Autoria de Celina Telma Hohmann
Dentre todas as minhas dificuldades, eu, Celina, digo que dizer “Não!” é, com toda a certeza, a maior delas. Dizer “não” é como virar as costas e isso nos parece (a nós que não sabemos fazê-lo) um não ser útil, um deixar de ser necessário, um ser mesquinho, e por aí vai… Confesso do alto do estressante gasto energético até às mal dormidas noites, constantes e cansativas, frutos do sempre dizer “sim”, como se fosse uma espécie de fantoche ou marionete, que vivo às voltas com raivas contidas, sensações de ser tola e terrivelmente ingênua em razão desse muitas vezes inoportuno advérbio afirmativo.
Lembro-me pouco da infância – somente do que quero me lembrar – e muito da fase em que comecei a tentar agradar todo mundo. E na arte final do “sim”, sempre me dou conta de que esse servirá apenas a quem pediu o favor, ou extrapolou o direito do uso. O “sim”, ao final, a quem o teve, perdeu o valor logo após sua cessão, e a nós, os concessores habituais, deixou um gosto ruim de mais uma vez ser usado, na imensa maioria das vezes. Baixa autoestima? Com certeza! É como se dizer “não” nos tornasse seres ruins, frios, indiferentes. Ledo engano, nosso!
Nem sei mais por quantas vezes fui ultrajada, literalmente, no uso do bendito “sim”! Mas sempre há aquele medo de dizer o “não”, que a mim nem dá tempo de pensar nele, pois afoita que sou, nem me pedem e já me proponho… Pensam que nos chamam de bonzinhos? Nada disso! No nosso primeiro “não” vêm as caras fechadas. E com elas a nossa insegurança de não estar sempre à disposição. É um perigo esse jogo! Mas vivo nele e claro, sou perdedora contumaz, como se fosse uma corda que enlaça delicadamente e depois aperta e sufoca. Assim vivo eu e os que sempre dizem “sim”, enredados num caminho que mais dói que faz bem!
Dizer “sim” todo o tempo é uma patologia, com certeza! É a necessidade de agradar, ou vergonhosamente de dizer: “Claro!”, “Eu posso!”, “Eu faço!”, “Pode deixar!” e por aí vai, como se fazendo isso, nós, os da turma do “sim”, nos fizéssemos amados ou superiores, querendo mostrar que somos capazes de ajudar e absolutamente incapazes de virarmos as costas às pessoas.
Eu sou uma lerda, assumida! Nessa do não saber dizer “não”, levam junto até minha pressuposta inteligência, pois há vezes em que me mentem para que eu diga “sim”, e descubro depois, mas aí o estrago já foi feito. Tenho histórias ruins das inúmeras vezes em que o meu “sim” deu-me rasteiras, deixando em mim a sensação de ser tola por ter sido passada a perna por aquilo que eu julgava ser bondade.
“Não se comprometa, se não pode fazê-lo. Só faça aquilo que se sinta capaz em sua execução.”, dizem os livros de autoajuda. O fato é que eu nem penso se posso ou não posso. Pediu? Levou! E adivinhem quem sofre as consequências? Enquanto esse ou aquele se livra da própria tarefa, estou eu com as costas ainda mais curvadas pelo excesso. E foi-se meu dia com minhas prioridades. A cara de tacho deve ficar bem aparente, pois percebo que naquela incapacidade de dizer “não”, eu corri, fui atrás, fiz e desfiz, e do que era meu e necessário, ficou só o cansaço.
Por tudo isso, num determinado período de minha vida, eu comecei a afastar-me das pessoas. Foi um escapismo para não ter que aceitar o que não devo assumir. No serviço, não por medo do chefe, mas pela necessidade de provar que tudo podia, fui sempre a que estava sempre à disposição, quer fosse no período normal de trabalho ou até mesmo às quatro horas da manhã, afinal, eu “precisava” fazer. Precisava nada! Metia os pés pelas mãos e, enquanto os demais dormiam tranquilos, ganhando seus salários habituais, eu passava noites em claro, também ganhando meu salário habitual.
Nós, os viciados no “Sim!”, temos consciência de que é preciso dizer “Não!”, “Não quero!”, “Não posso!”, “Não farei isso!”, mas desde que não nos peçam nada. Se nos pedem, esquecemo-nos de tudo, e lá vamos nós, deixando para trás nossos afazeres e alertas que jamais cumpriremos! Necessitamos de tratamento!
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Lu
Não devemos dizer “sim” a tudo. Por eu dizer sim a tudo ferrei-me. Saber dizer “não” é muito importante, temos que saber dizer “não”, quando necessário.
Abraços
Rui
Como diz um velho conselho “nem tanto ao mar e nem tanto à terra”, ou seja, devemos cultivar o equilíbrio em tudo. Saber dizer “não” em certos momentos é necessário para a nossa vida. Acabamos aprendendo isso depois de muito sofrimento, mas o importante é o agora.
Abraços,
Lu
Miss Celi
Quando encontrar tratamento para essa sua patologia, por favor, envie-me a receita, pois me encontro no rol dos atoleimados, que adoram dizer “sim”, ainda que seus afazeres sejam mais urgentes. Se há gente que não aprendeu dizer “Adeus”, eu confesso que não aprendi dizer “Não!”. Parece até que você se inspirou em mim para escrever.
Parabéns pela coragem de confessar esse seu pecadilho, que nada mais é do que uma milésima parte do meu… Risos. Encontramo-nos na mesma “Nau dos Insensatos” de Bosch…, embora nossa loucura divirja da dos ali presentes.
Abraços,
Lu
Lu, do céu, somos do time dos atoleimados, mesmo! Se alguém encontrar a receita para a capacidade de dizer “não”, que nos avise, afinal, somos uma espécie ainda ativa, rs.
E estranho, o dizer “Adeus” na verdade nem dói. É um ciclo natural. Mas o “não” maltrata e oprime e, confessemos, em nossa boa filosofia do que é uma vida saudável e coerente, nós nos apoiamos numa barreira que aos outros é fácil de livrar-se: “não posso, pelos motivos tais e tais…” Simples,direto e justo! Um dia aprenderemos, e deixaremos a “Nau dos Insensatos” para viver sem o terror do sempre”sim, sim, sim…”
Abraços!
Celina
Compreendo e muito bem o seu excelente texto. É desagradável dizer “não”. Mas podemos fugir do “sim”, de uma forma, por vezes, elegante, sempre sorrindo, mas deixando claro que será difícil realizar o pedido, em virtude disto ou daquilo, desculpando-nos.
Sempre procuro auxiliar as pessoas, mesmo aquelas que não pedem. Um amigo que está doente e posso visitá-lo. Alguém carente que posso auxiliar com, pelo menos, o almoço do dia. A pessoa abandonada na calçada da vida, que passa frio e sofre as agruras de seu sofrimento, ofertando-lhe tal um cobertor, um afago agradável, um ajudar a levantar. E aí o “sim”, embora nem pedido, faz-nos feliz.
Temos que dizer “não” quando não podemos realizar nossa tarefa, narrando a impossibilidade, e dizer “sim” para os amigos, dentro da nossa possibilidade. Sei que é um drama que todos passamos, porém sempre me conduzi assim.
Edward, considero-o um herói em favor de si mesmo! Pessoas sensatas agem assim, dando lugar ao seu lado bom nas situações necessárias. Como citei, sou atropelada por mim própria e isso cansa! A inteligência deveria imperar, agindo como alívio para a observação do que nos faz bem e ao que nos faz mal. Mas essa capacidade passou ao largo em minha vida. Vejo pessoas como você, que se dão o direito de dizer o “não” sem carregar uma culpa enorme. Admiro, pois são justas consigo próprias!
Ainda vagueio pela não coragem de assumir o “sim”. Perambulo desnorteada quando me pedem algo, e não aprendi, absolutamente, a impor o limite necessário. Fiz um caminho inverso para fugir do “sim”: escondi-me, deitei fora coisas que possuía por sempre cedê-las e ao recebê-las de volta – quando acontecia – voltarem detonadas. E mesmo percebendo o erro e o quanto me faz mal, ainda não estou liberta das presas do tal “sim”.
Continue com sua forma gentil e certeira em agir.Tentarei, com o tempo, afinal ainda há tempo, aprender a dizer NÃO, sem sentir-me com uma culpa do tamanho da comprovada incapacidade que ainda me prende a assumir tudo que cabe também aos outros, e não obrigatoriamente a mim.
Um abraço!