Arquivo da categoria: Cinema

Artigos variados sobre cinema e a análise de filmes que se tornaram clássicos.

Filme – JAMES BOND (007)

Autoria de Lu Dias Carvalho

jambon   jambona

É fato que nem todos os homens gostariam de ser James Bond, um herói que tem como compromisso salvar a humanidade, derrotando vilões de sonhos megalomaníacos, sedentos de dinheiro e poder. Ao contrário, muitos escolheriam, de bom grado, o lugar dos canalhas, se é que no lugar deles ainda não se encontram. Contudo, os jovenzinhos, ainda puros no trato com a gulodice humana pela busca de dinheiro e poder, adorariam ser o charmoso agente 007, que combate os sórdidos, utiliza aparelhos eletrônicos inimagináveis e se encontra sempre alerta para salvar o planeta. Também são admiradores da forma irreverente com que James lida com seus superiores, não obedecendo às suas ordens, quando sente que a Terra corre perigo. Ao chegar ao fim da empreitada, o herói é sempre perdoado, pois o serviço prestado é completo e perfeito.

James Bond não é um herói qualquer. É um homem charmoso, culto, inteligente, com controle absoluto sobre suas emoções. É capaz de fazer piadas diante da morte iminente. Talvez porque saiba que o seu santo é forte e, na hora H, o auxílio chega, ainda que de uma forma inimaginável. Todos os fãs sabem que James tem permissão para matar e não morre nunca, embora apanhe bastante.

O cinema foi pródigo em heróis no século XX, mas nenhum sobreviveu até os dias de hoje com tanto vigor e charme como 007. É claro que não podemos nos esquecer do inteligente Sherlock Holmes, que se imortalizou nas telas, e de Tarzan, herói que povoou a infância de muitos de nós. É bom que o leitor observe que me refiro a filmes que possuem um único herói e que têm uma estrutura de tempo contínua. Não vamos misturar aqui séries como Guerras nas Estrelas, etc.

James Bond é um agente do serviço secreto inglês, treinado para não revelar nenhum segredo, mesmo sob a mais violenta tortura, que recebe ordens de M., que, a partir dos últimos filmes da série foi substituído por uma mulher. Moneypenny, a secretária do órgão, morre de amores por James e é cortejada por ele. Os filmes não trazem longas cenas de sexo, apenas prelúdios e epílogos, com cortes rápidos. O sexo é insinuado através de jogos de palavras inteligentes. Apresentam mulheres atraentes que nunca aparecem inteiramente despidas. Quem não se lembra da bela Úrsula Andres saindo do mar em O Satânico Dr. No?

O escocês Sean Connery é o responsável pelo papel de James Bond nos primeiros filmes, o que lhe alavancou uma sólida carreira no cinema. O seu desempenho fantástico ofuscou todos os outros atores que vieram a seguir. O crítico Roger Ebert comenta:

Connery tinha autoconfiança e a sagacidade necessárias para o papel, um dom para não demonstrar emoções e para o duplo sentido. Mas possuía algo mais que faltou a todos os outros, exceto talvez a Dalton: a dureza do aço. Quando Connery apertava os olhos e retesava o corpo, o espectador já sabia que a diversão terminara e que o derramamento de sangue estava prestes a começar.

Segundo vários críticos de cinema, a longevidade de James Bond entre os heróis de séries deve-se, sobretudo, ao controle de qualidade: quase todos os filmes possuem a mesma equipe de produção, mantendo o mesmo padrão de qualidade, em que Bond é reconhecidamente o mesmo herói de 1962, quando estreou com O Satânico Dr. No. Sem falar que o cenário é sempre maravilhoso, levando o espectador a várias partes do mundo. A apresentação de cada filme é um show à parte.

007 Contra Goldfinger (1964) é considerado o melhor filme da série por alguns críticos de cinema, por conter todos os ingredientes da fórmula Bond funcionando seguidamente. Trata-se de um elo entre os dois primeiros filmes, O Satânico Dr. No e Moscou contra 007, que são bem modestos, feitos com orçamentos pequenos, e os filmes que o precedem, cheios de extravagância, pois são feitos com orçamentos milionários.

James Bond já foi interpretado por seis atores na série oficial:

1. Sean Connery (1962 – 1967; 1983 cujo filme não faz parte da saga)
2. George Lazenby (1969)
3. Roger Moore (1973 – 1985)
4. Timothy Dalton (1987 – 1989)
5. Pierce Brosnan (1995 – 2002)
6. Daniel Craig (2006 – presente)

Curiosidades

James Bond, também conhecido pelo código 007, é um agente secreto fictício do serviço de espionagem britânico MI-6, criado pelo escritor Ian Fleming em 1953.

• O personagem foi apresentado ao público em livros de bolso na década de 1950, com a novela Casino Royale, tornando-se um sucesso de venda e popularidade entre os britânicos e, logo a seguir, entre os países de língua inglesa.

• Depois que o presidente Kennedy declarou que sua leitura de lazer preferida eram os romances de James Bond, os livros de Ian Fleming transformaram-se em grande sucesso nos Estados Unidos.

• Na década seguinte, os livros viraram uma grande franquia no cinema, a mais duradora e bem sucedida financeiramente, com um total de vinte dois filmes oficiais, começando com O Satânico Dr. No, em 1962.

• O filme, O Satânico Dr. No, feito com apenas um milhão de dólares (orçamento ridículo, até para a época), estourou nas bilheteiras de todo o mundo, transformando Connery num ícone dos anos 1960, que com a sua grande popularidade internacional fez surgir uma nova histeria mundial: a bondmania.

• Alguns dos fatores de maior empatia da série com o público, além do carisma e do charme de seu personagem principal, têm sido sem dúvida os mirabolantes vilões, os gadgets mortais e de alta tecnologia, as suas canções-tema e as suas maravilhosas bond-girls.

• Bond também não seria o espião invencível que é, se não fossem os brinquedos tecnológicos que o acompanham desde o início, e que por tantas vezes lhe salvaram a vida, todos produzidos no laboratório de pesquisas do MI-6 pelo irascível “Q”, o gênio inventor da agência de espionagem.

• As sempre inovadoras vinhetas de apresentação na abertura dos filmes, criadas pelo artista gráfico Maurice Binder, tornaram-se uma atração à parte dentro do próprio filme e revolucionaram o design cinematográfico nos anos 1960 e 1970.

• As famosas canções-título também marcaram época, como Goldfinger, Diamonds Are Forever e Moonraker, na voz da cantora britânica Shirley Bassey. Nobody Does It Better, tema de O Espião que me Amava, cantada por Carly Simon e líder de todas as paradas de FM do fim dos anos 1970, ou Goldeneye, com Tina Turner. Ajudaram os filmes de Bond a se tornarem os mais populares filmes de aventura e espionagem em todo o mundo.

• Em Viva e Deixe Morrer (1973), Paul McCartney interpreta uma canção tema com o mesmo título da película.

• Ian Fleming, Sean Connery, Roger Moore e Pierce Brosnan foram todos agraciados com o título de Sir pela Rainha Elizabeth II, uma grande fã dos livros e filmes do agente 007.

• O estilo refinado, o gosto pelo jogo, a incapacidade de resistir às belas mulheres, a astúcia e a inteligência de James Bond foram inspiradas num personagem da vida real, Dusko Popov, um iugoslavo que atuou como agente duplo durante a Segunda Guerra Mundial.

• Daniel Craig, o atual James Bond, foi bastante criticado pela imprensa e pelos fãs-clubes por ser loiro e baixo para o papel, mas, com o sucesso de Cassino Royale, seu trabalho passou a ter uma boa recepção.

• Algumas características de James Bond, como o gosto por vodka martini batida, não mexida, por carros, aviões e velocidade foram baseadas no príncipe alemão-neerlandês Bernardo dos Países Baixos, com quem o autor Ian Flemming conviveu durante a guerra.

• São considerados filmes oficiais de James Bond todos os filmes produzidos pela produtora EON.

Filmes “oficiais”, produzidos pela EON:

Título no Brasil/ Ano/ Ator principal

O Satânico Dr. No 1962
Sean Connery

Moscou contra 007 1963
Sean Connery

007 contra Goldfinger 1964
Sean Connery

007 contra a chantagem atômica 1965
Sean Connery

Com 007 só se vive duas vezes 1967
Sean Connery

007 a serviço secreto de Sua Majestade 1969
George Lazenby

007 – Os diamantes são eternos 1971
Sean Connery

Com 007 viva e deixe morrer 1973
Roger Moore

007 contra o homem com a pistola de ouro 1974
Roger Moore

007 – O espião que me amava 1977
Roger Moore

007 contra o foguete da morte 1979
Roger Moore

007 – Somente para seus olhos 1981
Roger Moore

007 contra Octopussy 1983
Roger Moore

007 na mira dos assassinos 1985
Roger Moore

007 marcado para a morte 1987
Timothy Dalton

007 – Permissão para matar 1989
Timothy Dalton

007 contra GoldenEye 1995
Pierce Brosnan

007 – O amanhã nunca morre 1997
Pierce Brosnan

007 – O mundo não é o bastante 1999
Pierce Brosnan

007 – Um novo dia para morrer 2002
Pierce Brosnan

007 – Cassino Royale 2006
Daniel Craig

007 – Quantum of Solace 2008
Daniel Craig

Filmes “não oficiais”:

Título no Brasil/  Ano  Ator
Cassino Royale 1954 – televisão
Barry Nelson

Cassino Royale 1967
David Niven

07 – Nunca mais outra vez 1983
Sean Connery

Fontes de pesquisa:
Grandes Filmes/ Roger Ebert
Wikipédia

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Filme – HARRY & SALLY – FEITOS UM PARA O OUTRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

 Harsa    Harsaa

Trata-se de uma história de amor tão antiga quanto o próprio cinema, mas com diálogos tão novos quanto a última edição da revista Vanity Fair. (Roger Ebert)

Parte de ser maduro é não expressar o que sente no momento em que sente. (Sally)

O diretor norte-americano, Rob Reiner, sempre diz que seus filmes trazem aspectos de sua vida pessoal. O que não deixa de ser verdade, pois, foi assim que a comédia romântica Harry & Sally – Feitos Um para o Outro (1989) nasceu. À época, ele havia terminado um casamento de dez anos, e se encontrava deprimido e cheio de inquietações, que acabaram por despertar-lhe o interesse pelo difícil convívio entre homem e mulher. A partir daí, de longas conversas com o produtor Andrew Scheinman e a roteirista Norah Ephron, deu vida ao filme.

Sally (Meg Ryan) é uma garota romântica, idealista, metódica e extremamente rígida em relação à sua própria vida. Harry (Billy Crystal) é um tipo folgazão, meio cínico e cético em relação ao ser humano, e que não liga muito para as coisas. Sua maneira de pensar é radicalmente contrária à de Sally. O primeiro encontro entre eles acontece assim que acabam de se formar. Ele é o novo namorado de uma amiga que lhe pede para dar carona ao rapaz até Nova York.

Assim que Harry e Sally iniciam uma viagem de 18 horas (Chicago a Nova York), a antipatia de um pelo outro fica bem visível, através de um diálogo áspero entre os dois, em que discutem sobre a possibilidade de haver ou não amizade entre um homem e uma mulher sem que o sexo esteja envolvido. Harry nega que haja amizade sem segundas intenções entre os sexos opostos, deixando Sally estarrecida. Quando ele lhe passa uma cantada, a indignação dela atinge os extremos. Concluem os dois que jamais serão amigos. Ao chegarem a Nova York, cada um toma um destino diferente, sem cogitar na possibilidade de um novo contato.

Passados cinco anos, os dois voltam a se encontrar no saguão de um aeroporto. Sally está com o namorado Joe (Steven Ford) que foi levá-la ao aeroporto e, que, por sinal, é conhecido de Harry. Coincidentemente os dois viajam juntos no mesmo avião e, através de uma manobra de Harry, ficam em poltronas próximas. O mesmo assunto de quando se conheceram volta à tona. E mais uma vez se despedem com grande frieza.

Cinco anos depois, um novo encontro acontece entre Sally e Harry, numa livraria, onde ela se encontrava com a sua amiga Marie (Carrie Fischer). Ele já havia se casado e fora abandonado recentemente pela esposa que o trocou por outro. Os dois marcam um jantar e, a partir daí, tornam-se amigos, trocando confidências íntimas. Com o tempo, tornam-se amigos inseparáveis.

Mesmo amigos, o velho assunto “homem e mulher” vem sempre à tona. Eles se encontram num restaurante, quando Harry diz que uma mulher jamais o enganaria fingindo um orgasmo. É quando acontece a cena mais engraçada do filme. Sally começa a ter um orgasmo na frente de todos os presentes que, boquiabertos, acompanham a cena. Ela quer mostrar ao amigo que não é difícil enganar um homem na cama.

A amizade entre os dois prospera mais e mais. Cada um quer ajudar o outro a superar o antigo relacionamento. Sally incentiva Harry a voltar a namorar e vice-versa. Os dois, simultaneamente, tentam arranjar um namorado para o outro. Harry apresenta Sally a Jess (Bruno Kirby) e ela lhe apresenta a sua amiga Marie. Só que, no frigir dos ovos, Jess apaixona-se por Marie.

Quando os inseparáveis amigos estão procurando um presente de casamento para Marie e Jess, a ex-esposa de Harry aparece com o seu novo marido. Ele sente-se terrivelmente abalado. O mesmo acontece com Sally, quando descobre que o seu ex, Joe, vai se casar. Ela pede ao amigo que lhe faça companhia em sua casa. E, ao confortá-la, os dois acabam na cama.

Visivelmente perturbados, Sally e Jerry resolvem esquecer aquela noite, deixando bem claro que tudo não passou de um engano. A amizade entre os dois também vai para o brejo, aparentemente sem nenhuma possibilidade de recuperação.

