Arquivo da categoria: Cinema

Artigos variados sobre cinema e a análise de filmes que se tornaram clássicos.

Filme – O ESTRANHO SEM NOME

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Gosto de dirigir da mesma maneira que gosto de ser dirigido. (Clint Eastwood)

Amo cada aspecto da criação de filmes e acho que vou me dedicar a isso pelo resto de minha vida. (Clint Eastwood)

 Ao ler a sinopse de O Estranho Sem Nome (1973), o diretor Clint Eastwood gostou da história, principalmente por diferir dos faroestes vistos até então, optando por filmá-lo, embora nunca tivesse dirigido um western.

A produtora do diretor, Malpaso Company, uniu-se à Universal para levar o projeto avante. Um pequeno impasse aconteceu logo no início, quando a coprodutora quis que o filme tivesse como cenário uma cidade cenográfica em Hollywood e Clint optou por rodar o filme à beira do lago Momo, localizado cerca de 500 quilômetros de Los Angeles, justificando que o lugar não lembrava os cenários dos já conhecidos faroeste. Uma vez tendo convencido a Continental, Clint conseguiu que uma equipe de 56 pessoas montasse o cenário em 18 dias. A pequena cidade, onde seria rodado o filme, era composta por 14 construções.

Como sempre acontece diante do novo, a crítica dividiu-se ao ver o filme. Uns criticaram as mudanças feitas “num” faroeste, outros se postaram contra a violência e, até mesmo o lendário John Wayne enviou uma carta a Clint criticando a maneira como mostrou o Velho Oeste em seu filme. No entanto, alguns críticos aplaudiram a coragem do diretor, ao tentar trazer inovações para o gênero. Enquanto isso as salas de exibição estavam sempre cheias e o filme arrecadou 15 milhões de dólares só no seu país de origem.

Sinopse

Tudo parece tranquilo, com um lago azul e sereno ao fundo, quando um cavaleiro solitário percorre lentamente a rua principal de Lago (nome da cidade), em direção ao bar (saloon), tendo todos os olhares voltados para ele, como se vissem um ser de outro mundo. Ninguém parece estar imune à presença do forasteiro.

No bar, onde o desconhecido pede uma cerveja e uma garrafa de uísque, é provocado por três homens. Depois de lhes responder que é muito rápido no gatilho, ele deixa o local e se dirige para uma barbearia que fica em frente ao local. Quando já se encontra pronto para ser barbeado, os mesmos provocadores adentram no lugar, ainda mais desafiadores. O trio parte para agredir o desconhecido e enxotá-lo da cidade. Com as mãos sob o avental usado, o desconhecido saca sua arma e atira nos três sujeitos, num piscar de olhos, matando-os.

Tudo estaria muito bem, se os três pistoleiros não estivessem a serviço da companhia mineradora que sustenta a cidade. Estavam ali para proteger os moradores contra certos bandidos prestes a deixarem a cadeia. Os fora da lei foram presos por causa dos habitantes de Lagos e, com certeza, voltariam para acertar contas.

Ao matar os três capangas, o desconhecido deixou a cidade desprotegida. Os habitantes, amedrontados, fazem-lhe uma proposta: se ele ficasse para protegê-los, poderia usufruir de tudo na cidade, sem ter que pagar por coisa alguma. O desconhecido aceita, mas desde que suas ordens sejam obedecidas por todos, inclusive pelo xerife. Sendo que, dentre elas, estaria a incumbência de pintarem a cidade toda de vermelho e de mudaram o seu nome para Hell (Inferno). Trato aceito. A primeira coisa que faz é destituir o xerife e colocar no seu lugar um anão, que passa a acompanhá-lo em todos os momentos de sua permanência na cidade.

O mais interessante na história é que, sempre que se deita, o desconhecido mostra em sonhos a visão de um xerife sendo chicoteado até a morte por três indivíduos. A cena é presenciada por toda a cidade, sem que ninguém faça nada para socorrê-lo. Nenhuma pista a mais é fornecida ao telespectador. Tampouco se sabe que relação teria o forasteiro com aquele xerife. E, se ele via a cena mentalmente, supõe-se que deveria estar presente. E por que nada fez? Ou seria tudo aquilo meramente fruto de sua imaginação?

O telespectador espera até o último segundo para resolver o enigma, sem conseguir desvendá-lo. Sobre essa parte, Clint explicou em uma entrevista, que no roteiro inicial, o desconhecido era irmão do xerife morto, mas que ele retirou tal parte, para que cada telespectador tirasse as suas próprias conclusões sobre a causa que levou o desconhecido a agir daquela maneira, em relação aos moradores da cidade. Ou seja, a sua obra ficou em aberto para a interpretação de cada um.

Voltando aos críticos, a maioria deles passou a ver o Estranho Sem Nome como um dos faroestes mais famosos dos anos 70. Essa gente é mesmo muito complicada!

Como todos sabem, o diretor Clint Eastwood é também ator. Sua estreia como diretor deu-se com Perversa Paixão (1973). O Estranho Sem Nome foi o seu segundo filme na direção. Clint veio de uma família pobre: pai metalúrgico e mãe operária. Já havia trabalhado como lenhador, frentista, em siderúrgica, em fábrica de aviões, etc. Foi incentivado a buscar a carreira de ator por seus colegas de exército. E, assim como Woody Allen, gosta de atuar em seus filmes.

