COMO AGIR DIANTE DA DEPRESSÃO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

 A depressão se instala quando a atividade cerebral não está sendo desenvolvida de forma plena. (Stefan Klein)

Aos poucos as pessoas em todo o mundo vão tomando consciência de que a depressão é uma doença seriíssima e não fruto de fricotes, chiliques ou dengues. Ela é uma resposta ao mau funcionamento do cérebro, instalando-se quando a atividade cerebral não funciona como deveria. Mas o que fazer quando essa doença mental abate-se sobre nós?  Seria melhor buscar um cantinho de jeito, esperando o tormento passar ou tocar a vida para frente, ainda que se deseje ficar apenas deitado num quarto escuro, sem qualquer contato com a vida lá fora, recolhendo-se diante de tamanha infelicidade? É isto que saberemos agora.

Pesquisas mostram que o fechar-se em si mesmo só fortalece o sofrimento, uma vez que o cérebro passa a não receber estímulos que o ajudem a retomar sua normalidade. O desânimo, a tristeza, a paralisia dos sentimentos e da razão acabam jogando o doente num abismo cada vez mais tenebroso. Portanto, a conclusão a que as pesquisas neste campo chegaram é que não fazer nada ou jogar a toalha, como se diz popularmente, é um péssimo remédio, ainda que, quando em depressão, seja difícil para o doente despertar seu próprio interesse no que quer que seja. A vítima da doença concentra-se em sua vida interior, centrando-se em seus pensamentos sombrios, buscando compreender – em vão –  o porquê de seu sofrimento.

A depressão leve que consiste naquela tristeza comum ao dia a dia , ou seja, aquela que toma conta de nós vez ou outra, pode facilmente ser debelada unicamente com a mudança de comportamento, sobretudo controlando os pensamentos e sentimentos negativos, a fim de que o estado depressivo não seja alimentado. Contudo, a depressão severa, além da mudança de comportamento também necessita de medicamentos que irão trabalhar no sentido de libertar o cérebro da apatia em que se vê atolado. Somente o especialista poderá diagnosticar o paciente e fazer a diferença entre as duas fases do estado de alma da pessoa.

É preciso muito cuidado com a tristeza acabrunhante, pois ela pode ganhar vida própria, alimentando-se de si mesma, até resvalar para algo mais sério, ou seja, para uma depressão severa. Sabe-se que o abatimento é muitas vezes gerado por uma carga excessiva de estresse (a perda de um ente querido, pressão no trabalho ou na família, doenças, separações, etc.), o que leva o organismo a dar sinais de que precisa de um tempo para sobreviver ao desânimo, cansaço e tristeza. É preciso compreender os sábios sinais do corpo e atendê-lo em suas necessidades.  

Muitas vezes, mesmo tendo passado o motivo da profunda tristeza, a vítima continua a alimentá-la com pensamentos e sentimentos negativos, afastando-se das pessoas e sentindo-se vítima da situação. Tal comportamento é um equívoco, pois apenas alimenta o círculo vicioso (inatividade/desânimo/inatividade). Deixar o mundo de fora, abrindo mão de seus estímulos é um péssimo negócio. Inteirar-se com ele é fundamental. Voltar o olhar para fora, lidando com outras pessoas e coisas contribui para romper o círculo vicioso dos pensamentos negativos e sentimentos ruins. Por que isto é bom? Porque o cérebro, quando atarefado, não mais se preocupa consigo mesmo, ou seja, ele se esquece de si mesmo e passa a preocupar-se apenas com o que está realizando.  Preencher o tempo é vital.

O biofísico Stefan Klein explica: “No estado de melancolia, o cérebro pode ser comparado a uma perna engessada há muito tempo. Quem já passou por isso sabe como os músculos se enfraquecem pela falta de exercício e como é doloroso dar os primeiros passos, a tal ponto que pensamos em desistir. No entanto, precisamos caminhar. Da mesma forma o cérebro tem que ser submetido a uma recuperação que possa ajudá-lo a superar o episódio depressivo. Qualquer tipo de atividade é válido para combater a tristeza. É como retomar as rédeas da própria vida. Quando nos ocupamos de alguma coisa, as faculdades cerebrais são mobilizadas e assim nos sobra menos tempo para alimentar pensamentos sombrios”.

Os portadores de depressão sabem que os medicamentos não fazem todo o trabalho necessário para que o cérebro retorne à sua normalidade. Mudar o comportamento é fundamental para estimular as células nervosas, seja durante uma depressão leve ou aguda. Quem quiser voltar a caminhar por conta própria, precisará de toda a sua boa vontade para recuperar suas faculdades cerebrais.

