Autoria de Lu Dias Carvalho
O apego é o oposto do amor. O apego diz: Eu quero que você me faça feliz. O amor diz: Eu quero que você seja feliz. (Jetsunma Tenzin Palmo)
A salvação não vem lá de cima, como pensam alguns, vem de si mesmo, do autoconhecimento. (Filosofia Budista)
Ver o pequeno chama-se iluminação. Usar a suavidade chama-se força. (Lao Tzu)
Quem vence alguém é um vencedor, quem vence a si mesmo é invencível. (Morihei Ueshiba)
Muitos de nós chegam ao final do dia extenuados, não pelo excesso de trabalho feito, mas pelo peso dos pensamentos e sentimentos sombrios e desejos insatisfeitos, o que gera um vazio e um sentimento de inutilidade diante da vida. É preciso impedir que os desejos de posse e os pensamentos desmancham prazeres intrometam-se em nosso dia a dia. Mas como? Evitando-se as armadilhas mentais que tantos danos nos causam; usando o autoconhecimento; dando menos importância a certas posturas de nosso próximo; e sempre se lembrando de que o infeliz é aquele que maltrata e não o maltratado.
A mente prega muitas peças. É preciso estar atento às suas criações mirabolantes. Não se pode entregar aos delírios de grandeza, principalmente, pois aí está a raiz de quase todos os males. Nossa mente é capaz de transformar pensamentos comuns ao dia a dia em alçapões que tiram o gosto pelo existir. É necessário muito empenho, a fim de não carregar pensamentos e sentimentos ruins vida afora.
Faz-se necessário botar um freio no sofrimento sem razão de ser – efeito de nossas tolas ilusões, acorrentar o ego e aprisionar-se ao vitimismo. Inúmeros textos científicos têm nos ensinado como agir, de modo a viver da melhor maneira possível. A Ciência é hoje uma grande aliada da humanidade. O Budismo também nos ensina como trabalhar a nossa mente através do autoconhecimento, entre a diferença de “ser” e “parecer”. Sua eficácia, encontra-se, sobretudo, em buscar viver da maneira mais simples possível, comungando com todos os seres.
A filosofia budista ensina que a ética engloba o respeito a si mesmo, aos outros e a todos os seres vivos. Enfatiza que nenhuma mudança ocorrerá, se a pessoa não começar olhando para si mesma, ao invés de encontrar problemas apenas nos que a rodeiam. Ensina que é impossível respeitar os outros, quando não se tem respeito por si próprio e que não adianta fazer do dia a dia um rosário de tormento – muitas vezes levando sofrimento a quem está por perto e não nenhuma culpa alguma. Afirma que tudo que existe no mundo é impermanente (fato comprovado pela Ciência) e, portanto, todos devem aprender a lidar com as transformações, doenças e perdas presentes neste mundo em que todos somos passageiros.
Não é preciso ser um devoto budista para conhecer as “quatro grandes verdades” do Budismo, pois elas fazem hoje parte dos manuais científicos.
- o sofrimento é inevitável, ou seja, ser humano algum passa pela vida sem sofrer, ainda que seja um príncipe ou um miserável;
- para superar o sofrimento é preciso eliminar o apego, isto é, eliminar a persistência em querer sempre mais e mais, achando que tudo é pouco, esquecendo-se de que somos apenas passageiros do tempo, de modo que o que possuímos apenas nos é emprestado por um determinado período;
- é possível alcançar a libertação do sofrimento, ou seja, existe possibilidade de nos livrarmos do apego às ilusões e, em consequência, eliminarmos o nosso padecimento;
- elimina-se o apego através de práticas corretas, ou seja através do autoconhecimento e da meditação, etc. Pergunte-se, ao final de cada dia sobre algo que fez de bom e algo que fez de ruim. Comece por aí…
As duas primeiras “Nobres Verdades” têm relação de causa e efeito entre si: o apego – causa de toda dor e desgraças existentes no mundo – é o responsável por gerar o sofrimento. Por sua vez, ao eliminar o apego (às pessoas e às coisas) através do autoconhecimento, chega-se à iluminação, ou seja, ao cessar do sofrimento. Pois, segundo Buda, o apego é fruto da ignorância humana, incapaz de compreender a forma real das coisas, não reconhecendo, sobretudo, sua impermanência.
O cantor Lulu Santos afirma com sabedoria em sua música “Como uma Onda” que: Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia/ Tudo passa, tudo sempre passará…
O ser humano não conhece a sua verdadeira natureza – sua essência. É o que o leva sempre a agarrar-se a algo externo. Por não se conectar consigo mesmo, toma seu “eu” egoísta como senhor, ou outras pessoas como modelo, o que gera um vazio interior cada vez maior. Sem o autoconhecimento, o homem cede ao apego às coisas e às pessoas, achando que está indo ao encontro da segurança e consequentemente da felicidade. Ledo engano, somente o autoconhecimento é capaz de tornar-nos pessoas melhores e mais felizes, capazes de amar a nós mesmos e aos outros, como canta nosso inesquecível Renato Russo:
“É preciso amar como se não houvesse amanhã”.
Nota: a ilustração é Mulher ao Espelho, obra de Richard Emil Miller.
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