Os provérbios existentes em todas as culturas valorizam a presença dos filhos na vida dos pais. Eles são vistos como suporte para seus genitores principalmente na velhice. Contudo, em algumas culturas a diferença entre menino e menina é bem clara, como veremos a seguir.
Os tibetanos chegam a afirmar que “um filho não é a mesma coisa que uma filha”, ou seja, ele é muito mais desejado. Embora se saiba que a mulher é de fundamental importância para uma cultura, inclusive na descendência e criação de novos indivíduos, o nascimento de uma menina tem sido preterido em muitas delas. Tal postura contribui para colocar a fêmea humana à margem das decisões sociais e políticas da sociedade em que vive, uma vez que é vista como um indivíduo inferior.
Diz certo provérbio que “Quem não tem o que se ama, ama o que se tem”, portanto, não havendo outra saída, a garota indesejada é recebida, mesmo que a contragosto, pelos pais. Mesmo assim, ela continua vítima da mordacidade dos provérbios populares nas culturas machistas. Os chineses dizem que “Num tanque sem peixes salvam-se os girinos”, ou ainda, “Na falta de mercúrio, a argila serve”. Tais provérbios poderiam ser traduzidos como “Quem não tem cão caça com gato” em sua modalidade atual. Outros ditos populares acompanham a malícia em relação ao nascimento de meninas, mas também é possível pinçar aqui e acolá alguns provérbios que fogem à regra, ainda que se tenha que ler, nas entrelinhas, certo tipo de consolo:
- A filha mais velha é a ama dos irmãos. (Prov. vietnamita)
- Bendita a casa em que a filha nasce antes do filho. (Prov. judaico)
- É melhor dar à luz uma boa filha, e depender de um genro, do que parir um mau filho. (Origem desconhecida)
- Primeiro uma filha, depois um filho, e então a família. (Prov. estadunidense)
- Uma boa filha equivale a dez filhos, se achar um bom noivo. (Prov. bengali)
- Uma família sem uma única filha é como um fogo apagado. (Prov. coreano)
As sociedades que trabalham com essa diferença arcaica entre o sexo masculino e o feminino partem do pressuposto de que “A casa paterna é território dos rapazes e restaurante das moças”, como apregoa um provérbio chinês. Alegam que, ao casar-se, a jovem passa a pertencer à família do marido, enquanto o moço fica permanentemente ao lado dos pais, zelando por eles. Um provérbio coreano chega a ser mais rude ao rezar que “A jovem que se casa perde o parentesco”, pois seus filhos não são considerados como descendentes de sua família original, passando a fazer parte do clã do marido. E, como se não bastasse a negação por parte da própria família, a esposa, muitas vezes, também não é aceita pelo clã do marido, sob a alegação de que “A mulher não é parente de ninguém”, como alerta um provérbio mongol. Mulheres que vivem em culturas deste tipo são, certamente, frágeis e vulneráveis, repassando para suas filhas a mesma insegurança, numa cadeia continuada que só tende a enfraquecer a própria sociedade em que se encontram.
O que fica patente nessas culturas é o desprezo pela mulher, pelo fato de essas não serem provedoras, limitando-se apenas a manter a casa e a criar os filhos, como se tais funções desmerecessem-nas. O mesmo aconteceu com as mulheres de vários países, hoje tidos como civilizados, quando eram apenas “donas de casa”. Ao assumirem funções de trabalho fora do lar, elas passaram a ser vistas com respeito. Quanto ao fato de a mulher casar-se em determinadas culturas e passar a fazer parte da família do marido, o que vemos no Ocidente é o contrário. Reza um provérbio bem conhecido que “Quando um homem se casa, a família da mulher ganha um filho e a sua perde um”, pois a filha acaba sempre levando o marido para sua família, com a qual mantém maior contato. O ideal é que ambas as famílias se enriqueçam com o novo membro, seja ele homem ou mulher.
Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel