Recontado por Lu Dias Carvalho
Baco, conhecido como o deus do vinho, era filho adotivo de Sileno, que era também muito chegadinho ao vinho, passando muitas vezes dos limites. E foi assim, totalmente embriagado, que perdeu o caminho de casa. Andando ao léu, foi dar numa vila, onde os camponeses, penalizados, levaram-no ao rei Midas, que o reconheceu, deixando-o em sua companhia durante 10 dias e noites, tratando-o com grande amabilidade. Estando Sileno totalmente recuperado da bebedeira, levou-o até seu filho Baco, que ficou bastante agradecido com tamanha gentileza. E como gentileza gera gentileza, a história prossegue…
Em razão da hospitalidade dispensada ao pai, Baco quis presentear Midas com a recompensa que lhe aprouvesse. Esse não tardou a expressar o que desejava: tudo que tocasse fosse transformado em ouro. Com certeza, o ambicioso rei não deu conta do destino que o aguardava. Se pensasse duas vezes não teria sido tão tolo. Mas, ainda que insatisfeito com o pedido, o deus do vinho não teve como voltar atrás. E assim foi concedido a Midas o presente almejado, partindo ele feliz da vida para o seu castelo.
Pouco havia se distanciado do palácio de Baco, quando Midas quis botar à prova o recém-adquirido poder. Tomou um punhado de terra nas mãos e viu-o, estupefato, transformar-se num montinho de ouro. Precisava testar mais uma vez para ter certeza absoluta. Puxou um galhinho de uma árvore e esse também se transformou em ouro. Ficou deslumbrado. Chegou a seu palácio faminto e cheio de uma incontida alegria. A mesa já se encontrava posta com inúmeras iguarias, com os comensais a esperá-lo. Como sempre, gostava de começar pelo pão com carne de vitela, acompanhados de uma taça de vinho. Mas que horror! O pão havia se transformado num pedaço de ouro e o vinho convertido em ouro líquido, para assombro dos presentes. Desesperou-se! Não era bem daquele jeito que queria.
Midas precisava encontrar uma saída para tal flagelo provocado pela sua ganância e sede de poder. Sua penúria fazia-se cada vez mais visível. Precisava livrar-se daquilo que tanto desejara. Tinha a certeza de que se isso não acontecesse, morreria por definhamento, pois tudo em que punha as mãos transformava-se em ouro. Só lhe restava pedir misericórdia àquele que o beneficiara com o dom pedido. Seria vexamoso, pois poria à vista sua estupidez, mas não havia outra saída. E foi assim que clamou a Baco, em altos e chorosos brados, para que dele tivesse pena, tirando-lhe tal capacidade. O deus, penalizado, aconselhou-o a ir ao Rio Pactolo, até a fonte onde ele ganhava vida, e ali mergulhasse todo o corpo, incluindo a cabeça. Assim fazendo, estaria redimindo-se da culpa e do castigo que recebera.
Ao entrar nas águas do Rio Pactolo, o rei Midas presenciou suas areias transformarem-se em ouro. Ao dali sair, voltou à sua condição antiga. Passou a odiar a riqueza e o luxo, escolhendo o campo, como morada, bem longe dos prazeres da cidade. Tornou-se tornou devoto do deus Pã, responsável pelos campos, rebanhos e pastores.
Nota: A Mesa do Rei Midas , obra de Frans Francken II, o Jovem
Fontes de Pesquisa
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM
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