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Artigos variados sobre cinema e a análise de filmes que se tornaram clássicos.

Filme – APOCALYPSE NOW (PARTE II)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A merda era tanta no Vietnã, que você precisava de asas para ficar fora dela. (Kurtz )

O capitão Willard, num quarto em Saigon, é acordado com o barulho de um ventilador, que reproduz o mesmo som de um helicóptero. Aguarda o chamado para uma missão há uma semana. Quer voltar logo para a selva. O filme segue em tom narrativo:

Quando eu estava aqui, queria estar lá. Quando eu estava lá, só pensava em voltar para a selva. Cada minuto que fico neste quarto, fico mais fraco. E cada minuto que um vietcongue  escond-se na moita, ele fica mais forte.

Todo mundo consegue o que quer. E eu queria uma missão, e pelos meus pecados, eles me deram uma. Trouxeram-na para mim como um serviço de quarto. Era uma missão de primeira classe. E depois dela ter terminado, eu nunca mais iria querer outra.

Willard recebe ordens para se apresentar à base Aérea de Nha Trang. Dentro do helicóptero, volta ao tom narrativo:

Eu estava indo para o pior lugar do mundo, e eu nem sequer sabia disso. Há algumas semanas antes e centenas de milhas rio acima, que rasteja através da guerra, como o cabo principal de um circuito, conectado direto a Kurtz.

Não era por acaso que eu seria quem cuidaria da memória do coronel Walter E. Kurtz, assim como estar de volta a Saigon também não o era. Não tem como contar a sua história, sem contar a minha própria. E, se a história dele for mesmo uma confissão, então também a minha o é.

Willard é levado até o general e o capitão Luke, que lhe falam sobre o coronel Kurtz. Mostram-lhe algumas gravações capturadas com a voz do rebelado, falando sobre os vietcongues:

Eu vi uma lesma andar ao longo de um fio de uma navalha. Este é o meu sonho e o meu pesadelo. Andando, rastejando ao longo do fio de uma navalha, e sobreviver. Mas precisamos matá-los. Precisamos incinerá-los. Porco por porco, vaca por vaca, vilarejo por vilarejo, exército por exército. Eles me chamam de assassino. O que você diz, quando assassinos acusam o assassino? Eles mentem e temos que ser misericordiosos com esses mentirosos. Eu os odeio. Realmente eu os odeio.

Os dois oficiais falam a Willard sobre Kurtz:

Walter Kurtz era um dos oficiais mais exemplares que este país já produziu. Ele era brilhante, era exemplar em todas as formas. Era um bom homem. Um homem humanitário. Um homem com esperteza e amor. Ele entrou para as Forças Especiais. E depois disso, suas ideias e métodos tornaram-se irracionais. Agora ele foi para o Camboja com o seu exército Montagnard, que o venera como um deus, e cumpre qualquer ordem, mesmo que seja ridícula.

Tenho outras informações chocantes para lhe dar: o coronel Kurtz estava a ponto de ser preso por assassinato. Ele ordenou a execução de alguns agentes da inteligência vietnamita. Homens que ele acreditava serem agentes duplos. Então tentou resolver o problema por conta própria. Está operando sem nenhuma restrição decente, totalmente além de qualquer padrão de conduta humana aceitável, mas continua no comando das tropas.

É o seguinte, Willard, nesta guerra as coisas se confundem lá fora. Poder, ideias, a velha moralidade e a necessidade militar prática. Mas lá fora com aqueles nativos, deve ser uma tentação ser Deus. Porque existe um conflito em cada coração humano, entre o racional e o irracional, entre o bem e o mal. E o bem nem sempre triunfa. Às vezes, o lado escuro supera o que Lincoln chamou de “os melhores anjos de nossa natureza”. Todos os homens têm um ponto fraco. Você e eu temos o nosso. Walter Kurtz alcançou o dele e, obviamente, ele enlouqueceu.

A sua missão é subir o rio Nug, num barco patrulha da marinha, encontrar a trilha de Kurtz. Deve segui-la e aprender tudo o que puder no caminho. E, quando encontrar Kurtz, infiltrar-se entre seus homens, de qualquer forma possível, e acabar com o comando dele. Entenda capitão que esta missão não existe, nem nunca existirá.

Willard ao ler o dossiê de Kurtz, enquanto ia a seu encalço:

No início achei que me tinham dado um dossiê errado. Não podia acreditar que queriam matar esse cara. Ele tinha quase mil condecorações. Escutei a voz dele na fita e ele realmente me cativou. Mas não conseguia ligar aquela voz a esse homem. Como eles disseram, ele tinha uma carreira impressionante. Talvez impressionante demais.

Willard no barco, subindo o rio Nug:

Nunca saia de barco. Pode ter certeza disso. A menos que você fá fundo. O Kurtz saiu do barco. Ele largou tudo. Por que fez isso? O que viu na sua primeira missão? Aos 38 anos de idade, Kurtz sabia do que estava abdicando. Quanto mais eu o lia (dossiê) e mais começava a entender, mais o admirava. Sua família e amigos não conseguiram entender, e não conseguiram dissuadi-lo. Um filho da mãe durão. Poderia ter sido general, mas decidiu ser ele mesmo.

Parte de mim estava com medo do que encontraria e do que eu faria ao chegar lá. Eu conhecia os riscos, ou imaginava que os conhecia. Mas a coisa que eu mais sentia, mais forte do que o medo, era o desejo de confrontá-lo.

Willard depois de encontrar Kurtz:

Tudo o que vi indicava que Kurtz havia enlouquecido. O lugar estava cheio de corpos de vietnamitas do Norte, vietcongues e cambojanos. Se eu continuava vivo é porque ele me queria vivo.

No rio, pensei que assim que o visse saberia o que fazer. Mas não foi assim. Eu estava lá com ele, por dias, não vigiado. Eu estava livre. Mas ele sabia que eu não ia a lugar algum. Ele sabia mais sobre o que eu ia fazer do que eu mesmo. Se os generais em Nha Trang vissem o que vi, iam querer que eu o matasse, mais que nunca. E o que o pessoal de casa ia querer se soubesse o quanto se desviou? Ele se afastou deles e depois se afastou de si mesmo. Nunca vi um homem tão dividido e tão destroçado.