Harry & Sally – Feitos Um para o Outro é mais uma das belas comédias românticas feitas sobre o relacionamento entre homens e mulheres, que se situa entre as melhores do gênero. A união de um diretor talentoso, um roteiro inteligente e um bom elenco traduziram-se numa bela obra cinematográfica, que continua atualíssima, cuja abordagem direta das diferenças comportamentais entre homens e mulheres ultrapassa os limites do tempo.

E você, meu caro leitor, acredita que pode haver amizade entre um homem e uma mulher sem que haja interesse sexual? Ou acredita que o sexo vai sempre se impor, acabando com o relacionamento entre eles?

Curiosidades:

  •  Nunca no cinema comercial americano, havia se falado tão abertamente, por exemplo, que a mulher finge orgasmo. Ou que depois de uma relação sexual alguns homens preferem sair, enquanto grande parte das mulheres deseja passar a noite abraçada ao amante.
  •  Na ocasião do lançamento de Harry & Sally – Feitos Um para o Outro havia grandes produções como Batman e Indiana Jones e a Última Cruzada. Mesmo assim, o filme foi um grande sucesso de bilheteria.
  •  O personagem Harry Burns é visto lendo Misery, de Stephen King, que seria depois adaptado pelo diretor Rob Reiner no suspense Louca Obsessão.
  •  Harry & Sally – Feitos Um para o Outro é o sexto filme colocado na lista das dez comédias românticas do American Film Institute.
  • Carrie Fisher que faz a personagem Marie foi a princesa Lea da saga Stars Wars.
  •  As cenas, em que vários casais juntos há mais de 40 anos, contam como se conheceram, trazem histórias reais. Mas o diretor Rob Rainer optou por usar atores ao notar que os casais verdadeiros levavam horas para narrar os detalhes de seus romances.
  • Sally foi a primeira protagonista da carreira de Meg Ryan. As comédias românticas transformaram-na em “namoradinha da América”.
  • Bruno Kirby (Jess) morreu de leucemia aos 57 anos, em 2006.
  • Billy Cristal (Harry) apresentou a cerimônia do Oscar oito vezes.
  •  A senhora que diz “quero o mesmo que ela”, após a cena do orgasmo, é a mãe do diretor do filme, que faleceu em 2008, aos 94 anos.
  •  A cabeleira de Meg Ryan no filme criou um estilo para cada época da personagem Sally.
  •  A trilha sonora do filme é uma gostosa volta ao passado: Frank Sinatra, Louis Armstrong e Ella Fitzgerald, Ray Charles, Bing Crosby e Harry Connick Jr.

Cenas imperdíveis:

  • O orgasmo fingido de Sally no restaurante.
  • A reação de Harry ao ver a ex-mulher com o novo marido.
  • A reação de Sally ao saber que o ex-companheiro vai se casar.
  • A reação de Sally e Harry após a relação amorosa inesperada.
  • A paisagem quando é outono.

Fontes de pesquisa:
1001 filmes para….
Cinemateca Veja
Wikipédia

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Filme – GOLPE DE MESTRE

Autoria de Lu Dias Carvalho

 golme   golmea

Era um mundo que só poderia ter existido nos anos 1930 e 40. Tudo tinha de ser autêntico, do visual ao modo de falar dos trapaceiros. Pesquisei tudo minuciosamente, e o diretor George Roy Hill preocupou-se em manter essa autenticidade no filme. (David S. Ward)

Era engraçado, diferente, espirituoso. (Robert Redford)

Não me lembro de roteiro mais perfeito. Sei que George e David trabalharam nele por muito tempo, mas não mudamos nem quatro palavras durante a filmagem. (Paul Newman)

As obras de Scott Joplin pareciam ter sido compostas para Golpe de Mestre. Os críticos questionaram o fato de um filme passado em 1936 ter música de 1910. Mas o ragtime é divertido, tem ritmo é atrevido, é Chicago. Tem o espírito do longametragem. (Marvin Hamlisch)

 

Não deixa de ser surpreendente o modo como nasceu a comédia Golpe de Mestre (1973), um dos grandes filmes da história do cinema americano. O roteirista David S. Ward, enquanto escrevia o roteiro de Três Ladrões Desajustados, começou a pesquisar sobre punguistas e trapaceiros. Atraiu-lhe o fato de que tais marginais não eram violentos, roubavam apenas dos ricos e seguiam um código de ética entre eles. A partir daí, nasceu-lhe o desejo de fazer um filme sobre o tema. Levou seu projeto adiante e conseguiu que fosse aprovado. O diretor George Roy Hill aceitou a direção do filme.

David S. Ward tomou como base a história real dos irmãos trapaceiros Fred e Charlley Gondoff, contada pelo escritor David Maurer, The Big Con: The Story of Confidence Man, publicada em 1940.

Paul Newman e Robert Redford, que anteriormente haviam feito Butch Cassidy com George Roy Hill, foram convidados para repetir a dobradinha de sucesso com o mesmo diretor. O êxito do filme foi tamanho que foi indicado a dez Oscar, abocanhando sete, inclusive o de melhor filme, que é a estatueta mais cobiçada. Foi a maior bilheteria no ano de seu lançamento, 1973, nos EUA e a 15ª renda de todos os tempos.

Golpe de Mestre repete a mesma receita de Butch Cassidy, cerca de quatro anos atrás: um excelente diretor, roteiro impecável, produção fora de série, bons atores e música da melhor qualidade. A inesquecível Edith Head (na sua carreira foi indicada a 35 Oscar e ganhou 8) foi a responsável pelo figurino e os talentosos Henry Bumstead e James W. Payne ficaram com os cenários e direção de arte. Sem a precisão dos pequenos detalhes, não teria alcançado o sucesso que fez à época e ainda faz nos dias de hoje.

O filme é ambientado em Chicago na era pós-Depressão, quando dois golpistas ambiciosos: Henry Gondorff (Paul Newman) e Johnny Hooker (Robert Redford) encontram-se e preparam uma ardilosa vingança contra o mafioso e todo poderoso Doyle Lonnegan (Robert Shaw). A trama levará o espectador a conhecer as mais inusitadas conexões existentes no submundo do crime da cidade de Chicago, ao som do ragtime, mergulhando-se num mundo de homens inteligentes, mas trapaceiros.

A história passa-se em 1936, quando o jovem trapaceiro, Johnny Hooker e seu mentor no mundo da trapaça, Luther Coleman (Robert Earl Jones), com a maior perícia, aplicam um golpe que lhes rende onze mil dólares. Mas a alegria dos dois homens dura pouco, pois o dinheiro roubado pertencia ao poderoso gângster Doyle Lonnegan (Robert Shaw), que se põe a perseguir a dupla incansavelmente.

Quando Luther Coleman é assassinado, a mando de Lonnegan, Hooker fica desorientado. Por sua cabeça só passa o desejo de vingar o grande amigo morto, mesmo tendo no seu encalço o desonesto e truculento tenente William Snyder (Charles Durning). Para se ver livre do tira, Hooker bandeia-se para Chicago, onde procura por Henry Gondorff, antigo amigo de Colerman e conhecedor profundo da arte da trapaça. A sua intenção é ganhar a simpatia do novo conhecido e, juntos, aplicar um golpe no perigoso Lonnegan.