Dentre todos os filmes feitos por Clint Eastwood, Os Imperdoáveis foi a consagração de todos os seus anos dedicados ao cinema. O filme levou 4 Oscar, incluindo o de melhor filme e melhor diretor. Clint também foi indicado aos dois principais prêmios (melhor diretor e melhor filme) por Sobre Meninos e Lobos. E, no ano seguinte à sua indicação, levou novamente o prêmio de melhor diretor e melhor filme por Menina de Ouro. O homem merece mesmo que tiremos o chapéu para ele. Haja talento e dedicação!

Além dos filmes citados acima, Clint dirigiu, entre outros, O Destemido Senhor da Guerra, Um Mundo Perfeito, As Pontes de Madison, Dívida de Sangue, A Conquista da Honra, A Troca, Gran Torino, etc.

Curiosidades:

• A pintura da cidade de Lagos de vermelho foi iniciada pelos atores, mas concluída por uma equipe de pintores.

• As cenas foram filmadas na sequência cronológica e levaram seis semanas.

• Não apenas o cenário foge à tradição dos velhos filmes de faroeste, como também a trilha sonora.

• Clint foi acusado por John Wayne por revisionismo. Essa tendência é levada às últimas consequências em Os Imperdoáveis. O único aspecto comum aos filmes de western é o elenco quase que exclusivamente masculino.

• Após matar os três provocadores, o desconhecido tira do coldre pendurado uma coronha de madeira. O que levou os pistoleiros a acharem que ele estava desarmado.

• Na cena vista por Clint sobre a morte do xerife, o único rosto iluminado é o do atual xerife. Os demais estão na penumbra.

• O texto bíblico que decora parte da igreja é de Isaias 53, versículos 3 e 4.

• Eastwood faz uma homenagem aos seus dois mentores cinematográficos, Sergio Leone e Don Siegel, colocando seus nomes em duas lápides do cemitério, na cena final.

Fontes de pesquisa:
Cinemateca Veja
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Wikipédia

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Filme – NOSSO LAR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O filme Nosso Lar, baseado no livro espírita do mesmo nome, acaba de estrear no cinema nacional, numa superprodução, que custou cerca de R$ 20 milhões, sendo considerado o mais caro longa-metragem do cinema brasileiro. Possui todos os elementos para fazer o mesmo sucesso de Chico Xavier – O Filme, que já abocanhou mais de quatro milhões de espectadores. Até o momento, cerca de 600 mil pessoas já o viram. Nosso Lar é um filme de longa metragem brasileiro, dirigido e roteirizado por Wagner de Assis.

O livro Nosso Lar, segundo a doutrina espírita, foi psicografado (psicografar é o ato de redigir o que foi ditado por espíritos) pelo médium Chico Xavier, em 1944. Já vendeu mais de 2 milhões de exemplares. Faz parte da coleção A Vida no Mundo Espiritual, atribuída ao espírito de André Luiz.

Segundo reportagem da revista Época, o maior desafio foi a construção da cidade cenográfica celestial Nosso Lar, baseada nas descrições do livro de Chico Xavier, que exigiu seis meses de intenso trabalho por parte dos arquitetos, para sua projeção. Algumas de suas linhas foram inspiradas em Oscar Niemeyer e Santiago Calatrava, resultando numa obra futurista muito bonita. Há, também, referências aos anos 40, período em que o livro foi escrito.

A criação da cidade cenográfica também foi inspirada nos desenhos minuciosos da médium Heigorina Cunha, criados a partir de suas observações realizadas após suas supostas saídas do corpo, 1979, conduzidas e orientadas pelo espírito de Lucius. Os detalhes arquitetônicos da cidade são de grande riqueza. A planta baixa, desenhada por ela, tem a forma estelar e é cercada por um muro de proteção magnética. Cada ponta da estrela possui um ministério e no centro localiza-se a Governadoria, ponto de encontro dos seis ministérios, local onde são tratados os assuntos administrativos e serviços prestados na cidade. Chico Xavier confirmou que se tratava realmente da cidade Nosso Lar.

Os efeitos especiais do filme são muito bem feitos. As cenas foram rodadas em locações no Rio de Janeiro e Brasília, sendo complementadas por computador Intelligent Creatures de uma empresa canadense.

O filme conta os primeiros anos da vida pós-morte do médico André Luiz. Depois de passar pelo Umbral (espécie de purgatório), vai viver numa “colônia espiritual”, onde os espíritos se encontram, para aprender e trabalhar nos períodos entre as encarnações. Ali, ele recebe informações sobre a vida no lugar: as leis a serem observadas, a importância do trabalho a ser feito e os possíveis contatos com familiares vivos. Aprende sobre a importância do trabalho e sobre a Lei de Causa e Efeito a que, segundo o espiritismo, todos os espíritos estão submetidos.

Também conhecida como Lei da Casualidade, A Lei de Causa e Efeito é um dos princípios fundamentais da doutrina espírita, que explica os porquês das incertezas e percalços da vida humana. Segundo ela, a todo ato da vida moral do homem corresponde uma reação semelhante dirigida a ele, ou seja, tudo que recebemos é resultante de nossas ações. De modo que o ser humano encontra a chance de crescer com as vicissitudes da vida, se souber aceitá-las e delas tirar proveito, pois tudo que nos acontece tem uma razão de ser. Nada nos é injustamente atribuído.

