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Artigos variados sobre cinema e a análise de filmes que se tornaram clássicos.

Filme – CANTANDO NA CHUVA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Rain

O número de dança “Singin’in the Rain” é o mais memorável desempenho de dança num filme. (Peter Wollen)

O número de dança de O’Connor, em “Make ‘Em Dance”, continua sendo uma das mais espantosas sequências já filmadas. (Roger Ebert)

Senhores e senhoras, segurem essa garota! É dela a voz que vocês acabaram de ouvir e que tanto amaram nesta noite. Ela é a verdadeira estrela deste filme – Kathy Selden. (Don Lockwood)

O filme Cantando na Chuva (1952), dirigido por Stanley Donen e com a coreografia supervisionada por Gene Kelly, é um clássicos dentre os musicais. É diferente por integrar as canções ao roteiro do filme, não interrompendo a narrativa para mostrá-los. É ambientalizado no ano de 1928, época em que o cinema falado, conhecido como os “talkies”, emergiu, deixando Hollywood baratinada, pondo um fim à produção de filmes mudos. Foi um filme feito sem grandes pretensões, sendo que apenas duas de suas canções foram criadas especialmente para ele, e seus cenários e acessórios foram retirados dos galpões, onde se armazenavam os cenários dos filmes, já produzidos, da companhia de filmagem MGM. Os principais artistas do elenco são Gene Kelly (Don Lockwood), Donald O’Connor (Cosmo Brown) Debbie Reynolds (Kathy Selden) e Jean Hagen (Lina Lamont).

A atuação dos quatro artistas citados é surpreendente. Os três bailarinos passaram por ensaios esmerados, antes de darem início à filmagem, resultando em números de dança arrebatadores. Chama a atenção o número em que Kelly dança todo molhado, embalado pela música “Singin’in the Rain”. O mesmo encantamento acontece com Donald O’Connor, ao se contorcer sob os acordes de “Make ‘Em Laugh”, fazendo piruetas incríveis, como se fosse um boneco de pano: dança com um boneco, dá cambalhotas, pula numa parede de tijolos e em apoios de madeira e transpassa parte do cenário. Outra parte muito interessante é aquela em que Kelly e O’Connor assistem aulas de dicção com um professor e dançam “Moses Supposes”, canção composta para o filme. E não podemos nos esquecer de “Good Morning”, quando o trio começa dançando na cozinha.

À época em que Cantando na Chuva foi feito, apenas Debbie Reynolds era uma novata, tendo atuado apenas em cinco filmes, fazendo papeis insignificantes. Gene Kelly e Donald O’Connor, além de serem dois grandes bailarinos, já eram conhecidos, assim como Jean Hagen. A determinação da garota, porém, colocou-a no mesmo patamar dos dois dançarinos. O filme transmite alegria do princípio ao fim. E, como acontece na imensa maioria dos musicais, o amor não poderia faltar. Kathy Selden e Don Lockwood apaixonam-se um pelo outro. Mas o mais importante no filme é mostrar a mudança pela qual a indústria do cinema teve que passar, na transição do cinema mudo para o falado, mostrando todos os problemas dos tempos iniciais: dificuldades na gravação do som com microfones ocultos nos mais inusitados lugares, a voz estridente de grandes mitos do cinema mudo, impossível de ser aceita no falado, como mostra Lina Lamont, vista na película como uma loira burra.

O filme inicia mostrando a estreia de “O Patife”, quando uma multidão de fãs aguarda a chegada dos astros, num frenesi total. A presença de Don Lockwood e Lina Lamont deixa o público histérico. Mas somente Don usa da palavra, enquanto Lina faz “caras e bocas”. Seu silêncio perdura na apresentação do filme, pois sua voz é insuportavelmente feia. Ela, até então uma grande artista do cinema mudo, fica chateada, pois é incapaz de perceber a má qualidade de sua dicção e voz. Quando a estreia acaba, Don, para fugir da multidão, acaba pulando de um ônibus dentro de um carro de uma garota – Kathy Selden. E aí que a relação entre os dois começa.

Os astros Don Lockwood e Lina Lamont estão trabalhando na filmagem do filme sonorizado “O Cavaleiro Duelante”. Ao testá-lo junto ao público, vê-se que é um fiasco total. Don e Lina estão em apuros, com a carreira ameaçada. Porém, Kathy, Don e Cosmo têm a ideia genial de transformá-lo num musical. Felizes com a ideia, o trio canta “Good Morning” e dança.

Apesar do tempo, Cantando na Chuva continua como o musical mais lembrado da história do cinema, com muitas de suas imagens sendo reproduzidas, tendo recebido inúmeras homenagens e sendo citado em várias produções posteriores. É simplesmente fantástico. Vale a pena conferir. “Que adorável sensação!”.

