvem assaltar ao redor do mundo para tentar arrecadar o dinheiro necessário.

Treze Homens e Um Novo Segredo – Os 11 amigos voltam a Las Vegas, porque um novo gângster do mundo do jogo dá um golpe em Reuben (Elliot Gould), uma espécie de mentor de todo o grupo. E quando alguém mexe com um deles, mexe com todo o grupo. Dessa vez Júlia Roberts e Catherine Zeta-Jones (que esteve no segundo filme) ficaram de fora. Al Pacino entra no elenco. (Cinemateca Veja).

Reuben Tischkoff (Elliott Gould), o homem que bancou financeiramente o assalto triplo aos cassinos de Terry Benedict (Andy Garcia), foi traído por Willie Bank (Al Pacino), um inescrupuloso dono de cassinos. Com Reuben no hospital, Danny Ocean (George Clooney), Rusty Ryan (Brad Pitt) e seu grupo reúnem-se para se vingarem de Willie Bank, derrotando-o na noite de inauguração de seu mais luxuoso cassino, The Bank, e devolver a Reuben o que lhe pertence e, para isso, contará com a ajuda do rival Terry.

Os críticos divergem quanto a dizer qual dos dois filmes é o melhor: se o original ou a refilmagem feita 41 anos depois. Deixo a critério do leitor a avaliação de dizer qual dos dois filmes é o melhor. E, se possível, contando-nos o porquê de sua escolha?

Fontes de Pesquisa:
Clássicos do Cinema/ Folha
Cinemateca Veja/ Abril
Wikipédia

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Filme – O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

osilen   osilena

Muito cuidado com Hannibal Lecter. Não lhe conte nada pessoal. Você não quer que ele entre em sua cabeça. Faça seu trabalho, mas não se esqueça do que ele é. (Jack Crawfor)

Ele é um monstro, um psicopata absoluto. Em termos de pesquisa, Lecter é nosso espécime raro. Tentamos estudá-lo, mas ele é sofisticado demais para os exames. (Dr. Chilton)

Um agente do Censo tentou me entrevistar, comi o fígado dele com favas portuguesas e um bom Chanti. (Hannibal Lecter)

Ele não é um verdadeiro transexual, mas acha que é, ele tenta ser. Billy odeia a própria identidade e acha que isso faz dele um transexual. Mas sua patologia é mil vezes mais selvagem e mais aterrorizante. (Lecter sobre Bill)

O Silêncio dos Inocentes é um filme assustador, envolvente e perturbador. Ele não começa com um canibal, mas vai chegando até ele pelos olhos de uma jovem mulher. (Roger Ebert)

 Para quem gosta de suspense, o filme O Silêncio dos Inocentes (1991), dirigido pelo norte-americano Jonathan Demme, é simplesmente imperdível. Tanto é que se encontra entre os mais premiados da história do cinema. Só para se ter uma ideia de seu sucesso, ele ganhou 44 prêmios, incluindo 5 Oscar nas principais categorias. Foi o primeiro filme de terror a receber a maior distinção honrosa da Academia de Hollywood.

O agente especial da Unidade de Ciência Comportamental Jack Crawford (Scott Glenn) convoca a jovem agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) que, embora ainda se encontre em treinamento, é considerada a aluna mais brilhante e talentosa da turma de novos agentes. Ela recebe a incumbência de entrevistar Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), psicopata conhecido por praticar atos de canibalismo e que já se encontra preso há oito anos. Jack Crawford tem como objetivo estudar o comportamento do criminoso.