Coronel Kurtz falando com o capitão Willard:

Já vi horrores, horrores que você viu. Mas você não tem o direito de me chamar de assassino. Você tem o direito de me matar. Tem o direito de fazer isso. Mas não tem o direito de me julgar. É impossível achar palavras para descrever o que é necessário para aqueles que não sabem o que é o horror. O horror tem um rosto. E você deve ficar amigo do horror. Horror e terror moral são seus amigos. Se não forem, são inimigos a temer.

Eu me lembro, quando estava nas Forças Especiais. Parece que foi há séculos. Entramos numa base para vacinar umas crianças. Saindo da base, após termos vacinado as crianças contra a poliomielite, um velho veio correndo atrás de nós, e estava chorando. Não conseguia explicar. Voltamos lá. Eles tinham cortado todos os braços inoculados. Estavam numa pilha, uma pilha de bracinhos. Eu chorei. Berrei como uma avó. Eu queria arrancar meus dentes. Não sabia o que queria fazer. E eu quero me lembrar disso. Não quero me esquecer.

Aí percebi como se tivesse levado um tiro de diamante bem na minha testa. E pensei: “Meu Deus! Que genialidade” A força para fazer isso. Perfeito, autêntico, completo, cristalino, puro. Percebi que eram mais fortes que nós, porque aguentavam isso. Não eram monstros. Eram homens, soldados treinados. Homens que lutavam com o coração, que têm família, que têm crianças, cheios de amor, mas tinham força para fazer isso.

Se tivesse dez divisões desses homens, nossos problemas aqui acabariam rapidamente. Você tem que ter homens morais e, ao mesmo tempo, que podem utilizar seus instintos primordiais para matar, sem paixão. Sem julgar. É o julgar que nos derrota.

Preocupa-me que meu filho talvez não entenda o que tentei ser. E, se eu fosse morto, Willard, gostaria que alguém fosse até a minha casa contar tudo ao meu filho. Tudo o que eu fiz, tudo o que você viu. Porque não há nada que detesto mais que o fedor de mentiras. E, se você me entender, Willard, fará isso por mim.

Willard depois de matar Kurtz:

Todos queriam que eu o fizesse. Especialmente ele. Senti que ele estava lá, esperando-me para acabar com a sua dor. Ele queria acabar como um soldado em pé. Não como um coitado rebelde. Até a selva queria vê-lo morto, e era dela que ele recebia as ordens.

Curiosidades:

• O sacrifício a que se oferece Kurtz é simultâneo ao sacrifício de um touro. Ambos são mortos no mesmo momento. Que horror!
• Ele deixa escrito, com tinta vermelha, em suas anotações: Largue a bomba. Acabe com todos.
• Há uma referência ao Brasil feita pelos franceses: “Nós trouxemos seringueiras do Brasil e plantamos aqui…”.

Fonte de pesquisa:
O próprio filme

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Filme – APOCALYPSE NOW (Parte I)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Meu filme não é sobre o Vietnã. É o Vietnã. Foi feito da mesma maneira que os americanos fizeram a guerra. Estávamos na selva, havia gente demais, dinheiro demais, equipamentos demais e aos poucos fomos ficando loucos. (Francis Ford Coppola)

Se alguém tivesse me dito o que ira acontecer em Apocalypse Now, teria dito: “Não estou pronto.”, mas agora que já aconteceu, não trocaria aquilo por nada. (Martin Sheen)

Apocalypse Now é um dos momentos mais importantes da minha vida de cinéfilo. (Roger Ebert)

Kurtz descobriu que todos os nossos dias e meios de vida são uma frágil estrutura à mercê de esfomeadas mandíbulas da natureza, que nos devora inexoravelmente. Uma vida feliz é um adiamento diário desta certeza. (Roger Ebert)

O filme Apocalypse Now (1979) do diretor Francis Ford Coppola, inspirado na obra-prima do escritor Joseph Conrad, No Coração das Trevas, narra a história do coronel Kurtz, que se meteu nas brenhas da selva e ali se fincou como um ser supremo. Kurtz, vivido maravilhosamente por Marlon Brando, é um herói de guerra, cheio de condecorações, mas que, no meio da selva, em pleno território inimigo, construiu um mundo particular, em que a lei é feita por ele. Ali, comanda seu exército particular de nativos, oriundos das montanhas.

O ponto em comum entre o livro e o filme é o tema da viagem. A jornada dos personagens rio acima é ao mesmo tempo uma viagem ao âmago da alma e uma descida ao inferno. Até a entrada de Marlon Brando em ação, fato que acontece na última parte, o filme mostra a guerra e suas atrocidades. Após o surgimento do coronel Kurtz, transforma-se numa busca filosófica, numa tentativa de compreender os enigmas da loucura e do mal.

Um militar, capitão Willard (Matin Sheen), é enviado para deter o renegado Shurtz, mas, durante o tempo que dura sua viagem, vai perdendo seus sonhos em relação aos valores humanos, atraído pela grandeza da selva e, aos poucos, mudando seus conceitos com relação ao homem procurado. Ele nem mesmo sabe qual será a sua reação ao encontrá-lo. E, quando isso acontece, Kurtz tenta fazer com que ele mude de lado.

Apocalypse Now é, na verdade, uma jornada em que o capitão Willard procura entender as transformações pelas quais passou Kurtz, um dos mais brilhantes soldados do exército de todos os tempos. Por que ele teria penetrado no âmago da guerra com tanta sedução? Por que nada mais conseguiria ver, sem ser envolvido pela loucura e pelo desespero?

O final de Apocalypse Now é um dos mais incríveis da história do cinema, pois mostra-nos aquilo que fingimos ou não queremos perceber por nós mesmos, mas que Kurtz desnuda diante de todos.

O repórter-fotográfo (Dennis Hopper) é outro elemento importantíssimo no filme. Ele encontra o habitat de Kurtz e, como testemunha, fica assombrado com o que vê. Na trama, ele é o guia, o palhaço e o tolo responsável pelo equilíbrio entre Willad e Kurtz. Há momentos em que ele delira, e é possível ouvir pedaços dispersos do poema que deve ter escutado Kurtz recitando: Eu devia ser um par de garras serrilhadas, escapulindo pelo chão de mares silenciosos.

