Arquivo da categoria: Ditos Populares

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares.

PROVÉRBIOS – AS MULHERES E O TAMANHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

alta

Quase todas as culturas, em tempos passados, exigiam que a mulher fosse submissa ao homem em todos os sentidos, conforme comprovam os provérbios, fato que ainda perdura em muitos locais do mundo nos dias de hoje, infelizmente. Uma das regras, estipulada pela sociedade em relação à união entre uma mulher e um homem, era a de que ela fosse sempre menor do que o companheiro no que diz respeito ao tamanho físico, pois a estatura foi sempre vista como sinônimo de poder e privilégio do macho.

O fato de a mulher ter que levantar a cabeça para falar com o seu companheiro significava que ela era submissa a ele, e também inferior. É provável que tenha nascido daí a busca dos homens por mulheres mais baixas, sendo pouquíssimos os casos em que acontece o contrário. Mesmo atualmente, quando uma mulher é mais alta do que seu par, causa espanto, de tão arraigado que é este tipo de cultura na sociedade. A própria mulher, sempre que possível, opta por um homem mais baixo do que ela, temendo a cobrança social. Que coisa, não?

O corpo masculino é, normalmente, maior e mais pesado do que o feminino. Ao nascerem, os meninos são quase sempre maiores e pesam mais. No entanto, as meninas são menos suscetíveis às doenças. Pesquisas comprovam que a mulher possui mais vigor e resistência física e psicológica e, consequentemente, maior expectativa de vida, ainda que em certas culturas machistas, quando há falta de alimentos, o pouco que se tem é direcionado aos meninos em primeiro lugar.

Ironicamente a fêmea humana vem ganhando estatura através dos tempos, ultrapassando, muitas vezes, a altura do macho. Mas não pensem que isso seja problema para afetar o poder do homem, pois os provérbios estão sempre dando um jeitinho de mostrar que, mesmo sendo mais alta do que o parceiro, a mulher continua inferior. E para não dizerem que escorraço a cobra e não mostro o pau, eis uma pequena amostragem desses tais que se expandem mundo afora.

  • Até mesmo um homem de baixa estatura é sempre grande comparado com a das mulheres. (Provérbio árabe)
  • Seja qual for o tamanho da mulher, é sempre o homem que a cavalga. (Provérbio ikwerri)
  • Mulheres, desgraças e pepinos, quanto menores, melhores. (Provérbio húngaro)
  • A mulher e o arado são melhores se medirem menos que um homem. (Provérbio Oromo)
  • Até mesmo uma mulher pequena consegue superar em ardis o próprio diabo. (Provérbio alemão)

Seria risível acompanhar a história da mulher através dos provérbios e dos tempos, se o contexto de tais ditos populares não se mostrassem atualíssimo em vários cantos do planeta, onde a mulher continua submissa, sem vez e sem voz, mesmo que tenha o tamanho da personagem mostrada na foto que ilustra este texto, pois, imaginam, será sempre ele a cavalgá-la. Será mesmo?! Duvidodeodó!

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

PROVÉRBIOS – OU É CORNO OU É COVA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Existem muitas culturas, ainda, em que o dote é uma regra comum, tendo o noivo que pagar à família da escolhida um determinado valor. Assim, o casamento entre meninas e homens bem mais velhos é muito aceito pelas famílias das garotas. Rezam os provérbios que  “A juventude do ancião está na sua carteira”, uma vez que “Um homem rico nunca está velho para uma jovem”. Fica claro que o poder aquisitivo do macho velho é o que conta na união, pois ele pode ofertar aos pais um bom dote, coisa que o macho jovem muitas vezes não pode. Muitos provérbios, contudo, alertam para o perigo deste tipo de união, fazendo troças.

  • Homem velho e mulher nova resultam em corno ou cova. (Brasil)
  • O velho que se casa com uma jovem, compra um livro para outro ler. (EUA)
  • Velho casado com jovem não se afasta de casa. (Porto Rico)
  • Um velho é uma cama cheia de ossos. (Reino Unido)
  • Quando um velho casa com uma jovem, a morte desata a rir. (Israel e Rússia)

Há provérbios, porém, que se opõem ao casório, seja lá de que tipo for. Alertam as mulheres para o fato de que o casamento não é lá grandes coisas, apesar da vontade que toda moça tem de se casar. Eles são bem claros na tentativa de alertar as casadoiras acerca do que lhes espera.

