Arquivo da categoria: Fotografias

Textos, fotos e endereços de vídeos

O PEQUENO PARISIENSE

Autoria de Lu Dias Carvalho ind.12

O Pequeno Parisiense é uma fotografia feita por Willy Ronis (1910-2009), em 1952. Com uma baguete (pão francês fino e longo) debaixo do braço esquerdo, o garotinho corria alegremente por uma das ruas de Paris, quando foi clicado pelo fotógrafo francês. O mais interessante é que a enorme baguete está desembrulhada, em contato com o corpo do menino. Era o pós-guerra, época em que as pessoas voltaram a sorrir.

Willy Ronis, embora fosse francês, era filho de um fotógrafo judeu de origem russa e de uma lituânia. O pai tinha um estúdio de fotografia em Montmartre e a mãe dava aulas de piano. Apesar da profissão do pai, a paixão do garoto era pela música. Estudava violino, e sonhava em ser um compositor no futuro. Com a doença e morte do pai, Ronis teve que assumir o estúdio, para ajudar no sustento da família, mas não se saiu bem na empreitada, tendo que trabalhar como “free-lance”, dedicando-se ao fotojornalismo.

Ronis encontra-se entre os grandes fotógrafos do século XX, pertencendo à mesma geração de Henri Cartier-Bresson, Lartigue e Robert Doisneau. Ao retratar o cotidiano da Paris do pós-guerra, nos seus vários aspectos, sua fotografia tornou-se um registro  importantíssimo daquela época, sendo visto hoje como um dos mais importantes representantes da fotografia humanista. E, por incrível que pareça, seu trabalho só foi reconhecido na década de 80. Ainda bem!

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A TORRE DE PIZZA

Autoria de Lu Dias Carvalhospelada1

Esta fotografia sobre a Torre de Pisa, Pisa, Itália, é uma das obras-primas do fotógrafo Elliot Erwitt (1928), que remonta ao ano de 1976. O mais incomum na foto é o ângulo em que ela foi feita, pois embora aquele grupo de pessoas se encontrasse distante da torre, tem-se a impressão de que está a rodeá-la. É interessante observar a inclinação do monumento e o fascínio que exercia, e ainda exerce, sobre os turistas, que não apenas a observam como faziam questão de tirar fotos com ela ao fundo. É um dos monumentos mais visitados da Europa, considerada patrimônio da UNESCO.

A Torre de Pisa, construída em mármore branco, é um campanário que faz parte da catedral da cidade italiana do mesmo nome. Sua construção teve início em 1173, sendo feita em três fases e levando 177 anos para ficar pronta. Sua inclinação fez-se notar logo após o início das obras, em razão de uma fundação malfeita e de um subsolo fraco e instável. Como a construção ficou paralisada durante quase um século, por causa das guerras, o solo foi se ajustando. Ao ser reiniciada, com a tentativa de eliminar a inclinação, os engenheiros construíram andares mais altos de um lado, o que fez com que a torre começasse a se inclinar para outro. Ou seja, a inclinação só mudou de lado. Depois, houve novas guerras, nova paralisação e novo reinício.

Atualmente, o lado mais alto da Torre de Pisa mede 56,70 metros e o mais baixo 55,86. Ela possui 296 degraus e sete sinos, um para cada nota da escala musical. Depois de passar por vários estudos e tentativas de preservação, ficando fechada ao público por algum tempo, foi reaberta em 2001, sob o argumento de que permaneceria estável por, pelo menos, mais três séculos. Ainda bem!

Fontes de pesquisa:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Pisa
http://www.brasilescola.com/curiosidades/torre-pisa.htm

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OS PÉS DO PRESIDENTE

Autoria de Hila Flávia
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Quando meus joelhos me obedeciam, eu seguia a canção. Cantava. Hoje não mais. Digo-lhes: sigam em frente. Eles param. Digo-lhes: parem. Eles continuam seguindo.

A situação, que se apresenta aos velhos hoje, está de conformidade com as direções dos pés de Jânio Quadros, na famosa foto de autoria de Erno Schneider, então do Jornal do Brasil, em l961.

Ficamos ou seguimos? Paramos ou voltamos? Vamos para lá ou para cá? Como nos situamos?

A memória, precária e benéfica, pois ao mesmo tempo em que se esquece das boas coisas também o faz em relação às dores, nos remete a um tempo que se apresenta cada vez mais longínquo: à primeira metade do século passado, quando a vida corria como a vida de nossos pais. De nossos antepassados até nós pouca diferença houve. Um pouco de progresso, de conforto. Um ferro elétrico substituiu o pesado ferro de brasa, um fogão elétrico viveu ao lado do de lenha, a penicilina apareceu para todos, a luz elétrica veio substituindo as velas e os lampiões, os automóveis foram surgindo nas cidades pequenas. Poucos mas conhecidos. E as mulheres começaram a levantar a cabeça.

Da minha geração para a de meus filhos houve uma ruptura tão abissal que pareço uma imaginosa anciã ao enumerar seus feitos: televisão, fita durex, geladeira, fogão a gás, máquina de lavar roupa, pílula anticoncepcional, direito de voto realmente exercido pelas mulheres que procuram carreiras antes nunca pensadas, independência financeira, liberdade sexual, computador e todo o avanço tecnológico advindo das pesquisas e descobertas em todas as áreas do conhecimento humano.

E chegamos nós a um século novo com uma bagagem pesada para dar leveza à vida. Estamos incrivelmente pesados e conhecendo, segundo as palavras do Padre Mário Monieri, a tormenta dos velhos lúcidos, que sentem a juventude de coração e de sentimentos morarem num corpo que não os acompanha. Então, como se começa toda conversa hoje em dia, então, o retrato dos pés do presidente explica bem a situação.

Perplexidade!

A curiosidade diante da vida não arrefece, o olhar perscruta o novo, o afeto junta pessoas de todas as idades. Uma mulher que passou por todos os percalços da vida, chegando à velhice, definiu como feliz a pessoa que não havia perdido a vontade de viver.

E não é que é verdade?

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O NU PROVENÇAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor francês Willy Ronny é o responsável por uma das fotografias mais belas de todos os tempos, O Nu Provençal, tendo como modelo sua esposa Marie-Anne Lansiaux. O casal havia acabado de comprar sua casa em Gordes, quando a fotografia foi feita, vindo a se transformar num enorme sucesso, conhecida em todo o mundo.

Marie-Anne e Willy Ronny conheceram-se quando se deu a ocupação nazista na França e os dois fugiram para Provence, casando-se logo após o término da Segunda Guerra Mundial. O casal ligou-se aos comunistas franceses. Eles viveram nessa casa até a morte de Marie-Anne, em 1991.

Willy Ronny fala aqui sobre a fotografia:

Tivemos uma pequena casa de pedra em Gordes. Foi um verão quente, e eu estava consertando o sótão. Eu precisava de uma colher de pedreiro, então eu vim para baixo e lá estava Marie-Anne nua nas bandeiras de pedra, lavando-se a partir da bacia de estanho. “Não se mova”, eu disse e, com as mãos cheias de gesso, peguei minha Rolleiflex e levou quatro tiros. Foi o segundo tiro que eu escolhi.

Demorou dois minutos em tudo. Existem milagres, eu experimentei. Eu nunca estive tão ansioso como quando eu desenvolvi esse filme. Senti que, se a imagem era boa, técnica e esteticamente, seria um grande momento na minha vida, um momento prosaico da poesia extraordinária.

Para mim, bastaria pintá-la, para que esta foto sensacional se transformasse numa bela tela de Vermeer, tão simples, sensível e bela ao mesmo tempo, onde se contrasta a delicadeza e a suavidade do corpo feminino com a rusticidade do lugar.

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COLABORACIONISTAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A França, durante a Segunda Guerra Mundial, foi ocupada pelas forças da Alemanha nazista, entre  os anos de 1940 e 1944. Durante o período de ocupação, foi criado dentro do Estado francês um movimento denominado “A Resistência”, que divergia da política colaboracionista  por parte do governo francês do Marechal Henri Pétain, já bastante idoso, que aceitava todas as condições impostas pelo nazismo, inclusive a de romper relações com a Grã-Bretanha e não aceitar qualquer tentativa de resistência ao Eixo. O governo francês foi o único, em toda a Europa, a colaborar diretamente com a ocupação nazista.

Com a vitória dos Aliados, a França viu-se livre dos invasores nazistas, mas ainda tinha uma conta a cobrar dos colaboracionistas franceses, que se aliaram ao inimigo. A foto acima, feita por Robert Capa, em 18 de agosto de 1944, mostra a raiva daqueles que resistiram à tirania nazista, contra os que não apenas a acataram, mas com ela cooperaram.

Uma mulher francesa, com a cabeça raspada, leva o filho de um soldado alemão nos braços, e tem sobre si os olhares insultuosos dos habitantes de Chartres. Ela é obrigada a caminhar pelas ruas da cidade. É visível o escárnio dos presentes ao ato. Um soldado francês caminha a seu lado, possivelmente para evitar que ela seja linchada. Ao fundo, vê-se a bandeira francesa.

Segundo fontes históricas, cerca de 20 mil mulheres foram acusadas de travar relacionamentos com soldados alemães e, por isso, tiveram suas cabeças raspadas em praça pública, sob vaias da população. Nessa caça às bruxas, algumas foram marcadas com ferro quente, outras executadas e outras cometeram suicídio.

O fotógrafo húngaro Robert Capa (1913-1954), cujo nome verdadeiro é Endre Ernõ Friedmann, é considerado o melhor fotógrafo de guerra do mundo. Sua consagração chegou com o desembarque dos Aliados na Normandia, no chamado Dia D.

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A REFUGIADA AFEGÃ SHARBAT GULA

Autoria de Lu Dias Carvalho giov1234

Eu não tinha ideia de que a dela seria diferente de tantas outras fotografias que fiz naquele mesmo dia. (Steve McCurry)

Em 1985, a revista National Geographic chamou a atenção do mundo com uma das capas mais belas que já havia apresentado até então. Tratava-se de uma obra de arte do fotógrafo estadunidense, Steve McCurry, feita em 1984, mostrando Sharbat Gula, aos 12 anos, uma refugiada afegã, encontrada no campo de refugiados de Nasir Baghé, no Paquistão, com seus imensos olhos verdes que pareciam hipnotizar o observador.

A foto marcou tanto o fotógrafo e trouxe tamanha venda à revista que, 17 anos depois, ele voltou ao Paquistão para reencontrar e fotografar Sharbat Gula. Segundo ele, não foi tarefa fácil reencontrá-la, pois ninguém sabia o seu nome, o que é imperdoável, pois mesmo na miséria as pessoas possuem nome. Era conhecida na sede da National Geographic apenas como a “menina afegã”.

Levou consigo a foto da garota para o Paquistão, mostrando-a por toda a área ao redor do campo de refugiados, que ainda existia, e onde ela fora fotografada. Depois de um engano, quando lhe apresentaram outra mulher, um afegão relatou que havia convivido com ela naquele campo de refugiados e que ela acabara voltando para o Afeganistão, seu país de origem, ora vivendo nas montanhas. E ali,  o fotógrafo encontrou Sharbat Gula, que trouxera para ele e para a National Geographic tanta glória. Resta saber o que ele e a revista fizeram por ela, ao reencontrá-la “para além de uma fronteira que é um sorvedouro de vidas”.

Apesar da miséria e do medo em que vivia, a beleza de Shabat aos 12 anos era estonteante. Seu xale vermelho esburacado e puído, descobria o verde de sua veste, destacando ainda mais seus grandes olhos esverdeados. Nem mesmo a cicatriz no nariz diminuía toda a harmonia que resplandecia daquele rosto, sem maquiagem e sem “fotoshop”. Era a formosura no seu estado mais bruto, mas sem necessidade de ser lapidada. Apesar da crueldade de sua vida, perpassa nos seus olhos um certo espanto e curiosidade pelo que a rodeia. Ainda é possível sentir um laivo de esperança em seu semblante, porque os jovens sempre carregam a esperança.

Sharbat Gula foi reencontrada aos 29 anos, casada, mãe de dois filhos. Agora, o vermelho do xale de 1984 foi substituído pelo roxo, e a veste verde inferior deu lugar à azul-escuro. Os cabelos desalinhados agora jazem ocultos. A pele apresenta-se sofrida com os rigores do frio e do calor. Ainda que os olhos permaneçam belos como antes, a miséria, a  descrença na vida e a brutalidade da guerra fizeram murchar sua beleza. É possível captar um certo rancor em seu semblante, uma revolta, ainda que velada, sobre o sofrimento impingido pela vida de mulher, num país onde o gênero faz toda a diferença, e pela pobreza sem vislumbre de mudança. Talvez, quem sabe, sua formosura tenha migrado para o seu coração, diante de tanta amargura e resignação. Que o diga Alá!

Notas sobre o fotógrafo em TRABALHO INTERROMPIDO, aqui neste blog.

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