Outro personagem importante no filme é o tenente-coronel Kilgore (Robert Duvall), um aficionado pelo surfe. Ele é tão obcecado pelo esporte que, a fim de encontrar um bom lugar para surfar, ordena um ataque a uma aldeia, sob o ritmo de A Cavalgada das Valquírias de Wagner. É uma das sequências mais aclamadas do filme.

Para o grande crítico de cinema, Roger Ebert, agraciado com o Prêmio Pulitzer por sua atuação na referida área, Apocalypse Now é um dos filmes-chave do século XX. Pois, enquanto muitos filmes possuem a ventura de conter uma única grande sequência, esse possui uma atrás da outra, interligadas pela jornada rio acima.

Grandes filmes contam a história da guerra do Vietnã, tais como Platoon, O Franco-atirador, Nascido para Matar e Pecados de Guerra. Cada um com sua visão, mas Apocalypse Now, diz Roger Ebert, é, sem dúvida, o melhor de todos os filmes a respeito do Vietnã, um dos maiores filmes de todos os tempos, pois supera os demais ao perscrutar o lado escuro da alma. Não é tanto por enfocar a guerra, mas o quanto ela desvenda verdades das quais nunca gostaríamos de ter tomado conhecimento. Se tivermos sorte, passaremos a nossa vida, felizes, num castelo de areia, sem nunca tomarmos consciência de quão perto estamos da beira do abismo. O que enlouquece Kurtz é exatamente a descoberta que acabou fazendo de tudo isso.

Curiosidades:

• O projeto de Apocalypse Now teve início quando os EUA ainda estavam envolvidos na Guerra do Vietnã. Coppola, como produtor, tentou levantar o dinheiro, mas nenhum estúdio quis apostar em um filme sobre uma guerra impopular e ainda arriscar a vida de técnicos e atores em uma zona de combate. Anos mais tarde, embalados pelo sucesso de O Poderoso Chefão 1 e 2, Coppola retomou o projeto. Como George Lucas estava fazendo Guerra nas Estrelas, ele assumiu a direção e a produção.

• Mesmo com a retirada das tropas americanas (1973), e o fim da guerra dois anos depois, o Exército americano não deu apoio à produção.

Apocalypse Now foi rodado nas Filipinas, onde a geografia é semelhante à do Vietnã e as Forças Armadas tinham equipamentos iguais aos usados na guerra.

• A intenção de Coppola era rodar o filme nas mesmas condições em que a história é contada. Ou seja, equipe e elenco teriam de enfrentar a selva.

• Muitas vezes o perigo era real, pois o governo filipino combatia uma guerrilha comunista no sul do país. Equipe e elenco quase participaram de conflitos armados. Houve ocasiões em que as batalhas ocorreram a menos de 20 km dos locais da filmagem.

• Muitos pilotos das forças armadas filipinas, que participavam do filme, tinham que abandonar o trabalho de filmagem para combater a guerrilha, o que levava as cenas a serem ensaiadas várias vezes.

• Além do calor da selva, atores e técnicos sofriam com um roteiro constantemente reescrito por Coppola.

• Joseph Conrad, autor do livro, esteve no interior do Congo Belga, trabalhando para uma empresa de exploração de marfim. Mas não é certo que tenha encontrado o Sr. Kurtz.

• Os seguidores de Kurtz são interpretados por ex-caçadores de cabeças da tribo ifugao, de Banue, no Norte das Filipinas.

• O tufão Olga atingiu as Filipinas, matando mais de 200 pessoas e destruindo os cenários do filme. Os trabalhos tiveram que ser suspensos por dois meses.

• Assim que terminaram as filmagens, o governo filipino pediu a Coppola que destruísse o imenso cenário do complexo de Kurtz. Enquanto o cenário estava sendo explodido, o diretor fez a filmagem. O que levou muita gente a imaginar que o filme tinha dois finais.

• A contratação de Marlon Brando foi criticada pelo alto salário de seu cachê (um milhão de dólares), mas não só a sua estatura de ícone foi muito importante para o filme assim como a sua voz, estabelecendo o tom definitivo do enredo.

• O poema, Os Homens Ocos, declamado por Kurtz, é do poeta americano T.S. Eliot.

• A trilha sonora de rock-n`-roll abre e fecha com “The End” na interpretação do The Doors e inclui DJ`s em rádios transistores (Bom dia, Vietnã!).

• A trilha sonora mostra como os soldados tentam utilizar a música norte-americana, a bebida e as drogas como um instrumento para minorar a solidão e a ansiedade.

• Durante a produção de Apocalypse Now, a mulher de Coppola, Eleonor Coppola, fez gravações secretas do marido a respeito de suas dúvidas e do seu desânimo quando o projeto do filme ameaçava afundá-lo. O filme foi de agonia e alegria para o diretor e produtor. Dizem que ele ameaçou suicidar-se por várias vezes durante as filmagens.

• “Charlie” é como os americanos chamavam os guerrilheiros vietcongues que lutavam pela unificação do Norte comunista, com o Sul, que era apoiado pelos Estados Unidos.

• Com o orçamento e cronograma estourados, Coppola ainda queria mudar o final da história, adiando mais a participação de Marlon Brando, que ameaçou abandonar a produção sem devolver o milhão de dólares que recebera adiantado.

• Martin Sheen (capitão Willard) sofreu um infarto agudo durante as filmagens, chegando a receber a extrema unção. Seu irmão Joe Estevez substitui-o, filmando de costas, em planos abertos, em parte da gravação. Mas Martin Sheen recuperou-se e voltou para filmar seus closes.

• Quando Brando chegou para filmar, ao contrário do que prometera, não havia perdido peso. Coppola e o diretor de fotografias filmaram-no na penumbra, e muitas cenas foram rodadas com monólogos improvisados. Brando, contudo, alegou que ele aparecia na penumbra para restaurar o caráter misterioso de seu personagem.

• O intervalo de 3 anos, entre o início da produção e a sua estréia, foi bem tumultuado: tufão, estouros de orçamento, infarto de Martin Sheen, a falta de preparo de Marlon Brando, a necessidade de os helicópteros da Força Aérea filipina abandonar as filmagens para combater os guerrilheiros e a quase falência da produtora American Zoetrope.

