Geisel iniciou seu governo em 1974, posicionando-se no sentido de permitir, mesmo que de uma forma tênue, a abertura política, amenizando a dureza ditatorial, no que foi fortemente combatido pela linha dura do regime. Lembro ao leitor que o novo ditador, mais tarde, em 1985, inclusive apoiou a candidatura civil de Tancredo Neves. O que animou Taiguara que, em 1975, retornou ao Brasil, oriundo de seu primeiro autoexílio, com muita esperança, e fez uma notável gravação, Imyra, Tayra, Ipy, em parceria com Hermeto Paschoal. Era um espetáculo extraordinário, embalado por uma orquestra sinfônica, com cerca de oitenta músicos, com participação de Jacques Morelenbaum, Zé Eduardo Nazário, Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Novelli. Infelizmente, a censura novamente agiu e todos os seus discos foram recolhidos rapidamente pela Ditadura Militar, abortando outra vez o limiar de seu sonho. Ainda não era momento certo para a volta de Taiguara que, abatido e triste, não conseguiu aqui permanecer e novamente preferiu o exílio.
Em 1979, Figueiredo, apoiado por Geisel, foi eleito indiretamente, pelo colégio eleitoral, como candidato da Arena e, como continuidade do que intencionava o governo anterior, foi logo dizendo na sua posse que “faria deste país uma democracia”. No entanto, acredito eu, as forças extremistas da ditadura não aceitavam a abertura, sem a garantia de que não haveria uma vindicta, uma revanche pela privação da liberdade e pelo sofrimento impostos ao povo, máxime o horror dos atos desumanos praticados pelo regime, nos porões do DOI CODI.
Para cumprir a sua promessa e acalmar a dissidente linha dura, logo no início de seu governo, Figueiredo editou a Lei da Anistia – como ficou chamada – a lei 6.683, de 28 de agosto de 1979 que, a pretexto de anistiar aqueles que haviam cometidos crimes políticos contra o regime ditatorial, com habilidade alcançava também ainda os criminosos do próprio regime militar. Isso não bastou. O caminho foi triste e longo, machucando cada vez mais o espírito democrático que habitava e habita o coração de nosso povo.
Menciona o Coronel Dickson Melges Grael, em seu livro histórico, “Aventura, Corrupção e Terrorismo – À Sombra da Impunidade“, lançados em 1985, pela Editora Vozes, de Petrópolis:
“A partir de 1980, uma série de atentados a bombas foram registrados pela imprensa do país. Na quase totalidade, os alvos eram a oposição ao governo, fossem os da extrema esquerda ou os moderados” (fls. 79).
Certamente, eram os militares que se opunham à abertura política. E o Coronel Dickson enumera, em fls. 79 a 81 em seu corajoso livro, uma série de 40 atentados, nunca esclarecidos, e que durou até 1981, quando ocorreu o maior deles, o atentado do Riocentro. No seu livro, o principal objeto do item, o Terrorismo no país, foi esse atentado, onde a coragem do Coronel Dickson foi extraordinária, revelando muitos fatos importantes, que foram desprezados por inconvenientes à justiça do regime da época.
E tal atentado, que também até hoje não foi pela Justiça esclarecido, foi aquele que, pela sua repercussão no país e internacionalmente, parece-me, fez cessar aquela onda de revolta da linha dura contra a intenção do governo Figueiredo de proceder a abertura democrática. Foi responsável por provocar, com certeza, a maior onda de ojeriza ao regime ditatorial e, paradoxalmente, ao contrário daqueles que, pelo terror, buscavam a manutenção do regime fechado, tenha sido a rua pavimentada para o retorno à Democracia.
Mais adiante, veríamos que, se não houve eleição direta para presidente, pelo menos Figueiredo conseguiu realizar, em 1985, uma eleição indireta com candidatos civis, ainda por colégio eleitoral, agora formado por novos partidos, com a eleição de Tancredo Neves.
Confiante na promessa de Figueiredo, mesmo em meio de uma intensa revolta do segmento mais radical da ditadura brasileira, Taiguara fez um novo retorno, agora do segundo autoexílio, em meados de 1980. E nesse palco de muita agitação, de atentados a bomba, o artista, sem medo, tornou a cantar no Brasil e a pregar a liberdade, a sua aspiração tão esperada e que, após alguns anos depois de seu retorno, começara a se tornar realidade.
Embora Taiguara não obtivesse o sucesso de outrora, as músicas que tiveram maior sucesso durante sua carreira, tão interrompida e tão massacrada pela censura em nosso país, continuaram a ser tocadas nos meios de comunicação, com o arrefecimento da ditadura, sobretudo as das décadas de 60 e 70, principalmente nas emissoras de rádio.
Tivemos o privilégio de ouvir músicas inesquecíveis como Hoje, Universo do teu Corpo, Piano e Viola, Amanda, Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem, Berço de Marcela, Teu Sonho não Acabou, Geração 70, Que as Crianças Cantem Livres, Coisas, O Cavaleiro da Justiça, O Velho e o Novo e tantas outras.
Os sucessos mais importantes de Taiguara restaram na lembrança do País quase que apenas para a geração Baby Boomer, sendo que as novas gerações, denominadas X, Y e Z pouco conhecem aquele que foi um dos maiores compositores e intérpretes da música brasileira. E foram as suas músicas, sem dúvida, um forte apoio aos ideais de liberdade, que o povo brasileiro se apegou e conseguiu tornar realidade, com uma nova constituição em 1988, depois com eleições diretas em 1989.
O duro golpe para a MPB é que as novas gerações pouco conheceram da genialidade, da sensibilidade, do conteúdo maravilhoso das letras e da música de Taiguara, muito afastada que ficou pela mídia, que sempre se posicionou, infelizmente, na maior parte do tempo, contrária aos interesses do povo, máxime apoiando o regime ditatorial, negando espaço, esquecendo esse inesquecível artista, cujo sonho sempre fora a liberdade.
É de se lembrar e evidenciar que a mídia da época, embora altamente censurada, apoiou e muito o regime militar. Somente deu o ar da graça para as mudanças, durante as manifestações para as Diretas-já, quando então já estava praticamente consumado que o regime democrático estava voltando. Era a vontade de líderes militares sinalizando, mais dia, menos dia que a liberdade não tardaria a voltar.
É triste saber que centenas de composições de Taiguara ainda não são de conhecimento público. Restaram esquecidas, talvez porque parte da mídia brasileira, a mais significativa, o que não se pode entender, renita-se, pois, nunca se apaixonou pelo sonho desse artista comprometido com a liberdade. Há muitas músicas de Taiguara que tocam nosso coração e que, infelizmente, jazem como riquezas no fundo de um baú, que a história ainda não quis abrir.
Anos depois, em 1986, Taiguara fez na Band, esse que foi, naquele momento histórico de grande valor democrático, um especial extraordinário, memorável, onde o cantor, músico, compositor e artista, falou sobre sua vida, a ditadura que o cerceara, censurara suas obras e o fizera sofrer anos de autoexílio, não deixando de mencionar seu sonho maravilhoso, a liberdade que se iniciava com a chegada da democracia. Era esse o seu sonho e também o sonhar de toda a nação brasileira.
Taiguara veio a falecer em 1996, em virtude de um fatal câncer na bexiga, mas seu sonho permanece até hoje.
Esta é uma das mais belas músicas do cantor e compositor:
http://www.youtube.com/watch?v=3DrzzU2iEfk
Fonte de pesquisa:
Wikipédia
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