 Nota: ilustração – Serenata, obra de Di Cavalcanti

Fonte de pesquisa:
A Fórmula da Felicidade – Stefan Klein – Editora Sextante

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4 comentaram em “COMO AGIR DIANTE DA DEPRESSÃO

  1. Rosa

    Lu e companheiros

    Eu ainda lido com a depressão, mesmo com o Escitalopram. Tive melhoras, todavia me preocupo com a pouca vitalidade que sinto. Vou viajar por estes dias e já estou apreensiva quanto a minha capacidade de acompanhar os passeios.

    Lu, você sabe me dizer se o deprimido quando vai a lugares distantes têm os sintomas depressivos agravados? No ano retrasado fui passar o ano novo nas montanhas e tive uma espécie de torpor. Vejo as fotos daquela época e percebo a falta de vida e de vitalidade, apesar de eu amar viajar. Tenho um certo receio de passar mal pela fadiga, cansaço e falta de vitalidade. Mas estou confiante que dará tudo certo.

    Um 2020 de saúde para todos nós.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Rosa

      Como disse nos textos que tenho postado, em quanto mais atividades o cérebro de uma pessoa depressiva ou ansiosa se envolver, menos tempo lhe sobrará para os pensamentos e sentimentos sombrios. Esse medo inicial que sente é normal em razão das apreensões que passam a ruminar na sua mente (acontece comigo também), mas assim que o passeio for se desenvolvendo, sua mente se sentirá atraída por coisas novas, aumentando a dopamina – substância do prazer produzida pelo cérebro. Portanto, se você se predispor a participar intensamente do passeio, compartilhando-o com as pessoas, isso lhe fará um bem danado.

      Amiguinha, imagino que na época de que fala ainda não tinha tanto conhecimento sobre o funcionamento de seu cérebro como tem agora. Vá despreocupada. Se possível, dê-me notícias de lá. Lembre-se de que esse receio inicial faz parte da vida de nós depressivos, pois nossa mente viaja na maionese, tecendo mil empecilhos, mas logo isso se dissipa. Não se esqueça de me contar tudo sobre a viagem.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Edward Chaddad

    LU DIAS

    Em outro texto muito brilhante, você nos lembrou no próprio título do artigo que “a Mente e o Corpo são Indissociáveis”

    Lembro que, naquele artigo, é inquestionável a sua assertiva:

    “A Ciência sabe que ‘mente’ e ‘corpo’ são interligados, indissociáveis, formando uma única unidade. Contudo, teoricamente falando, costuma tratá-los distintamente, no intuito de facilitar seu estudo, mas isso jamais poderá acontecer na prática, pois não se pode fragmentar a natureza humana, desprezando a sua totalidade”.

    Repetindo o que já mencionei em um comentário àquele texto em que “a mente é, assim, parte do corpo e, ao contrário do que muitos afirmam, não está localizada apenas no cérebro. Inclusive, atualmente, v. gratia, há entendimentos recentes de que o intestino é o segundo cérebro do ser humano:

    “Ele tem mais neurônios que a espinha dorsal e age independentemente do sistema nervoso central.” Eis o artigo publicado no G1 Globo, elaborado por BBC News. – Porque o intestino é considerado nosso ‘2º cérebro’ e outros 5 fatos surpreendentes sobre o órgão) artigo publicado no G1 ).”

    E, ainda, mencionei:

    “Assim, há um interligação entre o cérebro e todas as partes do corpo, o que nos leva a entender que somos um todo único. Um paraplégico, com lesão completa na medula, pode perder o controle e a sensibilidade dos seus membros inferiores, tornando impossível andar.”

    E também:

    “Portanto, a mente e o corpo são identidades únicas. Daí o excelente artigo, onde assevera que:

    “O fato de as doenças terem uma relação direta com as manifestações psíquicas e emocionais é uma prova dessa unicidade. Assim como os fatores psicológicos podem contribuir para o surgimento ou agravamento de inúmeros distúrbios físicos, as doenças orgânicas, por sua vez, podem afetar o estado de espírito ou a forma de pensar e de agir de um indivíduo. A depressão, por exemplo, é capaz de inibir o sistema imunológico, tornando o doente mental mais predisposto a infecções como o resfriado. Portanto, saúde mental e saúde física devem ser tratadas simultaneamente, uma vez que ambas são inseparáveis.”

    É possível, assim, separar as doenças físicas daquelas chamadas doenças mentais?

    Acredita-se que não, principalmente hoje, quando a medicina está desenvolvendo uma visão holística em relação à saúde do ser humano. O que é o estresse? É um mal mental ou físico? Como separar nosso cérebro físico do mental?

    Todos nós temos problemas físicos e mentais, que variam apenas em grau de intensidade. Não há como desligar uma coisa da outra! Assim, uma boa alimentação, exercícios, vida saudável, dormir as horas necessárias para refazer nossos esforços diários são receitas importantes que trarão, para a saúde física e mental, uma grande ajuda. Temos que entender que somos um todo inseparável.

    Neste mundo há problemas, adversidades, dificuldades, competição, desemprego, poluição, alimentos processados, insegurança, violência, enfim uma messe enorme de condições que torna evidente que iremos ficar doentes mais cedo do que esperamos. Todas as sensações, máxime as agressivas, passam pelos sentidos humanos e irão estimular nosso cérebro. E a resposta pode ser rápida. Provada, por exemplo, a ligação entre o consumo de drogas e doenças mentais. Elas – as drogas – arrasam o cérebro, aniquilam os neurônios, impedem as sinapses, interrompem os estímulos, desagregam os pensamentos.

    As doenças devem ser físico/mentais, ligadas intensamente, dentro da concepção holística, a visão da saúde integral, por inteiro, na sua totalidade, o que realmente somos. Somos um todo: corpo, alma, coração, emoções, sentimentos, mente, não havendo como os separar. Já dizia o poeta romano Juvenal, embora sem o significado que se dá hoje em dia, lá na antiguidade, a célebre expressão: “mens sana in corpore sano”, ou seja, mente sã em corpo são.

    Exemplo da dinâmica da visão holística, está contida no artigo “Hipotireoidismo e a depressão: que relação é esta?”, que menciona:

    “Tanto se associa o hipotireoidismo ao ganho de peso e à fadiga que muita gente não sabe que ele também pode levar à depressão. “É isso mesmo, com a estimativa de que uma a cada duas das pessoas que têm hipotireoidismo apresenta sintomas depressivos e até mesmo depressão. O contrário também pode acontecer, já que quem tem depressão pode ter hipotireoidismo”, afirma a endocrinologista Mariana Farage, do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), CRM 527880. “A explicação para isso está no fato de que os hormônios tireoidianos também interferem na produção de serotonina e noradrenalina, dois neurotransmissores ligados a várias áreas do cérebro e que atuam no humor, na libido, no raciocínio, na memória e no sono”, completa a médica.”
    (https://www.sanofi.com.br/pt/sua-saude/hipotireoidismo/hipotireoidismo-e-depressao)

    Outra face da mesma moeda pode acontecer, ou seja, a depressão pode nos conduzir à psicossomatização, ou seja, reduzir a nossa resistência às doenças de forma geral, graves ou não, legando-nos, assim, doenças neurológicas, dermatológicas, doenças urológicas, ou ainda mais simples, como dores, prisão de ventre ou diarreias, pressão alta, etc.

    Desta forma, estruturalmente, o corpo e a mente não podem ser apartados, há que haver equilíbrio, sem o qual haverá o comprometimento do todo.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Ed

      Corpo e mente são unos, é verdade. O desconhecimento dessa assertiva foi muito nocivo para a compreensão das doenças mentais que por um bom tempo (e mesmo hoje em alguns lugares) foi vista como chilique, dengue ou fricote. As pessoas não aceitavam a existência de tais doenças, pois viam o cérebro como um órgão totalmente independente do corpo, incapaz de adoecer. Não têm sido poucos os comentaristas que aqui deixam suas mensagens falando sobre a incompreensão de suas famílias que acham que nada têm, o que só aumenta a gravidade da doença. Em razão disso tais doenças tornaram-se estigmatizadas, impedindo que muitas pessoas procurem tratamento logo no início, como medo de serem vistas como “loucas”, o que só agrava seu estado de saúde. Os governantes e a mídia brasileira (falando de nosso país) também é responsável por isso, pois pouco têm feito para sensibilizar a população em relação às doenças da mente.

      Amigo, agradeço muitíssimo seu elaborado comentário, que norteará a vida de muitas pessoas que a este espaço chegam. Como sempre lhes digo, o conhecimento traz maior compreensão e aceitação, possibilitando um tratamento mais rápido ou a atenuação dos sintomas.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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