• O filme tem duas versões. A segunda, feita em 2001, chama-se “Apocalypse Now Redux” e tem 210 minutos, 60 minutos a mais de cenas adicionais. Esta versão foi reeditada pelo próprio Francis Ford Coppola.

• Em 1979, Apocalypse Now, com a montagem ainda em andamento, foi exibido no Festival de Cannes e levou a Palma de Ouro.

Cenas imperdíveis:

• A canção do início do filme, com cenas de um incêndio na floresta, provocado por um ataque estadunidense de bombas napalm, sendo repetida numa versão diferente no final do filme (morte do Coronel Kurtz), é The End, um dos maiores sucessos da banda de rock The Doors.

• Uma cena em que os helicópteros atacam um vilarejo no Vietnã, liderados pelo tenente-coronel Kilgore (Robert Duvall) ao som das Cavalgadas das Valquírias, retransmitidas por alto-falantes no volume máximo por seus atiradores, enquanto esses arremetiam contra um pátio de uma escola infantil.

• Robert Duvall (Kilgore) recebeu uma indicação para o Oscar por esta atuação e pela sua inesquecível fala: Adoro o cheiro de napalm pela manhã.

• Uma cena memorável ocorre, quando Chef (Frederic Forrest), um dos tripulantes, insiste em adentrar a selva para procurar mangas. O capitão Willard não consegue fazê-lo desistir, então acaba por acompanhá-lo. O fotógrafo Vittorio Storaro mostra-os como pequenas partículas humanas aos pés de árvores imensas. Vê-se como o homem não é nada diante da natureza.

• A sequência de cenas em que o barco-patrulha para um barco de pesca com uma família a bordo. Uma jovem, para proteger seu cachorrinho, faz um súbito movimento, e o agitado atirador abre fogo, varrendo a família inteira. Como a mãe ainda não morrera, o chefe do barco-patrulha quer levá-la para ser medicada. O capitão Willard dá-lhe o tiro de misericórdia, pois nada pode reter a missão. Ele e o “Chefe” são os dois únicos militares de carreira no barco, e precisam obedecer ao manual.

• Martin Sheen, devido a um problema de nascença, tem o braço esquerdo mais curto do que o direito e tem dificuldade para movê-lo. Em diversas cenas ele segura o rifle com a mão direita. Observem.

• A cena do quarto de hotel, em que o capitão Willard mostrava-se alcoolizado, foi quase que totalmente improvisada. O ator Martin Sheen estava bêbado de verdade. Quando socou o espelho, cortou a mão, mas não quis parar o filme.

• Harrison Ford, ainda iniciando carreira, faz o coronel Lucas, logo no início do filme. Mas Guerra nas Estrelas foi lançado dois anos antes de Apocalypse Now, transformando-o num astro consagrado.

• Francis Ford Coppola aparece numa cena, gritando para os soldados não olharem para a câmara.

• As cabeças “decapitadas”, vistas em cenas, são de figurantes enterrados até o pescoço em caixas. Eles ficavam nessa posição de 8 a 18 horas. No intervalo das filmagens eram protegidos pelos assistentes com sombrinhas.

• Marlon Brando, que aparece somente na parte final do filme, sendo que seu personagem só é mostrado em tomadas escuras, a fim de disfarçar a sua obesidade, trouxe ao coronel Kurtz um ar sombrio e enigmático. As cenas são excelentes.

Fonte de pesquisa:
Cinemateca Veja
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
1001 Filmes….

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Filme – AMADEUS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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As pessoas felizes se alegram com a felicidade alheia.
As infelizes são envenenadas pela inveja.
O sucesso não lhes basta, é preciso que os outros fracassem.

O filme Amadeus (1984) do premiado diretor tcheco, Milos Forman, naturalizado cidadão americano, não trata da verdadeira história do grande compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, mas da inveja de seu rival Salieri (F. Murray Abraham), compositor oficial da corte do imperador José II da Áustria (Jeffrey Jones), que possui ouvidos afinados para a música, embora não tenha o talento do jovem rapaz. E pior, ele tem consciência de sua limitação diante da obra de Mozart.

No filme, Salieri é reverenciado e admirado, enquanto Mozart, muito novo e desconhecido, não tem as suas qualidades reconhecidas, a não ser pelo próprio Salieri, seu rival. Mozart é visto na corte como se fosse um bobo. Ele nunca teve dinheiro suficiente e nunca se preocupou com isso. Salieri tem dinheiro, mas, para ele que ambiciona a arte, o dinheiro representa apenas um amargo consolo, uma grande ironia. Contudo, acima do ódio que devota ao jovem compositor, está a música a que dedica toda a sua paixão. E, por isso, ele acompanha o compositor nos momentos finais de sua vida, copiando as partes faltantes de seu magnífico Réquiem, planejando colocar na composição a sua autoria.

Sabiamente o diretor Milos Forman não faz o filme girar em torno da grandiosidade do talento de Mozart, como se aquilo fosse um fardo penoso de carregar. Ao contrário, apresenta-o como um pré-hippie meio bobo, dono de uma gargalhada estridente, alheio às convenções, chegado à bebida e casado com uma mulher gorducha que gosta de caçá-lo de gatinhas. Contudo, o jeito moleque do compositor desaparece numa fração de segundos, quando a música apossa-se dele.

Os mais sisudos podem não compreender a intenção de Forman, mas o que ele queria mesmo era mostrar que os verdadeiros gênios raramente levam a sério a própria obra, porque ela não lhes exige esforço algum, ao contrário daqueles menos brilhantes que fazem de suas obras um trabalho hercúleo. Enquanto Mozart compunha com tanta facilidade, que “a música parecia lhe ser ditada por Deus”, Salieri esforçava-se bastante para produzir o mínimo.

Ainda criança, o pequeno compositor já tentava dar rumos a sua vida, mas em vão, pois ela terminou pautada em três homens mais velhos:

• Seu pai, Leopold (Roy Dotrice), levou o filho para divertir as cortes européias, mas acabou por se afastar dele, desaprovando a vida que Mozart passou a levar.

• O patrono, o imperador José II, determina regras estritas (nada de balé nas óperas), mas não pôde colocá-las em prática, porque gosta daquilo que proibiria.

• Salieri que se faz de amigo do compositor e ao mesmo tempo o trai, sabotando suas produções e compromissos.

O filme é narrado em flashback por Salieri, já no final da vida. Ele se encontra em um sanatório para doentes mentais, onde confessa a um padre como conheceu, amou e invejou Mozart e que talvez o tenha assassinado. Embora, ao que tudo indica, o compositor tenha morrido de tuberculose e cirrose. Talvez seja o remorso de Salieri, ao boicotar a arte de Mozart, que o faz pensar assim.

Cenas imperdíveis:

• Talvez seja essa cena a mais importante do filme: Mozart, com apenas 35 anos, encontra-se nos momentos finais de sua vida, contudo, dita as páginas finais de Réquiem para Salieri, sentado ao pé de sua cama, copiando as notas de sua mente conturbada. É como se Salieri quisesse extrair o máximo da genialidade de Mozart.

• Na cena da morte de Mozart está presente a agonia do rival mais velho, que odeia perder, que seria capaz de mentir e trair, e ainda assim não pode negar que a música daquele jovem é sublime.

• Os palácios, roupas, perucas, banquetes, noites de estréias e champanhe formam um visual interessante.

• A cena que explica com mais clareza por que Constanze (Elizabeth Berridge), esposa de Mozart, desprezava Salieri. Já que não tinha Mozart, ele investe sobre sua mulher, tentando humilhá-lo.

• A cena em que o imperador consegue equilibrar sua seriedade com a diversão que lhe causa a falta de pudor de Mozart. As perucas de Mozart são sempre diferentes das demais.

• Observem o rosto do imperador, quando conclui que talvez não devesse proibir balés nas óperas.

• Observem as cenas em que Salieri demonstra inveja, ressentimento e raiva.

• Outro momento de Salieri é expresso em seu rosto, quando está à cabeceira de Mozart, anotando o ditado final: há algo que ele ama acima de tudo – a música de Mozart.

• O apartamento de Mozart em Viena, já no final do filme, lembra a casa de um músico de rock nouveau-rich. O aluguel é caríssimo, o mobiliário escasso e confuso, obras espalhadas por toda parte, falta de limpeza, garrafas vazias pelos cantos, sendo a cama o centro de tudo.

Curiosidades:

• Na vida real Salieri foi um ótimo compositor e não presenciou a morte de Mozart. Foi um compositor de muito sucesso. Teve alunos ilustres como Beethoven, Schubert e Liszt.

• Salieri e Mozart podem ter sido, na verdade, bons amigos.

• Não é verdade que Salieri tenha ido à estréia de A Flauta Mágica de Mozart escondido, como revela o filme. Foi a convite do próprio Mozart.

• O filme foi rodado na cidade natal de Forman, Praga, uma das poucas cidades européias quase intocadas desde o século XVIII. Seis palácios com sua luxuosa mobília serviram de locação. Também foi usado o teatro, aonde o próprio Mozart conduziu a estréia da ópera Don Giovanni, em 1789.

• O filme é cheio de grandiosas gesticulações e em todo ele foi empregada luz natural.

• O filme não se trata de uma biografia de Wolfgang Amadeus Mozart.

• O filme Amadeus conquistou mais de 30 prêmios. Levou oito Oscar, inclusive o de Melhor Filme.

• Tom Hulce (Mozart) ficou imortalizado com sua risada débil e aguda, que lembra o som produzido pelas hienas. É ao mesmo tempo irritante e inesquecível. E só não levou o prêmio de melhor ator porque seu antagonista, F. Murray Abraham (Salieri) era mesmo invencível.

• Para criar a inesquecível risada de seu personagem, Tom Hulce usou como referências algumas cartas escritas sobre o compositor austríaco. Nelas, a risada de Mozart era descrita como “contagiante”, embora soasse como “metal raspando vidro”. Ele também precisou praticar para reproduzir uma das mais famosas proezas de Mozart: tocar piano de cabeça para baixo, deitado de costas sobre o instrumento.

• A trilha original de Amadeus transformou-se em um dos álbuns de música erudita de maior sucesso de todos os tempos.

• Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em 27 de janeiro de 1756, em Salzburg, Áustria. Aprendeu a tocar cravo aos 3 anos, aos 5 compunha, aos 6 fez sua primeira turnê pela Europa e aos 8 já havia composto três sinfonias.

Sinopse

O filme se inicia em 1823, quando Salieri, já velho, tenta cometer suicídio, cortando sua garganta, enquanto grita por perdão, por ter matado Mozart, há muito já falecido. Após ser internado num hospício, é visitado por um jovem padre, e inicia uma longa “confissão” sobre seu relacionamento com Mozart. As cenas deste diálogo voltam, ao longo do filme, como se a trama estivesse sendo narrada por Salieri para o padre, durante toda uma noite, até o início da manhã seguinte.

Salieri relembra sua juventude, em particular sua devoção a Deus e seu amor pela música, e como prometeu a Deus permanecer celibatário, como forma de sacrifício, se pudesse devotar, de alguma maneira, sua vida à música. Descreve como os planos de seu pai para ele envolviam os negócios, porém sugere que a sua morte repentina, engasgado durante uma refeição, teria sido “um milagre” que lhe permitiu que fosse atrás de uma carreira musical.

Sua narrativa vai então para o início de sua vida adulta, quando se junta à elite cultural da Viena do século XVIII (cidade dos músicos). Salieri começa sua carreira como um homem devoto e temente a Deus, que acredita que seu sucesso e talento como compositor são recompensas divinas por sua fé, e está satisfeito como compositor da corte para o imperador do Sacro Império Romano-Germânico José II.

Mozart chega à Viena com o seu mecenas, o conde Hieronymus von Colloredo, arcebispo de Salzburgo. Enquanto Salieri observa Mozart secretamente, no palácio do arcebispo, sem ser apresentado a ele, percebe-o como uma pessoa irreverente e lasciva, ao mesmo tempo em que reconhece o imenso talento de suas obras. Em 1781, quando Mozart é apresentado ao imperador, Salieri presenteia ao jovem compositor uma “Marcha de Boas-Vindas”, que ele havia tido certo trabalho para terminar. Nesta mesma reunião, Mozart mostra, pela primeira vez, sua tradicional risada infantil, que é ouvida pelo resto do filme. Após ter ouvido a marcha apenas uma vez, Mozart espontaneamente “improvisa” com a peça, sem fazer muito esforço, e transforma a “brincadeira” de Salieri na melodia da ária “Non più andrai”, de sua ópera As Bodas de Fígaro.

Salieri fica abalado com a ideia de que Deus estaria falando através do infantil e petulante Mozart, cuja música ele via como milagrosa. Gradualmente, sua fé é abalada. Ele imagina Deus, através da genialidade de Mozart, rindo cruelmente de sua mediocridade musical. Os esforços de Salieri com Deus são intercalados com as cenas que mostram os próprios episódios de Mozart em sua vida em Viena: o orgulho da recepção inicial de sua música, a ira e a incredulidade diante do seu tratamento subsequente pelos italianos na corte do imperador; a felicidade com sua esposa, Constanze e seu filho, Wolfgang, e o luto pela morte de seu pai, Leopold. Mozart começa a ficar cada vez mais desesperado, à medida que os gastos da família aumentam e as ofertas de trabalho diminuem. Quando Salieri se inteira da situação financeira de Mozart, finalmente enxerga uma chance de se vingar, usando o “Preferido de Deus” como seu instrumento.

Salieri engendra então uma trama complexa, para conquistar a vitória derradeira sobre Mozart e sobre Deus. Vestido com uma máscara e uma capa semelhante à que ele vira Leopold vestindo, ele contrata Mozart para lhe compor uma missa de réquiem, com um pagamento adiantado e a promessa de uma quantidade enorme de dinheiro ao término da composição. Mozart aceita e começa a compor sua última obra, Missa de Réquiem em ré menor, sem desconfiar da identidade de seu mecenas misterioso e de seu plano: matar o jovem compositor assim que a obra estivesse completa, para assumir a sua autoria. Ao entrar em detalhes a respeito de como ele poderia cometer esse assassinato, Salieri descreve, arrebatado, a admiração de seus colegas e da corte, enquanto aplaudiriam o seu suposto réquiem. Apenas ele próprio e Deus saberiam a verdade – que Mozart teria composto um réquiem para si próprio, e que Deus só podia assistir enquanto Salieri finalmente recebia a fama e o renome que ele acreditava merecer.

A situação financeira de penúria de Mozart continuava, e as exigências impostas sobre ele pela composição simultânea do Réquiem e da Flauta Mágica o levam à completa exaustão. Após diversas brigas, Constanze abandona-o, levando o filho com ela. Sua saúde, já fragilizada, piora, e ele desmaia durante o desempenho de estreia da Flauta Mágica. Salieri leva um Mozart extremamente doente para a sua casa, e o ilude para que continue a compor o Réquiem, deitado naquele que seria seu leito de morte. Mozart dita a obra para que Salieri a transcreva à partitura (o que de fato teria acontecido, embora não com Salieri e sim com dois de seus pupilos, Joseph Eybler e Franz Xaver Süssmayr), por toda a madrugada. Constanze, arrependida de sua fuga, retorna pela manhã, e ordena a Salieri que vá embora, arrancando os manuscritos das mãos deste e guardando-os. Quando ela vai acordar Mozart, ele já está morto. O Réquiem está incompleto, e Salieri só pode assistir enquanto o corpo de Mozart é levado para fora de Viena, onde é enterrado numa vala comum.

O filme termina quando Salieri acaba de narrar sua história ao jovem padre, visivelmente abalado. Salieri conclui afirmando que Deus preferiu matar Mozart a permitir que ele, Salieri, partilhasse de uma parcela ínfima de sua glória, e que ele está destinado a ser o “padroeiro da mediocridade”. Salieri então “absolve” o padre de sua própria mediocridade, e passa a “absolver” os outros pacientes do hospício na medida em que é levado embora em sua cadeira de rodas. O filme encerra-se e antes dos créditos ainda se ouve a cômica risada de Mozart.

Fonte de Pesquisa:
Grandes Filmes/ Roger Ebert
Cinemateca Veja
Wikipédia

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Filme – ALIEN, O 8º PASSAGEIRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

 alien  aliena

Vocês ainda não sabem com quem estão lidando. Ele é um organismo perfeito. A sua perfeição estrutural só se compara com sua hostilidade. Eu admiro a sua pureza. É um sobrevivente desprovido de consciência, remorso ou lições de moral.(Personagem do filme)

Dizem que presto atenção demais no visual do filme. Mas, pelo amor de Deus, não estou fazendo um programa de rádio, estou fazendo um filme para o qual as pessoas vão olhar. ( Ridley Scott – diretor do filme)

O diretor inglês Ridley Scott inspirou-se, para fazer o filme Alien – o 8º Passageiro (1979), na cena de abertura de Guerra nas Estrelas (1977), que mostra uma gigantesca nave singrando o espaço sideral. Seu filme parte exatamente deste ponto e se transforma numa ficção científica e, posteriormente, num filme de terror, deixando o público com os nervos à flor da pele o tempo todo. O que difere Alien – o 8º Passageiro de um monte de outros filmes do gênero é o visual cuidadoso e a agudeza que carrega. O diretor pretendeu atrair um grande público, mas sem insultar sua inteligência. Embora seja uma das mais aterrorizantes tramas de ficção científica já realizadas, o filme tornou-se “cult” e seu design futurista continua extremamente convincente. Entre os filmes do gênero é considerado um clássico, verdadeiro divisor de águas, pois marca o momento em que os extraterrestres deixam de ser os tradicionais marcianos, para se transformar em seres de comportamento intricado.

