LEI DE TALIÃO: OLHO POR OLHO…

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O provérbio “Olho por olho, dente por dente” tem a ver com a Lei de talião, também conhecida como Pena de talião (Aurélio: Pena de talião. 1. Pena antiga pela qual se vingava o delito, infligindo ao delinquente o mesmo dano ou mal que ele praticara. 2. Aplicação ou imposição dessa pena. Também se diz apenas talião; sin. ger.: lei de talião, retaliação, talionato. — Atenção: escreve-se “talião” com minúscula, pois não é nome próprio).

Segundo a Lei de talião, se um crime é cometido, ele deve ser pago do mesmo modo que foi perpetrado. Também pode ser explicado com o provérbio popular “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Contudo, a verdade não era bem esta, pois os endinheirados e poderosos não eram sujeitos a tal rigor.

O Código de Hamurabi traz os primeiros sinais da Lei de talião, aplicada na sociedade babilônica. Mas, como vimos, as penas não funcionavam tal e qual apregoava o código. Antes de impô-la, olhava-se primeiro qual era a classe social do criminoso e da vítima. Ou seja, para alguns era apenas olho pelo perdão, ou um dente por uma pequena multa. Não era fácil pertencer às classes menos favorecidas naqueles tempos e também não é fácil ser “parte do povo” nos dias de hoje. Tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, apenas com uma vírgula aqui e outra ali.

Segundo alguns, a Lei de talião tinha como objetivo evitar que punições desmedidas fossem aplicadas em razão de um crime, sem levar em conta a sua gravidade, ou seja, sem levar em conta o princípio da reciprocidade. Tudo estaria nos conformes, se não se olhasse a classe social da vítima e a do réu. Podemos ver tal discrepância da referida lei em alguns artigos contidos no Código de Hamurabi:

Art. 195. Se um filho bater num pai, terá a sua mão cortada.
Art. 196. Se um homem destruiu o olho de outro homem, também terá o seu olho destruído.
Art. 200. Se um homem livre arrancou um dente de outro homem livre, também terá o seu dente arrancado.
Art. 209. Se um médico causou a morte de um escravo, ele deverá restituir um escravo semelhante ao que morreu.
Art. 229. Se um pedreiro não edificou direito uma casa e ela caiu, matando seu dono, ele será morto.
Art. 230. Se o pedreiro causou a morte do filho do dono da casa, o seu filho também será morto.
Art. 231. Se o pedreiro causou a morte do escravo do dono da casa, ele terá que ofertar um escravo semelhante ao dono.
Art. 232. Se o pedreiro ocasionou a perda de bens móveis, ele deverá repor tudo, além de reconstruir a casa com seus próprios recursos.
Art. 245. Se um homem alugou um boi e causou a sua morte por negligência, o proprietário receberá um boi de igual valor.

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DO TEMPO DO ONÇA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Dias atrás, fui com uma amiga tomar um chá na casa de sua avó. Era aniversário da falante senhora, com seus olhinhos vivos e brilhantes. Aos 96 anos de idade, ela ainda é bastante lúcida e ativa. Contou-me casos de sua mocidade e da paixão que nutriu por Getúlio Vargas, seu ídolo, assim como Kirk Douglas e John Wayne. Depois, levou-me até o porão da casa, onde baús, malas e caixas jazem esquecidos pelo tempo. Começou a abrir os mais importantes para ela e a contar-me casos referentes aos objetos que neles se encontravam. Foi uma viagem fantástica ao tempo do onça, pois ali estavam objetos pertencentes a três gerações: da avó, da mãe e dela.

É bom conversar com pessoas que viveram numa época desconhecida da nossa e que, por sua vez, sabem de histórias anteriores ao tempo em que viveram a sua mocidade. Há momentos em que temos a impressão de que se trata de um outro planeta, tamanhas são as mudanças, se comparadas, principalmente, às invenções tecnológicas dos dias de hoje. Lembro-me de meu avô que sempre começava seus casos referindo-se ao tempo do onça. Ele morreu, quando eu ainda era criança, mas, mesmo assim, as lembranças são muito fortes. Naqueles tempos em minha cabecinha ingênua eu imaginava que ele falava de uma época em que havia muitas onças espalhadas pelas ruas, cidades e matas. Só não entendia o porquê de ele não dizer no tempo das onças.

A expressão “do tempo do onça”, segundo contam, tem suas raízes em Luís Vahia Monteiro — governador e capitão geral da Capitania do Rio de Janeiro, entre 1725 e 1732. O homem era um velho militar com pecha de honesto, mas muito autoritário e extremamente ranheta. Reclamava de tudo e de todos nas cartas que escrevia ao rei português. O fato é que seu temperamento indócil acabou lhe trazendo o apelido de “Onça”. Ao ser tirado de seu cargo, passou a ser usado como sinônimo de coisa antiga, ultrapassada, em desuso. E foi aí que nasceu a expressão  “do tempo do Onça”, ou seja, referente ao período em que o “Onça” estava no comando. Há também quem afirme que a expressão esteja ligada a um outro “Onça”, certo chefe de polícia de Pernambuco que também viveu no século XVIII e foi apelidado de “Onça” em razão de sua coragem e temperamento violento.

— Nesta terra todos roubam; só eu não roubo — declaração feita em carta ao rei de Portugal por Luís Vahia Monteiro.

Segundo um amigo, estudioso das expressões idiomáticas, a expressão “do tempo do onça” tem significado semelhante a duas outras conhecidas por ele: “do tempo do ronca” e “do tempo de vovó mocinha”.

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A SAIA DO PAVÃO (Aula nº 91 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Aubrey Vincent Beardsley (1872–1898) foi um agente de seguros inglês que sempre sonhou com a carreira artística. Foi incentivado por Sir Edward Burne-Jones, artista britânico e designer, depois que esse viu seus desenhos. Não demorou a ser reconhecido como artista. Tornou-se editor de arte da revista literária trimestral “The Yellow Book”, cargo que teve que deixar mais tarde por causa de seu trabalho com o escritor Oscar Wilde.

A composição intitulada A Saía de Pavão é uma obra do artista. Faz parte de uma série de ilustrações criadas por ele para a peça “Salomé” de Oscar Wilde. Em sua arte Beardsley deixa claro o fascínio que nutria pela moda feminina, aqui vista através de linhas simples e envolventes da vestimenta, no bem trabalhado adorno da cabeça e na parte de baixo do vestido.

As duas figuras presentes são andrógenas. A que está voltada para o observador tem os joelhos visivelmente masculinos. As penas de pavão são um emblema da Arte Nova (Art Nouveau) na transformação das formas naturais, aqui representadas de forma decorativa e de um efeito estilizado.

Os desenhos da saia de Salomé são semi abstratos, remetendo às penas do pavão. Atrás de Salomé encontra-se um segundo pavão que diz respeito a uma passagem da peça, ou seja, após dançar para Herodes, esse a presenteia com sua coleção de pavões em troca da cabeça de João Batista. O artista mostra a ave por inteiro, usando linhas curvas. Este medalhão decorativo tem por objetivo destacar o ar de mistério da composição.

Ficha técnica
Ano: 1892
Técnica: nanquim e grafite sobre papel
Dimensões: 23 cm x 17 cm
Localização: Museu de Arte de Harvard, Cambridge, EUA

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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A VOZ DO DONO

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Autoria de Lu Dias Carvalhotambor1

Segundo o escritor Reinaldo Pimenta em seu livro A Casa da Mãe Joana, a expressão a voz do dono é de origem inglesa (His master’s voice), tendo surgido no século no século XV ou XVI, a partir de um fato verdadeiro, abaixo relatado.

Um cãozinho perdido na rua fora encontrado pela amiga da esposa do político e escritor inglês Sir Thomas More (1478-1535) que acabou dando de presente à senhora More o animalzinho. Já bem apegada ao cão, a esposa de Sir Thomas More surpreendeu-se, certo dia, com a visita de um mendigo que se dizia dono do animal.  Como saber se aquele homem estava falando a verdade?

