Autoria de Lu Dias Carvalho
O azul é cor preferida pela maioria das pessoas. Possui mais de uma centena de tons diferentes. Mas esta cor possui uma história bem interessante, que poucos conhecem, já tendo, inclusive, ocupado um dos piores lugares na paleta de cores. Comecemos por seu uso na pintura, retroagindo ao primeiro século após o nascimento de Cristo, época em que nenhuma pessoa importante usaria um manto azul. Isso porque, na hierarquia das cores, essa maravilhosa tonalidade ocupava um lugar muito baixo. Bem acima dela pairavam as cores branca, preta e vermelha, que eram as prediletas dos gregos e romanos, encontrando-se sempre presentes em suas vestes e ornamentos. Elas predominavam na imensa maioria das representações artísticas do início do período medieval. Isso se dava, sobretudo, pela facilidade com que pigmentos, que resultavam em tais cores, eram encontrados. Sabe-se, no entanto, que os povos egípcios já tinham conhecimento de um pigmento da cor azul há mais de cinco mil anos atrás. Contudo, esse tinha que ser misturado ao lápis-lazúli, o que trazia muitos empecilhos para a obtenção do tom desejado.
Através de estudos dos afrescos encontrados na cidade italiana de Pompeia, soterrada pelo vulcão Vesúvio, o azul mostra-se tão insignificante, a ponto de aparecer, quase sempre, no fundo da composição. Os gregos desprezavam o azul, dizendo que ele não fazia parte do arco-íris, enquanto os romanos associavam-no a certas inconveniências, como a cor dos olhos dos bárbaros do norte, enquanto Públio Cornélio Tácito — historiador e político romano — apregoava que os povos celtas e germânicos pintavam o corpo de azul com a finalidade de amedrontar os inimigos. A associação do azul aos bárbaros por parte dos romanos, na Antiguidade deveu-se também ao fato de os segundos usarem uma planta conhecida como “pastel de tintureiro”, ou simplesmente “pastel”, (Isatis tinctoria), cujas folhas eram fermentadas, produzindo um corante azul, usado tanto na tinturaria quanto na pintura. Assim, vestimentas azuis passaram a simbolizar a barbárie.
No início da Idade Média, o vermelho era a cor usada pelos nobres, enquanto os servos vestiam-se de azul. É provável que o modo como se extraia o extrato da Isatis tinctoria para a tintura das roupas tenha servido de asco para a nobreza, jogando o azul no rol das cores indesejáveis. As folhas da planta eram fermentadas em urina humana. Mas ao tomarem conhecimento de que o álcool apressava a transformação, os tintureiros passaram a fazer uso de bebidas alcoólicas, por esperteza ou ignorância, sob o pretexto de que a urina ficaria rica em álcool e apressaria o processo de fermentação. É por isso que a expressão alemã “blau werden” (ficar azul) tem o mesmo significado de “ficar bêbado”.
Sendo o andar da história cíclica da humanidade, num sobe e desce sem fim, o azul passou a galgar poderes, desbancando as outras cores. A partir de 1200, essa cor tomou seu lugar de majestade ao ser usada nas vestes da Virgem Maria. Os reis também passaram a usá-la em seus casacos cerimoniais. Os tons intensos de azul passaram a fazer parte de muitas pinturas, sendo destinados aos temas nobres. Tratava-se de um pigmento valiosíssimo e brilhante, retirado de uma rocha denominada “lápis-lazúli”, também conhecida como “lápis azul”. Durante o século VI, o uso do azul-ultramar espalhou-se por toda a Europa, chegando tal rocha a ser mais cara do que o ouro, podendo poucos artistas usá-la. Mais tarde, ao atingir as Índias, já no século XV, os europeus tiveram acesso ao pigmento denominado “índigo indiano”, obtido de uma planta. Depois veio o pigmento “azul da prússia” ou “azul prussiano”, descoberto acidentalmente na Alemanha, em 1704.
Ilustração: obra do pintor Henri Matisse
Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
https://en.wikipedia.org/wiki/Blue
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