Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Weyden – RETRATO DE UMA SENHORA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição denominada Retrato de uma Senhora, também conhecida como Retrato de uma Dama, é uma obra-prima do pintor nórdico Rogier van der Weyden. É tida como o melhor dos retratos feitos pelo artista, cuja maestria de retratar igualava à de Jan van Eyck. Foi executado após a volta do pintor de uma viagem à Itália, onde recebeu muitas influências. É um exemplo da elegância abstrata característica dos retratos tardios de Rogier. A modelo pode ter sido Marie de Valengin, filha “ilegítima” de Filipe, o Bom, Duque de Borgonha.

A jovem retratada, com suas características suaves e arredondas, apresenta-se diante de um fundo liso e escuro, o que lhe dá ainda mais projeção. Ela se mostra concentrada e sóbria. Não olha para o observador, mas mostra-se recolhida em seu próprio mundo, com os olhos voltados para baixo, denotando um caráter fechado. Os olhos cansados, os lábios unidos e os dedos tensos refletem a sua concentração mental. A postura firme de suas mãos é reminiscente dos retratos góticos germânicos.

A mulher usa um bem elaborado toucado branco e transparente na cabeça, que serve de modelagem e fundo para o rosto. Traz as mãos juntas, em forma de pirâmide, que se assemelha à pirâmide maior, composta por toda a sua figura. Na mão direita, apoiada sobre a esquerda, ela apresenta uma aliança de casada e no dedo mindinho da mão direita usa um anel com a marca de uma cruz. O enorme toucado que lhe cobre as orelhas, desce-lhe pelos ombros e costas. Seus cabelos estão arranjados para trás e sua testa longa, com os cabelos arrancados, é uma moda da época. As roupas são bem elaboradas. Um cinto vermelho com fivela de ouro trabalhada mostra se tratar de um membro da nobreza da corte de Borgonha.

Este retrato é bem parecido com outro feito pelo pintor, com uma mulher um pouco mais jovem, levando o quadro o mesmo título e ano, porém, sendo menos elaborado do que este. De maneira geral, os retratos de mulheres do Weyden são bem parecidos, tanto em conceito quanto em estrutura. Os traços fisionômicos das retratadas são sempre muito semelhantes.

Ficha técnica
Ano: c.1460
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 37 x 27 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Ticiano – SÃO JERÔNIMO PENITENTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição São Jerônimo Penitente é uma obra do pintor italiano Ticiano Vecellio. O artista acrescentou, mais tarde, a parte recurva do painel, conforme mostram cópias da pintura. Na sua pintura, Ticiano opta pelo estilo monumental, sem preconceitos retóricos. Mostra uma liberdade lírica, dando ênfase à forte emoção visual. Essa obra tornou-se tão famosa, que numerosas cópias, réplicas e imitações dela foram feitas, podendo ser citada uma de Peter Paul Rubens e outra de Busasorzi. O pintor pintou outros quadros com o mesmo tema.

A pintura apresenta o asceta São Jerônimo,  seminu, meio ajoelhado numa clareira. O pôr do sol banha o local, iluminando as pedras e o corpo do santo que se flagela diante do crucifixo de Cristo, preso num tronco de árvore. Sua mão esquerda se segura numa rocha, enquanto a direita empunha uma pedra redonda, instrumento de seu suplício.

O asceta encontra-se vestido apenas com um pano vermelho, enrolado na cintura, que desce até o chão da clareira.  Deitado na parte direita inferior da tela está a parte dianteira do corpo  do leão que dorme tranquilamente, sendo ele um atributo do santo. Atrás de São Jerônimo, sobre as rochas, estão seus livros de oração, o que parece ser um cálice e uma caveira, símbolo da transitoriedade da vida.

Ficha técnica
Ano: c. 1560
Técnica: óleo em tela
Dimensões: 125 x 235 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Turner – O SOL ERGUENDO-SE ATRAVÉS DA NÉVOA

 Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Sol Erguendo-se através da Névoa é uma obra do pintor inglês Joseph Mallord William Turner, tido como um brilhante paisagista e o criador da pintura romântica de paisagens. Em seu trabalho paisagístico, o artista trabalhava principalmente com o uso da luz que absorvia as formas e transformava-as em vibrações cromáticas. Muitas vezes, a visão topográfica de suas paisagens não passavam de uma claridade intensa de espaço e luz.