Curiosidades:
• Jean Hagen é quem dubla a sua própria voz, quando o filme mostra Debbie Reynolds dublando-a, enquanto canta.
Cantando na Chuva faz uma homenagem a Broadway, aos musicais…
• Ao se dar conta de que as canções eram antigas, a direção do filme optou por contextualizá-lo no passado.
• O filme faz inúmeras homenagens, lembrando que: havia realmente estrelas cuja voz tinha que ser dublada, pois não se adequavam ao cinema falado; o movimento de cabeça dos atores, ainda não adaptados aos microfones, fazia estragos; os diálogos e estreias com vozes não sincronizadas e estrelas que não aceitavam ser dubladas, etc.
• O salto de Don Lockwood para dentro do carro de Kathy Selden foi feito por um dublê – Russel Saunders.
• A atriz e dançarina Cyd Charisse recorda que Kelly agarrava-a com tanta força, durante os números musicais, que seu corpo ficava com hematomas.
• A chuva no filme é uma mistura de água com leite, a fim de sair visível na tela.
• Donald O’Connor passou uma semana no hospital recuperando-se, após o término do filme, pois a jornada chegava a 19 horas diárias.
Cantando na Chuva foi relembrado em filmes como “Quanto mais Quente Melhor”, Primavera para Hitler”, “Alien- O Oitava Passageiro”, “Laranja Mecânica”, “Intriga Internacional” e “Fama”, entre outros.

Fontes de pesquisa
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Folha Apresenta/ Coleção Folha

CEM BONS FILMES INDICADOS (I)

Autoria de Adevaldo R. de Souza

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O Cinema para mim é uma arte para quem faz e diversão para quem assiste. Tem a função de emocionar, fazer rir e também fazer esquecer tudo em volta. Às vezes eu assisto a filmes só para tentar captar a essência da mensagem de quem o fez. Quando estou assistindo a um filme, não gosto de barulho e fico bravo ao ser interrompido. É concentração total.

Para fazer a minha lista de “100 bons filmes”, separei-os em gêneros: Ação/Aventura; Drama; Comédia; Ficção; Western; Guerra; Musical; Policial; Terror/Thriller/Suspense e Erótico. Tenho preferência por filmes de ação com suspense. Gosto mais dos que me prendem na cadeira do início ao fim e, depois de terminados, deixam aquele gostinho de quero mais. Quando os filmes de Western juntam esses ingredientes e no final o bandido leva bala, acho o máximo.

Os filmes citados encontram-se em ordem alfabética:

1. 2001: Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick)
2. A Bela da Tarde (Luis Buñel)
3. A Doce Vida (Federico Fellini)
4. A Inocente Face do Terror (Robert Mulligan)
5. A Lista de Schindler (Steve Spielberg)
6. A Ponte do Rio Kwai (David Ryan)
7. A Trilogia de Apu (Satiyajit Ray)
8. Acima de Qualquer Suspeita (Alan J. Pakula)
9. Acossado (Jean-Luc Godard)
10. Apocalipse Now (Francis Ford Coppola)
11. As Aventuras de Robin Hood (Michael Curtiz)
12. Austrália (Baz Luhrmann)
13. Blow-Up – Depois Daquele Beijo (Michelangelo Antonioni)
14. Bonnie and Clyde – Uma Rajada de Balas (Arthur Penn)
15. Butch Cassidy (George Roy Hill)
16. Caçadores da Arca Perdida (Steven Spielberg)
17. Carruagem de Fogo (Hugh Hudson)
18. Chinatown (Roman Polanski)
19. Cidadão Kane (Orson Welles)
20. Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore)
21. Código de Conduta (F. Gary Grey)
22. Coisas Belas e Sujas (Stephen Frears)
23. Coração Satânico (Alan Parker)
24. Cria Cuervos (Carlos Saura)
25. Dança com os Lobos (Kevin Kostner)
26. De Olhos Bem Fechados (Stanley Kubrick)
27. Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha)
28. Discreto Charme da Burguesia ( Luis Buñuel)
29. Doze Homens e Uma Sentença (Sidney Lumet)
30 . Dúvida (John Patric Shanley)
31. E o Vento Levou (Victor Fleming)
32. E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg)
33. Forrest Gump – O Contador de Histórias (Robert Zemeckis)
34. Gladiador (Ridley Scott)
35. Gritos e Sussurros (Ingmar Bergman)
36. Guerra nas Estrelas (George Lucas)
37. Guerra nas Estrelas: Episódio 4 – Uma Nova Esperança (George Lucas)
38. Janela Indiscreta (Alfred Hithcock)
39. Juventude Transviada (Nicholas Ray)
40. Lanternas Vermelhas (Zhang Yimon)
41. Laranja Mecânica (Stanley Kubrick)
42. M*A*S*H (Robert Altman)
43. Mad Max (George Miller)
44. Metrópolis (Fritz Lang)
45. Meu Ódio Será Sua Herança (Sam Peckinpeah)
46. Morangos Silvestres (Igmar Bergman)
47. Muito Além do Jardim (Hal Ssshby)
48. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen)
49. Nosferatu (F.W. Murnau)
50. O Baile (Ettore Scola)
51. O Bebê de Rosimary (Roman Polanski)
52. O Conformista (Bernard Bertolucci)
53. O Doze Condenados (Robert de Niro)
54. O Império dos Sentidos (Nagisa Oshima)
55. O Juiz (David Dobkin)
56. O Leopardo (Luchino Visconti)
57. O Mágico de Oz (Victor Fleming )
58. O Pianista (Roman Polanski)
59. O Piano (Jane Campion)
60. O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola)
61. O Poderoso Chefão II (Frances Ford Coppola)
62. O Rei Leão (Roger Allers)
63. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (Peter Jackson)
64. O Sexto Sentido (M. Night Shyamalan)
65. O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme)
66. O Último Imperador (Bernard Bertolucci)
67. O Vampiro de Düsseldorf (Fritz Lang)
68. Olga (Jayme Monjardim)
69. Onde os Fracos não Tem Vez (Joel Coen)
70. Onze Homens e um Segredo (Lews Milestone)
71. Os Bons Companheiros (Martin Scorsese)
72. Os Brutos Também Amam (George Stevens)
73. Os Imperdoáveis (Clint Westwood)
74. Os Intocáveis (Brian De Palma)
75. Os Miseráveis (Richard Boleslawski)
76. Os Sete Samurais (Akira Kurosawa)
77. Paris, Texas (Win Wenders)
78. Perdidos na Noite (John Schlesinger)
79. De Frente para o Perigo (Peter Hyams)
80. Primeira Noite de um Homem (Mike Nickols)
81. Psicose (Alfred Hitchcock)
82. Pulp Fiction – Tempo de Violência (Quentin Trantini)
83. Ran (Akira kurosawa)
84. Rede de Intrigas (Sidney Lumet)
85. Sem Destino (Dennis Hopper)
86. Sétimo Selo (Igmar Bergman)
87. Silverado (Lawrence Kasdan)
88. Sociedade dos Poetas Mortos (Peter Weir)
89. Taxi Driver (Martin Scorsese)
90. Tempos Modernos (Charles Chaplin)
91. Trilogia das Cores (Krzysztof Kieslowsk
92. Um Corpo que Cai (Alfred Hithcock)
93. Um Crime de Mestre (Gregory Hoblit)
94. Um Estranho no Ninho (Milos Forman)
95. Um Sonho de Liberdade (Frank Darabont)
96. Uma Mente Brilhante (Ron Howard)
97. Veludo Azul (David Lynch)
98. Vidas Secas (Nelson R. Pereira)
99. Viver a Vida (Jean-Luc Godard)
100. Z (Costa Gavras)

