Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Rafael – A ESCOLA DE ATENAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O grande afresco A Escola de Atenas situa-se entre as obras mais famosas do renascentista italiano Rafael Sanzio, e representa a Academia de Platão. Nele, o pintor demonstra um domínio absoluto do espaço na disposição das figuras. É impossível não observar a beleza dos gestos de cada um, como se fossem amigos numa discussão filosófica acalorada. No afresco estão reunidos filósofos, matemáticos, astrônomos, cientistas da Antiguidade e personagens contemporâneos do pintor, assim como humanistas e artistas. Segundo o estudioso Fowler, o título do afresco era Causarum Cognitio e que somente após o século XVII passou-se a ser conhecido como A Escola de Atenas.

Estudando a composição (tente encontrar cada personagem descrito):

  • Bem no centro da composição encontram-se os dois maiores filósofos do mundo clássico: Platão e Aristóteles.
  • Platão, filósofo e matemático grego, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia de Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental, simboliza a filosofia natural e moral com as leis da harmonia cósmica. Traz debaixo do braço esquerdo o seu Timão, e aponta para o céu, simbolizando o mundo das ideias, o ideal, o mundo inteligível. Leonardo da Vinci serve de modelo para o filósofo Platão.
  • Aristóteles, filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, caminha ao lado do mestre, e carrega na mão esquerda a Ética (aí se encontram as leis da conduta moral), enquanto a mão direita encontra-se aberta, com a palma virada para o chão, representando o terrestre, o mundo sensível, a filosofia natural e empírica. Seus escritos abrangem diversos assuntos como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia.
  • Pitágoras, filósofo e matemático grego, encontra-se sentado no canto inferior esquerdo, onde demonstra um de seus enunciados. Um dos assistentes segura uma lousa, onde se encontram alguns símbolos musicais. Também representa a música. Pitágoras foi o fundador de uma escola de pensamento grega, denominada “pitagórica” em sua homenagem.
  • Zoroastro (ou Estrabão), profeta persa, tem as características de Pietro Bembo (gramático, escritor, humanista, historiador e cardeal veneziano),  ele ergue uma esfera celeste.
  • Epicuro, filósofo grego, que ensinava que a felicidade consiste em buscar os prazeres da mente, encontra-se no primeiro plano, na extrema esquerda, coroado com folhas de videira. Tem como modelo Fedra Inghiram, bibliotecário do papa.
  • Euclides (ou Arquimedes), matemático grego e aluno de Sócrates, expõe seus princípios geométricos usando um compasso. Encontra-se rodeado por um grupo de estudantes, possivelmente. Bramante, mestre arquiteto e amigo de Rafael, serve-lhe de modelo.
  • Heráclito, filósofo melancólico, que derramava lágrimas pela tolice humana, está sentado num degrau em primeiro plano, tem o braço esquerdo apoiado num bloco de mármore, numa atitude de extrema tristeza. Tem como modelo o genial Michelangelo. Esta figura foi acrescentada depois, pois não se encontrava no desenho preparatório. Após ver, secretamente, parte do trabalho do artista na Capela Sistina, Rafael ficou maravilhado e resolveu fazer uma homenagem ao pintor mais velho, usando-o como modelo para Heráclito.
  • Alexandre, o Grande (ou Alcebíades), o mais célebre conquistador do mundo antigo, ouve Sócrates com atenção. Traz um elmo sobre a cabeça, e tem a mão esquerda na espada. Alexandre foi o mais célebre conquistador do mundo antigo.
  • Sócrates, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, enumera pontos específicos com os dedos. Questionar e analisar são a essência da filosofia socrática.
  • Diógenes, filósofo cínico, que odiava as posses materiais e vivia num barril, encontra-se espalhado nos degraus da escada, na parte central da composição. Conta-se que Alexandre, o Grande, ao visitá-lo, perguntou-lhe o que poderia fazer por ele, que prontamente respondeu: “Não me tires o que não podes dar.”. Referia-se ao sol, que o conquistador tapava, fazendo-lhe sombra.
  • Apeles, considerado por muitos como o mais importante pintor da Antiguidade, tem como modelo o próprio Rafael, que se encontra olhando para o observador.
  • Zenão de Cítio (ou Zenão de Eleia), filósofo fundador da escola filosófica estoica, carrega uma criança nos braços, enquanto ouve atentamente Epicuro. Enfatizou a bondade e a paz de espírito, conquistadas através de uma vida plena de virtude, de acordo com as leis da natureza.
  • Ptolomeu, astrônomo e geógrafo, achava que a Terra era o centro do universo. Traz nas mãos o globo terrestre.
  • Frederico II, duque de Mântua, encontra-se abaixo de Epicuro e só seu rosto é visível.           
  • Anício Mânlio Torquato Severino Boécio (ou Anaximandro ou Empédocles), filósofo, estadista e teólogo romano, encontra-se à direita de Pitágoras.
  • Antístenes (ou Xenofonte), com seu manto marrom, encontra-se entre Alexandre e Sócrates.
  • Ésquines (ou Xenofonte) usa um manto azul, e encontra-se ao lado de Sócrates. Adotou e desenvolveu o lado ético dos ensinamentos de seu mestre Sócrates, advogando uma vida ascética, vivida de acordo com a virtude.
  • Parménides, fundador da escola eleática, tem o pé esquerdo sobre um bloco de mármore e faz anotações.
  • Averróis, um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles, curva-se ligeiramente, para ver a demonstração de Pitágoras.
  • Protógenes, pintor da Grécia antiga, usa um manto branco, e encontra-se ao lado de Rafael. Tem como modelo Pietro Perugino, pintor italiano.
  • Plotino usa um manto vermelho e encontra-se atrás da esfera celeste de Zoroastro. Plotino legou-nos ensinamentos em seis livros, de nove capítulos cada, chamados de “As Enéadas”.
  • Apolo, o deus da razão, encontra-se no nicho da esquerda, segurando uma lira. Representa o esclarecimento filosófico e o poder da razão.
  • Minerva, a deusa da sabedoria, encontra-se no nicho à direita. É a protetora tradicional das instituições devotadas à busca do saber e das realizações artísticas.

Nota: Como o leitor pode notar, não se tem a certeza exata de quem são alguns personagens, daí a inclusão de dois nomes ou mais.

Ficha técnica:
Ano: 1506-1510
Tipo: Afresco
Dimensões: 500 cm × 700 cm
Localização: Palácio Apostólico, Vaticano – Itália

Fonte de pesquisa:
O Livro da Arte/ Publifolha
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Tudo sobre Arte/ Sextante
Para Entender a Arte/ Maria Carla Prette
A Arte em Detalhe/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os Pintores mais Influentes do Mundo/ Girassol

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Rafael – VIRGEM NO PRADO

Autoria de Lu Dias Carvalho
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O artista não obedece a regras fixas. Ele simplesmente intui o caminho a seguir (E. H. Gombrich)

Rafael pintou uma das mais belas imagens religiosas em toda a história da arte. A “Madona do Prado” é repleta de alusões devocionais, rica em teologia simbólica e representa o mais alto nível de genialidade estética e criativa a serviço da história cristã. (James M. Gordon)

Para pintar a maravilhosa Virgem no Prado, também conhecida como Madona do Prado, é possível perceber a preocupação de Rafael em obter um perfeito equilíbrio entre as figuras da composição, de modo a alcançar a maior harmonia possível. Para fazer a Virgem no Prado, o artista italiano fez várias folhas com esboços, em busca do equilíbrio perfeito entre as três figuras representadas. O que nos mostra o quão meticuloso era. A perfeição do equilíbrio acaba ressaltando toda a beleza da composição, tornando as figuras ainda mais encantadoras.

A Virgem com as duas crianças formam um esquema compositivo piramidal, harmoniosamente equilibrado, sem nenhuma austeridade. Atrás da Virgem e dos meninos, uma paisagem típica da Úmbria complementa a pintura. Para verificar o esquema compositivo, trace uma reta unindo a cabeça da Virgem ao pé direito de João Batista e do pé de João Batista ao pé direito da Virgem. Por sua vez, as duas crianças formam outra pirâmide menor.

O rosto de Maria apresenta-se melancólico, enquanto observa as crianças, como se pressentisse o futuro do Filho. O Menino Jesus, que tem a mãe como apoio, brinca com a cruz do pequeno João Batista, que se ajoelha diante dele, como se reconhecesse a sua divindade. A nudez das duas crianças é um dos traços comuns ao Renascentismo.

As cores da composição são suaves, o que dá mais destaque às vestes da Virgem que usa um vestido vermelho e um manto azul. Logo após o campo relvoso encontra-se um lago de águas tranquilas, montes, árvores e o que aparenta ser uma pequena cidade, contrastando com o céu azul e nuvens brancas. Apenas duas flores vermelhas fogem do padrão de cores vistas na natureza. Para alguns, são duas papoulas que se referem à morte, paixão e ressurreição de Cristo.

A Madona do Prado é uma das mais belas composições de Rafael sobre o tema que tanto amava: a Virgem e o Menino. Nela se integram personagens e natureza, exalando naturalidade, tranquilidade e beleza. A elegância e a doçura são duas características do genial pintor que explora aqui os efeitos das cores para criar a impressão de profundidade.

Esta pintura é uma das três versões da obra do artista sobre o mesmo tema, possivelmente a primeira. As outras duas são “Mandona do Pintassilgo” e “A Bela Jardineira”.  A data desta obra está inscrita na gola do vestido da Virgem (M.D. V. I.). É possível que o último número seja parte da ornamentação, sendo a data 1505.

Ficha técnica:
Ano: 1505/1506
Dimensões: 113 x 88 cm
Material: óleo sobre tela
Estilo: Renascimento italiano
Local: Museu Kunsthistorisches  – Viena/ Áustria

Fontes de pesquisa:
A história da Arte/ E. H. Gombrich
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Rafael – O PRÍNCIPE DOS PINTORES

Autoria de Lu Dias Carvalho rafael1

Rafael atinge o intento de criar imagens que até hoje, para a maioria das pessoas cultas, representam os modelos espirituais de aspirações mais elevadas. “Linda como uma Virgem de Rafael!”, para os europeus com gosto artístico, esse ainda é o supremo elogio da beleza feminina. (Bernard Berenson)

A comparação entre os três grandes gênios do Renascimento é uma constante nos livros de arte. Qual deles foi o maior? Se Leonardo da Vinci inumou as limitações ortodoxas ao criar o chiaroscuro (claro-escuro, distribuição de luz e sombras nas artes figurativas) e Michelangelo fez renascer a concepção helênica da batalha do homem contra o universo, Rafael Sanzio contribuiu com o Renascimento ao introduzir na arte uma inclinação para a beleza ideal, inspirada nos conceitos artísticos da Antiguidade. O que se traduz num empate técnico entre eles, pois cada um é genial a seu modo.

Os primeiros trabalhos de Rafael mostravam que ele carregava uma forte influência de seu mestre Perugino: traço delicado, fervor religioso, composição equilibrada e uma tendência para a idealização lírica. Contudo, o aluno não tardou em ultrapassar o mestre na sua capacidade de criar relações bem elaboradas e ricas nas poses e atitudes de suas figuras.

Durante os quatro anos passados em Florença, Rafael aprendeu tudo aquilo que pudesse enriquecer a sua arte em técnica, conceitos de expressão e influência cultural da Antiguidade. Trabalhava com afinco, produzindo um número considerável de obras e cultivando um gosto especial pelas madonas. O tema da Virgem Maria, muito popular na Itália da época, era o seu predileto, embora suas madonas apresentassem um leve toque de sensualidade, não se mostrando nem místicas ou tampouco humanas. Elas se situam entre o abstrato e o real, e são até os dias de hoje muito conhecidas e reproduzidas. Entretanto, foi nos retratos de personalidades que o pintor escancarou seu talento. A famosa obra Retrato de Cardeal é um exemplo de sua genialidade como caracterizador.

Quando recebeu a incumbência de decorar as paredes de várias salas do Vaticano, Rafael exibiu seu domínio do desenho perfeito e da composição equilibrada, pintando vários afrescos nas paredes e tetos das salas. O grande Michelangelo, portanto, teve um único grande rival: Rafael. Enquanto o primeiro alcançou a culminância no domínio do corpo humano, o segundo é tido como aquele que conseguiu a mais perfeita e harmoniosa composição de figuras movimentando-se livremente, ou seja, executou aquilo que foi a grande busca das gerações antigas. Além disso, a pura beleza de suas figuras foi sempre um motivo de grande admiração em todos os tempos.

Rafael Sanzio teve uma grande influência na história da pintura ocidental, sobrepondo-se a Leonardo da Vinci e a Michelangelo. Sua arte foi motivo de inspiração durante muitos séculos, sendo considerada a síntese da pureza, bom gosto, refinamento e excelência, transformando-se em um marco da cultura ocidental. Tornando-se conhecido como o Príncipe dos Pintores e O Pintor dos Príncipes.

Os gestos das figuras da pintura acima são ricos em significados:

  • O pintassilgo é uma alusão à Paixão de Cristo, prevista nos escritos de João Batista.
  • Nossa Senhora traz um livro aberto na mão, símbolo da revelação, que se cumpre com o reconhecimento do Messias por João Batista.
  • A entrega do pássaro ao Menino por João Batista é uma advertência sobre a sua morte.

Ficha técnica:
Nome: Madona do Pintassilgo
Data: c. 1505/1506
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 107 x 77,2 cm
Localização: Galeria degli Uffizi, Florença, Itália

Fonte de pesquisa:
O Livro da Arte/ Publifolha
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Tudo sobre Arte/ Sextante
Para Entender a Arte/ Maria Carla Prette
A Arte em Detalhe/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os Pintores mais Influentes do Mundo/ Girassol

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Mestres da Pintura – RAFAEL SANZIO

Autoria de Lu Dias Carvalhorafael

Como é grande e bondoso o céu ao depositar numa única pessoa as infinitas riquezas e as amplas graças de seu vasto patrimônio. Todos aqueles dons raros que, por um longo espaço de tempo são repartidos entre muitos dos indivíduos, podem ser vistos claramente em Rafael Sanzio da Urbino. Que foi dotado pela natureza com toda a modéstia e bondade que só algumas vezes é encontrada naqueles que, bem mais que os outros, possuem certa humanidade de natureza gentil, acrescida de um ornamento belíssimo: uma graciosa afabilidade. Rafael sempre soube mostrar-se doce e agradável com todo tipo de pessoa que encontrou (…). Em Rafael resplandeciam clarissimamente todas as virtudes da alma, sempre acompanhadas por muita graça, estudo, beleza, modéstia e bons costumes. (Giorgio Vasari)

Rafael Sanzio (1483 – 1520) foi um dos pintores mais importantes da Alta Renascença italiana, período em que houve uma grande concentração de gênios na arte, como Leonardo da Vinci e Michelangelo e em que o homem era visto como a medida de todas as coisas.

Giovanni de Santi, pai de Rafael, era um homem culto, dramaturgo de sucesso e estudioso que tinha excelentes relacionamentos. A pintura era o seu meio de ganhar a vida, embora fosse considerado sem talento para a profissão, crítica que nunca o desanimou e nem o tornou invejoso, pois era humilde em reconhecer suas limitações e o talento dos colegas. Tinha grandes pintores no rol de seus amigos, inclusive o famoso Piero dela Francesca que chegou a se hospedar em sua casa. Tudo isso contribuiu para influenciar o filho a seguir seus passos. Rafael, ainda garoto, acompanhou seu pai numa visita ao grande mestre Perugino que se encontrava no ápice de sua fama. Segundo alguns críticos, tal contato foi de grande valia para a sua formação precoce de pintor.

O ambiente familiar de Rafael começou a desmoronar muito cedo. Aos dez anos de idade perdeu a mãe e o pai veio a falecer um ano depois. Assim, aos onze anos, foi entregue aos cuidados de um tio e de outros parentes. Contudo, o pintor Evangelista di Pian di Meleto que fora aluno de seu pai ocupou o lugar do mestre, dando a seu filho orientação e estímulo. E Perugino, que sempre precisava de jovens aprendizes talentosos, para ajudá-lo na execução de suas inumeráveis encomendas, tomou o adolescente sob sua tutela, repassando-lhe o seu vasto conhecimento. De modo que, aos 18 anos de idade Rafael já era um pintor independente que recebia muitas encomendas e cuja fama já se espalhava pelas cidades vizinhas.

Aos vinte e um anos, Rafael deixou a região de Urbino onde nasceu, para ampliar seus horizontes em Florença, capital artística da Itália. Há muito vinha tomando conhecimento dos padrões artísticos inimagináveis de dois grandes gênios que ali viviam: Leonardo da Vinci e Michelangelo. O primeiro era trinta anos mais velho do que ele e o segundo oito. Em Florença viveu quatro anos sem se deixar intimidar pela genialidade dos dois colegas, decidido a aprender tudo que pudesse. Além disso, enquanto Leonardo e Michelangelo eram pessoas de difícil convívio, Rafael tinha um temperamento doce e terno, o que o levava a ganhar a atenção dos grandes mecenas da época.