Esta é uma pintura da fase inicial de sua carreira, em que ele une a terra e o mar num único elemento luminoso, a refletir reflexos que banham as figuras humanas. Ao fundo, em segundo plano, são vistas as silhuetas escuras das grandes embarcações. Na praia, inúmeras pessoas, homens e mulheres, trabalham limpando peixes, enquanto outras pessoas estão a vendê-los ou a comprá-los.

Ficha técnica

Ano: 1807
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 134,5 x 179 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa

Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Michelangelo – A BARCA DE CARONTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada A Barca de Caronte é um pormenor da pintura Juízo Final, obra do pintor italiano Michelangelo Buonarroti.

Na pintura, o barqueiro Caronte, enfurecido e ajudado por seres diabólicos, expulsa as almas não capacitadas para a travessia, com o seu remo. Elas são jogadas à porta do mundo infernal, onde se encontra Minos, o Juiz dos Mortos, responsável por ouvir suas confissões. Ele traz uma serpente enrolada ao corpo. É possível observar o horror estampado no rosto das  almas.

Segundo a mitologia grega, Caronte, filho de Nix, a Noite, era o barqueiro de Hades (Plutão), deus do mundo inferior e dos mortos, cujo reino situava-se nas profundezas da Terra, sendo também conhecido por Hades.

Tal tarefa nada lisonjeira de levar as almas dos que morriam em seu barco para atravessar o rio Estige e o Aqueronte, responsáveis por separar o mundo dos vivos do mundo dos mortos, coube ao barqueiro, em razão de um castigo que lhe foi aplicado por Zeus, quando ele tentou afanar a Caixa de Pandora.

Apesar de velho e macilento, Caronte possuía uma energia inimaginável. Sua barca estava sempre cheia, com ele sozinho ao remo, conduzindo as almas. Carregava desde mortais comuns a heróis. Era também quem determinava os que deveriam embarcar ou não. As escolhidas eram as almas que passaram pelos ritos fúnebres. E aos infelizes, que não tinham como pagar sua passagem, ou cujos corpos não foram enterrados (mortos em tempestades, por exemplo), cabia a triste sina de perambular, durante cem anos, pelas margens de tais rios. Havia uma tradição na Grécia antiga que era a de colocar na boca do morto uma moeda, para pagar ao barqueiro a travessia.

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Pisanello – A VIRGEM E O MENINO COM…

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O medalhista, desenhador e pintor italiano Pisanello (1395–1455) tinha como nome original o de Antonio di Pucci Pisano. Foi criado em Verona, mas estudou em Veneza com o mestre Gentile Fabriano, servindo-lhe de assistente nos trabalhos do palácio do Dodge. Mudou-se para Florença e de lá foi para Roma, após a morte da mãe. Veio a tornar-se um dos pintores mais importantes de seu tempo, sendo chamado para executar trabalhos nas cortes de Mântua, Ferrara e Milão. Também trabalhou em Nápoles para o rei Afonso de Aragão. Em razão de sua pintura que unia a elegância e a delicadeza, aliada a uma alegre narrativa e uma observação afiada da natureza, Pisanelio tornou-se um dos maiores representantes do Gótico Internacional.

A pintura do artista, denominada A Virgem e o Menino com São Jorge e Santo Antônio Abade  mostra o encontro de São Jorge (à direita), exemplo de virtude, com Santo Antônio Abade (à esquerda), protetor contra a peste a lepra, sob a presença da Virgem com o seu Menino em sua visão fulgurante.

Maria encontra-se acima da cena entre os dois santos, meio de perfil, como se flutuasse no ar dentro de uma enorme esfera de luz dourada da qual emergem muitos raios de ouro que se contrapõem à cena abaixo, dando luminosidade ao dia.  Apenas metade de seu corpo é vista. Suas vestes trazem as cores e as formas do Gótico Internacional. Ela traz o seu Menino nos braços. Abaixo, na terra, tendo como fundo uma floresta, estão São Jorge e Santo Antônio Abade.