  • O casamento é como uma armadilha: os que estão dentro querem sair e os que estão fora querem entrar.
  • Se a jovem soubesse o que sabe a mulher casada, nunca se casaria.
  • Chorava, porque queria se casar e, quando se casou, continuou chorando.

Quanto mais machista é a cultura, mais ela deixa claro que  que a mulher é a única beneficiada no casamento. Coloca-a na condição de uma pessoa incapaz, impossibilitada de conduzir a  própria vida. Para existir ela precisa de um homem ao lado e, por isso, deve ser submissa e devotar toda a sua vida a ele em agradecimento.

  • Uma mulher só é esposa através do marido.
  • O casamento é uma proteção para a mulher.
  • O prazer da mulher é seu marido.
  • O barco segue o leme, a mulher segue o homem.

Ainda na defeza do homem, tais culturas alardeiam o sofrimento do macho, ao ter que manter a mulher, como se ela fosse um peso morto em sua vida.

  • Manter uma vaca requer muita grana.
  • É mais barato encontrar uma mulher do que mantê-la.
  • Compra uma garota, antes de comprares um pássaro.
  • Um mau marido às vezes é um bom pai, mas uma má esposa nunca é uma boa mãe.

Fonte de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel

OS PROVÉRBIOS NA IDADE MÉDIA

Autoria de Lu Dias Carvalhotu

Os egípcios, no terceiro milênio a.C., são as primeiras fontes conhecidas sobre provérbios, tidos entre os hebreus e os aramaicos como a palavra do sábio. No século VI a. C., tornaram-se conhecidas as Palavras de Aliqar e no século IV a. C., os Provérbios de Salomão. Entre os gregos, as máximas aparecem nas obras de Platão, Aristóteles e Ésquilo, por exemplo. Na China e entre os sumérios, os adágios são frequentemente encontrados. Na Antiguidade Clássica, vamos encontrá-los nas obras de Aristóteles, Demócrito, Sófocles, Catão, Cícero e Publílio Siro, entre outros.

Através do estudo dos clássicos gregos e latinos, a Idade Média foi um rico celeiro para o cultivo dos provérbios, cujo prestígio fez com que eles servissem de base para os exercícios gramaticais nas escolas da época.  A partir de então grande número deles foi transmitidos por autores ligados ao cristianismo. A base de todo o pensamento medieval foi a Bíblia.

Os provérbios atravessam gerações, como uma herança cultural de conselhos práticos sobre a vida, tendo por base a experiência e a sabedoria dos antigos. Por isso, são usados sempre no presente, sugerindo atemporalidade. Abaixo, alguns provérbios da Idade Média, do mestre Raimundo Lúlio* (Ramon Llull) que nasceu no ano de 1232 e morreu em 1313:

  1. Aquele que briga com Deus é vencido.
  2. Ao acusarem-te com o mal, responde com o bem,
  3. Ama teu patrão para que o possas servir sem esforço.
  4. Não creias em parentes que amam mais teus bens que tua pessoa.
  5. Confia mais em teu parente pelo bom costume que pelo parentesco.
  6. Ama mais em tua mulher a bondade que a beleza.
  7. Com amor sê íntimo da boa mulher e com temor da má.
  8. Não faças companhia ao homem avarento e orgulhoso.
  9. Não faças companhia ao homem que rapidamente muda de opinião.
  10. O companheiro que louva teu vício não é leal.
  11. Com o bom vizinho sê íntimo em tua casa e com o mau, no caminho.
  12. Não digas a teu vizinho o que comes em tua casa.
  13. Não fales mal daquilo que teu vizinho ama.
  14. Que o mau vizinho não conheça os segredos de tua casa.
  15. Não sejas íntimo do inimigo de teu amigo.
  16. Quem possui um bom amigo, tarda a ter necessidade.
  17. Quem sempre se lembra do inimigo, frequentemente tem paixão.
  18. Não multipliques o poder e a ira de teu inimigo.
  19. Torna teu inimigo estranho aos teus olhos e aos teus ouvidos.
  20. Não tenhas inimizade por pouca coisa.
  21. Acostuma teus pés aos bons costumes e as mãos às boas obras.
  22. A justiça e a injúria estão todo tempo em guerra.
  23. A prudência e o caráter são parentes.
  24. Com a prudência conheces a ti mesmo.
  25. Quando fores convidado, convide a temperança.
  26. Coloca a temperança em todos os teus feitos.
  27. Não deixeis ocioso o dom que possuis.
  28. Não podes ter melhor riqueza que a caridade.
  29. Quem vende caridade não compra nada.
  30. Não desejes ter honra sem a verdade.
  31. Todas as mentiras não valem uma verdade.
  32. Quem não crê na consciência não crê em si mesmo.
  33. A humildade que existe pela força não é sã.
  34. Com a humildade humilhará o orgulhoso.
  35. A piedade desculpa e não acusa.
  36. O homem paciente não é vencido.
  37. A obediência injusta faz doente a tua alma.
  38. Não obedeças a teu corpo sem o conselho da tua razão.
  39. O homem desleal pouco se desculpa.
  40. Não does a quem não doa.
  41. Doa, porque doar multiplica.
  42. Quem não persevera não caminha.
  43. Se fizeres descortesia te assemelharás a uma besta.
  44. Sem a humildade não podes ser cortês.
  45. A cortesia tem amigos em muitos lugares.
  46. Quem não tem caridade é avaro.
  47. Todo homem avaro é ladrão.
  48. O homem avaro inveja todos os seus vizinhos.
  49. Não sejas glutão e serás sadio.
  50. Todo glutão vive pouco.
  51. A mulher do luxurioso não tem paz.
  52. O homem orgulhoso ao mentir jura que diz a verdade.
  53. A alma ociosa no bem é diligente no mal.
  54. Quando a diligência come, a ociosidade jejua.
  55. A inveja não dá de graça.
  56. Não confies no homem invejoso.
  57. Não confies teus bens a um invejoso.
  58. O invejoso ama mais o que não tem do que o que tem.
  59. A ira afasta a prudência do homem.
  60. Se repreenderes o homem irado tu te tornarás irado.
  61. Com o homem irado é melhor calar que falar.
  62. Foge do homem irado e fugirá do mal.
  63. Considera muito e fala pouco.
  64. Pensa na finalidade da palavra antes de dizê-la.
  65. A palavra é a imagem da semelhança do pensamento.
  66. Não fales muitas palavras de ti.
  67. Se fores rico faze os outros ricos.
  68. A riqueza de Deus é o bom homem.
  69. Podes ser mais rico dando do que tomando.
  70. Bons costumes são grandes riquezas.

*Raimundo Lúlio ou Raimundo Lulo (Ramon Llull em catalão; Raimundo Lulio em espanhol; Raimundus ou Raymundus Lullus em latim) foi o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Foi um prolífico autor também em árabe e latim. É beato da Igreja Católica. (Wikipédia)

 Fonte de pesquisa:
O Livro dos Mil Provérbios / Raimundo Lúlio

PROVÉRBIOS – SOGRAS x NORAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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As turbulências entre sogras e noras têm sido uma constante na história da humanidade. E como isso não poderia deixar de ser, elas são também um prato cheio para os provérbios que deitam e rolam na criatividade, na maioria das vezes ferina, é verdade, colocando todas as sogras e noras no mesmo balaio. Sabemos que não é bem assim, pois existem sogras que são verdadeiras mães para suas noras, e noras que são verdadeiras filhas. O mais incrível é que a sogra é sempre a maior vítima, pois os provérbios direcionados a ela são em maior número.

O duro é quando o filho é obrigado a servir de anteparo entre a mãe e a esposa rixentas (isto também ocorre entre sogras e genros). O coitado se martiriza tentando não ofender nenhuma e nem outra, sempre buscando uma maneira de colocar panos quentes, mas adquirindo,com o passar dos anos, um grande estresse. Se ambas usassem uma boa dose de respeito, os netos poderiam contar com uma educação saudável e com o amor de todos da família.

Conheçamos alguns provérbios sobre o tema e a origem dos mesmos:

  1. Sogra não é parente, é castigo. (Brasil)
  2. Quem conta com a sopa da sogra dormirá sem jantar. (República Dominicana)
  3. Amizade entre sogra e nora, só dos dentes pra fora. (Brasil)
  4. Sogra nem de açúcar é boa. (Espanha)
  5. A única sogra que presta é a da minha mulher. (Brasil)
  6. Nenhuma maldade é tão ruim quanto a de uma sogra. (Grécia)
  7. A melhor sogra comeu o genro. (Chile)
  8. Sogra e madrasta só o nome basta. (Brasil)
  9. A língua da sogra má provoca divórcio. (Israel)
  10. Castigo da bigamia: duas sogras. (Brasil)
  11. A mãe do marido é o demônio da mulher. (Alemanha)
  12. Sogra e nora, cão e gato, não comem no mesmo prato. (Itália)
  13. A sogra má tem ouvidos nas costas. (Rússia)
  14. Amo muito mais a sogra da minha mulher do que a minha. (Brasil)
  15. As noras acabam por ser sogras. (EUA)
  16. Feliz Adão que não teve sogra nem caminhão. (Brasil)
  17. Lembra-te sogra, que foste nora. (Brasil)
  18. Quem na casa da mãe não atura, na da sogra não espere ventura. (Brasil)

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

Nota: Imagem copiada de br.123rf.com 

TER FILHAS É TER PROBLEMAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Dez filhas magníficas valem menos do que um filho com deficiência. (Provérbio chinês)

Muitos filhos, muitas bênçãos de Deus, muitas filhas, muitas desgraças. (Provérbio alemão)

 As meninas sempre estiveram numa posição inferior à dos meninos na maioria das culturas, principalmente nas mais subdesenvolvidas, naquelas em que religião e Estado vivem de mãos dadas. Enquanto os filhos homens são recebidos com júbilo, as filhas são aceitas com pesar pela família. Tais culturas ignoram ou não valorizam o fato de que a mulher é imprescindível na perpetuação da espécie e na organização de uma sociedade. Esta diferenciação, que vem perdurando ao longo dos séculos em muitos países, é responsável pelo modo como homem e mulher encaixam-se dentro de tais culturas. Quanto mais severas forem as diferenças, mais díspares serão os papéis de ambos dentro da sociedade e menos valorizada será a mulher. Trata-se de um canteiro bem fértil para o feminicídio*.

Os provérbios são praticamente unânimes em reforçar a diferença entre filhas e filhos, apontando a inferioridade da mulher em relação ao homem. Vejamos alguns:

  • A casa paterna é território dos rapazes e restaurante das moças. (Chinês)
  • A jovem que se casa perde o parentesco. (Coreano)
  • Cada filha é uma mão cheia de problemas. (Árabe)
  • Quem tem um filho não morre completamente. (Dinamarquês)
  • A mulher não é parenta de ninguém. (Mongo)
  • Um filho tolo é melhor do que uma filha habilidosa. (Chinês)
  • Ter um filho é uma bênção, ter uma filha é uma desgraça. (Chinês)

Em muitas culturas, quando o homem se casa, sua esposa é obrigada a acompanhá-lo, cortando todo o vínculo com a sua família de sangue. Ela e seus descendentes passam a ser propriedade do marido, fazendo parte unicamente de seu clã. O nascimento de uma menina em certas sociedades é visto como um castigo para os pais. Mas, por que tamanha diferenciação entre homem e mulher? Não resta dúvida de que tudo isto está embutido, principalmente, numa visão machista, pois quanto mais machista é a cultura, mais insignificante torna-se a mulher, a ponto de garotos de tenra idade darem ordens em casa, subjugando a mãe e as irmãs.

Outro fator concernente ao jugo da mulher diz respeito ao provimento da família. Por mais simples que seja uma cultura, a subsistência é a sua preocupação primordial. As famílias pesam a importância dos filhos e das filhas dentro delas. Como visto acima, em muitas sociedades, quando a filha se casa, ela deixa a sua família de origem e passa a fazer parte da família do marido, sendo mais um membro na força do trabalho doméstico do novo clã, uma vez que é proibida de trabalhar fora de casa.

Ao olhar sob a ótica da desvinculação da filha de sua família de sangue, as filhas trazem prejuízos para seus pais e irmãos – concluem eles – ao criá-las e depois repassá-las para uma nova família. Elas não são, portanto, um bom negócio, ainda que tenha trabalhado como burro de carga durante muitos  anos em sua família de origem. O filho, por sua vez, jamais perde o vínculo com os pais, sendo responsável por eles na velhice. Um provérbio chinês diz que “O destino da filha é desaparecer e o do filho é permanecer”, ou seja, ela deixa os seus, enquanto o filho continua ajudando-os.

Só para se ter uma ideia do desencanto de um pai ruandês quando nasce uma filha,  existe até um provérbio que vem em seu socorro: “Não se deve insultar quem tiver uma filha, se puder continuar tentando” (ter um filho). Um provérbio coreano é mais consolador: “Uma família sem uma única filha é como um fogo apagado”, enquanto outro alerta para a importância de uma menina, pois “A filha mais velha é a ama dos irmãos”. Mesmo quando se tenta valorizar a menina, pensa-se nos serviços domésticos que ela irá prestar.

