O TRABALHO E O ÓCIO NA ANTIGUIDADE

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem servos, artesãos e operários especializados; estes últimos não serão cidadãos, se a Constituição conceder os cargos públicos à virtude e ao mérito, pois não se pode praticar a virtude levando uma vida de operário ou trabalhador braçal. (Aristóteles)

Sou melhor que Esquines e mais bem nascido; não gostaria de dar a impressão de insultar a pobreza, mas devo dizer que meu quinhão foi, quando criança, frequentar boas escolas e ter bastante fortuna para que a necessidade não me obrigasse a trabalhos vergonhosos. (Demóstenes)

Todo trabalho é sórdido e indigno de um homem livre, pois constitui o preço do trabalho e não de uma arte. (Panaitios)

Na Antiguidade, ao contrário de nossos dias, a ociosidade era vista como um mérito, um privilégio de poucos. A classe de notáveis, numa cidade, era composta por aqueles que viviam em permanente ociosidade. O trabalho, por sua vez, não era digno de respeito, sendo o trabalhador visto como uma pessoa socialmente inferior e, por consequência, ignorante. Os verdadeiros cidadãos eram aqueles que não trabalhavam, donos de mãos lisas que jamais mostravam a presença de um calo, portanto, aos ociosos cabia a possibilidade de ocupar os cargos públicos, pois eles tinham tempo para pensar, ocupando-se de tarefas dignas. Assim pensavam os ricos.

O aclamado filósofo Platão pregava que o ideal era que “os cidadãos fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos”, cabendo, portanto, à gentalha a execução dos ofícios. O homem de bem, classificado como cidadão, deveria levar uma vida de ociosidade, vivendo apenas da renda de seus bens. Aristóteles, outro filósofo, por sua vez, achava que a felicidade só era propícia àqueles que possuíssem meios de organizar a própria vida, ou seja, aos ociosos, pois somente eles viviam moralmente de acordo com o ideal humano, e, portanto, eram cidadãos em sua totalidade. A pobreza era vista como um defeito e os pobres tachados de moralmente inferiores, cuja missão era a de servir humildemente seus superiores.

A ojeriza ao trabalho era tão grande, que Plotino, o místico, preconizava que “A massa dos trabalhadores braçais é uma desprezível multidão, destinada a produzir objetos necessários à vida dos homens virtuosos.”. A alegação era a de que, ao ter que produzir para os ociosos, o trabalhador não era dono de seu tempo, sendo incapaz de pensar por si só. Assim sendo, jamais poderia ser visto como um homem virtuoso. Ao contrário de hoje, a virtude não se encontrava no trabalho, mas na indolência. Como os tempos mudam!

É bom lembrar que, naqueles tempos, a riqueza era relativa à posse de terras, os chamados “bens de raiz”. O comércio só era visto com bons olhos quando levava o indivíduo a adquirir terras. Assim falava o filósofo, escritor e político romano Cícero sobre o comércio: “O comércio é sórdido, se não passa de um pequeno comércio em que só se compra para revender diretamente; mas sendo um alto negócio, grande comércio, nada mais tem de muito desprezível.”.

Nota: Jardim de Hortas, obra de Vincent van Gogh

Fonte de pesquisa
História da Vida Privada I/ Editora Companhia das Letras

2 comentaram em “O TRABALHO E O ÓCIO NA ANTIGUIDADE

  1. Adevaldo Rodrigues

    Lu,

    Este foi o erro da classe dos notáveis e filósofos, pois a burguesia passou, em pouco tempo, a dominar a economia, os governantes e tudo mais.
    Abraço,

    Devas

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Devas

      Com isso a burguesia foi ganhando cada vez mais espaço, até assumir o controle de tudo. Você tem razão.
      Abraços,

      Lu

      Responder

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