O santo à direita usa uma complexa armadura, com uma cruz nas costas e traz na cabeça um grande chapéu, mostrando que se trata de um cavaleiro com posses. Pisa nas asas do dragão, cuja cabeça toca sua perna direita. Parte das cabeças de dois cavalos é vista à sua direita. O santo à esquerda é um velho eremita de expressão irritadiça que se apresenta curvado, trazendo nas mãos um sino, o qual toca com um galho de árvore. Um halo dourado circunda sua cabeça. A seus pés está um porco que, assim como o sino, é também seu atributo. A relação entre ambos é formal.

Pisanello mostra a sua capacidade artística sobretudo no chapéu de São Jorge, na pintura da volumosa e arredonda armadura e pelos maravilhosos efeitos da luz sobre o metal, mas não apresenta uma figura convincente com a santidade. Uma floresta serve de pano de fundo para a cena.

Ficha técnica
Ano: 1435-1441
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 29,2  x 47 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Obras-primas da arte ocidental/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Géricault – A JANGADA DA MEDUSA

Autoria de Lu Dias Carvalho

(Clique na foto para vê-la mais próxima e maior)

A pintura atinge e atrai todos os olhos. (Le Journal de Paris).

Nem a poesia nem a pintura conseguirão um dia transmitir o horror e a angústia dos homens na jangada. (Théodore Géricault)

Esta pintura de Géricault abriu novos caminhos, levando a arte ao controvertido domínio do protesto político. (Robert Cumming)

A composição A Jangada da Medusa, também conhecida como A Balsa da Medusa, é uma obra-prima do sensível pintor francês Théodore Géricault, um dos mais famosos artistas do estilo romântico em seu início, na França. Foi inspirada num fato real que diz respeito à fragata Medusa que, em 1816, soçobrou na costa da África Ocidental, quando se dirigia ao Senegal. Levava cerca de 400 passageiros a bordo, mas os botes salva-vidas só podiam resgatar 250. Assim, 150 pessoas foram jogadas numa jangada feita às pressas. Dessas, apenas 10 sobreviveram depois de 13 dias perdidas no mar. Vitimados pela fome e sede, dizimaram-se uns aos outros. O fato tornou-se um acontecimento escandaloso, cuja responsabilidade caiu sobre o comandante, um homem arrogante, protegido pelo regime Bourbon.

Géricault  fez inúmeros desenhos e esboços a fim de captar melhor aquilo que queria externar. Escolheu para pintar o momento em que os sobreviventes do naufrágio avistam ao longe o pequeno navio mercante Argus, responsável por salvá-los. Para criar sua obra de tom heroico, contatou dois sobreviventes (o médico Savigny e o cartógrafo Corréad) da tragédia, além de ler o livro escrito por ambos. Fez uma maquete de uma jangada em tamanho real  a fim melhor representá-la, dispondo figuras de cera sobre ela. Fez esboços de feridos, moribundos e cadáveres na tentativa de ser fiel à realidade. O artista chegou a visitar um hospital  para compreender melhor os detalhes anatômicos humanos, levando uma cabeça cortada e membros do corpo, colhidos num necrotério, para seu atelier. Também fez uso de modelos vivos. A obra tornou-se tão real que é possível ao observador imaginar-se entrando na jangada que ocupa o primeiro plano da tela. A parte dedicada ao mar ganhou pouco destaque.

A obra – pintada quando o artista tinha apenas 27 anos – apresenta um grupo desesperado de pessoas sobre uma jangada feita dos escombros (tábuas, cordas, partes do mastro, etc.) da fragata Medusa, à deriva no mar, em meio a ondas bravias, aguardando socorro. Muitos dos náufragos já se encontram mortos. Apesar da tristeza e do desespero reinante é possível captar o intenso alívio e a emoção do pequeno grupo, à direita, à vista de socorro, o que imbui a obra de grande dramaticidade. O grupo forma uma pirâmide menor. Vale lembrar que os sobreviventes já se encontravam quase mortos e enlouquecidos, mas, ainda assim, foram pintados como jovens fortes e musculosos.