Hannibal Lecter é um ex-psiquiatra forense, possuidor de uma inteligência rara, que precisa ser vigiado com rigor. É dono de uma lógica fora do comum, mas é extremamente árido de sensibilidade. Portanto, encontra-se trancafiado num manicômio de segurança máxima, numa prisão subterrânea, juntamente com outros prisioneiros de alta periculosidade. Mas, ao contrário desses, presos em celas com grades, Lecter está retido numa cela de vidro, sem janelas. Embora possa observar e ser observado, ouvir e ser ouvido, não pode tocar nas pessoas e tampouco ser tocado. É preciso uma série de providências para vigiar um ser tão perverso e ardiloso, capaz de manobrar mentes. Sempre que sai da cela, é obrigado a usar uma máscara de hóquei, para impedi-lo de abocanhar as pessoas. É o personagem mais inteligente da trama.

Antes de se encontrar com Hannibal, Clarice Starling recebe as seguintes ordens:

• não tocar ou se aproximar do vidro da cela;

• não lhe passar nada além de papel (desacompanhado de lápis, canetas, grampos ou clipes de papel);

• usar apenas o passa-prato e nada mais;

• não aceitar nada que ele lhe passe.

No seu primeiro encontro com Hannibal Lecter, a agente Starling, embora apreensiva, procura se mostrar o mais calma possível. Tudo em Lecter é amedrontador: os olhos arregalados e penetrantes, os gestos rápidos, a voz firme e instigante, carregada de uma mordaz ironia. Ele está preso sob rigorosa vigilância, mas nas ruas um outro monstro amedronta pessoas e põe em alerta o FBI. Trata-se do serial killer Buffalo Bill (Ted Levine), apelido dado pelos jornalistas, que sequestra suas vítimas, todas elas mulheres, mantém-nas em cativeiro por um período de três dias e as mata e as esfola.

Búffalo Bill está em guerra com a sua própria identidade, vivendo um terrível conflito. Ele se vê como um transexual, infeliz com a sua forma física, que busca se libertar de sua condição de homem. Sua voz ora soa máscula, ora efeminada. Busca fazer para si uma segunda pele, é por isso que esfola suas vítimas. Uma das cenas mais bizarras é aquela em que ele, vestindo uma capa de seda e todo maquiado, com o pênis disfarçado entre as pernas, baila em frente a uma câmara de vidro, imitando uma mariposa. Casulos da espécie Acherontia styx são encontrados no interior dos corpos de suas vítimas.

A sexta vítima de Buffalo Bill é a filha de uma importante senadora. E Hannibal Lecter, no seu primeiro encontro com Starling, demonstra conhecer a psique do assassino, podendo ajudar a capturá-lo. Ao ser questionado sobre o assunto, informa à agente que, para lhe passar informações, exige duas condições:

• quer a sua transferência para uma sala com janelas;

• seus encontros com ela devem ser na base do “toma lá, dá cá”, ou seja, a cada informação dada, em contrapartida, ela lhe contará algo pessoal.

Clarice Starling aceita a proposta, ignorando uma das regras recebidas para extrair do psicopata informações sobre Buffalo Bill e salvar a moça. É neste momento que acontece a parte mais excitante do filme. Um jogo de pistas e enigmas entra em cena: a agente tentando ser lúcida e objetiva e Lecter tentando penetrar em sua mente, em busca de seu passado e de seus medos.

A jovem agente passa a seguir as pistas fornecidas pelo monstruoso psiquiatra, ao contrário da polícia que se envereda por outros caminhos. Suas investigações concentram-se na primeira vítima de Buffalo Bill, crendo que a mulher que despertou sua inveja certamente deveria viver próxima a ele. Visita a casa da vítima, onde encontra pistas que a levam à residência atual de um ex-vizinho. A presença de uma “mariposa da morte” no local conduz ao desfecho da trama, com uma das cenas mais emocionantes do filme, quando Starling vê-se à procura do serial killer na escuridão do porão da casa.

É interessante notar que Clarice Starling e Hannibal Lecter possuem muita coisa em comum. Enquanto Lecter é desprezado pela espécie humana por ser um serial killer e um canibal, Clarice, por ser mulher, é esnobada na escolha de uma profissão vista como própria para homens. Ele se vê impotente, encarcerado numa prisão de segurança máxima, enquanto ela se vê cercada de homens que a querem manobrar e que, ao mesmo tempo, dirigem-lhe olhares cobiçosos. É o poder de persuasão de ambos que os ajuda a se livrar das armadilhas. Os dois também tiveram grandes frustrações na infância.

Apesar de ser mulher em meio a um universo predominantemente masculino, Clarice Starling consegue alcançar Lecter na sua prisão gótica e Buffalo Bill em seu porão aterrador. O espectador enxerga-a como uma garota solitária que dá o máximo de si para fazer jus à profissão escolhida, apesar dos inúmeros desafios. Ele torce por ela. E é por isso que, ao perceber que Hannibal Lecter gosta de Clarice Starling e que vai ajudá-la a salvar a garota sequestrada por Bill, também passa a gostar do médico psicopata. E por que Lecter gosta de Clarice? Por que ela respeita a sua inteligência, o que desperta o seu afeto.

Filme imperdível!

Curiosidades

• Para compor Hannibal Lecter, Anthony Hopkins estudou arquivos de serial killers e de criminosos violentos, visitou prisões e assistiu a audiências e julgamentos.

• Hannibal Lecter fica em cena apenas 17 minutos, tempo necessário para deixar os espectadores petrificados e seduzidos pelo facínora. Se Anthony Hopkins ficasse mais tempo no filme, poderia tê-lo desequilibrado, mas ele sai de cena no momento certo para dar lugar ao talentoso Ted Lavine como Buffalo Bill.

• A mariposa que se encontra no cartaz do filme, Acherontia styx, é também conhecida como “mariposa da morte”. Ela traz na cabeça uma mancha em forma de caveira. E se refere a Buffalo Bill, evocando a sua metamorfose.

• Hannibal (2001), dirigido por Ridley Scott é uma continuação de O Silêncio dos Inocentes.

• Thomas Harris, escritor norte-americano, é o autor de O Silêncio dos Inocentes. Ele possui cinco best-sellers adaptados para o cinema: Domingo Negro, Dragão Vermelho, O Silêncio dos Inocentes, Hannibal, Hannibal – A Origem do Mal.

• O filme ganhou o Oscar de: melhor filme, melhor atriz, melhor ator, melhor diretor e melhor roteiro adaptado.

• Consagrado como um dos mais importantes filmes do cinema da década de 1990, O Silêncio dos Inocentes foi a terceira obra a vencer as cinco principais categorias do Oscar. Os outros dois filmes que conseguiram esse feito foram Aconteceu Naquela Noite, de Frank Capra (1934) e Um Estranho no Ninho, de Milos Forman (1975).

• O diretor Jonathan Demme aparece rapidamente em cena, com um boné azul, no final do filme.

• Jonathan Demme, nos seus comentários no DVD, declara que se arrepende por não ter se aprofundado mais na história de Lecter, abordando que ele fora vítima de abuso na infância.

• Bons filmes de terror: Psicose, Nosferatu, Hallowen, A Noite do Terror, O Exorcista, etc.

Fontes de pesquisa

Cinemateca Veja/ Abril Coleções
Tudo sobre cinema/ Sextante
1001 filmes para ver antes de morrer/ Sextante
A magia do cinema/ Roger Ebert
Wikipédia

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Filme – O SEXTO SENTIDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

osesen   osesena

De profundis clamo ad te Domine. (Das profundezas a ti clamo, Senhor.)

Há muito tempo na Europa, as pessoas escondiam-se nas igrejas. Eram como um santuário. Escondiam-se de pessoas más, que queriam colocá-las na prisão, machucá-las. (Malcolm Crowe)

Quero te contar um segredo agora. Eu vejo gente morta, andando por aí como gente comum. Uma não vê a outra. Elas só vêem o que querem ver. Não sabem que estão mortos. Estão em toda parte. (Coler Sear)

O Sexto Sentido (1999), obra do diretor indiano M. Night Shayamalan, é um daqueles filmes que nos prende a atenção do início ao fim, sem nos fornecer respostas prontas. O espectador não pode perder uma só cena, sob o risco de não compreendê-lo, tamanha é a sensibilidade com que a trama é alinhavada. É preciso ter muita acuidade para pegar as várias dicas que o diretor fornece, até chegar a seu final espetacular.