*”O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de violência doméstica. A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio, alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de homicídio o feminicídio.” Veja mais sobre “Feminicídio” em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/feminicidio.htm

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

Ilustração: Imagem da cerâmica do Vale do Jequitinhonha

PROVÉRBIOS – MENINA OU MENINO?

Autoria de Lu Dias Carvalhomeome

Os provérbios existentes em todas as culturas valorizam a presença dos filhos na vida dos pais. Eles são vistos como suporte para seus genitores principalmente na velhice. Contudo, em algumas culturas a diferença entre menino e menina é bem clara, como veremos a seguir.

Os tibetanos chegam a afirmar que “um filho não é a mesma coisa que uma filha”, ou seja, ele é muito mais desejado. Embora se saiba que a mulher é de fundamental importância para uma cultura, inclusive na descendência e criação de novos indivíduos, o nascimento de uma menina tem sido preterido em muitas delas. Tal postura contribui para colocar a fêmea humana à margem das decisões sociais e políticas da sociedade em que vive, uma vez que é vista como um indivíduo inferior.

Diz certo provérbio que “Quem não tem o que se ama, ama o que se tem”, portanto, não havendo outra saída, a garota indesejada é recebida, mesmo que a contragosto, pelos pais. Mesmo assim, ela continua vítima da mordacidade dos provérbios populares nas culturas machistas. Os chineses dizem que “Num tanque sem peixes salvam-se os girinos”, ou ainda, “Na falta de mercúrio, a argila serve”. Tais provérbios poderiam ser traduzidos como “Quem não tem cão caça com gato” em sua modalidade atual. Outros ditos populares acompanham a malícia em relação ao nascimento de meninas, mas também é possível pinçar aqui e acolá alguns provérbios que fogem à regra, ainda que se tenha que ler, nas entrelinhas, certo tipo de consolo:

  • A filha mais velha é a ama dos irmãos. (Prov. vietnamita)
  • Bendita a casa em que a filha nasce antes do filho. (Prov. judaico)
  • É melhor dar à luz uma boa filha, e depender de um genro, do que parir um mau filho. (Origem desconhecida)
  • Primeiro uma filha, depois um filho, e então a família. (Prov. estadunidense)
  • Uma boa filha equivale a dez filhos, se achar um bom noivo. (Prov. bengali)
  • Uma família sem uma única filha é como um fogo apagado. (Prov. coreano)

As sociedades que trabalham com essa diferença arcaica entre o sexo masculino e o feminino partem do pressuposto de que “A casa paterna é território dos rapazes e restaurante das moças”, como apregoa um provérbio chinês. Alegam que, ao casar-se, a jovem passa a pertencer à família do marido, enquanto o moço fica permanentemente ao lado dos pais, zelando por eles. Um provérbio coreano chega a ser mais rude ao rezar que “A jovem que se casa perde o parentesco”, pois seus filhos não são considerados como descendentes de sua família original, passando a fazer parte do clã do marido. E, como se não bastasse a negação por parte da própria família, a esposa, muitas vezes, também não é aceita pelo clã do marido, sob a alegação de que “A mulher não é parente de ninguém”, como alerta um provérbio mongol. Mulheres que vivem em culturas deste tipo são, certamente, frágeis e vulneráveis, repassando para suas filhas a mesma insegurança, numa cadeia continuada que só tende a enfraquecer a própria sociedade em que se encontram.

O que fica patente nessas culturas é o desprezo pela mulher, pelo fato de essas não serem provedoras, limitando-se apenas a manter a casa e a criar os filhos, como se tais funções desmerecessem-nas. O mesmo aconteceu com as mulheres de vários países, hoje tidos como civilizados, quando eram apenas “donas de casa”. Ao assumirem funções de trabalho fora do lar, elas passaram a ser vistas com respeito. Quanto ao fato de a mulher casar-se em determinadas culturas e passar a fazer parte da família do marido, o que vemos no Ocidente é o contrário. Reza um provérbio bem conhecido que “Quando um homem se casa, a família da mulher ganha um filho e a sua perde um”, pois a filha acaba sempre levando o marido para sua família, com a qual mantém maior contato. O ideal é que ambas as famílias se enriqueçam com o novo membro, seja ele homem ou mulher.

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel