Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Sakai Hôitsu – CHUVA DE VERÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

Esta delicada composição intitulada Chuva de Verão é uma obra-prima da pintura decorativa japonesa. Presume-se que Sakai Hôitsu (1761 – 1828), o responsável pela criação, buscou nas divindades do vento e da chuva a inspiração para decorar um de seus biombos (divisória móvel, feita geralmente com folhas de madeira, presas por dobradiças, cuja finalidade é dividir um aposento em duas partes, ou para isolar um espaço, ou proteger da luz ou do vento).

O artista em vez de personificar a chuva, optou por apontar seus efeitos na natureza, ao mostrar um aguaceiro caindo sobre a vegetação de verão. As folhas e as flores dobram-se sob a força da chuva. É possível notar o viço que elas emanam. Na parte superior à direita, um regato sinuoso de águas azuis está sendo formado. O fundo da composição é metálico prateado, sendo o resto da pintura em cores e detalhes naturalistas. A pintura foi feita sobre papel num par de biombos com duas folhas.

Sakai Hôitsu, discípulo de Sotatsu e Korin, ainda se encontrava ativo no início do século XIX. Nasceu no Edo numa família de samurai. Experimentou variados estilos e veio a tornar-se um religioso budista. Fundou uma escola de pintura chamada Ukaan. Por ser um grande observador da natureza tornou-se especialista na pintura de flores e plantas, assim como seu mestre Ogata Kôrin.

Ficha técnica
Ano: início do séc. XIX
Autor: Sakai Hôitsu
Período Edo
Dimensões: 166 x 183 cm
Localização: Museu Nacional de Tóquio, Japão

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
O Japão/ Louis Frédéric

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Steenwyck – AS VAIDADES DA VIDA HUMANA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. (Eclesiastes 1:2)
 
O pintor Harmen Steenwyck (1612 – c.1655) nasceu na cidade de Delft, onde passou grande parte de sua vida. Ele e seu irmão Pieter estudaram com o tio David Bailly, com quem   trabalharam em sua oficina. Sabe-se pouquíssima coisa sobre sua vida e suas obras.

A composição intitulada As Vaidades Humanas – também conhecida como A Alegoria das Vaidades Humanas – é uma obra do artista. Este tipo de natureza-morta – que na verdade é um trabalho religioso – é chamado de “vanitas” que em latim significa “vaidade”, algo sem valor. A pintura é uma alusão à morte e ao vazio da vida que nesta obra diz respeito a muitos aspectos da vida holandesa da época. Os holandeses – em sua maioria calvinista – eram extremamente religiosos, dotados de uma moral rígida, mas também ligados aos avanços científicos, como o uso da óptica e da lente com a finalidade de observar o mundo natural. Eram aficionados por colecionar obras de arte e objetos bizarros.

A natureza-morta era, à época, tida como uma pintura de menor valor, não fazendo parte da grande arte. Foram os pintores do norte europeu que mudaram tal visão com o uso de uma técnica detalhista. Os holandeses foram exímios neste tipo de arte, elevando a natureza-morta – até então desdenhada pelas academias de arte – a um patamar de igualdade.

A tela mostra-se mais pesada à direita, contudo, um feixe de luz em diagonal incide sobre a parte esquerda equilibrando-a, além de dar destaque ao objeto mais importante da pintura que é o crânio humano, onde reside o ponto forte da temática  – a alusão à brevidade da vida. Contudo, a luz que é um símbolo cristão relativo ao eterno e ao divino, ali se encontra para alertar que existe vida após a morte. Cada objeto traz um significado simbólico:

    • O crânio humano (momento mori) é o único elemento inequívoco que diz respeito à certeza da morte.
    • A concha vazia – posicionada à direita na ponta da mesa – à época simbolizava a riqueza que também é vã. E o fato de encontrar-se vazia diz respeito à breve passagem humana pela vida terrena.
    • O relógio em forma de cronômetro aberto – situado próximo ao crânio – tem como função lembrar que o tempo é limitado para todos os viventes.
    • A enorme espada japonesa, ricamente trabalhada, simboliza o efêmero poder terreno. Ela lembra que nem mesmo a força pode vencer a morte. Por mais poderoso que um homem seja, ele sempre estará sob seus ditames.
    • A flauta (como a charamela à direita) é um símbolo fálico, estando, portanto, ligada aos prazeres sensuais e eróticos, mas a morte leva tudo isso consigo.
    • A lamparina apagada, com a fumaça ainda agonizante em seu bico, também simboliza a fugacidade e a fragilidade da vida humana.
    • Um grande jarro jaz sobre um livro, à direita. Pode ser visto como uma alusão à embriaguez, pois costumava guardar vinho.
    • A charamela (forma medieval de oboé), assim como os demais instrumentos musicais da obra, está ligada ao amor, pois a música era alusiva à corte e ao ato sexual. Por isso, simbolizam a futilidade da busca pelo conhecimento musical.
    • A forma abaulada do alaúde remete ao corpo feminino e os instrumentos de sopro tradicionalmente dizem respeito ao órgão masculino.
    • Os livros dispostos na mesa simbolizam o conhecimento e a cultura, mas ainda assim, há nisso o perigo da vaidade.
  • O tecido de seda simboliza o luxo físico, pois se trata de um material muito caro. E a cor roxa era o corante mais caro usado à época.

Como a sociedade holandesa era muito religiosa, estava ligada, sobretudo, ao Velho Testamento, livro muito estudado pelos calvinistas tanto nas igrejas quanto em casa. O artista deve ter se inspirado no livro do Eclesiastes (Antigo Testamento) para executar sua obra. Porém, sendo as pinturas de “Vanitas” muito populares – tanto entre cristãos protestantes quanto entre católicos fervorosos –, havia uma ironia no gênero, pois os objetos colecionados que serviam de modelo para as pinturas tornaram-se objetos “Vanitas” em si, ou seja, seus donos ajuntavam aquilo que condenavam.

Ficha técnica
Ano: c. 1645
Técnica: óleo sobre carvalho
Dimensões: 39 x 51 cm
Localização: Galeria Nacional de Londres, Grã-Bretanha

  • Fonte de pesquisa
    Arte em Detalhes/ Publifolha
    http://www.artyfactory.com/art_appreciation/still_life/harmen_steenwyck.htm

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Bronzino – VÊNUS, CUPIDO E AS PAIXÕES DO AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

vencup

A composição denominada Vênus, Cupido e as Paixões do Amor, também conhecida por Alegoria de Tempo e Amor ou Uma Alegoria com Vênus e Cupido é uma obra do pintor italiano Agnolo Bronzino. Trata-se de uma pintura alegórica em que o amor é mostrado em suas várias facetas – obra típica da Contrarreforma.

Vênus – deusa da beleza e do amor – ocupa a parte central da composição, sendo abraçada por seu filho Cupido – o deus do amor – que segura seu seio esquerdo e sua cabeça. Na mão esquerda a deusa traz uma maçã e na direita segura a flecha de Cupido. Tais objetos representam as características ternas do amor, mas também seus aspectos inquietantes.

A pequena criança jogando rosas simboliza os prazeres que o amor promete. Sobre o manto azul, onde se encontra a deusa, à sua esquerda, estão presentes duas máscaras (a de uma jovem mulher e a de um velho), insinuando que o amor tem muitas personificações, não passando de ilusão as suas promessas. À sua direita está uma pomba que na simbologia pagã condizia com a inocência do amor em complemento aos seus aspectos puramente sexuais. A figura da pomba também está ligada à imagem de Vênus (Afrodite) e Cupido (Eros), deuses do amor, significando a efetivação dos desejos amorosos dos amantes.

Em segundo plano estão presentes outras facetas do amor, representadas pelas figuras humanas: a Malícia, o Ciúme, a Verdade e o Tempo – os maiores empecilhos para que o Amor torne-se prazeroso e eterno. Estão assim representados:

Tempo – velho com a ampulhet

Verdade – mulher, à esquerda, abrindo uma cortina azul;

Ciúme – figura arrancando os próprios cabelos;

Malícia – possui rosto suave, mas um corpo animalesco, com garras e cauda escamosa. Traz as mãos invertidas, disfarçando o que oferece. Numa das mãos está um favo de mel e na outra a própria cauda com um ferrão.

A cor pálida e esmaltada de Vênus, Cupido e do Prazer retira toda a sensualidade da cena ou qualquer ambiguidade que possa haver em relação ao que o artista quis mostrar.

Ficha técnica
Ano: c. 1543
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 146 x 116 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã-Bretanha

Fonte de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Paris Bordone – OS AMANTES VENEZIANOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição Os Amantes Venezianos – também conhecida como Jovens Amantes – é uma obra do pintor italiano Paris Bordone (1500 – 1571), um dos importantes artistas dos últimos tempos do Renascimento veneziano. Ele se tornou conhecido sobretudo como pintor de retratos, embora tenha feito também inúmeras pinturas mitológicas e religiosas. Sua obra era carregada de complexidade e sensibilidade, dotadas de grande profundidade emocional. Presume-se que tenha sido aluno de Ticiano, sendo possível notar sua ascendência na obra de Bordone. Além de Ticiano, o artista também bebeu nas fontes de Giorgione e Lorenzo Lotto. Muitas encomendas eram feitas ao pintor e elas provinham também do estrangeiro. Ele chegou a trabalhar na corte francesa em 1559.

Dentre as obras do artista, Os Amantes Venezianos configura como uma de suas mais célebres e uma das mais belas pinturas renascentistas. Paris Bordone apresenta um casal burguês dentro de uma sensualidade comedida, ou seja, num jogo refinado de sedução. Muitas interpretações dizem respeito à cena. O homem que abraça a jovem tanto pode ser um amigo discreto, um rival, um parente, seu futuro esposo ou até mesmo um amante. Os críticos ainda não chegaram a um consenso. Vejamos a seguir duas hipóteses.

Pelo fato de o casal surgir de um ambiente escuro, e de o homem tocar no ombro nu da jovem que recosta sua cabeça no seu rosto, alguns críticos enxergam aí um amor mercenário, sendo ela vista como uma cortesã. Alegam que o sujeito fanfarrão que se encontra atrás do casal pode ser um alcoviteiro, havendo a possibilidade de que ali esteja um autorretrato do pintor com sua boina. Se assim for, a obra seria uma alegoria e não uma representação real. A prevalecer tal hipótese, a corrente de ouro que o homem traz na mão esquerda e entrega à mulher, não é um presente, mas sim o pagamento pelo encontro.

Alguns historiadores de arte, por sua vez, veem na cena a representação de um casamento, como acontecia à época. O personagem ao fundo seria uma testemunha, pois naquele tempo bastava uma única testemunha para dar validade à união. O cinto usado pela noiva e o presente que lhe é dado confirmaria o enlace. A entrega da joia e o unir das mãos representaria o centro psicológico da pintura.

A jovem mulher traz os cabelos dourados e sedosos presos, com duas tranças a rodear-lhe a cabeça. A saia de seu vestido verde com corpo branco é artisticamente trabalhada em pregas, assim como as mangas bufantes do mesmo. Ela tem o olhar enviesado para sua direita, enquanto o jovem traz o olhar baixo. A leitura do rosto da mulher é mais difícil de ser decifrada. Estaria ela desinteressada quanto ao presente (ou pagamento)? Ou estaria cansada de seu trabalho? Ou estaria demonstrando timidez, o que lhe causaria rubor?

Ficha técnica
Ano: c. 1520/30
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 95 x 80 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
http://www.artevarese.com/av/view/news.php?sys_tab=20011&sys_docid=8897&sjl=1

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Lorenzo Lotto – ASSUNÇÃO DA VIRGEM

 Autoria de Lu Dias Carvalho

A pintura Assunção da Virgem é uma obra do pintor, desenhista e ilustrador italiano Lorenzo Lotto (c.1480 -1556). O artista serviu de ponte de transição entre os velhos mestres de Veneza e a arte do Barroco tardio no norte da Itália. Dentre os pintores que exerceram influência em sua obra estão Giovanni Bellini, Antonello da Messina, Giorgione, Ticiano e Rafael. Ele pintou altares, obras religiosas e retratos.

A composição intitulada Assunção da Virgem trata-se de uma obra do início da maturidade do artista que abre mão dos modelos clássicos da tradição veneziana. Ele faz uso de uma liberdade de expressão que toma por base grandes nomes da pintura como Dürer, Rafael, Correggio, dentre outros. Esta obra chegou a ser atribuída desde Fra Bartolomeo até Rafael.

O artista representa a subida da Virgem ao céu, senda levada, numa nuvem branca, por cinco anjos. Uma luz dourada emana de suas costas, enquanto raios de uma luz branca saem da nuvem. Ela usa um vestido vermelho e sobre ele um manto azul. Uma coroa de ouro cinge-lhe a cabeça. Ela ocupa o centro da parte superior da composição.

Num plano inferior, um grupo de onze pessoas encontra-se numa paisagem desértica. O grupo olha perplexo para cima, acompanhando a ascensão da Virgem. As figuras mostram-se visivelmente arrebatadas. Seis delas apontam para a Madona. Os gestos são extremados. Uma mulher, à direita, desce em correria um terreno inclinado, para ajuntar-se ao grupo.  Cada figura humana traz uma auréola em torno da cabeça, o que comprova a divindade do grupo. Ao fundo desenrola-se uma paisagem de montanhas.

Ficha técnica
Ano: 1512
Técnica: óleo em tela
Dimensões: 58 x 27 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Pisanello – A VIRGEM E SANTOS

Autoria de LuDiasBH

O pintor italiano Antônio de Pucci Pisano (1395 – 1455), apelidado por seus contemporâneos de Pisanello (ou seja, pequeno Pisano), nasceu em Pisa e morreu provavelmente em Roma. Seus pais foram Puccio di Giovanni da Cerrato e Isabella di Niccoló. Estudou com Stefano da Verona – responsável por introduzi-lo no mundo da arte – e depois em Veneza com Gentile Fabriano, tendo trabalhado como seu assistente na pintura do palácio de Dodge, nos afrescos da sala do Grão Conselho. Anos depois colaborou com seu último mestre na decoração da Basílica de São João de Latrão. Após a morte desse, Pisanello tomou para si a responsabilidade pela obra.

A composição denominada A Virgem e Santos, também conhecida como Nossa Senhora com Santo Antônio Abade e São Jorge, é uma obra do artista. Trata-se de uma pequena pintura feita em madeira, retratando o mundo medieval. O céu que ocupa metade da tela vai desbotando à medida que se aproxima da terra, de modo que ao se aproximar do topo das árvores já se encontra quase todo branco.

A Virgem Maria com seu Menino Jesus nos braços paira no céu, diante de um grande sol dourado que emite raios em forma de arabescos à sua volta. Ela se encontra harmoniosamente envolta por um manto azul, enquanto Jesus é envolvido por um pano dourado da mesma cor do sol. Mãe e filho fitam-se mutuamente. É tida como uma das mais belas cenas de maternidade vistas em pintura. Em terra encontram-se Santo Antônio Abade à esquerda e São Jorge à direta. Os dois trocam olhares. As figuras formam uma composição triangular, compondo a Virgem o vértice do triângulo.

As vestes de Santo Antônio Abade são humildes. Sobre o manto vermelho com capuz ele usa uma pesada capa marrom. Traz na mão direita um galho e na esquerda um sino. A seus pés está o leão que faz parte de sua simbologia. São Jorge encontra-se com suas ricas e elegantes vestes de cavaleiro cortesão. Traz nas mãos uma espada. A cabeça de um cavalo ricamente arreado e o focinho de outro aparecem à sua direita. Aos pés está o dragão, também parte de sua simbologia.

Ficha técnica
Ano: c.1438/1448
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 45 x 29 cm
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Pisanello/ Abril Cultural
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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