Autoria de Lu Dias Carvalho
Seja em pacientes com transtorno bipolar ou com outros quadros menos graves, os aspectos subjetivos da negação tem como uma das características o pavor do encontro com a experiência psíquica da diferença. (Júlio César Waiz)
O Transtorno Bipolar, uma das doenças mentais que afetam cerca de 4% da população mundial, segundo dados da Associação Brasileira de Tratamento Bipolar (ABTB), é também conhecido como Transtorno Afetivo Bipolar ou ainda como Transtorno Bipolar de Humor. Trata-se de uma doença crônica e, portanto, seu tratamento farmacológico deve ser contínuo. Devem ser usados, principalmente, medicamentos que estabilizem o humor, anticonvulsionantes e, em casos graves, antipsicóticos.
Em razão do estigma que, infelizmente, os transtornos mentais ainda acarretam numa sociedade ainda pouco informada, é comum que a pessoa acometida pela bipolaridade, assim como sua família, negue ou esconda a existência do problema, o que só vem a agravá-lo, pois quanto mais cedo for contido, menos estragos fará ao portador e à família. O estado de negação, quando o doente (ou as pessoas ao redor) finge estar tudo bem em razão do medo do confronto com o diagnóstico, ou seja, do encontro com a experiência psíquica da diferença, tem sido um problema sério no que diz respeito ao tratamento que é de extrema necessidade para o doente.
Os familiares de um portador de tal transtorno devem oferecer o máximo de informações ao médico especialista a fim de ajudá-lo obter um diagnóstico preciso, pois é sem dúvida um dos mais complexos, a menos que o indivíduo encontre-se em crise maníaca de grande intensidade. Quando o quadro é confundido com depressão e é receitado ao paciente um antidepressivo apenas, o polo maníaco pode vir à tona ou acirrar ainda mais a depressão (uma das fases do transtorno). Caso isso aconteça, o doente deve ser levado imediatamente ao médico para a troca de medicação.
Assim como acontece com as pessoas vitimadas por outros transtornos mentais, a maioria dos portadores do Transtorno Bipolar deixa o tratamento farmacológico logo que se veem livres das crises, tendo o humor estabilizado. E é exatamente aí que mora o perigo, pois, ao interromper a medicação novas crises costumam surgir, levando o doente a entrar numa atordoante e sofrida roda-viva. A luz que jazia no fim do túnel, oferecendo melhor qualidade de vida, é novamente apagada, pois a função dos medicamentos é estabilizar o organismo do paciente pelo maior período de tempo possível, evitando as crises e oferecendo-lhe uma vida melhor.
As psicoterapias também são indicadas para os portadores do Transtorno Bipolar, mas devem sempre estar agregadas ao tratamento medicamentoso, pois sozinhas não surtem efeito. Elas devem oferecer suporte emocional, incentivar o tratamento alopático e possibilitar o autoconhecimento aos pacientes, fator importante para ajudá-los a superar situações que possam levar a novas crises. É fundamental que a família também seja conscientizada quanto ao impacto negativo de tal transtorno na vida do doente, de modo a ajudá-lo no tratamento, a fim de que obtenha melhor qualidade de vida em todos os campos (vida afetiva, profissional e em outros contextos sociais).
O doente e seus familiares devem estar atentos em relação ao diagnóstico, pois há muitos erros por parte dos especialistas. Não é qualquer alteração de humor que pode ser diagnosticada como bipolaridade, obrigando o suposto doente a tomar uma carga de medicamentos desnecessariamente. Todas as pessoas apresentam alterações de humor, ainda mais no mundo corrido e competitivo de hoje em que a hierarquia de valores virou pelo avesso. A escolha de um bom profissional faz toda a diferença, assim como as informações precisas da família. Se ainda houver dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se buscar uma segunda ou terceira avaliação.
Nota: Faces, obra de Pablo Picasso
Fonte de pesquisa
Grandes Temas do Conhecimento – Psicologia/ Mythos Editora
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