Ao contrário de outros filmes de ficção, Alien – o 8º Passageiro não é corrido. Não possui pressa no desenrolar da história, mas possui um ritmo entrecortado por silêncios e esperas, que deixa o telespectador inquieto e nervoso. Muitas cenas são acompanhadas de intenso silêncio, onde só se ouve a respiração arquejante dos personagens ou o barulho dos instrumentos da nave. O suspense vai aumentando cada vez mais, quase a ponto de deixar o público de pé. O diretor usa um recurso especial para mantê-lo preso à história: não lhe dá a informação do que é o perigo e o que ele pode trazer de nefasto. Inicialmente, leva-o a pensar que dos ovos possam nascer humanóides, pois o piloto encontrado petrificado na velha nave alienígena, há muito tempo perdida, parece ser um humanóide. Mas deixa a dúvida quanto ao fato de ele pertencer ou não à raça gerada pelos ovos. O fato é que não apenas os personagens são dominados pela curiosidade, mas também o público. O que há de estranho por ali? Essa é a pergunta.

O fato de os personagens não serem aventureiros, mas trabalhadores comuns contratados por uma empresa, aumenta mais a tensão das pessoas, pois o espectador compreende que eles estão numa missão de trabalho, sendo, a contragosto, envolvidos numa perigosa aventura. Antes de levar os tripulantes e o público a querer a destruição do alienígena, o diretor leva-os a querer conhecê-lo primeiro.

O filme conta a história de uma nave-cargueira, Nostromo, que opera no espaço profundo, e que, no momento, leva sete tripulantes e uma carga de 20 milhões de toneladas de minério com destino ao planeta Terra. A princípio, tem-se a impressão de que não há ninguém no veículo, até que se ouve uma espécie de alerta ou pedido de ajuda, vindo do espaço, que acaba por acordar a tripulação. Para aguentar a longa viagem, eles se encontravam hibernando. Logo a seguir, reúnem-se animadamente em torno de uma refeição, imaginando que foram acordados porque estavam chegando à Terra. Mas logo se dão conta de que ainda se encontram bem longe do destino. O capitão, por sua vez, é informado de que o despertar se deveu a um sinal vindo de um planeta próximo, que indica a possibilidade de haver vida inteligente ali.

Os tripulantes têm por obrigação investigar o que está ocorrendo. A nave (Mãe) está programada para atender qualquer chamado, mesmo que para isso seja necessário desviar-se da rota. A Nostromo separa-se da carga, que fica na órbita planetária, e dirige-se para o planeta desconhecido, de onde partiu o sinal. Parte da tripulação desembarca e, depois de uma longa jornada, encontra uma nave alienígena imensa, onde se depara como um corpo mumificado, parecendo ter pertencido a um ser vivo. Os dois homens e a mulher começam a vasculhar a nave. Um deles encontra vários ovos envoltos em uma neblina azul e percebe que existe vida dentro de um deles. O ovo eclode e ataca o tripulante, agarrando-se a seu capacete.

Ripley, uma das personagens, exige que o tripulante atacado fique em quarentena, mas o cientista Ash ignora a ordem e abre as entradas da nave. Na tentativa de retirar a “coisa” ele percebe ser impossível, pois o líquido que dele emana é corrosivo. Mesmo assim, continua protegendo o organismo estranho. Mas ao tentar matar Ripley, para que não interferisse nos seus planos, os tripulantes descobrem que ele é um robô. E, ao ser questionado sobre como matar o alienígena, ela responde que é impossível. E que as suas prioridades são:

1- Levar para a Terra a forma de vida.
2- Todas as outras prioridades são canceladas em função da primeira.

A descida naquele planeta revela, logo depois, ter sido um grande erro, pois acaba sendo a porta de entrada para uma abominável criatura que entra na nave como um parasita preso à cabeça de um dos tripulantes e, daí para frente, passa a eliminar todos os membros da tripulação. O filme é intenso e carregado de emoção até a última cena.

A difícil, competente e cruel Ripley, personagem principal do filme, é vivida pela atriz Sigourney, à época desconhecida do grande público. A escolha de uma mulher teve como objetivo buscar o público feminino, normalmente avesso a filmes de terror. A atriz transformou-se numa celebridade e acabou virando heroína de filme de ação. No filme, Ripley recebeu ordens para que a forma de vida alienígena fosse levada à Terra, mas ao perceber o grau de periculosidade do monstro, ela opta por matá-lo. Enfrenta a batalha final apenas de camiseta e calcinha.

Um estudante de design nigeriano (massai), Bolaji Badejo, alto e magro, com os membros longos e finos, medindo 2,18 m de altura interpretou o monstro. A roupa para representar o alienígena é feita de látex. Ele ainda teve aulas de tai-chi-chuan e mímica, para aprender a fazer movimentos lentos. A cabeça foi feita separadamente, com mais de 900 partes móveis. É substituído por dublês numa cena em que o alienígena aparece pendurado no teto.

Assim que entrou em circulação, o filme ganhou o interesse do público, transformando-se num grande sucesso de bilheteria. Ganhou o Oscar de melhores efeitos visuais e propiciou uma série de continuações, que foram perdendo em qualidade.

Curiosidades sobre o filme:

• As roupas, usadas pela equipe que desceu ao planeta, não tinha a ventilação necessária. Os atores não conseguiam ficar muito tempo debaixo dos refletores. Enfermeiros com balões de oxigênio ficavam por perto.

• O grupo de rock The Who foi que emprestou a luz laser azul colocada na câmara com os ovos.

• A gosma que sai do ovo, antes de ele abrir, está “caindo” de baixo para cima. Foi rodada com a câmara de cabeça para baixo.

• O alien sangrava ácido, por isso não podia ser morto a tiros.

• O diretor, segundo a Cinemateca Veja, queria que o alien matasse Ripley, engolindo sua cabeça, e mandasse pelo rádio uma mensagem à Terra usando a voz dela. Mas a Fox fez questão que o monstro morresse no final do filme.

• O diretor, segundo 1001 Filmes para ver…, queria terminar o filme com Repley nua, para enfatizar a fragilidade humana perante a máquina mortífera perfeita, mas a Fox vetou, para que o filme não fosse proibido para menores de 17 anos.

• O quase não é possível ver o alien. Truque que foi também utilizado por Spielberg em “Tubarão” e funciona perfeitamente aqui.

• A primeira vez que se consegue uma boa visão do alienígena é quando esse irrompe do peito do personagem Kane.

• O monstro não possui uma forma definida: ora parece octópode, ora réptil ou aracnídeo.

• Na cena em que o alien sai do peito do personagem Hurt, o elenco não sabia como iria acontecer. Portanto, o susto dos atores, na cena, é real.