Filme – O TERCEIRO HOMEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Você sabe o que o camarada disse: na Itália, durante os trinta anos dos Bórgias, esses tiveram guerras, terror, assassinatos e carnificinas, mas produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. A Suíça era o reino do amor – tiveram quinhentos anos de paz e democracia, e o que eles criaram? O relógio cuco. (Harry Lime)

O Terceiro Homem reflete o otimismo dos norte-americanos e os esqueletos da Europa do pós-guerra. […] É uma consequência de Casablanca. Nos dois filmes, os heróis são estadunidenses exilados, cercados por um mar de traições e intrigas do mercado negro. […] O Terceiro Homem conta uma história de perda e traição. É maligno, inteligente, e o seu glorioso estilo foi um ato de desafio contra o corrupto mundo que retratou. (Roger Ebert)

O filme conhecido como O Terceiro Homem (1949), em preto e branco, obra do diretor Carol Reed, entra em todas as listas de bons filmes da história do Cinema. Começa chamando a atenção do espectador, ao fazer a apresentação dos créditos sobre as cordas de uma cítara, cujas cordas dançam para cima e para baixo, tocadas por mãos invisíveis. A música de Anton Karas encaixa como uma luva à ação presente no filme. Ele se inicia com um prólogo falado, com a finalidade de introduzir o espectador na história:

“Não conheci Viena com sua música e charme. Vim conhecê-la no período clássico do mercado negro. Havia tudo para quem podia pagar. Uma situação assim tentava amadores, mas, como os profissionais, não resistiram muito. A cidade estava dividida em quatro setores: americano, britânico, russo e francês. O centro, internacionalizado, tinha polícia internacional. Os quatro países revezavam-se. Que chance! A praça cheia de estrangeiros, e ninguém falava o mesmo idioma, a não ser um pouco do alemão. Andavam como companheiros por toda parte. Não estava pior do que as demais capitais europeias. Falo sobre o americano Holly Martins (Joseph Cotten), que veio visitar um amigo, Harry Lime (Orson Welles). Ele lhe ofereceu trabalho e o pobre diabo estava feliz, mas sem um centavo.”

O espectador, portanto, logo fica sabendo que toda a história é passada na cidade de Viena, no pós-guerra, com escombros por todos os lados e crateras deixadas pelas bombas. A cidade encontra-se sob o mando de quatro potências estrangeiras, dentro das quais transitam as mais diferentes figuras e ganham vida as mais vergonhosas intrigas, numa teia de aranha que aprisiona qualquer tipo de escrúpulo. É nesse ninho de cobras que cai, inocentemente, o estadunidense Holly Martins, escritor de “westerns” por profissão e alcóolatra por natureza. Ali fora a convite do amigo Harry Lime, que lhe prometera um emprego. Mas, por infelicidade, chegara à cidade exatamente no dia do enterro de seu Lime.

Ao ouvir algumas informações sobre a morte de Lime, Martins percebe que elas não batem, ou seja, há algo errado. Ele se baseia, sobretudo, na informação repassada pelo porteiro (Paul Hörbiger), de que existia um “terceiro homem” que ajudara a retirar da rua o corpo atropelado de Lime. Martins  passa então a pesquisar o que motivou a morte de seu amigo. É exatamente a sua busca pela veracidade dos fatos que leva ao desenrolar do instigante enredo.

Na história também entram o oficial inglês Calloway (Trevor Howard), que sugere a Martin voltar para casa, depois de dizer que seu amigo é mais sujo do que pau de galinheiro, para depois descobrir que fora mais uma vez enganado por ele; Anna (Alida Valli), a amante russa apaixonada e chorosa de Harry Lime; o corrupto barão Kurtz (Ernst Deutsch), o astucioso doutor Winkel (Erich Ponto), o larápio Popescu (Siegfried); o sargento Paine (Bernard Lee), assistente de Calloway; um garotinho com uma bola de borracha e com cara de poucos amigos, entre outros.

Ao viver Harry Lime, entrando apenas na metade do filme, quando o espectador apenas aguarda o veredito sobre sua morte, Orson Welles dá um show de atuação. Ela é festejada como uma de suas mais famosas atuações e como uma das mais brilhantes intervenções, na história do Cinema. É impossível esquecer o modo como ela se dá:

• o gatinho miando e beirando a parede, enquanto se dirige para a porta fechada;
• a visão de enormes sapatos pretos sobressaindo da sombra;
• o aconchego do felino nos sapatos, brincando com seus cordões;
• os gritos desafiantes de Martins, do outro lado da rua;
• o alvoroço nas janelas, de pessoas que queriam dormir, etc.

Os encontros entre Anna e Holly Martins vão fazendo com que ele fique cada vez mais obcecado por ela. Não mais se importa com o fato de que ela continue sendo grata a Harry Lime, mesmo tomando conhecimento de tudo que ele havia feito. Ela lhe é fiel ao amante por tê-la salvado em meio àquele caos.

A parte final do filme é eletrizante, quando Harry Lime é caçado no enorme sistema de esgoto da cidade de Viena, ficando totalmente sem alternativa para fugir, como se fora um bicho encurralado. O resto fica por conta de cada um, ao assistir a esse filme eletrizante.

Fonte de pesquisa
A Magia do Cinema/ Roger Ebert

BONS FILMES SEGUNDO ROGER EBERT (II)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não acredito em classificações e listas […], pois tais listas não têm sentindo e podem mudar de um dia para outro. Não procurei listar “os cem melhores filmes”, mas simplesmente selecionar cem bons filmes – sem ordem de classificação, escolhidos apenas segundo minhas preferências e suas qualidades artísticas, seu papel histórico, sua influência, etc. […] Para o crítico britânico Derek Malcolm um grande filme “é qualquer filme que ele considere impossível não querer rever”. Concordo com ele. (Roger Ebert)

O legado perene de Roger Ebert é o de converter e educar pessoas a apreciarem filmes importantes e desafiadores de todas as épocas […] redescobrindo tesouros esquecidos ou enterrados. […] Ele expandiu a visão dos espectadores, ampliou-lhes a capacidade de apreciar filmes e apresentou-lhes as melhores obras de muitos países. (Mary Corliss)

O estadunidense Roger Joseph Ebert (1942-2013) foi crítico de cinema e também roteirista. Iniciou sua carreira, como crítico, em 1967, escrevendo para o Chicago Sun-Times. Em sua coluna, ele fazia críticas e análises de filmes, que eram republicadas em mais de 200 jornais ao redor dos Estados Unidos e do mundo. Escreveu mais de 15 livros, incluindo seu guia anual de filmes, que reúne as suas críticas de cada ano. Foi o primeiro crítico de cinema a vencer um Prêmio Pulitzer de Crítica. Também recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. A crítica positiva de Roger Ebert a um filme era sinônimo de sucesso para esse, tanto é que passava a constar na capa do filme.