Daqui para frente, o filme é dividido em seis partes, sendo cada uma delas inserida no contexto com uma pintura, título e música.

Primeira parte – A Armação

Dá ênfase ao encontro entre o recém-chegado Hooker e o veterano Gondorff que mora nos fundos de um bordel. O novo amigo também tem os seus problemas, pois é perseguido pelo FBI e não parece muito em forma. Mas Hooker encoraja-o a aceitar a sua proposta de vingança contra Lonnegan pela morte do amigo de ambos. Embora relute a princípio, Gondorff acaba por aceitar a sugestão, de modo que logo os dois dão início aos preparativos da trama, que exige a montagem de um ponto de apostas.

Segunda Parte – A Isca

Para chamar a atenção de Lonnegan, o esperto Gondorff troca o seu nome por Shaw e, no percurso de uma viagem de trem, consegue se inserir num restrito jogo de pôquer, vencendo todas as partidas. Tendo atingido o objetivo de chamar para si a atenção do poderoso Lonnegan, deixa o campo aplainado para que Hooker apresente a sua proposta ao bandidaço.

Terceira Parte – O Conto

Ao procurar Lonnegan, o jovem Hooker inverte a história. Pede-lhe ajuda para aplicar um golpe em Gondorff (Shaw). Diz-lhe que, além de ganharem muito dinheiro ainda quebrarão a banca do desafeto. Ao ser indagado de como isso se dará, Hooker explica que possui um comparsa na companhia de telégrafos que lhe passará o resultado das corridas de cavalos, antes de repassá-los para o ponto de apostas de Gondorff (Shaw).

Quarta Parte – O Telégrafo

Lonnegan, que não é bobo, exige provas de que Hooker diz a verdade. Tudo é armado para que Kid Twist (Harold Gould), um do grupo, se faça passar pelo comparsa que trabalha nos telégrafos. Ainda nessa parte, Hooker fica conhecendo Loretta (Dimitra Arliss) que é garçonete.

Quinta Parte – A Recusa

Depois de receber as provas necessárias, Lonnegan aceita participar do “golpe” que será aplicado em Gondorff. Mas, nesse ínterim, Hooker precisa se desvencilhar do agente do FBI, Polk (Dana Elkar), que o descobriu e exige que lhe entregue o golpista Gondorff.

Sexta Parte – O Golpe

Usando da maior perspicácia, Hooker, Gondorff e sua turma vão montando todo o esquema do golpe, para que não haja o menor furo.

Curiosidades

• Robert Shaw (Lonnegan) torceu o tornozelo em um jogo de handball, antes das filmagens. Esteve a ponto de deixar o filme, mas o diretor George Roy ao vê-lo caminhar mancando teve a ideia de fazer o personagem capanga.

• Foi usado um dublê para as mãos de Paul Newman (Gondorff) durante a cena do jogo de pôquer contra Lonnegan.

• Robert Shaw (Lonnegan) ficou marcado pelo papel que fez em Tubarão: Capitão Quint.

• A trilha sonora de Golpe de Mestre, também ganhadora do Oscar, conta com músicas do famoso compositor americano de ragtime, Scott Joplin, adaptadas para o cinema por Marvin Hamlisch. Sendo que a canção mais célebre do filme, The Entertainer, foi composta em 1902.

• Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor montagem, melhor trilha sonora e melhor roteiro original.

• Em 98% do tempo de música não há diálogo, de modo que a música é tocada e ouvida, trazendo um grande impacto.

• O orçamento de The Sting foi de cinco e meio milhões de dólares, e o filme arrecadou 156 milhões de dólares apenas nas bilheterias estadunidenses.

Nota:
Todas as cenas são magníficas. E os dados sobre o diretor já foram vistos no texto que fiz sobre o filme Butch Cassidy.

OS DEZ MAIS TRAPACEIROS DO CINEMA (atores nos papéis):

Pesquisa feita entre dois mil espectadores, pela rede de cinemas UCI, pedindo ao público que estabelecesse o ranking dos maiores trambiqueiros das telas.

1º lugar – Golpe de Mestre: Paul Newman e Robert Redford

2º lugar – Onze Homens e Um Segredo: Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davis Jr.

3º lugar – Crow, o Magnífico: Steve McQueen

4º lugar – Lua de Papel: Ryan O`Neal

5º lugar – Prenda-me Se For Capaz: Leonardo DiCaprio

6º lugar – Onze Homens e Um Segredo (refilmagem): George Clooney e Brad Pitt

7º lugar – Os Imorais: John Cusack, Anjelica Huston e Myra Langtry

8º lugar – O Quinteto da Morte: Alec Guinness e Peter Sellers

9º lugar – Os Vigaristas: Nicolas Cage e Sam Rockwell

10º lugar – Os Safados: Michael Caine e Steve Martin

Fontes de Pesquisa:
Cinemateca Veja
1001 Filmes para…
Wikipédia

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Filme – FARGO – UMA COMÉDIA DE ERROS

Autoria de Lu Dias Carvalho

fargo   fargoa

Esta é uma história real. Os eventos descritos no filme ocorreram em Minnesota em 1987. A pedido dos sobreviventes, os nomes foram trocados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu.

Fargo – Uma Comédia de Erros (1996) é uma das belas criações cinematográficas dos irmãos e parceiros Ethan e Joel Coen, indicado para o Oscar de melhor direção, melhor filme, melhor fotografia, melhor roteiro original, melhor montagem, melhor ator coadjuvante e melhor atriz. Foram sete indicações no total. Levou duas estatuetas: melhor atriz (Frances McDormand) e melhor roteiro original (irmãos Coen). Pode ser classificado como uma “dramédia”.

O filme poderia ser qualquer um dos muitos outros que mostram histórias sobre crimes, sem grande relevância. Mas não o é. Trata-se de um dos mais geniais filmes já feitos sobre o tema. É produzido e dirigido pelos irmãos Coen, que dirigem, produzem e escrevem a quatro mãos. Os dois irmãos fazem parte da constelação de bons cineastas surgidos na década de 80 nos Estados Unidos. Dentre os seus premiados filmes, Fargo é, sem dúvida, um dos melhores. A trama provoca choque, admiração, horror e também boas risadas, entrelaçando corrupção, sequestro, mal-entendidos e assassinatos. Como o próprio título diz o que vemos é uma série de erros que fogem ao controle dos envolvidos.

Para melhor entendimento da película é preciso conhecer um pouco dos personagens centrais:

Jerry Lundegaard (William H. Macy) – é o gerente executivo de uma revendedora de automóveis do seu mandão e implacável sogro Wade Gustafson (Harve Prasnell). Ele precisa de setecentos e cinquenta mil dólares emprestados para construir estacionamentos para si. Com a compra já engatilhada, recorre ao sogro que se recusa a fazer o empréstimo. Ele, então, tem a patética ideia de sequestrar a própria mulher e exigir do sogro rico o pagamento. Aos dois sequestradores caberá parte do dinheiro e um carro zero e a ele pertencerá a maior parte do resgate. Aos raptores diz que dividirão o resgate de 80 mil dólares, mas diz ao sogro que os bandidos estão exigindo, para resgatar sua filha, um milhão de dólares. Espera que tudo dê certo, com a esposa libertada sem sofrer qualquer dano físico, e ele tenha acesso aos 920 mil dólares para comprar os terrenos.