Não é a primeira vez que o livro mais vendido da doutrina espírita chega ao público de todos os credos. A novelista Ivani Ribeiro baseou-se no livro Nosso Lar, para escrever a novela A Viagem, em 1975, que já foi produzida em duas versões, com muito sucesso.

O filme Bezerra de Meneses – O Diário de um Espírito, 2008, foi o pioneiro. Depois vieram Chico Xavier – O Filme e Nosso Lar. Outras produções ainda chegarão às telas neste semestre: As Mães de Chico e o documentário As Cartas. O cinema espírita é o novo filão do cinema nacional. De acordo com o antropólogo Everado Rocha (PUC-Rio), além da curiosidade natural sobre a vida depois da morte, o imaginário brasileiro é bem propício a esse tipo de filme.

O que o leitor pensa a respeito da reencarnação? Deixe aqui os seus comentários, de modo a enriquecerem este texto.

Fonte de pesquisa:
Revista Época/ 30 de agosto de 2010
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nosso_Lar

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Filme – MAD MAX

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os três filmes Mad Max penetraram no mito universal do herói. Pude entender do que Carl Jung estava falando, quando descreveu o inconsciente coletivo. (George Miller)

Hollywood é uma fábrica e o ator é parte do mecanismo. Se ele quebrar será reposto. (Mel Gibson)

Mad Max (1979) é um desses filmes despretensiosos, feitos com um orçamento mínimo, e que cai nas graças do público, deixando para trás, nas bilheterias, astronômicas produções, transformando-se em um filme cult em todo o mundo.

Tanto o diretor, George Miller, que só havia feito um curta-metragem na época, quanto o ator principal, Mel Gibson, com apenas 21 anos, eram desconhecidos na época do lançamento do filme, rodado na Austrália. E, para coroar as surpresas de seu sucesso, os filmes australianos eram, na época, quase que desconhecidos no mercado norte-americano e internacional.

A história do filme acontece na Austrália, num futuro bem próximo, quando o país transforma-se numa miserável terra de ninguém, amedrontada com uma guerra civil, que tem na sua origem, entre outras causas, a falta de combustível. As estradas encontram-se desérticas, despoliciadas e se transformam num palco de vândalos brutais.

A força policial, MFP (Main Force Patrol) faz o possível para trazer um pouco de ordem ao caos, combatendo os bandos desvairados que, em suas motocicletas possantes, circulam livremente pelas caóticas cidades e estradas, fazendo maldade às pessoas que encontram à frente, como se tudo estivesse à mercê deles. O problema maior é que a MFP encontra-se na penúria, praticamente sem equipamento, com um número insuficiente de policiais, o que a impossibilita de fazer com que cumpram a lei.

Dentre os policiais encontra-se Max Rockatansky (Mel Gibson) que, apesar de muito jovem, sente-se totalmente comprometido com o seu papel e responsável pelo distintivo de número 4073 que carrega. Os poucos colegas também se entregam ao combate ao crime, apesar de sentirem que a batalha é cada vez mais inglória.

Crawford Montizano (Vicent Gil) é o terrível Cavaleiro da Noite, que circula pelas estradas cometendo as maiores barbaridades. Após fugir da prisão, assassina um policial, rouba-lhe o carro patrulha e, ao lado de uma mulher tão louca quanto ele e que o incentiva na sua crueldade, dirige enlouquecido pelas estradas, desafiando a MFP, que se põe em seu encalço, com alguns carros.

O policial Max consegue deter os dois marginais, que têm um fim trágico. Após tomar conhecimento da morte do bandido, Fifi Macaffee (Roger Ward), chefe da MFP, alerta Max para que fique atento, pois toda a gangue dos fora da lei estará agora à sua procura, para vingar a morte do chefe.

Após a morte do Cavaleiro da Noite, a violenta gangue de motociclistas passa a ser liderada por Toecutter (Hugh Keays-Byrne), que tem como objetivo principal vingar a morte do ex-chefe, acabando com a MFP. Encontram-se mais violentos e destemidos, saqueando e matando pessoas.

Quando um casal de namorados é barbaramente atacado pelo bando, inclusive violentado, e tendo o carro destruído, Max e o colega Jim Goose (Steven Brsley) vão até o local, onde ainda se encontra um membro da gangue, Johnny The Boy, que, drogado, continua violentando a garota. Ao ser preso, diz um monte de palavrões para os dois policiais, numa atitude provocativa. É levado preso.

Como ninguém faz queixa contra o marginal preso, ele é posto em liberdade. Fato que causa revolta em toda a corporação, principalmente em Goose que, enraivecido, chega a agredir o fora da lei, que continua ainda mais provocativo. Os colegas seguram Goose e Johnny The Boy é levado embora por um dos seus comparsas, a pedido do chefão.

Para se vingar de Goose, Johnny The Boy sabota sua motocicleta. Ela trava em alta velocidade e derruba o policial, que sai ileso da queda violenta. Uma caminhonete é trazida para que ele leve a sua moto para o conserto. Ao levá-la, é novamente atacado. O carro vira e ele fica debaixo da lataria. Toecutter aproveita para se vingar, exigindo que Johnny ponha fogo no carro. O marginal tenta se safar do ato, mas é obrigado a fazer o que o chefe pede.

Quando Max visita o amigo queimado no hospital, fica extremamente revoltado com o que vê. Dirige-se ao chefe e pede demissão. Fifi pede-lhe que tire umas férias e só então decida por se demitir ou não.

Max viaja com sua esposa Jessie (Joanne Samuel) e o filho pequenino, na intenção de se relaxar. Mas a gangue segue o casal e a criança até a casa onde ficarão hospedados, sem que eles percebam. A partir daí, muita maldade é feita à família do policial. Furioso, ele coloca o uniforme da MFP, pega uma pistola de cano duplo, rouba um carro turbinado e se põe a caçar a gangue. Será ele agora a fazer justiça, sem dar satisfação a ninguém.

O sucesso inesperado de Mad Max foi tanto, que transformou Mel Gibson em celebridade e deu origem a duas sequências do filme, e ainda se fala num quarto filme a ser produzido. Sequências:

Mad Max 2 – A Caçada Continua (1981) que, produzido dois anos após o primeiro filme, também fez muito sucesso. O tema central é a falta de combustíveis. Max perde a esposa. Facções em guerra comandam a história. A polícia inexiste. Max continua lutando para impor a ordem.

Mad Max 3 – Além da Cúpula do Trovão (1985), onde Max chega aos domínios de uma imperatriz debochada, Tina Turner, que dirige uma fábrica onde o combustível é feito com excremento de porco. Uma guerra nuclear havia dizimado o planeta e tudo se encontra em ruínas.

Mas nem tudo foram flores para Mad Max. Em função do alto grau de violência (para a época), recebeu críticas contundentes, e teve problemas em vários países como o Reino Unido, Suécia, Nova Zelândia, entre outros. Contudo, o filme mudou a maneira como o cinema mostrava as cenas de perseguição e colisão de carros. Por isso, foi muito imitado.

Curiosidades:

• O orçamento do filme era tão pequeno, que o diretor George Miller precisou destruir seu carro, para fazer uma cena.

• Mad Max acabou se tornando um dos filmes mais lucrativos (relação custo/benefício) do cinema, figurando no Guinness durante 20 anos. Perdeu seu posto em 2000 para A Bruxa de Blair.

• George Miller diz que se inspirou no filme americano Um Garoto e Seu Cachorro.

• Por falta de dinheiro, apenas as roupas vestidas por Mel Gibson eram de couro. O resto vestia material sintético.

• A atriz Sheila Florance, que faz May Swaisey, a senhora que hospedava Max e família em férias, caiu e quebrou o joelho na cena que corre carregando uma espingarda. Ela voltou ao filme para completar as cenas com a perna e o quadril engessados.

• O filme foi montado na casa do diretor George Miller. A edição de imagens foi feita na cozinha e a de som, na sala.

• O diretor George Miller buscou inspiração para as duas sequências de Mad Max nos filmes japoneses de samurai e na obra do antropólogo Joseph Campbell, as mesmas fontes utilizadas por George Lucas para a saga Star Wars.

• As cenas de ação foram feitas numa época em que ainda não havia os efeitos gerados por computador. O que existe é o trabalho ousado de dezenas de técnicos e dublês.

• Até então, nenhum outro filme havia usado tantas câmaras acopladas em carros, nem mostrado com realismo a violência que pode acontecer nas estradas.

• Há poucos disparos no filme. A maioria dos ataques é feita com rodas e ferragens.

• Na trilogia de Mad Max existem os mais variados tipos de máquinas: carros esportes, motocicletas, trailers, caminhões, hot rods, rebocadores, caminhonetes, bugies e até um girocóptero. Carros e corpos se equiparam como instrumentos e alvos de violência.

Sugestão

Para quem gosta de filmes do gênero:

Warriors – Os Selvagens da Noite (1979)/ Fuga de Nova Yorque (1981)/ Metrópolis (1926)/ A Última Esperança da Terra (1971)/ A Mais Cruel Batalha (1970)/ Um Novo Amanhecer (1975)/ Ano 2000 – Corrida de Morte (1975)/ O Dia dos Mortos (1985)/ Os Gladiadores do Bronx (1990)/ Terra Tranquila (1985)/ O Dia Seguinte (1983)…

Fontes de Pesquisa:
Cinemateca Veja
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Filme – MEIA-NOITE EM PARIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Apesar de ter muitos de seus filmes passados em Nova York (Estados Unidos), o cineasta Wood Allen que já filmou na Inglaterra (Match Point, Sonho de Cassandra…) e na Espanha (Vicky Cristina Barcelona), agora elegeu como cenário a Cidade Luz – Paris (França).

Meia-Noite em Paris (2011), rodado inteiramente em Paris, é um belíssimo filme de comédia romântica e fantasiosa que enche literalmente os olhos com seu cenário. Embora tenha sido indicado ao Oscar em quatro categorias: melhor direção, melhor filme, melhor direção de arte e melhor roteiro original, o filme acabou levando apenas um Oscar pela última indicação.

A trama conta a história de Gil (Owen Wilson), escritor e roteirista de Hollywood, que venera os grandes escritores americanos e cujo sonho é ser um deles. Apesar de ganhar bem na profissão de roteirista, não se sente realizado. Viaja então para Paris, cidade que ama, com sua noiva Inez (Rachel Mc Adams) e seus pais riquíssimos, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). O futuro sogro vai à cidade para fechar um negócio e não se constrange em mostrar a sua desaprovação pelo futuro marido da filha. Além disso, enquanto Gil cai de amores pela cidade, o trio debocha de tudo, num comportamento bizarro de milionários sem cultura. E, como não poderia deixar de ser, o sensível Gil encontra-se cada vez mais descontente em meio àquela ridícula família. E é ali que seu sonho de se tornar um escritor famoso volta à tona com intensidade.

O mais interessante acontece quando, numa certa noite, após ouvir as doze badaladas de um sino de uma igreja, aproxima-se dele um automóvel antigo. Gil entra e é levado para a Paris dos anos 20, quando ali viviam os escritores Ernest Hemingway (Corey Stoll) e F. Scott Fitzgerald (Tom Hinddestlon) e o compositor Cole Porter (Yves Heck). E a partir desse momento, Gil passa a conhecer diversos pontos da cidade, encontrando os mais diferentes artistas, tais como: Gertrude Stein (Kathy Bates), poeta e escritora, que se oferece para ler o manuscrito de seu romance, Salvador Dalí (Adrien Brody), pintor surrealista, Luis Buñuel (Adrien de Van), cineasta, a quem Gil aventa um roteiro para um filme, Picasso (Marcial di Fonzo Bo) pintor cubista, dono de um mau-humor espantoso, Zelda Fitzgerald (Alison Pill), escritora, Josephine Baker (Sonia Rolland), cantora e dançarina, Paul Guguin (Olivier Rabourdin), pintor, Edgar Degas (François Rostain), entre outros. E, nesses encontros entre artistas, o nosso personagem acaba se apaixonando pela imaginária Adriana (Marion Cotillard), que tinha sido amante dos pintores Modigliani e Braque.

Gil, que até então se encontrava terrivelmente entediado com a presença de sua noiva e os pais dela, agora se vê encantado por se encontrar no meio de tanta gente intelectual e talentosa, pois, todos os dias, à meia-noite, o passeio repete-se, circulando por ateliês e cafés e da cidade. Ele está vivendo na época que mais admira, anos 20, sendo recebido com muito carinho por aquelas pessoas, que o acolhem como se fosse um deles.

A sedutora Adriana acha tudo normal. Para ela, a belle époque, anos 1890, foi a era de ouro de Paris, com seus pintores impressionistas, onde se encontram Edgar Degas e Gauguin, que por sua vez acham que a melhor época foi a Renascença. Ali estão os grandes mestres da história da literatura, das artes plásticas e da música.

O filme mostra que a Idade de Ouro nunca é aquela em que se vive.

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Filme – M – O VAMPIRO DE DÜSSELDORF

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A culpa não é minha (…). Não posso ajudar a mim mesmo. Não tenho controle sobre isto. Esta coisa diabólica entrou em mim: o fogo, as vozes, o tormento. Esta coisa está lá o tempo todo, controlando os meus desejos pelas ruas, seguindo-me, silenciosamente, mas não posso parar. Isto me possui. Quero escapar, quero fugir de mim mesmo, mas é impossível. Não consigo escapar. Tenho que obedecer. E saio pelas ruas perdido. Quero fugir disso, mas como? Sou possuído pelos fantasmas. Fantasmas de mães e das crianças. Elas nunca me deixam. Exceto quando faço isto. Depois leio os cartazes e vejo o que fiz. Como eu fiz isso? Mas não consigo me lembrar de nada. Mas, quem irá me acreditar? Quem sabe o que é isto para mim? Como sou forçado a fazer. Eu não quero, mas preciso. Alguém me ajude! (Hans Beckert)

O acusado está dizendo que não pode ajudar a si mesmo. Ele diz que tem que matar. Neste caso, ele pronunciou a sua própria sentença de morte. Alguém que admite sua impulsão para assassinar, deve ser extinto como um incêndio. Este homem tem que desaparecer, tem de ser eliminado. (O presidente da associação dos marginais)

O meu prezado presidente, que eu acredito ser procurado pela polícia por três assassinatos, disse que meu cliente prenunciou a sua própria sentença de morte. Este impulso, que o leva a matar, prova a sua inocência. Esta obsessão torna o meu cliente um irresponsável. E ninguém pode punir um irresponsável. Digo que este homem está doente. E que não deve ser entregue a um carrasco, mas sim, a um médico. Ninguém vai matar um homem que não é responsável por seus atos. Nem o Estado e nem vocês. O Estado é quem deve tomar as medidas que o tornem inofensivo, para ele deixar de ser perigoso para a sociedade. Todos querem me silenciar. Não permitirei que cometam um crime em minha presença. Eu ordeno que este homem tenha a proteção da lei. (O advogado do réu)

M – O Vampiro de Düsseldorf (1931) foi um dos primeiros filmes sonoros do cinema alemão e o primeiro filme falado do diretor Fritz Lang, o mais famoso diretor do cinema expressionista alemão, que usou nele poucos diálogos, mas transformou a câmara, que percorre ruas e escritórios e espeluncas, numa personagem delatora. O enredo do filme é inspirado num acontecimento real: a conduta de um serial killer, Peter Kurten, de Düsseldorf.

Hans Beckert (Peter Lorre) é um pedófilo atarracado e de olhos esbugalhados, que perambula pelas ruas da cidade alemã, seduzindo crianças com doces, balões e sua falsa amizade, para depois matá-las (os assassinatos não são mostrados no filme). Uma bola largada para trás, ou um prato vazio, ou um balão subindo em meio aos fios da rede elétrica sugere os crimes. Subtende-se que ele molesta as crianças, para matá-las em seguida. Enquanto não é descoberto, as pessoas desconfiam umas das outras, num clima de tensão e medo.

À medida que o número de crianças assassinadas avoluma-se, também cresce a indignação dos moradores da cidade em relação à polícia que demora em prender o malfeitor. Embora a pressão sobre a polícia seja cada vez maior e essa trabalhe dia e noite, vasculhando cada canto do lugar, os resultados são nulos. Os criminosos ressentem-se com a força policial espalhada por toda a cidade, que lhes impede o trabalho marginal. E, para aliviarem a tensão e poderem trabalhar em paz, formam uma rede para capturar o assassino, com a ajuda da associação de mendigos e das mulheres dos bordéis, espalhados por todos os lados. Assim, Hans Beckert (também chamado de Franz Becker) passa a ser procurado tanto pela polícia quanto pelos criminosos.

O diretor Fritz Lang intercala, magistralmente, as reuniões dos policiais com a dos bandidos. É preciso muita atenção do espectador, para saber quando se trata de uns e de outros, pois há muitas semelhanças entre elas, sobretudo as salas sombrias, o tom ríspido e a fumaça de cachimbos que esconde o rosto dos personagens.

O grupo de malfeitores logra êxito, ao botar a mão no assassino, embora a polícia já estivesse na pista do homem. Para que o caso não se arraste por mais tempo e, para que os marginais possam voltar à ativa, a gangue opta por julgar Hans, ignorando os trâmites legais. Reúne-se num porão, ambiente opressivo, com a presença de um grande número de pessoas do submundo e com parentes das vítimas. Os criminosos exercem a função de juízes. Nomeia um advogado como defensor do réu e dá início ao julgamento. É neste momento, que Hans confessa estar à mercê de forças superiores e que não controla a sua vontade.

Embora Hans Beckert seja o personagem central do filme, o seu tempo na tela é muito pequeno. Tampouco existe qualquer mistério em torno de sua identidade, pois, é visto logo no início do filme, olhando-se num espelho. A sua fala importante dá-se durante o julgamento, quando se encontra acuado e amedrontado. A maior parte da película é centrada na sua procura. Somente ao final, Hans ganha a oportunidade de se explicar, quando, totalmente lúcido, confessa suas fraquezas e questiona seus perseguidores. Em seu discurso, deixa claro que ele é uma vítima indefesa, enquanto os marginais, ali presentes, tinham tudo para serem diferentes. Eles são livres para cometer seus crimes, enquanto ele não tem escolha. Após sua defesa, Hans Beckert deixa de ser um monstro, para se transformar num homem doente que pede compaixão.

Em M – O Vampiro de Düsseldorf, Hans Beckert, o personagem central da trama, deixa uma interrogação sobre o fato de ser ou não culpado, por carregar uma psicose que o comanda e alucina, retirando-lhe o livre-arbítrio. Ele deixa claro que, qualquer um dos presentes poderia estar no seu lugar, sem direito de escolha. Fica para o espectador a mesma interrogação: E se fosse eu que estivesse no lugar de Hans?

M é inicial de Mörder, assassino, M é também o sinal que todos nós, indistintamente, trazemos nas duas mãos. (Agnaldo Farias)

Cenas imperdíveis:

• Por ocasião dos créditos iniciais do filme, enquanto a tela fica escura, um som aterrorizante é ouvido.

• O primeiro assassinato é sugerido através de uma montagem: o prato vazio da criança, a mãe gritando por ela e seu balão (presenteado pelo assassino) enroscado nos fios da eletricidade.

• A detenção de um velho inocente, suspeito de ser o assassino de crianças. Ele é atacado por uma multidão que o cerca.

• As conferências conspiratórias compostas por homens de rostos sinistros, vistos em meio às sombras e circundados pela fumaça.

• O criminoso observa uma vitrine e vê o reflexo de uma garotinha no vidro, o que traz o seu desejo doentio à tona.

• Uma garotinha mostra ao assassino que ele tem a letra “M” escrita a giz, na altura do ombro esquerdo, na parte de trás do paletó. Um ladrão de rua marcou o assassino para que pudesse ser identificado por seus perseguidores, logo após ter sido reconhecido por um cego.

• O discurso de Hans em sua própria defesa, quando treme de pavor de ser assassinado pelos marginais.

• O filme não possui nenhuma música, a não ser aquela assobiada pelo assassino (Peer Gynt, ária de Grieg), o que realça a dramaticidade do filme. Na cena do julgamento, muitos personagens são marginais de verdade. O assobio era do próprio diretor.

• Lang teve como último trabalho no cinema mudo os filmes Metrópolis (1927) e A Mulher na Lua (1929).

Fritz Lang (1890 – 1976) imigrou-se para os EUA, onde se tornou um famoso diretor de filme noir. Alguns de seus filmes: Vive-se uma só vez; Quando desceram as trevas; Os corruptos; No silêncio de uma cidade; Os conquistadores… Para muitos admiradores do cineasta, M – O Vampiro de Düsseldorf é a sua obra-prima.

O cineasta Fritz Lang queria que seu filme tivesse como título “Os Criminosos estão entre nós”, mas seu título foi vetado pelas autoridades nazistas da época. Segundo alguns críticos, Lang cria o retrato fiel da Alemanha pré-nazista. E, mesmo tendo sido convidado a trabalhar como cineasta oficial do III Reich, ele preferiu deixar a Alemanha. Fugiu primeiro para a França e depois para os Estados Unidos. Largou para trás a mulher Thea, que mais tarde se tornaria nazista, enquanto ele era metade judeu. A temática preferida na obra de Lang era “a luta do homem contra as forças que pretendem aniquilá-lo”.

Fontes de pesquisa:
Tudo sobre Cinema/ Sextante
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Ilha Deserta/ Publifolha

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Filme – LARANJA MECÂNICA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Vamos lá! Acabem comigo, covardes desgraçados. Eu não quero viver mesmo. Não neste mundo fedorento. É fedorento porque a lei e a ordem não existem mais. É fedorento porque deixam que os jovens batam nos velhos, como vocês estão fazendo. Não é um mundo onde um velho possa viver. Que tipo de mundo é este, afinal? Homens na lua, homens girando ao redor da Terra e ninguém mais presta atenção na lei e na ordem terrestre. (O mendigo espancado)

Nós nos divertimos com outros viajantes noturnos, brincando de donos da estrada. Aí fomos para o este. O que queríamos agora era fazer a velha visita surpresa. Era muito legal, bom para rir e liberar a velha ultraviolência. (Alex)

O diretor norte-americano, Stanley Kubrick, balançou os alicerces da sétima arte, quando trouxe para as telas Laranja Mecânica (1971), adaptação do romance homônimo do escritor inglês Anthony Burgess, em que mostra os desajustes sociais com os quais convive a humanidade. Confrontar o homem consigo mesmo e com a sociedade em que vive, parece ter sido uma preocupação constante na obra do grande diretor, a exemplo de Lolita, O Iluminado e Nascido para Matar. Mesmo em 2001, uma Odisseia no Espaço, nota-se a preocupação de Kubrick com o homem e o avanço sem freio da tecnologia.

Laranja Mecânica foi o filme mais discutível do diretor, mas acabou se transformando num clássico do cinema mundial. Chegou a ser retirado de circulação no Reino Unido pelo próprio Kubrick, por um período de quase 30 anos. Apesar de muito criticado, o filme foi um sucesso ao ser lançado, levando um grande público aos cinemas. Mesmo hoje, 40 anos depois, Laranja Mecânica é lembrado por aqueles que o viram e continua sendo um filme instigante para quem não o viu. Apesar de ter sido visto, à época, como uma fábula de ficção científica social, o tema encontra-se bem presente em nossos dias.

Alex (Malcolm McDowell) é o chefe de um grupo de 3 delinqüentes juvenis. Usam macacões brancos e chapéus pretos e uma bengala como arma. Os elementos transviados comunicam-se através de um dialeto (mistura de russo, inglês e cockney). São extremamente instáveis, drogam-se e cultivam um prazer doentio pela violência extrema. Estão sempre em busca de emoções fortes. Alex parece ter um único gosto sadio: a paixão pelo compositor alemão Ludwig van Beethoven.

Logo no início do filme, o grupo espanca um velho mendigo e massacra uma gangue rival. Tudo em nome da diversão. Em outra cena, os pervertidos simulam um pedido de socorro e pedem para usar o telefone de uma casa. Ao ser aberta a porta, espancam o escritor, dono da casa, deixando-o inválido e estupram sua esposa, que vem a falecer dois meses depois. Enquanto a cena aterrorizante acontece, Alex canta Singin`in the Rain (Cantando na Chuva) sordidamente.

O chefe começa a se dar mal quando invade o spa de outra mulher. Ela havia lido sobre o bando de adolescentes arruaceiros e, por isso, recusa-se a abrir a porta, depois de ouvir a mesma história sobre a necessidade de usar o telefone. Comunica o fato à polícia que se põe à caminho. Quando os policiais chegam, Alex já havia entrado por uma janela e esmagado a cabeça da mulher com uma escultura fálica. Seus amigos, chateados com seu comportamento cada vez mais agressivo para com eles, aproveitam para se vingar. Agridem-no com uma garrafa de leite, deixando-o caído na entrada da casa, onde é preso em flagrante.

