Autoria de Lu Dias Carvalho
As coisas não andam boas para os generais do reino desde que o soberano deu ao seu guru astrólogo a maior condecoração possível, munindo-o de poder e glória. O que se vê é justamente uma camisa de onze varas para os homens de farda, incapazes de usar uma camisa de força na língua do mentor real e na truculência do monarca. E para piorar o entrevero, o rei usou de todas as letras para dizer que apoia seu mentor, acima de tudo e de todos: “Olavo, sozinho, rapidamente tornou-se um ícone, verdadeiro fã para muitos. […]. Sempre o terei nesse conceito, continuo admirando-o”. O fato é que a capitis diminutio dos generais é visível no embate com esse cavaleiro da triste figura e com a família real. Os ataques não se tratam de combustão espontânea, mas de uma bem armada orquestração no intuito de expeli-los da governança.
Dentre as baixarias lançadas pelo guru, nada mais triste que aquela endereçada a um dos generais que vivencia um sério problema de saúde: “… a quem me chama de desocupado, não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro”. É lamentável que os súditos fiquem expostos a tanta loucura e crueldade, assistindo a um flagrante desrespeito não apenas a um general, mas a uma pessoa com problemas reais de saúde (causa turpis). O guru ainda diz que “Os vassalos votaram para ter um governo conservador, cristão”. O que há de cristão em tanta depravação, desregramento e sacanice? Onde fica o tal reino cristão? Se Cristo aqui viesse, haveria de meter o chicote nos hipócritas.
Numa fala de quem quer colocar panos quentes, o general e vice-rei mandou seu recado: “Esses ataque são totalmente sem nexo. Se nós ignorarmos, será muito melhor para todo mundo”. No que se engana o vice-rei, pois diz a sabedoria popular que quem muito se abaixa acaba mostrando a bunda, como comprova outra declaração do guru: “Fracotes enfezadinhos como esse general, que não têm personalidade nenhuma e só sabem agir sob a proteção de grupos e corporações, imaginam que sou como eles e vivem tentando reduzir as MINHAS OPINIÕES…”.
Ignorar a desmoralização dos generais – como sugere o vice-rei – não é “melhor para todo mundo”. A omissão nada mais é do que um sinal de fraqueza ou cooptação, uma vez que o omisso toma um lado, sim – o do mais forte. E quando a contenda sai do campo das ideias para entrar no da obscenidade, indecência e falta de decoro significa que a corda dada já ultrapassou os seus limites, aproximando-se do abismo. É preciso romper este círculo vicioso de impropérios. Chega de ser cobra que morde o rabo. Com mil demônios! De tanto colocar uma pá de cal e pôr pedra em cima, o reino logo estará cercado pelas Muralhas da China.
É sabido que esta carga de explosivos disparada contra os homens das espadas objetiva derrubar o general ministro da Secretaria do Reino, mandando-o de mala e cuia para casa. Um dos mais beligerantes príncipes vem alardeando aos quatro ventos a armação, vangloriando-se de ter “explodido” o afrontado que ainda continua de pé, mas debaixo de um fogo cerrado de desmoralização, aviltado até mesmo por indivíduos desprezíveis que pululam pela mídia. O guru continua apontando sua artilharia para o ministro general: “Só conhece politiqueiros e fofoqueiros de merda como ele mesmo”. O que se vê neste reino tresloucado é mina por todo lado e um salve-se quem puder. O ex-comandante do exército do reino deixou claro que: “… pela importante presença dos militares em cargos de chefia, certamente uma parte da conta [se o governo real não der certo] será debitada aos militares”. Então, que eles zelem pelo reino antes que consumatum est.
O que mais intriga nesta imbróglio é o fato de o monarca e seus príncipes – em vez de agirem como mediadores – estarem a jogar bosta (com a licença do guru pelo uso da palavra) no ventilador. Ao invés de conterem a verbiagem do mentor, estão a insuflar seu ego aloprado, tanto é que, irritado, o rei respondeu àqueles que questionaram o entrevero de seu guru com os homens das espadas: “Ele [o guru] é dono do seu nariz, assim como eu sou do meu e você é do seu”. E complementou, mandando um recado indireto para os fardados, mostrando-lhes que não são melhores do que ele: “Eu recebo críticas muito graves e não reclamo. O pessoal fala muito em engolir sapo e eu engulo sapo pela fosseta lacrimal”. Trocando em miúdos, que os generais engulam seus sapos sem reclamar e fiquem “pianinho”.
O fato de ser tão louvaminhado pela realeza levou o mentor astrólogo a dar um tiro de misericórdia nos homens das espadas: “Os generais, para voltar a merecer o respeito popular, só têm de fazer o seguinte: arrepender-se, pedir desculpas e passar a obedecer”. Os homens de farda receberem do guru a ordem de calar a boca e obedecerem é uma desmoralização total e irrestrita. Portanto, a impressão dos vassalos é a de que no reino o mentor real continua dando as cartas. Placar: Estrelas (mentor real) 10 x Espadas (generais) 0.
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