Jean (Kristin Rudrüd) é a esposa de Jerry, totalmente dedicada ao marido e ao filho. O que deixa o espectador irritado com a agressão feita a ela.

Carl Showalter (Steve Buscemi) e seu soturno, violento e cruel cúmplice Gaear Grimsrud (Peter Stormare) aceitam executar o rapto por quarenta dólares e mais um carro zero, que será roubado por Jerry da agência do sogro. Só que tudo descontrola nas mãos dos dois, com um erro atrás do outro. Gaear é um psicopata brutal e irrefreável, de modo que o irrequieto Showalter, que pensava estar no comando da ação, não consegue mais controlá-lo e tampouco os acontecimentos.

Marge Gunderson (Frances McDormand) é a chefa de polícia da pequena cidade de Brainerd/ Minnesota. Ela se encontra no sétimo mês de gravidez e sofre com problemas de enjôo pela manhã. Come qualquer coisa que encontra pela frente e sua fala traz o famoso sotaque da gente de Minnesota. Vive harmoniosamente com seu marido Norm. Apesar de parecer uma pessoa comum, é uma policial muito esperta e intuitiva, capaz de tirar conclusões rápidas e certeiras dos acontecimentos. Pela marca dos sapatos deixada pelos assassinos, ela é capaz de determinar a altura deles e concluir que não são da cidade. Ela conduz a investigação do triplo assassinato com confiança, apesar de se encontrar pesada pelo adiantado estado de gravidez. A personagem ganha a simpatia do espectador assim que aparece na tela, com seu jeito simples.

Jerry contrata os sequestradores através de um mecânico que lida com criminosos. Não possui nenhuma informação sobre os dois contratados, mas espera que o plano dê certo. E, três dias depois, sua esposa é sequestrada na própria casa e levada para o cativeiro. Mas, na estrada assustadoramente desértica, o carro é parado por um policial. E ali acontecem três assassinatos. A chefa de polícia Marge é chamada para descobrir os responsáveis pelo triplo homicídio.

A história complica-se, quando o sogro resolve entregar pessoalmente o resgate, fato que impediria que Jerry recebesse os 920 mil dólares, jogando todos os seus planos por água abaixo. E, quando a policial Marge aparece em sua vida, fazendo-lhe perguntas desconcertantes, Jarry vai perdendo o seu autocontrole e se embaraçando mais ainda.

Os irmãos Coen criam em Fargo uma tragicomédia interessantíssima e bizarra, ao mesmo tempo, que, apesar de ser violenta e perturbadora, é também risível. Misturam maldade com inocência numa dosagem exata. Eles assustam, abismam e divertem os espectadores.

Cenas imperdíveis:

• O tiro impiedoso dado por Gaear no policial que os aborda na estrada e o sangue jorrando da cabeça do pobre homem.

• Jean, descalça e com os olhos vendados, tentando fugir de seus agressores, correndo pela neve, totalmente desnorteada, enquanto Carl ri.

• Gaear empurra a perna do seu parceiro para dentro de uma máquina de tritura madeira.

• A cordialidade com que a chefe Marge aborda as pessoas, tentando desvendar o crime.

• A cena em que os assassinos juntam-se a duas prostituas num quarto de motel e assistem a um programa televisivo.

• As persianas do escritório de Jerry que lembram, visualmente, as grades de uma prisão.

• O encontro de Marge e um companheiro de classe da universidade. O sujeito é solitário e é também um mentiroso compulsivo, na tentativa de esconder seu desespero. O encontro desperta-a para as possibilidades da mentira.

• A maioria das cenas passa num ambiente, onde o frio, a neve, amplidão e a monotonia são a tônica.

• As mortes na estrada acontecem quase na total escuridão. Toda a cena foi iluminada por lâmpadas semelhantes a faróis de carro, presas nos para-choques.

• Quando Marge chega ao local dos crimes, acontece o contrário, tudo é muito branco.

• Não há movimentos bruscos e nem cortes no filme, para diminuir a dramaticidade da narrativa e jogar toda a emoção nos personagens. A paisagem monótona, os extensos espaços vazios e a brancura da neve também contribuem para isso.

• As filmagens foram feitas em dias cinzentos, sem sol e a linha do horizonte dificilmente é vista. Observem.

• Mesmo nas cenas de interiores há o predomínio da luz natural, reforçando a sensação de que o espectador está acompanhando uma história real.

Curiosidades:

• Fargo é o nome de uma pequena cidade no estado americano de Dakota do Norte.

• O inverno de 1955 foi o segundo mais quente na região em 100 anos. Por isso as cenas externas tiveram que ser filmadas cada vez mais ao norte, de Minnesota a Dakota e até no Canadá.

• Em várias cenas foi preciso colocar neve, produzida artificialmente, nas locações, nas noites anteriores às filmagens.

• A cortesia vista em várias personagens é conhecida nos Estados Unidos como “Minnesota Nice”, pois, segundo Joel Coen, “trata-se de uma cultura muito educada”. “A hostilidade quando existe é encoberta pela simpatia”, completa Ethan Coen.

• O sotaque do lugar também é muito interessante. Podemos ver isso no personagem de William H. Macy (o gaguejar, o raciocínio truncado e as frases incompletas, por exemplo).

• Macy chegou a ser indicado para o prêmio de melhor ator coadjuvante. E seu desempenho em Fargo tornou-o um ator muito disputado.

• Frances McDormand (Marge) é esposa de Joel Coen.

• A barriga falsa de Marge tem enchimento de alpiste, para ter peso e lhe dar um ar cansado para caminhar. Na vida real Frances McDormand e o marido, Joel Coen, não tiveram filhos, mas adotaram Pedro, um menino paraguaio.

• O ator Steve Buscemi (Carl) é um dos preferidos dos irmãos Coen. Já trabalhou com eles em outros filmes. É também diretor e roteirista.

• Embora não seja um documentário, Fargo foi filmado como se fosse. Os espectadores têm a impressão de serem testemunhas de uma história que se desenrola naquele presente momento.

• Apesar do título, muito pouco da trama do filme se passa na cidade de Fargo.

• Paul Bunyan, o lenhador gigante, é um personagem do folclore americano.

• Nada do que acontece no filme é verdadeiro. Até os atores foram enganados. Jornalistas perderam muito tempo pesquisando os supostos crimes que teriam inspirado os irmãos Coen, antes de descobrir que haviam sido enganados.

• Nos créditos finais há outro aviso. O de que as pessoas e eventos mostrados no filme são fictícios.

