Sinha Vitória tremia, debulhando seu rosário,
mexia os beiços, rezando rezas desesperadas.
Encolhido, Fabiano espiava a caatinga abrupta.
No céu, nem sinal de arribação. Debandaram.
Os bichos finavam, comidos pelos carrapatos.
Fabiano resistia, pedindo seu Deus um milagre.
Quando viu que tudo na fazenda estava perdido,
combinou com sua mulher a premente viagem.
Matou seu bezerro morrinhento e salgou a carne.
Foi-se embora coa família sem dar adeus ao amo.
Partiram os quatro viventes ainda de madrugada.
Ganharam o mundo, fincando o pé na estrada.
A manhã sem pássaros e sem folhas e sem vento
vinha rompendo num silêncio medonho de morte.
Deus Nosso Senhor protegeria aqueles inocentes,
apesar do desamparo e da malquerença da sorte.
Sinha Vitória chorou baixinho a falta de Baleia.
Nem ela nem Fabiano queriam deixar a fazenda.
Só resolveram partir quando não tinha mais jeito,
pois não era possível viver num mundo desfeito.
Tudo ficava pra trás: a égua alazã, a cama de varas,
o chiqueiro e o curral ainda precisando de conserto,
as catingueiras, panelas de losna, pedras da cozinha,
e o cavalo de fábrica, tão servil e bom companheiro.
Um dia, numa terra distante, olvidariam a caatinga,
onde só havia montes pelados, cascalho, rios secos,
urubus, bichos e gente morrendo e muitos espinhos.
Resistiriam à saudade que amolesta os sertanejos.
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