Alex é sentenciado a 14 anos de prisão e encaminhado a uma cadeia extremamente rígida, onde as coisas funcionam na base do “olho por olho”, mas só fica preso dois anos. Ali, toma conhecimento do método Ludovico de tratamento, que consiste em fazer o indivíduo presenciar formas extremas de violência sob a influência de certo soro. Ávido por deixar a prisão, ele se oferece como voluntário. O objetivo da terapia experimental é fazer com que o criminoso passe a ter aversão à violência, de modo a extinguir sua propensão para o crime.

O modo como se dá a suposta “reabilitação” de Alex, tirando-lhe o livre-arbítrio, parece ainda mais terrível de que os crimes cometidos por ele. O garoto é amarrado, os olhos são mantidos abertos à força e ele é submetido a longas sessões de terapia. Também é drogado antes de ver os filmes, para que associe as ações violentas com a dor que estas lhe provocam. O método aplicado atinge o objetivo de acabar com a sua tendência violenta, mas, em contrapartida, retira-lhe toda a humanidade. Ele não mais comete violência, mesmo em defesa própria, mas também deixa de ser humano.

Assim que termina o tratamento, Alex passa por uma prova, diante de um grupo escolhido, quando é tido como apto para voltar à sociedade. O capelão é o único a se opor verbalmente ao método, sob a alegação de que:

O rapaz não tem escolha, tem? O interesse próprio e o medo da dor física levaram-no a esse grotesco ato de humilhação. Ele deixou de ser um malfeitor, mas deixa também de ser uma criatura capaz de escolhas morais.

Responde o Ministro:

Padre, isso são sutilezas. Não estamos preocupados com motivos, com éticas elevadas, mas com a diminuição da criminalidade e da superlotação de nossas prisões. Ele será o seu verdadeiro cristão, pronto a oferecer a outra face, pronto a ser crucificado em lugar de crucificar, profundamente enojado pela ideia de matar uma mosca. O importante é que funciona.

A nova vida de Alex é um fiasco, pois começa sendo rejeitado pelos pais. Diante da violência e do sexo ele sente vontade de vomitar, sentindo-se “paralisado e desumanizado feito uma laranja mecânica”. Não mais se vê como indivíduo. Fragilizado, é traído pelos amigos de seu antigo grupo e atemorizado por suas antigas vítimas. Também não consegue mais ouvir a 9ª Sinfonia de Beethoven, sua peça favorita. É levado a tentar suicídio, passa meses no hospital e se torna um autômato nas mãos de políticos que o usam conforme seus interesses.

Embora o filme tenha sido criticado, à época de seu lançamento, por sua alta dose de violência, hoje não causa espanto algum. Quem o vê pela segunda vez, já sem a ansiedade da primeira, irá notar como as cenas de violência não são explícitas, em sua mioria, mas apenas sugestionadas pelo diretor. Observe a cena em que o mendigo é atacado pelo grupo. Aos poucos ela vai se distanciando dos olhos do espectador. Quando a mulher do escritor é violentada, ela só é vista até o momento em que o seu macacão é cortado. Outra cena sem violência explícita é aquela em que Alex copula com duas garotas, sob o som da abertura do Guilherme Tell de Rossini. A velocidade com que a cena é mostrada não permite visualizar com clareza a bacanal.

Laranja Mecânica é um filme que deve ser visto, sobretudo, por sua capacidade de nos levar à reflexão sobre temas que, muitas vezes, passam-nos despercebidos:

• A agressividade gratuita de pessoas que não possuem nenhum compromisso com a vida, ou que se sentem enfaradas com o que fazem, foi sempre uma constante na história da humanidade. Infelizmente, nos dias de hoje, essa hostilidade é cada vez maior e, portanto, muito mais destrutiva.

• Os pais, nem sempre, têm clareza daquilo que fazem os filhos menores, deixando-os à própria sorte, quando, muitas vezes, eles precisam urgentemente de ajuda.

• O indivíduo está sempre à mercê do Estado, fragilizado nos seus direitos individuais, pois esses devem estar sempre em conformidade com o “desejo” do Estado vigente, seja lá qual for a ideologia de seus comandantes.

•  A brutalidade institucionalizada é, muitas vezes, mais amedrontadora, pois parte dos responsáveis por assegurar os direitos individuais.

• A hipocrisia dos políticos estende-se além dos partidos e das ideologias. Debaixo do mantra, que diz proteger o cidadão ou a coletividade, escondem, quase sempre, interesses escusos, postos à mesa como se fossem direcionados ao bem comum. Mas, nas entrelinhas, é o interesse próprio a meta a ser atingida.

• Quando Alex perde a sua tendência para o mal, também perde a sua humanidade. Fica subentendido que o homem precisa do mal e do bem (dualidade) para se tornar humano. Conclui-se, portanto, que sem o livre-arbítrio perde-se a natureza humana. Que paradoxo!

Mas a questão que gostaria de discutir com o leitor é a seguinte:

É ético, moral ou humano submeter criminosos a processos que, em nome de salvaguardar a sociedade, retirem-lhes o livre-arbítrio? Ou eles devem pagar por seus erros sempre conscientes do que fizeram? Em qual situação Alex pagou um preço maior por seus crimes: aquela em que teve de se submeter a uma rígida casa de detenção, ou, quando estava abobalhado, sem consciência de si mesmo? Com a palavra o leitor.

Fontes de pesquisa:
1001 filmes para…
Folha de Cinema
Wikipédia

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