• Dizem que uma japonesa viajou de Tóquio para Dakota do Norte, em dezembro de 2001, e foi encontrada tentando encontrar o dinheiro do resgate de Jean Ludegaard, enterrado por Carl Showalter. Mas, em 2003, o jornal inglês The Guardian publicou a verdadeira história de Takako Konoshi: ela cometeu suicídio por causa de uma decepção amorosa. E a notícia de sua caça ao tesouro era inverídica.

• Fargo foi recebido com aclamação pela crítica mundial. O crítico de cinema, Roger Ebert, diz que Fargo é seu favorito quarto filme da década de 1990 (ele também o chamou de “best of 1996”). Disse: “Fargo é um dos melhores filmes que já vi”. Muitos críticos proeminentes denominaram-no de “o melhor do ano”.

Fontes de Pesquisa
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Cinemateca Veja
1001 Filmes para ver…./ Editora Sextante
Wikipédia

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Filme – FALE COM ELA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Fale com ela, conte isso a ela… A mente da mulher é um mistério, ainda mais neste estado. Tem de prestar atenção nelas e falar com elas, pensar nos pequenos detalhes, acariciá-las. Lembrar que existem, que vivem e que são importantes para nós. (Benigno)

Não há nada pior do que separar-se de alguém que se ama. O amor é a coisa mais triste do mundo, quando acaba, como diz uma canção de Jobim. (Marco)

O filme, para mim, tem a leveza e a emoção da música de Jobim. Ambos são um pouco aéreos e etéreos, nos levantam da superfície. (Almadóvar)

Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, tornou-se conhecido em todo o mundo com o seu brilhante trabalho em filmes como Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Tudo Sobre Minha Mãe, Volver, dentre outros, a ponto de ser colocado no mesmo nível dos brilhantes diretores espanhóis Luis Buñuel (A Bela da Tarde) e Carlos Saura (Carmem). Almodóvar nunca pôde estudar cinema, pois nem ele nem sua família tinham dinheiro para pagar seus estudos. Homossexual assumido, seus filmes trazem a temática da sexualidade abordada de maneira sublime. Mas nenhum de seus filmes fez tanto sucesso e foi tão premiado quanto Fale com Ela, que o colocou na categoria de o primeiro diretor espanhol a ser indicado ao Oscar de melhor diretor. É extremamente elegante e complexo, com vários temas e cenas dentro de cenas, com idas e voltas ao passado e ao presente, sem perder a conexão.

No filme Fale com Ela, o diretor espanhol dá maior destaque ao universo masculino, em que os homens são sensíveis, sabem ouvir, choram e mostram seus sentimentos. As mulheres são silenciadas por causas acidentais. A maioria de seus filmes anteriores destaca os personagens femininos e suas complexidades e interações entre si e com o mundo à volta.

Para escrever o roteiro de , Almodóvar buscou inspiração nos noticiários, como no caso da americana que acordou depois de seis anos em coma e em outro caso acontecido na Romênia, em que um vigia noturno violou o cadáver de uma jovem. Com o ataque do vigia, a moça, que sofria de catalepsia, acordou e se livrou de ser enterrada viva. Prenderam o estuprador, mas a família pagou advogados para ele e lhe deu todo o apoio. Outra notícia foi a de uma mulher em Nova York que, mesmo em coma, apareceu grávida, sendo o responsável pela gravidez um funcionário da clínica.

Fale com Ela (2002), que conquistou Hollywood e 32 prêmios internacionais, vem na mesma linha de sucesso de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. O filme conta a relação entre o enfermeiro Benigno (Javier Cámara) e a sua paciente Alicia (Leonor Watting) de uma maneira extremamente sensível. Existem outras histórias paralelas que acabam por se entrelaçar, enriquecendo a trama, como é o caso da relação do jornalista Marco Zuluaga (Darío Grandinetti) com a toureira Lydia González (Rosário Flores).

Benigno, um rapaz ainda muito jovem, que passou 20 anos ao lado de sua mãe doente, tendo uma vida de reclusão e total dedicação a ela, tendo, inclusive, feito cursos de enfermagem e manicure por correspondência para cuidar dela. Possui um ar maternal e uma aparência assexuada. Sua única diversão era observar as aulas de balé de uma academia, que fica de frente para o apartamento onde vivia com a mãe. E é dali que ele fica conhecendo Alicia, por quem passa a alimentar uma paixão platônica. Somente após a morte da mãe, quando começa a trabalhar como enfermeiro, é que ele tenta se aproximar de sua deusa, embora tímido e desajeitado. Chega a marcar uma consulta com o pai da moça que é psiquiatra, a fim de tentar vê-la.

Após sofrer um acidente de carro, Alicia entra em coma e Benigno é contratado como enfermeiro exclusivo, para tomar conta dela. O pai da moça acha que ele é gay, o que o deixa mais tranquilo em relação aos cuidados que o enfermeiro dispensará à filha, ao manusear o seu corpo inerte. Ou seja, ele não representa perigo para ela.

Benigno trata Alicia como se ela pudesse ouvi-lo e senti-lo. Quando está de folga, faz tudo o que ela gostava de fazer: vê espetáculos e mostras de cinema mudo para lhe contar depois. Descreve-lhe tudo: coreografias, cenários, falas. Numa das peças vistas, Café Müller, ele lhe fala de um homem que estava sentado ao seu lado e se encontrava muito emocionado, com os olhos cheios de água. Mostra-lhe, também, o autógrafo que a bailarina Pina Bausch mandou para ela com a seguinte dedicatória: “Espero que vença os obstáculos e comece a dançar.”.

Diálogo entre Benigno e a enfermeira Rosa, enquanto ele corta o cabelo de Alicia:

Vamos deixar do jeito que estava quando ela chegou aqui. Não quero que note a diferença quando acordar.

Depois de quatro anos em coma, seria um milagre, Benigno.

– Eu acredito em milagres. Você deveria acreditar também.

Por que eu?

Porque precisa deles. Pode acontecer um, mas como não crê, nem perceberia.

Enquanto isso, o jornalista Marco Zuluaga, escritor de guias de viagem (o mesmo que Benigno vira chorar no teatro), ao assistir uma entrevista com a toureira Lydia González, onde a entrevistadora, grosseiramente, especula sobre o fim de seu romance com o mais famoso toureiro da Espanha, Niño de Valencia (Adolfo Fernández), liga para o seu editor sugerindo uma reportagem com ela. Os dois acabam se conhecendo e um incidente contribui para dar início a uma relação amorosa entre eles. Ambos vêm de relacionamentos sofridos.

Lydia, dividida entre o ex-amante e Marco, avisa ao último que precisa ter uma conversa séria com ele, após tourear. Mas, durante a tourada, incapaz de se concentrar, é ferida mortalmente pelo touro, entrando em estado de coma. Ela fica na mesma clínica, ao lado do quarto, onde se encontra Alicia.

Ali, Marco e Benigno começam a se cruzar inevitavelmente, travando uma sólida amizade. O jornalista toma conhecimento do drama da bailarina e confidências são trocadas entre os dois, apesar de terem temperamentos diferentes. Enquanto Benigno conversa com Alicia, dá-lhe banho, cuida de seus cabelos e unhas, faz maquiagem, massagens e veste-a com ternura e delicadeza, Marco nem consegue tocar em Lydia, perdido em seu mundo de sofrimento. O enfermeiro então o estimula a conversar com a amada. Mas Niño, ex-amante de Lydia, conta ao jornalista que, alguns dias antes de a tragédia acontecer, ele e a toureira haviam reatado o romance. E que ela não teve tempo de lhe contar a verdade.

Marco resolve ir embora, para escrever mais um de seus guias de viagem. Ao se despedir do amigo enfermeiro, esse lhe conta que desejaria se casar com Alicia, mas o amigo repreende-o, energicamente, dizendo: Sua relação com Alicia é um monólogo e uma loucura. E exige que ele lhe prometa não tocar no assunto com ninguém mais.

Oito meses depois, em viagem, o jornalista lê num jornal uma nota sobre o enterro de Lydia. Liga para a clínica e lhe contam que Benigno encontra-se preso, acusado de ter estuprado Alicia. Volta imediatamente para Madri para ajudar o amigo. A história termina com um acontecimento trágico e um milagre. E também com a possibilidade de se iniciar mais um novo romance.

Além de Fale com Ela ser um filme sensível e comovente, mesmo levando em conta a crueldade das touradas, ainda temos a presença da música popular brasileira. Caetano Veloso canta uma versão intimista de Cucurrucucu Paloma, do mexicano Tomás Mendez Sosa, acompanhado apenas de violão e do violoncelo de Jaques Morelenbaum, numa das cenas mais bonitas do filme. Por Toda a Minha Vida, de Tom Jobim e Vinicius, na voz de Elis Regina e com um arranjo de cordas, é também tema de uma emocionante sequência que acontece durante uma tourada.

Curiosidades:

• O amor é o tema central do filme: Benigno ama Alicia; Marco ama Ângela (a ex-namorada viciada em heroína); Lydia ama Niño de Valencia; a enfermeira Rosa (Mariola Fuentes) ama Benigno e a professora de dança Katerina (Geraldine Chaplin) ama Alicia. Ainda existe o grande amor fraternal entre o enfermeiro Benigno e o jornalista Marco, que ata toda a trama.

• Javier Câmera, para se preparar para viver o papel de Benigno, teve quatro meses de aulas de enfermagem, massagem, manicure, cortes de cabelo e bordado, para expressar melhor a total dependência de um corpo em estado vegetativo.

• As atrizes Leonor Watling e Rosario Flores tiveram três meses de aulas de ioga, na modalidade iyengar, para “viverem” em estado vegetativo.

• Leonor ainda teve aulas de balé por três meses e Rosario treinou o toureio diariamente.

• As cenas de touradas no filme são reais, o que gerou protestos de grupos de defesa dos direitos dos animais de Madri e ameaça de processo contra o diretor.

• A produção teve autorização das autoridades e donos dos animais para sacrificar os touros escolhidos para as filmagens.

• Fale com Ela ganhou o Oscar de roteiro original e Pedro Almodóvar foi indicado como melhor diretor. Ganhou o Globo de Ouro como melhor filme em língua estrangeira. Ganhou o César de melhor filme da União Européia.

• Pedro Almodóvar é responsável por exportar talentos para Hollywood como Antonio Banderas (que fez cinco filmes com ele) e Penélope Cruz.

• Almodóvar também ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro com Tudo sobre minha mãe.

• Rosario Flores, além de atriz, é também um dos grandes nomes da música espanhola, vencedora de dois Grammy Latino.

• Geraldine Chaplin, filha de Charles Chaplin, é a dedicada professora de balé.

• Almodóvar conta que o roteiro de Fale com Ela foi escrito no Rio de Janeiro e que sua inspiração principal foi a MPB.

Cenas imperdíveis:

  • O filme inicia-se com duas mulheres executando uma coreografia triste de Pina Bausch (Café Müller), alheias ao mundo. As vestes brancas das bailarinas e o modo como se movimentam antecipam a condição de alheamento de Alicia e Lydia.
  • Benigno conversa com Alicia e lhe conta que foi ao camarim e pediu a Pina Bausch um autógrafo para ela.
  • Benigno está fazendo massagens no corpo de Alicia, quando o pai dela chega e o questiona sobre a sua sexualidade. Ele mente, confirmando que gosta de homens.Alicia e Lydia tomam sol, acompanhadas por Benigno e Marco, viradas uma para a outra, como se estivessem conversando.
  • Benigno pede Marco para lhe dar um abraço, dizendo: Abracei muito pouca gente na minha vida.
  • A reação perturbadora de Benigno ao assistir ao filme mudo Amante Minguante, em que um homem entra inteiro no sexo feminino, relacionado depois ao estupro cometido pelo enfermeiro.
  • O momento intimista em que Caetano Veloso canta para uma pequena platéia.
  • O jornalista Marco escuta e se emociona com o que lhe passa Benigno.
  • A sensibilidade (ao contrário das touradas) em não mostrar a cobra morta, mas apenas a sua simulação.
  • O altar do quarto de Lydia mostrando toda a sua religiosidade, num contraste com a crueldade da profissão que exercia (matar touros).
  • A compreensão, a ternura, o companheirismo e a amizade explícitos nas cenas envolvendo Benigno e Marco.
  • As constantes referências à música brasileira. Marco comenta: Este Caetano é de arrepiar!
  • O filme encerra-se com outra coreografia de Pina Bausch (Musarca Fogo).

Fontes de Pesquisa:
Cinemateca Veja
1001 Filmes …

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Filme – DISQUE M PARA MATAR

Autoria de Lu Dias Carvalho

disqu   disqua

Você acredita que existe o crime perfeito?
Disque M Para Matar traz um crime quase que perfeito, se…

Disque M para Matar (1954) é o 39º longa-metragem do grande mestre Alfred Hithcock, criador do gênero suspense, com seus elementos sombrios e sua atmosfera de mistério. O texto é do autor inglês Frederick Knott, que já fora encenado nos palcos londrinos e depois em Nova York. O mesmo autor adaptou a peça para o cinema. O filme foi rodado utilizando uma tecnologia desenvolvida pela Polaroid, que criava a ilusão de tridimensionalidade, o chamado 3D (são usadas duas câmaras, uma ao lado da outra). Quase toda a ação se passa em um único local, que é a sala de jantar da casa de Tony Wendice (Ray Milland) e Margot (Grace Kelly), sendo a troca de chaves o ponto x para o inspetor Hubbard (John Williams).

No filme, um ex-tenista profissional chantageia um antigo colega para que esse mate sua mulher rica e infiel, para que ele possa ficar com a herança. A trama envolve o espectador do princípio ao fim.

Alfred Hithcock, diretor de Disque M Para Matar, possui uma filmografia de filmes instigantes que ao mesmo tempo nos deixa com os nervos à flor da pele, mas não permite que nos desgrudemos da tela. Carregava um hábito que punha todos à sua procura: fazer aparições relâmpagos em seus filmes, deixando as pessoas curiosas para descobrir a sua figura roliça muito famosa. Dizem que esse hábito de fazer pontas nos próprios filmes começou com O Inquilino. Em Disque M para Matar ele aparece na foto que Tony Wendice (Ray Milland) mostra a Swan (Anthony Dawson), o homem contratado para matar Margot (Grace Kelly). Ele está sentado à mesa, com os outros participantes do jantar, olhando para a câmara.