Sir Thomas More teve uma brilhante ideia. Postou sua mulher num canto da sala e o mendigo no outro. No meio colocou o cão. Pediu então aos dois que chamassem o animal ao mesmo tempo.  O bichinho não titubeou, dirigiu-se ao mendigo, reconhecendo a sua voz. More presumiu, portanto, que o animal reconheceu a voz do dono. Embora com o coração cheio de tristeza, a senhora More  entregou o cão ao mendigo. Mas o dono do animal, ao receber uma moeda de ouro, deixou o bicho com a mulher, talvez por saber que ela poderia lhe dar uma vida melhor, ao invés de o bichinho ficar perambulando pelas ruas com ele.

Não resta dúvida de que os animais reconhecem a voz e o cheiro de seus donos e, sobretudo, são guiados pelo amor que recebem e que sentem por eles, sem jamais indagarem sobre a classe social a que pertencem, ou pedirem algo em troca. É muito comum nas grandes cidades encontrar os mendicantes com seu animalzinho ao lado. Apesar da vida sofrida que leva, ele jamais abandona seu dono. Vejam a ternura que emana da foto acima, tirada na rua de uma grande capital brasileira.

Fonte de pesquisa:
A Casa da Mãe Joana / Reinaldo Pimenta

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NOVO ESTILO – ART NOUVEAU (Aula nº 91)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

       

O estilo denominado Art Nouveau — termo que em francês significa “Arte Nova” — floresceu nas últimas décadas do século XIX. Trata-se de um estilo artístico que se fez presente nas artes gráficas, artes plásticas, artes decorativas, design, arquitetura e escultura. Materiais como cerâmica, madeira, ferro, vidro e cimento foram muito usados por tal estilo.

O termo Art Nouveau em Paris dizia respeito ao nome de uma loja. Na Itália era conhecido por Stile Liberty, nome de uma loja de departamento inglesa. Na Alemanha recebia o nome de Jugendstil em razão do jornal moderno de nome Die Jugend. O maior impacto deste estilo versátil e decorativo, popular em toda a Europa e Estados Unidos, foi sobre as artes aplicadas (ou utilitárias) que passaram por um grande desenvolvimento na década de 1880, época em que pintores, arquitetos e escultores dedicaram-se intensamente à fabricação e à decoração de objetos úteis, como mostram as peças de vidro de Louis Comfort Tiffany (ilustração central) e René Lalique (ilustração à esquerda), assim como os cartazes de Mucha e os desenhos de Charles Rennie Mackintosh.

A Arte Nova, assim como o Simbolismo, abraçou o elemento da fantasia. A diferença encontrava-se no fato de essa buscar primeiramente o efeito decorativo, sendo também o primeiro estilo a contar com a comunicação de massa. Sua influência na arte foi da pintura e arquitetura à arte gráfica e design. Ao abster-se de conteúdo emocional e narrativo, contribuiu para abrir caminhos para o surgimento da arte abstrata. Dentre suas características estão a valorização do trabalho artesanal, o uso das formas da natureza (folhas, flores, etc.) e o uso de símbolos.

O que se buscava através da Arte Nova era, através do planejamento, dar vida a um estilo internacional moderno, tendo como base a decoração. Tinha por características o uso de linhas fluentes muito estilizadas, motivos orgânicos inspirados nas plantas, apreço pelos padrões lineares sinuosos, o predomínio das formas naturais estilizadas (folhas, gavinhas, etc.). As mulheres que figuravam na Arte Nova eram levemente inspiradas nas “femmes fatales” — anteriormente popularizadas pelos simbolistas —, mas sem aludir à sedução, carregando um objetivo meramente decorativo.

Várias fontes contribuíram para dar origem à Arte Nova, como as gravuras japonesas, o movimento britânico Arts & Crafts, as estilizações empregadas por artistas como Paul Gauguin, Vincent van Gogh e Edvard Munch. Tal estilo herdou do movimento simbolista a busca da evocação e da expressão, assim como parte de sua iconografia: lírios, esfinges, vampiros, etc. De certa forma a pintura simbolista também criou uma arte decorativa com o predomínio de referências, associações e sentimentos. A obra “O Beijo” de Gustav Klimt é também considerada como pertencente à Art Nouveau.

O artista hamburguês Otto Eckmann (ilustração à direita) — um dos mais importantes ilustradores da revista alemã Die Jugend (Juventude) — foi um grande seguidor da Arte Nova, tendo criado desenhos para móveis, cerâmicas e papéis de parede. O pintor holandês Jan Toorop que iniciou sua carreira como simbolista acabou abraçando as obras puramente decorativas deste estilo. Hector Guimard criou estruturas fortes e rítmicas que sugeriam insetos e asas de borboletas para as entradas do metrô de Paris. O espanhol Antonio Gaudí foi um grande arquiteto do estilo em Barcelona. Algumas de suas obras podem ser vistas no Parque Güell, em Barcelona, Espanha.

Ao contrário dos outros estilos estudados, a Art Nouveau recebeu nomes diferentes, levando em conta o país onde marcava presença: “Jugendstil” (estilo da juventude) na Alemanha; “Stile Liberty” ou “Arte Nuova” na Itália; “Secessão” na Áustria e na Hungria; Style Glasgow” no Reino Unido; “Style Tiffany” nos Estados Unidos; “Modernista” na Espanha, etc.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
 A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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CACHORRO COTÓ NÃO ATRAVESSA PINGUELA

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Publicado por Lu Dias Carvalho

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Segundo o Pe. Paschoal Rangel em seu livro Provérbios e Ditos Populares, os provérbios populares são oriundos do meio rural, ou seja, são nascidos em meio à gente simples da roça, frutos da observação empírica das pessoas que ali vivem. Nesse meio existe um grande número de provérbios que tem como personagens os animais em razão do fácil contato do homem do campo com os bichos. No caso do provérbio “Cachorro cotó não atravessa pinguela”, o autor pôs-se a imaginar como deve ter nascido esta pérola. Pegando carona nos pensamentos do padre em questão, e pedindo licença para modificar uma coisa aqui e outra ali, eu também imagino como o provérbio nasceu.

O caboclo volta para casa, depois de um dia árduo de serviço, com o lombo queimado pelo sol danado de ardente, toma um banho de caneco no terreiro, come a janta e senta-se lá no terreiro, no banco feito de tora de madeira, acende o pito e põe-se a matutar sobre as coisas da vida. À frente dele corre um fiapo de água, onde era um riacho que sempre desaparece no tempo da seca. Um tronco de ingazeira liga as duas margens. Por ali transitam gente e animais domésticos, indo de um lado para o outro em busca de alimento, ou por falta do que fazer.

O matuto observa Valentia (este é o nome que escolhi) que perdeu o rabo por conta de uma bicheira dos infernos e que só foi curada a troco de muita creolina. O coitado dá dois passinhos na pinguela e retrocede medroso. Encara aquele pau comprido, cria coragem e tenta de novo, e de novo torna a voltar. Tantas vezes tenta o bichinho que acaba se cansando e vem se deitar aos pés de seu dono, todo sem gracinha. O homem, condoído, pega o animal e atravessa com ele nos braços, deixando-o do lado de lá do leito do riacho. Depois toma-o nos braços e o traz de volta.

O roceiro percebe que Lambada e Preguiça passam pela pinguela com a maior facilidade, tendo os rabos levantados e inclinados para um dos lados, mas Valentia não consegue. Teria o animalzinho medo de altura? Ou seria daquele fiapo de água lá no fundo? De água, não, pois o danadinho atravessa até rio a nado. De repente vem a luz: Valentia não tem rabo. É isso! É o rabo que dá o equilíbrio ao bicho para não cair, feito as asas de um gavião que paira lá no alto do céu ou o rabo do gato ao pular. Valentia, coitado, é cotó! Então, conclui o caboclo que cachorro cotó não atravessa pinguela. E nasce o ditado. E espalha-se pelos campos e cidades. E muitas vezes pelo mundo.

Assim, todas as situações difíceis da vida passam a ser vistas como “pinguelas” e o “cãozinho cotó” como sendo as pessoas que lutam para transpô-las. Muitas vezes a dificuldade é tão grande que é preciso que alguém ajude. E você, como acha que este ditado apareceu?

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