O próximo destino de Rafael foi Roma, onde estavam sendo oferecidas grandes oportunidades aos artistas, além de apresentar dois importantes bens culturais: sua herança cristã e seu passado clássico romano que fascinavam artistas e estudiosos da Itália inteira e da Europa. Artistas e arquitetos buscavam Roma com o objetivo de trabalhar nos projetos artísticos encampados pelos patronos papais.  Quando ali chegou Rafael já encontrou Michelangelo trabalhando na Capela Sistina. Mas não demorou muito para que fosse convidado pelo papa Júlio II para decorar as paredes de várias salas do Vaticano.

O prestígio de Rafael começou a incomodar, quando foi convidado a decorar o palácio papal. Surgiram invejas e intrigas contra ele. Os seguidores de Michelangelo viram na escolha do jovem talento uma grande injustiça para com o grande artista. Mas Rafael tomou isso como um desafio e não como uma afronta e começou a pintar grandes áreas, diferentemente do que havia feito até então.

Rafael Sanzio morreu aos trinta e sete anos, no dia do seu aniversário, vitimado por uma estranha doença contraída em Roma, enquanto se dedicava às escavações arqueológicas em busca do passado clássico que tanto o inspirava. Foi um dos primeiros artistas a  embrenhar-se na procura pelas ruínas clássicas com seus padrões decorativos. Rafael foi um mestre da arquitetura e da pintura. Junto com Michelangelo e Leonardo Da Vinci forma a tríade de grandes mestres do Alto Renascimento.

Na tumba de Rafael Sanzio foi colocado o seguinte epitáfio (frase de Pietro Bembo): Aqui jaz Rafael; enquanto viveu, a Mãe Natureza temia ser por ele vencida; agora que está morto, ela receia morrer também.

Nota: Autorretrato

Fontes de Pesquisa:
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
História da Arte/ E.H. Gombrich
Tudo sobre a Arte/ Editora Sextante
1000 obras primas…/ Könemann
Gótico/ Taschen

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Piero della Francesca – O BATISMO DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Esta belíssima composição do pintor italiano Piero della Francesca representa Cristo sendo batizado por seu primo João Batista no rio Jordão, tendo ao fundo uma paisagem montanhosa, com torres fortificadas. Imagina-se que tenha sido pintada ainda nos primeiros anos da carreira do artista. Embora não haja documentação sobre a encomenda desta pintura, certas evidências indicam ter sido pintada como retábulo para a capela de São João Batista numa abadia em Sansepolcro, na Toscana/Itália.

O Batismo de Cristo é um tema muito comum, presente na obra de vários pintores, desde o início da arte cristã. Esta composição encontra-se entre as mais belas. O artista captou um momento no tempo, um pouco anterior ao batismo do Mestre. Tudo parece imóvel, até mesmo a pomba branca que traz as asas completamente estendidas. As águas límpidas e paradas do rio refletem o céu e a paisagem à volta.

O Jesus de Piero della Francesca foge aos representados na maioria das pinturas, carregados de uma aura de divindade. Este é um homem comum que possui traços rústicos, orelhas grandes e lábios grossos, o que não diminui em nada a sua majestade. Suas pernas estão retas, sólidas e bem firmadas no chão. Um pano branco, envolto abaixo de sua cintura, cobre parte de seu corpo forte. Apresenta-se com uma expressão séria, imbuído do mais extremo fervor ao receber o batismo. Acima de sua cabeça paira a pomba sagrada que representa o Espírito Santo. Ela foi escorçada para tomar a forma de uma nuvem.

João Batista — antecedeu Jesus nas pregações — encontra-se vestido com uma túnica rústica, amarrada ao meio, diferentemente de outras apresentações em que veste peles de animais. Ele traz a perna esquerda levantada, enquanto derrama a água sobre a cabeça de Cristo. O braço e perna esquerdos de João formam dois ângulos do mesmo tamanho.

Três anjos — que se parecem com pessoas comuns — estão situados à direita de Jesus, presenciando a cerimônia de seu batismo. São pálidos e possuem o rosto arredondado. Vestem roupas diferentes e têm a cabeça coroada por guirlandas. Um deles — o do meio — está de frente para a cena, assiste a tudo com interesse, enquanto os outros dois parecem dispersos, ambos virados de lado. O anjo mais próximo a Jesus apoia-se no do meio e segura sua mão esquerda.

Na composição não existe a imersão de Cristo na água e o rio Jordão é mostrado como se fosse um riacho que reflete as cores e as linhas da paisagem. O homem tirando a roupa — logo atrás de João Batista — repassa a ideia de que outras pessoas estavam sendo batizadas naquele mesmo dia. Piero, que também era um grande matemático, assim esquematiza o quadro (ver os dois quadros menores acima):

  • Jesus encontra-se no centro da composição, atraindo os olhos do observador. É possível traçar uma linha vertical imaginária desde a água que escorre da tigela sobre a cabeça de Jesus até suas mãos em postura de oração. Jesus, a mão de João, o pássaro e a bacia formam um eixo que divide a composição em duas partes iguais. Observe o leitor que o vértice do triângulo encontra-se nas mãos de Jesus. Olhando a metade esquerda da composição é possível dividi-la em duas partes, tomando a árvore como divisor.

Nesta composição Piero della Francesca usou a técnica da têmpera em que pigmentos são misturados com ovo, o que exigiu muita habilidade e paciência do pintor, sendo sua característica mais marcante a iluminação que desce de cima, produzindo tons delicados e pálidas sombras que circundam as figuras e reforçam a tridimensionalidade das mesmas. A composição é totalmente homogênea e harmônica.

Ficha técnica:
Data: c. 1450
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 167 x 116
Localização: National Gallery, Londres, Reino Unido

Fontes de pesquisa:
1001 obras-primas da pintura ocidental/ Könemann
A história da arte/ E.H. Gombrich
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Piero della Francesca – FLAGELAÇÃO DE CRISTO

Autoria de Lu Dias Carvalho piero12345

A Flagelação de Cristo, obra do pintor Piero della Francesca, é tida como uma das mais importantes obras-primas da pintura italiana do século XV em razão da delicadeza com que foi feita, do uso da perspectiva linear e do ar de tranquilidade visto na pintura. O pintor retrata a distância entre a cena da flagelação e os três personagens — vistos no primeiro plano — de forma realista através da perspectiva. O tema da composição é a flagelação de Cristo, executada pelos romanos durante sua Paixão.

A composição retrata as duas cenas separadas, o que torna mais difícil a compreensão da obra. Em primeiro plano, à direita do observador, encontram-se três personagens, muito bem vestidos, de pé, possivelmente numa praça, enquanto que, à direita, num pátio ladrilhado do palácio de Pôncio Pilatos em Jerusalém, Cristo é flagelado por dois algozes.

A sala de julgamentos situada à esquerda está separada do local onde Cristo é flagelado por uma coluna. Dali Pôncio Pilatos, assentado em seu trono, assiste à flagelação de Jesus, executada por dois soldados que cumprem as ordens do poderoso líder. Um personagem não identificado, usando um turbante — tido como um turco — e de costas para o observador, também assiste à cena. Cristo tem os braços amarrados a uma coluna e o olhar direcionado ao soldado que se encontra à sua direita, empunhando um chicote em posição de ataque.

Na parte direita da composição em primeiro plano, três personagens conversam entre si, sem prestar atenção ao que acontece às suas costas, como se a cena não tivesse nenhuma importância para eles. Não se trata de pessoas ligadas ao Novo Testamento, ainda que o personagem flagelado tenha sido associado ao longo do tempo a Jesus Cristo, ao apóstolo Pedro e ao próprio Judas arrependido.

Vários estudiosos acreditam que a figura da direita é um retrato do Marquês de Mântua e a da esquerda o de seu astrólogo Ottaviano Ubaldini. A identificação da figura do meio — um jovem loiro que tem a cabeça emoldurada por um laurel — ainda é um enigma. Poderia se tratar da perda de um filho, tendo aí reproduzido o seu retrato, ou de uma figura alegórica ou de um símbolo de significação mais universal. Porém, segundo a interpretação tradicional, os três homens seriam o Duque de Urbino, patrono de Piero e seus dois assessores. De acordo com o ponto de vista de outros mais conservadores, a figura no meio representaria um anjo, ladeado pelas Igrejas latina e ortodoxa, cuja divisão criou conflitos em toda a cristandade.

Ficha técnica:
Autor: Piero della Francesca
Data: c. 1455-1460
Técnica: Óleo e têmpera sobre tela
Dimensões: 58,4 cm × 81,5 cm
Localização: Galleria Nazionale delle Marche, Urbino

Fontes de pesquisa:
A arte romântica e gótica/ Folio
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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