Corpos sem vida espalham-se por toda a jangada. Um deles, em primeiro plano, tem a cabeça na água. À esquerda, um pai, com um pano vermelho nas costas, lamenta a morte do filho, segurando seu corpo nu sobre a perna esquerda, sem mostrar interesse algum pela possibilidade de resgate. Atrás dele, mais ao fundo, um homem segura a cabeça com as mãos, lamentado a própria sorte. O restante dos sobreviventes traz os olhos voltados para a embarcação, ainda minúscula, ao longe, num ato de desespero e esperança, pois eles poderiam não ser vistos. Um homem, sobre um caixote, tenta levantar o mais alto possível a bandeira, sendo seguro por outro. Abaixo, recostado a um barril, outro homem ergue um pano branco. Outro se volta para trás, para anunciar aos companheiros o que acabara de ver, apontando para o horizonte distante.

À direita, um vagalhão em forma de pirâmide ameaça a jangada, contrapondo-se à vela. A natureza mostra sua força através da vela inflada pelo vento e pelos movimentos tempestuosos do mar. Ainda assim, raios de luz entrecortam as nuvens, como se trouxessem um vestígio de esperança. A presença de um machado com sangue na cena, em primeiro plano, é uma referência ao canibalismo relatado pelos sobreviventes. A presença de uma figura em silhueta, com o braço em perspectiva, eleva os olhos do observador da parte baixa da embarcação para o topo dramático formado pelo pequeno grupo que tenta chamar a atenção do Argus.

O artista  usou duas pirâmides para fazer sua obra. A primeira é formada pelas cordas que seguram a vela. A segunda é feita pelas figuras humanas, tendo na bandeira o ápice. Ela traz na sua base os doentes e agonizantes até chegar ao grupo que aguarda o resgate, ou seja, vai da agonia à esperança.  Uma melancólica e dramática paleta de cores, predominando os tons de carne, presentes nos corpos pálidos, postados nas mais diferentes posições. Através do claro-escuro do estilo Caravaggio, eles recebem um destaque pungente. Tons quentes contrastam com o azul escuro do oceano em fúria, debaixo de um céu de nuvens revoltas, mas bem mais claro. O tom escuro da pintura parece fortalecer a desdita tenebrosa das vítimas. Uma infinidade de influências de artistas anteriores é vista na obra.

Há no conjunto desta obra, considerada um clássico do Movimento Romântico, movida por uma brutal e intensa paixão, muitos movimentos complexos e gesticulação. Sua estrutura é piramidal e tem no mastro o seu ápice. Antes de criá-la, o artista fez cerca de cinquenta estudos. A inclusão de um negro segurando a bandeira vermelha e branca serviu de elemento polarizador, ao trazer para a discussão o movimento abolicionista, defendido pelo artista. Géricault criou esta pintura com o objetivo de repassar uma mensagem ao povo. Ainda sob o calor do terrível acontecimento, ela se tornou logo famosa, ganhando aplausos da crítica e do público. Foi mostrada no Salão de 1819, com o título “Cena de um Naufrágio”, sendo mal recebida. O júri não lhe concedeu nenhuma láurea. Em razão do boicote a seu trabalho, o artista foi a seguir para a Inglaterra, a convite, onde permaneceu dois anos. Só foi vendida após a morte prematura do artista, quando tinha 32 anos, ao amigo Dedreux-Dorcy.

A pintura, vista antes como um panfleto contra o governo, foi mudando aos poucos o seu enfoque diante do realismo e da comoção produzida, pois os fatos que se escondem por trás dela são ainda mais cruéis. A crítica política ficou em segundo plano, e o sofrimento humano, ou seja, a vida humana abandonada à própria sorte, passou a ocupar o primeiro lugar. Embora se trate de uma das primeiras pinturas do Movimento Romântico, com sua obra Géricault vislumbrou a chegada do Realismo, assim como o uso da mídia como uma ferramenta política.

Obs.: Esta pintura vem se degradando com o tempo, já tendo perdido muitas partes dos detalhes originais. O próprio pigmento (betume) utilizado pela artista tem contribuído para isso, sem possibilidade de restauração.

Ficha técnica
Ano: 1818
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 491 x 716 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Arte em Detalhes/ Robert Cumming
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/raft-medusa
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2013/08/a-jangada-da-medusa
http://www.artble.com/artists/theodore_gericault/paintings/the_raft_of_the_medusa

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