Abaixo, em ordem alfabética, o nome de mais 100 bons filmes segundo a  opinião de Roger Ebert, que deixa claro que não acredita em listas classificatórias, pois também crê que um bom filme é aquele que é impossível não querer rever. Alguns deles estão comentados aqui no nosso blog (marcados com asterisco):

1. 007 Contra Goldfinger (Guy Hamilton) *
2. A Sangue Frio (Richard Brooks)
3. Acossado (Jean-Luc Godard)
4. O Açougueiro (Claude Chabrol)
5. Alien – O Oitavo Passageiro (Ridley Scott) *
6. Amadeus (Milos Forman) *
7. Amarcord (Frederico Fellini)
8. Amor Sublime Amor (Robert Wise/ Jerome Robbins)
9. Antes Só do que Mal Acompanhado (John Hughes) *
10. Aurora (Friedrich Wilhelm)
11. As Aventuras de Robin Wood (Michael Curtiz/ William Keighley)
12. O Baile dos Bombeiros (Milos Forman)
13. Bob, O Jogador (Jean-Pierre Melville)
14. Os Bons Companheiros (Martin Scorsese)
15. O Boulevard do Crime (Marcel Carné)
16. Branca de Neve e os Sete Anões (Walt Disney)
17. Os Brutos Também Amam (George Stevens)
18. Buster Keaton (Joseph Frances Keaton)
19. Os Caçadores da Arca Perdida (Steven Spealberg)
20. Cada um Vive como Quer (Bob Rafelsom)
21. Caminhos Perigosos (Martin Scorsese)
22. A Canção da Vitória (Michael Curtiz)
23. A Ceia dos Acusados (W.S. Van Dyke)
24. O Conto de Inverno (Erich Rohmer)
25. Contos da Lua Vaga (Kenji Mizoguchi) *
26. Contos de Tóquio (Yasujiro Ozu)
27. A Conversação (Frances Ford Copolla)
28. A Cor Púrpura (Steven Spielberg) *
29. Coronel Blimp – Vida e Morte (Michael Powell/ Meric Press Burguer)
30. Os Corruptos (Fritz Lang)
31. Desafio à Corrupção (Robert Rossen)
32. Desejos Proibidos (Max Ophuls)
33. Despedida em Las Vegas (Mike Figgs)
34. O Diabo Riu por Último (John Huston)
35. Digam o que Disserem (Cameron Crowe)
36. O Discreto Charme da Burguesia (Luis Buñel) *
37. Doze Homens e uma Sentença (Sidney Lumet)
38. Os Eleitos (Philip Kaufman)
39. Os Embalos de Sábado à Noite (Jonh Badham)
40. Um Estranho no Ninho (Milos Forman)
41. O Evangelho Segundo S. Mateus (Pier Paolo Pasolini) *
42. Feitiço da Lua (Norman Jewison)
43. A Grande Testemunha (Robert Bresson)
44. Grandes Esperanças (David Lean)
45. Grisbi, Ouro Maldito (Jacques Becker)
46. Gritos e Sussuros (Ingmar Bergman)
47. O Guarda (Edward Cline)
48. Uma História de Natal (Bob Clark)
49. O Homem que Ri (Paul Leni)
50. Os Imperdoáveis (Clint Eastwood)
51. Um Inverno de Sangue em Veneza (Nicholas Roeg)
52. Isto é Spinal Tap (Rob Rainer)
53. Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock)
54. Jogo de Emoções (David Mamet)
55. King Kong (Merian C. Cooper)
56. Lanternas Vermelhas (Zang Yimou)
57. Laura (Otto Preminger)
58. O Leopardo (Luchino Visconti)
59. A Longa Caminhada (Nicholas Roeg)
60. A Marca da Maldade (Orson Weles)
61. Meu Jantar com André (Louis Malle)
62. Meu Passado me Condena (Basil Dearden)
63. Mon Oncle (Jacques Tati)
64. Meu Vizinho Totoro (Hayao Miyazaki)
65. Muito Além do Jardim (Hal Ashby)
66. Uma Mulher para Dois (François Truffaut)
67. O Nascimento de uma Nação (David Work)
68. As Noites de Cabíria (Federico Fellini)
69. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Wood Allen)
70. As Oito Vítimas (Robert Hamer)
71. Orfeu (Jean Cocteau)
72. Pacto Sinistro (Alfred Hitchcock)
73. Paris, Texas (Wim Wenders)
74. Patton – Rebelde ou Herói? (Franklin J. Schaffner)
75. Piquenique na Montanha Misteriosa (Peter Weir)
76. A Ponte do Rio Kwai (David Lean)
77. Primavera para Hitler (Mel Brooks)
78. A Queda da Casa de Uscher (Jean Epstein)
79. Ran (Akira Kurosawa)
80. Rashomon (Akira Kurosawa)
81. Rastros de Ódio (Jonh Ford)
82. A Regra do Jogo (Jean Renoir)
83. Rififi (Jules Dassin)
84. Romeu e Julieta (Franco Zeffirelli)
85. A Sala de Música (Satiajit Ray)
86. Scarface (Brian De Palma)
87. Sobre o Domínio do Mal (John Frankenheimer)
88. Solares (Andrei Tarkoviski)
89. Sonho Azul (Tian Zhuanjshuanj)
90. Um Sonho de Domingo (Bertrand Tavernier)
91. Stroszek (Weiner Herzog)
92. O Tesouro de Sierra Madre (John Huston)
93. Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (Sam Peckinpah)
94. Três Homens em Conflito (Sergio Leone)
95. Trilogia das Três Cores (Krzysztof Kieslowski) *
96. Tubarão (Steven Spilberg)
97. Túmulo dos Vagalumes (Isao Takahata)
98. A Última Gargalhada (Friedrich Wilhelm)
99. Umberto D (Vittorio De Sica)
100.Vinhas da Ira (John Ford)