Hithcock não admitia que os magnatas dos estúdios de Hollywood dessem palpites em suas obras, por isso fechava contratos com cláusulas que lhe davam a inteira liberdade de rodar seus filmes como quisesse. O que contava para ele era a reação do público.

Durante muito tempo, a crítica dos Estados Unidos não levou o diretor inglês a sério, considerando-o um diretor menor, autor de filmes ligeiros e vazios, dizendo que ele não iria muito longe. A sua genialidade foi mostrada pelos críticos e futuros cineastas da revista francesa Cahiers Du Cinéma, que o elogiavam, dizendo que o diretor tinha atingido a meta de alcançar o cinema puro:

“Hithcock é um dos maiores inventores de forma de toda a história do cinema. No caso dele, a forma não enfeita o conteúdo: ela o cria.”

Com o prestígio alcançado pelo grande mestre do suspense na França, os críticos estadunidenses reavaliaram os seus conceitos quanto ao grande cineasta. Contudo, ele jamais recebeu um Oscar em toda a sua carreira, embora tenha sido laureado com muitos outros prêmios e indicado para o Oscar de melhor diretor pelos filmes: Psicose, Janela Indiscreta, Quando Fala o Coração, Um Barco e Nove Destinos e Rebecca, a Mulher Inesquecível. Este último ganhou o Oscar de Melhor Filme do ano (1941), mas o prêmio foi apenas para os produtores, ficando Hith (apelido) apenas com a indicação de melhor diretor.

“O único modo de me livrar de meus medos é fazer filmes sobre eles.” (A. Hithcock)

“Hollywood é uma cidade sem piedade. Não conheço nenhum outro lugar no mundo com tantos alcoólatras, neuróticos e tanta infelicidade.” (Grace Kelly)

Curiosidades:

  • As filmagens de Disque M Para Matar foram completadas em 36 dias.
  • Quando o filme ficou pronto, a técnica tridimensional já tinha caído em desuso, de modo que ele foi exibido em quase toda parte da forma tradicional.
  • Hithcock dizia que rodaria “de bom grado” um filme inteiro numa cabine telefônica. Muitos de seus filmes têm a ação concentrada num só ambiente.
  • Grace Kelly era a atriz preferida do mestre do suspense, atuando, também, em Janela Indiscreta e Ladrões de Casaca.
  • Foi o terceiro filme a cores do Hitchcock e o primeiro filme do diretor estrelado por Grace Kelly, sua eterna musa.
  • Vários diretores tentaram imitar o mestre do suspense: François Truffaut, Mel Brooks, Roman Polanski, etc.
  • Ele se naturalizou americano em 1956. Morreu em 1980.
  • Seu diretor favorito era Luis Buñuel e seu filme preferido era A Morte Cansada do diretor Fritz Lang.
  • Dial M for Murder teve duas refilmagens, uma com o mesmo título para a televisão, em 1981, e outra em 1998, intitulada Um crime perfeito, dirigido por Andrew Davis e com Michael Douglas, Gwyneth Paltrow e Viggo Mortensen nos principais papéis.

Cenas imperdíveis:

• Na abertura do filme, é possível ver um disco de telefone e um dedo. Foi produzido um telefone e um dedo gigantescos, para fazer a cena do toque do telefone.

• A exposição da história acontece em menos de um minuto: o diretor mostra o casal em seu apartamento, Margot lê a notícia da chegada do amante a Londres. Ele desembarca, chega ao apartamento e a beija.

• Margot veste branco em sua primeira aparição, mas usa vermelho ao se encontrar com o amante.

• As roupas de Margot vão perdendo as cores, conforme o filme avança, chegando ao final em tons cinza-escuro, aumentando a dramaticidade.

• A cena em que Tony dá a tesoura a Margot antes de sair com Mark.

• A mão de Margot estendida pedida socorro.

• Na cena em que luta pela própria vida, Margot estica a mão em direção à câmara e agarra a tesoura. Hithcock fez isso para aproveitar o efeito de profundidade permitido pelo 3D. Tal cena levou quase uma semana para ser filmada.

• A transformação de Margot ao longo do filme: no início mostra-se altiva e feliz até chegar a uma mulher infeliz e totalmente arrasada.

• Aos 54 minutos de filme, há um pequeno intervalo – consequência da filmagem em 3D, pois quando um rolo de filme acabava, era preciso parar a projeção para a troca dos rolos.

• A chave encontrada pelo inspetor é mostrada de maneira a acentuar o efeito 3D.

• Na época (1954) eram comuns os filmes adaptados para serem vistos em cinemas 3D, é por isso que existem no filme cenas ressaltando objetos.

• O personagem do inspetor é um dos raros policiais simpáticos dos filmes de Hithcock que, assumidamente, tinha medo de polícia.

Sinopse

Em Londres vivem Margot (Grace Kelly) e seu marido, o ex-jogador de tênis Tony Wendice (Ray Milland). Tudo está transcorrendo bem, até que ela lê no jornal a notícia da chegada do escritor americano de novelas policiais, Mark Halliday (Robert Cummings). Ela e Mark tiveram um caso um ano antes.

Após a chegada do escritor, ele visita Margot em seu apartamento, porque ela quer apresentá-lo ao marido. Na oportunidade, aproveita para colocar um ponto final na relação, alegando que no período em que ficaram ausentes um do outro, o marido sofrera uma grande mudança comportamental. Além de ter desistido do tênis, ainda se tornara um companheiro gentil e amoroso. Gostaria de apresentá-lo a Tony como um velho amigo.

Margot conta a Mark que dera um final a todas as cartas que recebera dele, com exceção de uma, que deixara guardada dentro de sua bolsa. Mas sua bolsa havia sumido e, ao encontrá-la, já não continha mais a carta. E, mais tarde, alguém lhe escreveu dizendo que estava com a carta que comprometia seu casamento. A pessoa exigiu 50 libras para devolvê-la, mas acabou não lhe entregando a correspondência comprometedora.

Após apresentar o ex-amante ao marido, o segundo fez tudo para que os dois saíssem sozinhos para jantar. Nesse ínterim, Tony contrata um ex-colega para matar a sua mulher, rolando uma trama complicadíssima, pois as coisas não acontecem conforme o combinado. Margot acaba matando o homem encarregado de assassiná-la e Tony tenta, disfarçadamente, criar todas as condições possíveis para que ela seja acusada de assassinato, optando por um plano B. Na verdade, ele tem conhecimento do relacionamento de Margot com Mark, mas finge ignorância e mantém a relação apenas pelo dinheiro. Se a mulher for condenada por assassinato ele será duplamente recompensado: terá a fortuna e vingará a traição. É aí que entra o sábio inspetor Hubbard (John Williams) e o intricado teste das chaves.

Fontes de Pesquisa:
Cinemateca Veja
Wikipédia

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