Recontada por Lu Dias Carvalho
Antigamente havia um rei extremamente bondoso tanto com os de sua espécie quanto com os animais. Ainda assim, existiam em volta de seu reino alguns monarcas que queriam tomar as suas terras para aumentar as deles. Por isso, as garças, aves que lhe eram muito leais, estavam sempre preocupadas com o fato de que seus inimigos pudessem cercar o palácio durante a noite e fazê-lo prisioneiro. Sabiam elas que existiam os soldados, mas esses, mesmo estando em guarda, costumavam dormir. O mesmo acontecia com os cães que durante o dia caçavam, estando à noite exaustos. Fazia-se necessário, portanto, que houvesse um meio de proteger o rei durante o período noturno.
As garças resolveram trazer para si mesmas a incumbência de proteger o soberano. Dividir-se-iam em oito grupos de sentinelas, assim distribuídos: o primeiro postar-se-ia nas muralhas que cercavam o palácio; o segundo ficaria nos seus telhados; o terceiro fincaria pé diante de todas as portas; o quarto guardaria os aposentos do soberano. Os membros desses grupos se revezariam a cada duas horas.
Uma das aves levantou a hipótese de que, assim como os soldados e os cães, elas também poderiam adormecer. Para evitar tal possibilidade e depois de um longo período de muito pensar, chegaram à conclusão de que, se segurassem uma pedra no pé que manteriam levantado, enquanto estivessem paradas, se por acaso viessem a dormir, a pedra cairia fazendo barulho e acordando as sonolentas. Estava resolvido, portanto, o problema. A vigilância do rei não correria risco.
Noite após noite, as garças cumpriam a promessa que fizeram a si mesmas, zelando pela vida do generoso rei, enquanto ele viveu. E por tanto tempo assim agiram que, as gerações que vieram depois delas, passaram a fazer o mesmo, só que não mais fazendo uso de pedras, apenas levantando uma das pernas, em razão do condicionamento adquirido pela espécie.
Nota: Foram muitas as pesquisas e as hipóteses sobre o porquê de as garças, assim como os flamingos, usarem tal posição. Sabe-se hoje que elas ficam sobre uma perna com o objetivo de manter a temperatura do corpo. (Explicação e foto do médico veterinário Antônio Messias Costa/ Museu Goeldi)
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