Nota: Roger Ebert e sua esposa Chaz Ebert

Fonte de pesquisa
Grandes Filmes/ Roger Ebert
Editora Ediouro

BONS FILMES SEGUNDO ROGER EBERT (I)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Vivemos numa caixa de espaço e tempo. Os filmes são as janelas para o mundo. […] O cinema é, entre todas as artes, aquela que tem o maior poder de empatia, e bons filmes farão de nós seres melhores. […] As produções atuais objetivam primordialmente atingir o grande público, nivelando-o por baixo, especialmente nestes últimos tempos em que Hollywood está orientada pelo mercado e que a sua máquina domina o cinema mundial. Os filmes aqui listados não são “os” cem maiores filmes de todos os tempos, pois qualquer lista deste tipo redundaria numa tentativa insensata de sistematizar obras que têm o seu próprio valor intrínseco. Mas se você tem como objetivo fazer um circuito entre os marcos do primeiro século do cinema, poderá tranquilamente começar por aqui. (Roger Ebert)

O legado perene de Roger Ebert é o de converter e educar pessoas a apreciarem filmes importantes e desafiadores de todas as épocas […] redescobrindo tesouros esquecidos ou enterrados. […] Ele expandiu a visão dos espectadores, ampliou-lhes a capacidade de apreciar filmes e apresentou-lhes as melhores obras de muitos países. (Mary Corliss)

O estadunidense Roger Joseph Ebert (1942-2013) foi crítico de cinema e também roteirista. Iniciou sua carreira como crítico em 1967, escrevendo para o “Chicago Sun-Times”. Em sua coluna, fazia críticas e análises de filmes, que eram republicadas em mais de 200 jornais ao redor dos Estados Unidos e do mundo. Escreveu mais de 15 livros, incluindo seu guia anual de filmes, que reúne as suas críticas de cada ano. Foi o primeiro crítico de cinema a vencer um Prêmio Pulitzer de Crítica. Também recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. A crítica positiva de Roger Ebert a um filme era sinônimo de sucesso para esse, tanto é que passava a constar na capa do filme.

Abaixo, em ordem alfabética, o nome de 100 bons filmes segundo a  opinião de Roger Ebert, que deixa claro que não acredita em listas classificatórias, pois,  assim como o crítico britânico Derek Malcolm, ele crê que um bom filme é aquele que você considere impossível não querer rever. Alguns deles estão comentados aqui no nosso blog, são os que trazem um asterisco:

1. 2001: Uma Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick) *
2. A Aventura (Michelangelo Antonioni)
3. À Beira do Abismo (Howards Hawks)
4. A Bela da Tarde (Luis Bruñel) *
5. A Bela e a Fera (Jean Cocteau)
6. A Caixa de Pandora (J. W. Pabst)
7. A Doce Vida (Frederico Fellini) *
8. A Embriaguez do Sucesso (James Wong Howe)
9. A Felicidade Não se Compra (Frank Capra)
10. A General (Buster Keaton)
11. A Grande Ilusão (Jean Renoir)
12. A Lista de Schindler (Steve Spielberg)
13. A Malvada (Joseph Mankiewicz) *
14. A Mulher de Areia (Hiroshi Teshigahara)
15. A Noiva de Frankenstein (James Whale)
16. A Tortura do Medo (Michal Powell)
17. A Trilogia de Apu (Satiyajit Ray) *
18. Aguirre, a Cólera dos Deuses (Wernez Herzog)
19. Apocalipse Now (Francis Ford Coppola) *
20. As Férias do Sr. Hulot (Jacques Tati)
21. As Três Noites de Eva (Preston Sturgess)
22. Asas do Desejo (Win Wenders) *
23. Basquete Blues (Steve Janes)
24. Blow-Up – Depois Daquele Beijo (Michelangelo Antonioni)
25. Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas (Arthur Penn) *
26. Cantando na Chuva (Stanley Doney/Gene Kelley)
27. Casablanca (Michael Curtiz)
28. Chinatown (Roman Polanski)
29. Cidadão Kane (Orson Welles) *
30. Cinzas no Paraiso (Terence Malick)
31. Corpos Ardentes (Lauren Kasdan)
32. Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder)
33. Curva do Destino (Edgar G. Ulmer)
34. Diabo a Quatro (Irmãos Marx)
35. Doutor Fantástico (Tod Browning)
36. Drácula (Stanley Kubrick)
37. E o Vento Levou (Vários diretores)
38. E. T. – O Extraterrestre (Steve Spielberg)
39. Encouraçado Potemkin (Eisensteing )
40. Ervas Flutuantes (Yasugiro Ozu)
41. Faça a Coisa Certa (Spike Lee)
42. Fargo – Uma Comédia de Erros (Joel Coen) *
43. Guerra nas Estrelas (George Lucas)
44. Interlúdio (Alfred Hitchcock)
45. JFK -A Pergunta que Não Quer Calar (Oliver Stone)
46. Ladrão de Alcova (Ernest Lubitesch)
47. Ladrão de Bicicletas (Vittorio De Sica)
48. Lawrence da Arábia (David Lean)
49. Lírio Partido (D. W. Griffith)
50. Luzes da Cidade (Charles Chaplin)
51. M – O Vampiro de Düsseldorf (Fritz Lang) *
52. Manhattan (Wood Allen)
53. Metrópolis (Fritz Lang)
54. Meu Ódio Será Sua Herança (Sam Peckinpeah)
55. Nashville (Robert Altman)
56. Nosferatu (F.W. Murnau)
57. O Anjo Exterminador (Luis Bruñel)
58. O Ano Passado em Marienbad (Alan Resnair)
59. O Atalante (Jean Vigor)
60. O Decálogo (Krzysztof Kieslowshi)
61. O Mágico de Oz (Vários diretores)
62. O Matírio de Joana D’arc (Charl Theodor Dreyer)
63. O Medo Devora a Alma (Rainer W. Fassbinder)
64. O Mensageiro do Diabo (Charles Laughton)
65. O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola)
66. O Samurai (Jean-Pierre Melville)
67. O Sétimo Selo (Ingmar Bergman)
68. O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme) *
69. O Terceiro Homem (Carol Reed)
70. Oito e Meio (Frederico Fellini)
71. Os Documentários “Up” (Michael Upted)
72. Os Incompreendidos (Françoise Truffaut)
73. Os Reis do Ié-Ié-Ié (Richard Lester)
74. Os Sete Samurais (Akira Kurosawa)
75. Ouro e Maldição (Erich von Strogheim)
76. Pacto de Sangue (Billy Wilder)
77. Paixão dos Fortes (John Ford)
78. Palavras ao Vento (Douglas Sirk)
79. Pickpocket (Robert Bresson)
80. Pinóquio (W. Disney)
81. Portais do Céu (Morris )
82. Psicose (Alfred Hitchcock) *
83. Pulp Fiction – Tempo de Violência (Quentin Tarantino)
84. Quando Duas Mulheres Pecam (Ingmar Bergman)
85. Quando os Homens São Homens (Robert Altman)
86. Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder)
87. Rede de Inrrigas (Sidney Lumet)
88. Relíquia Macabra (John Huston)
89. Rio Vermelho (Howards Hawks)
90. Ritmo Louco (Fred Astaire)
91. Se Meu Apartamento Falasse (Billy Wilder)
92. Sindicato de Ladrões (Elia Kazan)
93. Taxi Driver (Martin Scorsese)
94. Touro Indomável (Martin Scorsese) *
95. Um Cão Andaluz (Luis Bruñel)
96. Um Corpo que Cai (Alfred Hithcock)
97. Um Sonho de Liberdade (Frank Darabont) *
98. Uma Mulher Sob Influência (John Cassavetes)
99. Viver (Akira Kurosawa)
100. Viver a Vida (Jean-Luc Godard)

Nota: estátua de bronze do crítico de cinema Roger Ebert, exposta em Champaign (EUA)

Fonte de pesquisa
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Editora Ediouro

Filme – A FESTA DE BABETTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

Babette

O homem é frágil e tolo. A todos já nos foi dito que a graça divina encontra-se por todo o universo. Mas em nossa tolice e miopia humanas, imaginamos ser a graça finita. Por esse motivo, trememos antes de fazer nossas escolhas na vida, e após tê-las feito trememos de medo de ter escolhido errado. Mas eis que chega o momento em que nossos olhos estão abertos, e vemos, e percebemos que a graça é infinita. A graça não exige nada de nós, senão que a aguardemos com confiança e a reconheçamos com gratidão. A graça, irmãos, não impõe condições e não escolhe nenhum de nós em particular; a graça toma a todos em seu seio e proclama anistia geral. Aquilo que escolhemos nos é dado, e aquilo que recusamos nos é igualmente, e ao mesmo tempo, concedido. Sim, que o que rejeitamos seja copiosamente vertido sobre nós. Pois que a misericórdia e a verdade encontraram uma a outra e a retidão e a bem-aventurança beijaram uma a outra. (Discurso do general Loewenhielm )

O filme dinamarquês A Festa de Babette (1987), obra do cineasta e roteirista Gabriel Axel, é um dos mais premiados filmes estrangeiros, tendo ganhado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o Bafta e a Palma de Ouro.

A história acontece na Noruega, na cidadezinha de Berlevaag, banhada pelo mar e encimada por montanhas. Ali moram as duas irmãs, Martine e Philippa, cujos nomes homenageiam Martinho Lutero e seu amigo Philipp Melanchthon. Eram filhas de um pastor responsável por criar uma seita, que pregava a renúncia aos prazeres, sob a alegação de que o mundo só oferecia ilusões, sendo que a verdadeira vida encontrava-se na Nova Jerusalém, à qual teriam acesso todos que praticassem uma vida modesta e sem deleite.

Quando o filme tem início, o pastor já se encontrava morto, deixando as duas filhas à frente do grupo, cujos membros tornavam-se cada vez mais escassos. Já não havia mais a harmonia de antes, tendo elas que lidar com brigas e descontentamentos. Ainda assim, o pequeno grupo reunia-se para estudar a palavra do antigo mestre.

Martine e Philippa tinha uma criada francesa, apesar de viverem com parcos rendimentos, gastos em obras de caridade. Babette batera à porta das duas irmãs, 12 anos antes, numa noite de intenso temporal. O povo do lugar logo compreendeu que o coração generoso das duas irmãs, que atendiam a todos que a procuravam, era o responsável pela presença da mulher na casa. Porém, a história era muito mais complexa. Retrocedendo no tempo, o filme passa então a narrar a história das duas irmãs e Babette.

Embora muito belas e desejáveis na juventude, Martine e Philippa viviam voltadas apenas para a seita do pai, que via nelas a mão direita e a esquerda, não tendo elas acesso a nenhum tipo de divertimento. Além disso, ele não permitia que alguém pudesse privá-lo de uma das filhas. Mesmo assim, dois cavalheiros chegaram a Berlevaag, em tempos diferentes, e ambicionaram a mão das garotas.

O primeiro deles foi um oficial, Lorens Loewenhielm, envolvido em dívidas, e enviado pelo pai para conviver com a tia no campo, por certo tempo, a fim de refletir sobre sua vida desregrada. Ao ver Martine, a mais nova delas, ele caiu de amores pela moça. Passou então a frequentar a casa do pastor, ouvindo suas pregações, com o intuito de vê-la. Ao findar de sua permanência no lugar, e certo de não obter o amor da moça, agarrou sua mão, dizendo-lhe que nunca mais voltaria a vê-la. Com o passar dos anos, ele se casou com uma dama importante da corte francesa.

Um ano mais tarde, chegou a vez de um grande cantor francês de óperas, Achille Papin, apaixonar-se pela bela voz de Philippa, após ouvi-la cantar na igreja. Com a permissão do pastor, ela chegou a estudar canto com ele, que só pensava em torná-la uma grande dama da ópera, viajando pelo mundo. Mas, quando a beijou, ela, sem dizer nada ao pai, pediu que esse comunicasse ao cantor que não iria mais às aulas. Achille Papin retornou a Paris, sozinho.

Passados quinze anos, numa noite de intenso temporal, uma mulher quase desfalecida, bateu à porta das duas irmãs, com uma carta de Achille Papin, pedindo-lhes que a acolhessem, pois era uma fugitiva francesa, cuja família havia sido fuzilada na guerra civil, e  com a sua ajuda e a do sobrinho, que trabalhava como cozinheiro num navio, ela conseguira escapar. As duas irmãs disseram à fugitiva que não poderiam pagar-lhe por seus serviços. Babette afirmou-lhes que trabalharia de graça, e, se elas não a quisessem, ela não trabalharia para mais ninguém. E assim ficou ali por 12 anos, sem ter conseguido aprender a língua daquela gente e, tampouco, abraçar a sua seita, permanecendo católica. Era uma governanta exemplar, ajudando as irmãs em tudo. Segundo ela, a única coisa que a ligava a seu país de origem era um bilhete de loteria, que um amigo renovava a cada ano. Acontece, então, a segunda parte da história.

Martine e Philippa resolveram comemorar o dia em que o pai faria cem anos, como se ele ainda se encontrasse entre elas e seus adeptos, ainda que a discórdia grassasse entre esses. Fariam uma modesta ceia com uma xícara de café. Nesse ínterim, Babette recebeu a notícia de que seu bilhete fora premiado com a quantia de dez mil francos. E, para surpresa das duas irmãs, pediu-lhes para preparar um jantar francês, desconhecido para ambas, em homenagem ao pai delas. Embora relutantes, acabaram aceitando a oferta da governanta. A partir daí desenrola toda a preparação do jantar, com Martine e Philippa apavoradas, pois não imaginavam que fosse daquele porte, onde entraria até vinho. O que pensariam os devotos?

Numa reunião com Philippa, os adeptos prometeram uns aos outros que iriam ao jantar, mas não fariam comentário algum sobre a comida ou bebida, preservando as recomendações do mestre. E assim, com a presença de 12 pessoas, foi realizado o jantar. O resto fica para que o leitor descubra, ao assistir a esse comovente filme.

Nota: Esse filme, narrado em grande parte, tem o roteiro baseado no conto da escritora dinamarquesa Karen Blixen, a mesma autora de A Fazenda Africana, em que foi baseado o filme Entre dois Amores.

Ficha técnica
Ano:1987
Gênero: drama
Direção: Gabriel Axel
Roteiro: Gabriel Axel
Elenco: Bibi Andersson, Ebbe Rode, Gudmar Wivesson, Jarl Kulle, Jean-Philippe Lafont, Stéphane Audran
Produção: Bo Christensen, Just Betzer
Fotografia: Henning Kristiansen
Trilha Sonora: Per Norgaard
Duração: 102 minutos