Filme – APOCALYPSE NOW (Parte I)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Meu filme não é sobre o Vietnã. É o Vietnã. Foi feito da mesma maneira que os americanos fizeram a guerra. Estávamos na selva, havia gente demais, dinheiro demais, equipamentos demais e aos poucos fomos ficando loucos. (Francis Ford Coppola)

Se alguém tivesse me dito o que ira acontecer em Apocalypse Now, teria dito: “Não estou pronto.”, mas agora que já aconteceu, não trocaria aquilo por nada. (Martin Sheen)

Apocalypse Now é um dos momentos mais importantes da minha vida de cinéfilo. (Roger Ebert)

Kurtz descobriu que todos os nossos dias e meios de vida são uma frágil estrutura à mercê de esfomeadas mandíbulas da natureza, que nos devora inexoravelmente. Uma vida feliz é um adiamento diário desta certeza. (Roger Ebert)

O filme Apocalypse Now (1979) do diretor Francis Ford Coppola, inspirado na obra-prima do escritor Joseph Conrad, No Coração das Trevas, narra a história do coronel Kurtz, que se meteu nas brenhas da selva e ali se fincou como um ser supremo. Kurtz, vivido maravilhosamente por Marlon Brando, é um herói de guerra, cheio de condecorações, mas que, no meio da selva, em pleno território inimigo, construiu um mundo particular, em que a lei é feita por ele. Ali, comanda seu exército particular de nativos, oriundos das montanhas.

O ponto em comum entre o livro e o filme é o tema da viagem. A jornada dos personagens rio acima é ao mesmo tempo uma viagem ao âmago da alma e uma descida ao inferno. Até a entrada de Marlon Brando em ação, fato que acontece na última parte, o filme mostra a guerra e suas atrocidades. Após o surgimento do coronel Kurtz, transforma-se numa busca filosófica, numa tentativa de compreender os enigmas da loucura e do mal.

Um militar, capitão Willard (Matin Sheen), é enviado para deter o renegado Shurtz, mas, durante o tempo que dura sua viagem, vai perdendo seus sonhos em relação aos valores humanos, atraído pela grandeza da selva e, aos poucos, mudando seus conceitos com relação ao homem procurado. Ele nem mesmo sabe qual será a sua reação ao encontrá-lo. E, quando isso acontece, Kurtz tenta fazer com que ele mude de lado.

Apocalypse Now é, na verdade, uma jornada em que o capitão Willard procura entender as transformações pelas quais passou Kurtz, um dos mais brilhantes soldados do exército de todos os tempos. Por que ele teria penetrado no âmago da guerra com tanta sedução? Por que nada mais conseguiria ver, sem ser envolvido pela loucura e pelo desespero?

O final de Apocalypse Now é um dos mais incríveis da história do cinema, pois mostra-nos aquilo que fingimos ou não queremos perceber por nós mesmos, mas que Kurtz desnuda diante de todos.

O repórter-fotográfo (Dennis Hopper) é outro elemento importantíssimo no filme. Ele encontra o habitat de Kurtz e, como testemunha, fica assombrado com o que vê. Na trama, ele é o guia, o palhaço e o tolo responsável pelo equilíbrio entre Willad e Kurtz. Há momentos em que ele delira, e é possível ouvir pedaços dispersos do poema que deve ter escutado Kurtz recitando: Eu devia ser um par de garras serrilhadas, escapulindo pelo chão de mares silenciosos.

Outro personagem importante no filme é o tenente-coronel Kilgore (Robert Duvall), um aficionado pelo surfe. Ele é tão obcecado pelo esporte que, a fim de encontrar um bom lugar para surfar, ordena um ataque a uma aldeia, sob o ritmo de A Cavalgada das Valquírias de Wagner. É uma das sequências mais aclamadas do filme.

Para o grande crítico de cinema, Roger Ebert, agraciado com o Prêmio Pulitzer por sua atuação na referida área, Apocalypse Now é um dos filmes-chave do século XX. Pois, enquanto muitos filmes possuem a ventura de conter uma única grande sequência, esse possui uma atrás da outra, interligadas pela jornada rio acima.

Grandes filmes contam a história da guerra do Vietnã, tais como Platoon, O Franco-atirador, Nascido para Matar e Pecados de Guerra. Cada um com sua visão, mas Apocalypse Now, diz Roger Ebert, é, sem dúvida, o melhor de todos os filmes a respeito do Vietnã, um dos maiores filmes de todos os tempos, pois supera os demais ao perscrutar o lado escuro da alma. Não é tanto por enfocar a guerra, mas o quanto ela desvenda verdades das quais nunca gostaríamos de ter tomado conhecimento. Se tivermos sorte, passaremos a nossa vida, felizes, num castelo de areia, sem nunca tomarmos consciência de quão perto estamos da beira do abismo. O que enlouquece Kurtz é exatamente a descoberta que acabou fazendo de tudo isso.

Curiosidades:

• O projeto de Apocalypse Now teve início quando os EUA ainda estavam envolvidos na Guerra do Vietnã. Coppola, como produtor, tentou levantar o dinheiro, mas nenhum estúdio quis apostar em um filme sobre uma guerra impopular e ainda arriscar a vida de técnicos e atores em uma zona de combate. Anos mais tarde, embalados pelo sucesso de O Poderoso Chefão 1 e 2, Coppola retomou o projeto. Como George Lucas estava fazendo Guerra nas Estrelas, ele assumiu a direção e a produção.

• Mesmo com a retirada das tropas americanas (1973), e o fim da guerra dois anos depois, o Exército americano não deu apoio à produção.

Apocalypse Now foi rodado nas Filipinas, onde a geografia é semelhante à do Vietnã e as Forças Armadas tinham equipamentos iguais aos usados na guerra.

• A intenção de Coppola era rodar o filme nas mesmas condições em que a história é contada. Ou seja, equipe e elenco teriam de enfrentar a selva.

• Muitas vezes o perigo era real, pois o governo filipino combatia uma guerrilha comunista no sul do país. Equipe e elenco quase participaram de conflitos armados. Houve ocasiões em que as batalhas ocorreram a menos de 20 km dos locais da filmagem.

• Muitos pilotos das forças armadas filipinas, que participavam do filme, tinham que abandonar o trabalho de filmagem para combater a guerrilha, o que levava as cenas a serem ensaiadas várias vezes.

• Além do calor da selva, atores e técnicos sofriam com um roteiro constantemente reescrito por Coppola.

• Joseph Conrad, autor do livro, esteve no interior do Congo Belga, trabalhando para uma empresa de exploração de marfim. Mas não é certo que tenha encontrado o Sr. Kurtz.

• Os seguidores de Kurtz são interpretados por ex-caçadores de cabeças da tribo ifugao, de Banue, no Norte das Filipinas.

• O tufão Olga atingiu as Filipinas, matando mais de 200 pessoas e destruindo os cenários do filme. Os trabalhos tiveram que ser suspensos por dois meses.

• Assim que terminaram as filmagens, o governo filipino pediu a Coppola que destruísse o imenso cenário do complexo de Kurtz. Enquanto o cenário estava sendo explodido, o diretor fez a filmagem. O que levou muita gente a imaginar que o filme tinha dois finais.

• A contratação de Marlon Brando foi criticada pelo alto salário de seu cachê (um milhão de dólares), mas não só a sua estatura de ícone foi muito importante para o filme assim como a sua voz, estabelecendo o tom definitivo do enredo.

• O poema, Os Homens Ocos, declamado por Kurtz, é do poeta americano T.S. Eliot.

• A trilha sonora de rock-n`-roll abre e fecha com “The End” na interpretação do The Doors e inclui DJ`s em rádios transistores (Bom dia, Vietnã!).

• A trilha sonora mostra como os soldados tentam utilizar a música norte-americana, a bebida e as drogas como um instrumento para minorar a solidão e a ansiedade.

• Durante a produção de Apocalypse Now, a mulher de Coppola, Eleonor Coppola, fez gravações secretas do marido a respeito de suas dúvidas e do seu desânimo quando o projeto do filme ameaçava afundá-lo. O filme foi de agonia e alegria para o diretor e produtor. Dizem que ele ameaçou suicidar-se por várias vezes durante as filmagens.

• “Charlie” é como os americanos chamavam os guerrilheiros vietcongues que lutavam pela unificação do Norte comunista, com o Sul, que era apoiado pelos Estados Unidos.

• Com o orçamento e cronograma estourados, Coppola ainda queria mudar o final da história, adiando mais a participação de Marlon Brando, que ameaçou abandonar a produção sem devolver o milhão de dólares que recebera adiantado.

• Martin Sheen (capitão Willard) sofreu um infarto agudo durante as filmagens, chegando a receber a extrema unção. Seu irmão Joe Estevez substitui-o, filmando de costas, em planos abertos, em parte da gravação. Mas Martin Sheen recuperou-se e voltou para filmar seus closes.

• Quando Brando chegou para filmar, ao contrário do que prometera, não havia perdido peso. Coppola e o diretor de fotografias filmaram-no na penumbra, e muitas cenas foram rodadas com monólogos improvisados. Brando, contudo, alegou que ele aparecia na penumbra para restaurar o caráter misterioso de seu personagem.

• O intervalo de 3 anos, entre o início da produção e a sua estréia, foi bem tumultuado: tufão, estouros de orçamento, infarto de Martin Sheen, a falta de preparo de Marlon Brando, a necessidade de os helicópteros da Força Aérea filipina abandonar as filmagens para combater os guerrilheiros e a quase falência da produtora American Zoetrope.

• O filme tem duas versões. A segunda, feita em 2001, chama-se “Apocalypse Now Redux” e tem 210 minutos, 60 minutos a mais de cenas adicionais. Esta versão foi reeditada pelo próprio Francis Ford Coppola.

• Em 1979, Apocalypse Now, com a montagem ainda em andamento, foi exibido no Festival de Cannes e levou a Palma de Ouro.

Cenas imperdíveis:

• A canção do início do filme, com cenas de um incêndio na floresta, provocado por um ataque estadunidense de bombas napalm, sendo repetida numa versão diferente no final do filme (morte do Coronel Kurtz), é The End, um dos maiores sucessos da banda de rock The Doors.

• Uma cena em que os helicópteros atacam um vilarejo no Vietnã, liderados pelo tenente-coronel Kilgore (Robert Duvall) ao som das Cavalgadas das Valquírias, retransmitidas por alto-falantes no volume máximo por seus atiradores, enquanto esses arremetiam contra um pátio de uma escola infantil.

• Robert Duvall (Kilgore) recebeu uma indicação para o Oscar por esta atuação e pela sua inesquecível fala: Adoro o cheiro de napalm pela manhã.

• Uma cena memorável ocorre, quando Chef (Frederic Forrest), um dos tripulantes, insiste em adentrar a selva para procurar mangas. O capitão Willard não consegue fazê-lo desistir, então acaba por acompanhá-lo. O fotógrafo Vittorio Storaro mostra-os como pequenas partículas humanas aos pés de árvores imensas. Vê-se como o homem não é nada diante da natureza.

• A sequência de cenas em que o barco-patrulha para um barco de pesca com uma família a bordo. Uma jovem, para proteger seu cachorrinho, faz um súbito movimento, e o agitado atirador abre fogo, varrendo a família inteira. Como a mãe ainda não morrera, o chefe do barco-patrulha quer levá-la para ser medicada. O capitão Willard dá-lhe o tiro de misericórdia, pois nada pode reter a missão. Ele e o “Chefe” são os dois únicos militares de carreira no barco, e precisam obedecer ao manual.

• Martin Sheen, devido a um problema de nascença, tem o braço esquerdo mais curto do que o direito e tem dificuldade para movê-lo. Em diversas cenas ele segura o rifle com a mão direita. Observem.

• A cena do quarto de hotel, em que o capitão Willard mostrava-se alcoolizado, foi quase que totalmente improvisada. O ator Martin Sheen estava bêbado de verdade. Quando socou o espelho, cortou a mão, mas não quis parar o filme.

• Harrison Ford, ainda iniciando carreira, faz o coronel Lucas, logo no início do filme. Mas Guerra nas Estrelas foi lançado dois anos antes de Apocalypse Now, transformando-o num astro consagrado.

• Francis Ford Coppola aparece numa cena, gritando para os soldados não olharem para a câmara.

• As cabeças “decapitadas”, vistas em cenas, são de figurantes enterrados até o pescoço em caixas. Eles ficavam nessa posição de 8 a 18 horas. No intervalo das filmagens eram protegidos pelos assistentes com sombrinhas.

• Marlon Brando, que aparece somente na parte final do filme, sendo que seu personagem só é mostrado em tomadas escuras, a fim de disfarçar a sua obesidade, trouxe ao coronel Kurtz um ar sombrio e enigmático. As cenas são excelentes.

Fonte de pesquisa:
Cinemateca Veja
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
1001 Filmes….

6 comentaram em “Filme – APOCALYPSE NOW (Parte I)

    1. Lu Dias Carvalho Autor do post

      Victor

      Já estou curiosa para ver essa versão. Agradeço a sua presença e comentário.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  1. Guilherme

    Lu
    Achei a primeira parte! Incrível sua resenha, mais uma vez me fez ter alguns bons minutos ao longo do dia!

    Abraços

    Responder

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