O Sexto Sentido foi o terceiro longa-metragem escrito e dirigido pelo diretor indiano Shayamalan. Tornou-se um grande sucesso só perdendo, à época, para Guerra nas Estrelas: Episódio I – A ameaça Fantasma. Arrecadou 26 milhões de dólares apenas no primeiro final de semana de sua exibição. Foi indicado a seis Oscar, dentre eles o de melhor roteiro original e melhor direção, transformando seu diretor num dos maiores nomes de Hollywood.

Uma das marcas registradas do cineasta indiano Shayamalan é a sabedoria com que lida com o sobrenatural. No filme em questão, ele traz para o espectador, principalmente para os menos observadores no desenrolar da trama, um final surpreendente. A atuação do pequeno Osment é magistral. Os diálogos mantidos entre ele e Bruce Willis desviam a atenção do espectador do final da história, prendendo-o sempre ao momento presente.

O enredo de O Sexto Sentido (ficção) poderia ser mais um dos tantos que abordam temas sobrenaturais, se Shayamalan não o conduzisse com maestria. O psicólogo Malcolm Crowe (Bruce Willis) encontra-se feliz ao lado de sua esposa Anna (Olivia Williams), comemorando um prêmio importante que recebera da prefeitura da cidade, por seu trabalho prestado a crianças e suas famílias, quando tem a casa invadida por um ex-paciente, Vicent Grey (Donnie Wahlberg). Até então escondido no banheiro, vestindo apenas uma cueca, o moço aparece e acusa seu ex-psicólogo de ter errado, com ele, no seu diagnóstico. Acaba por atirar nele e se mata, a seguir.

Certo tempo depois, o doutor Malcolm aparece sentado em frente a um prédio de apartamentos. Um garotinho sai dali e é seguido pelo psicólogo até à igreja. Ali encontra o menino brincando entre os bancos, com miniaturas de soldados e tenta travar um diálogo com ele, depois de se desculpar pelo atraso no encontro. Coler Sear (Haley Joel Osment) rumoreja uma frase em latim e se afasta, levando consigo uma pequena imagem. Eles se propõem a se verem novamente.

Os pais do pequeno Coler são divorciados e ele vive com sua mãe Lynn (Toni Collette), que se sente incapaz de compreender o comportamento do filho. Tampouco ele é popular na escola, onde os colegas dizem que é doido e não tendo, sequer, um amigo. Contudo, é um garoto muito inteligente que demonstra conhecimentos excepcionais, inclusive contando em sala qual era o apelido do professor na sua infância. Conta, também, que o prédio da escola já fora um lugar de execuções.

O psicólogo Malcolm não força o garoto a dizer nada. Apenas vai lhe abrindo possibilidades para que confie nele e lhe conte seu “segredo”. Enquanto isso, o casamento de Malcolm e Anna desanda, chegando ao ponto de marido e mulher não mais se falarem. Ela se sente ressentida com a ausência do marido, que se doa excessivamente aos pacientes, deixando a relação dos dois em segundo plano.

Numa conversa entre Malcolm e Cole, o pequeno quer saber o motivo da tristeza do psicólogo. Esse lhe diz que não foi capaz de ajudar um menino igualzinho a ele e, por isso, não consegue tirar aquilo da cabeça. Cole, então, sente-se confiante com a confissão do doutor e lhe revela qual é o seu segredo:

Eu vejo gente morta.

Daí para frente o filme transforma-se numa grande surpresa. É bom que o espectador prepare o coração para o que vem a seguir.

M. Night Shymalan (diretor)

Embora seus pais já morassem nos Estados Unidos, ele nasceu na Índia, onde sua mãe foi passar os últimos meses de gravidez. O sobrenome Night foi adotado, influenciado pela espiritualidade dos índios americanos.

Curiosidades:

• O Sexto Sentido foi indicado a seis Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original, melhor montagem, melhor ator coadjuvante (Haley Joel Osment) e melhor atriz coadjuvante (Toni Collette).

• Indicado ao Globo de Ouro de melhor roteiro e melhor ator coadjuvante.

• O diretor Shyamalan atua em quase todos os filmes que dirige. Em O Sexto Sentido ele é o médico que atende o garotinho no hospital.

• Foi o filme mais assistido no Brasil em 1999.

• Haley Joel Osment começou a atuar aos 4 anos em comerciais. Estreou no cinema como o filho de Forrest Gump – O Contador de Histórias (1994).

• Haley Joel Osment foi impedido assistir ao filme, pois a censura estipulava a idade mínima de 14 anos.

• Por seu papel de Cole Sear, Osment venceu 13 prêmios e foi indicado a outros 7.

• Osment, adolescente, teve problemas com bebida e drogas.

• Para interpretar Vicent Grey o ator Donnie Wahlberg emagreceu 21 quilos. Esse é um dos seus papéis mais aclamados.

Nota:
O roteiro de O Sexto Sentido dá todas as dicas de qual será o seu final. Mas é preciso muita atenção para percebê-las. Se você ainda não viu o filme, e pensa em vê-lo, não leia as informações abaixo:

• Sempre que um fantasma está presente e seu “estado de espírito” é raivoso ou agitado, a temperatura no ambiente cai. O espectador pode “pressentir” que ele está ali.

• A queda de temperatura quase não acontece com a presença do doutor Malcolm, porque dificilmente ele fica zangado ou irritado.

• O psicólogo usa as mesmas roupas em todo o filme. São as mesmas peças usadas na primeira cena. As mudanças de roupa vêm dessa cena: sobretudo, cachecol e o suéter. A camisa é sempre a mesma.

• Depois da primeira cena, Malcolm não troca uma palavra com outra pessoa, a não ser com o pequeno Osment.

• A mãe de Osment nunca conversa com o psicólogo sobre o filho.

• A cor vermelha é pouco usada em todo o filme. Aparece somente em elementos que tem relação com o “outro mundo”, por quem está nele, ou pelos que foram “tocados” por espíritos. Cole, quando é preso no calabouço e agredido, usa uma blusa vermelha. Assim como é vermelho o balão, indo em direção ao calabouço. A tenda no quarto, onde aparece a menina Kyra e o vestido da mãe dela são vermelhos. Assim como os números no toca-fitas e a maçaneta que Malcolm tenta abrir. O guardanapo na mesa de jantar de Malcolm, a porta da igreja e as pílulas antidepressivo no banheiro são vermelhos, etc.

• O efeito que o doutor Malcolm exerce no mundo físico é limitado. Ele não consegue abrir porta, não mexe a cadeira ao se sentar no restaurante, mas é capaz de quebrar o vidro da fachada da loja da mulher, abri e ler o dicionário de latim, etc

Cenas imperdíveis:

• Anna vai ao porão pegar uma garrafa de vinho e sente frio. Ao reencontrar o marido leva roupas de inverno. Observe a cor da luz do porão.

• A cena em que Cole conta o seu segredo a Malcolm. O menino diz, entre outras coisas, que ele vê mortos, que não sabem que estão mortos. Durante a fala, a câmara vai lentamente se aproximando do rosto do psicólogo.

• A entrega da caixa com a fita-cassete, em que Kira desmascara a madrasta.

• A cena em que Malcolm toma ciência de que está morto.

Fonte de pesquisa:
Cinemateca Veja
Wikipédia

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