• O filme inteiro se passa dentro da nave Nostromo, numa temperatura extremamente sufocante.

• O Ripley, junto com o gato Jones, é a única sobrevivente da tripulação.

Fontes de Pesquisa:
Cinemateca Veja
Grandes Filmes/ Roger Ebert
1001 Filmes para Ver Antes de Morrer
Wikipédia

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Filme – A TRILOGIA DE APU (Índia)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Apu não é severo, bruto ou cínico, mas um sincero e ingênuo idealista, mais motivado por vagos anseios do que por objetivos concretos. É o reflexo de uma sociedade que não coloca a ambição à frente de tudo, mas é filosófica, meditativa e otimista. (Roger Ebert)

Ao dirigir os três filmes que compõem a Trilogia de Apu, ficou claro que um dos grandes mestres do cinema humanista havia se apresentado ao mundo. Tratava-se de Satuajit Ray. (PK – Tudo sobre Cinema)

É incompreensível para todos nós que nutrimos um grande fascínio pela Índia, o fato de que três dos seus filmes mais premiados na Europa não tenham chegado até às nossas salas de cinema, pois é impossível não se emocionar com A Canção da Estrada, O Invencível e O Mundo de Apu, as mais cultuadas criações do cinema indiano, que compõem a famosíssima Trilogia de Apu.

Satuajit Ray (1921 – 1992) era apenas um ator mediano em Calcutá, sem contatos importantes e muito menos dinheiro, quando se entusiasmou com o romance clássico do escritor bengali Bibhutibhushan Bandyopadhyay, que narra a vida de Apu desde o seu nascimento até sua juventude. Nessa trajetória, o personagem passa os primeiros anos de sua vida num vilarejo rural, depois parte com a família para a cidade santa de Benares, estuda em Calcutá e continua sendo empurrado pela vida, que o coloca nas mais impensáveis e sofridas situações, apesar das muitas esperanças acalentadas.

Munido de criatividade e muita coragem, o cineasta Satuajit Ray decidiu adaptar o romance descrito acima para o cinema. Realidade ou não, a filmagem de A Canção da Estrada, primeiro filme da trilogia, foi muito especial. Dizem que Ray jamais havia dirigido uma cena, seu camaraman nunca havia filmado uma cena e a música era de um compositor que jamais trabalhara para o cinema. Por sua vez, os atores infantis nada sabiam sobre a arte da interpretação, e nem sequer foram testados para os papéis. Como diz o grande crítico de cinema, o norte-americano Roger Ebert, os atores dos três filmes foram todos forjados pela vida e adaptados aos personagens.

Não foi fácil para Satuajit Ray conseguir dinheiro para fazer seu primeiro filme. O empréstimo conseguido só foi suficiente para o início das filmagens. Sua esperança era a de que os patrocinadores, ao verem o material filmado, viessem a se interessar em financiar o restante. Sua batalha foi tamanha, que o filme levou quatro anos para ser concluído.

Com esses três filmes, Satuajit Ray conquistou todos os grandes prêmios do cinema em Cannes, Veneza, Berlim e Londres, criando um novo tipo de cinema na Índia, bem diferente dos filmes industriais com seus inacabáveis e sonolentos musicais. A trilogia, ao contrário dos filmes biográficos, não se foca em Apu, o biografado. Todos os demais personagens recebem o olhar sensível do diretor. Apu é o elo principal da família e da história.

Filmes que compõem a trilogia:

A Canção da Estrada (1950 a 1954) ? é considerado a obra-prima do cineasta. Conta a história de Apu, desde o nascimento até alguns anos de sua infância, vivendo com os pais, a irmã mais velha e uma tia (ou bisavó) idosa num remoto vilarejo rural de Bengala, na pobreza. Ele é um garotinho extremamente inteligente, capaz de observar tudo ao seu redor. Seus grandes olhos negros são como faróis sempre acesos. Nesse primeiro filme, são as mulheres que têm uma participação mais forte, incluindo as parentas da aldeia ancestral.

O pai de Apu é um pregador brâmane e poeta, que quase não permanece em casa. É um homem terno, mas muito sonhador. Encontra-se sempre cheio de novas ideias para melhorar a vida da família. Acredita piamente nas possibilidades de mudanças. A mãe, contudo, é realista e o baluarte da família. Ao contrário do esposo, tem os pés no chão e é a responsável pela sobrevivência de todos, assim como pelas dívidas contraídas. Através de seus grandes olhos amendoados é possível ver uma intensa solidão.

Quando esse filme foi mostrado no Festival de Cannes, provocou tripla emoção: a de ter sido o primeiro filme da cinematografia indiana a se colocar entre os melhores filmes já feitos em todo o mundo; por ser uma obra belíssima, capaz de encantar todas as plateias e pela certeza de que um grande diretor fazia a sua entrada no mundo da Sétima Arte.

Uma das cenas mais marcantes de A Canção da Estrada acontece, quando Apu e sua irmã Durga brigam, e ele sai atrás dela pelos campos. No caminho, fazem as pazes e continuam andando, afastando-se de casa, até que ouvem o barulho de um trem e veem a fumaça subindo ao céu. É a primeira vez que conhecem um trem. Um mundo totalmente diferente descortina-se diante dos dois garotos maravilhados.

Outra cena comovente dá-se, quando a mãe cuida de sua filha febril durante uma tempestade, temerosa de que o vento arranque a proteção do casebre e a chuva entre. Seus olhos parecem saltar do rosto, tamanha é sua aflição.

O Invencível (1956) ? é o segundo filme. Conta a história da família em Benares, onde o pai sobrevive fazendo pregações para os romeiros que vão tomar banho no rio Ganges. É também onde Apu trava contato com um mundo totalmente diferente daquele que deixara para trás. Por causa de uma tragédia na vida da família, Apu e a mãe vão morar com um parente numa zona rural. Fascinado pelos livros, ele acaba conquistando uma bolsa de estudos. Terá que optar entre deixar a mãe sozinha e deprimida, e seguir seus sonhos. A mãe reluta a princípio. Mas, apesar da tristeza e da solidão, acaba encorajando o filho a seguir seu caminho.

Uma cena marcante de O Invencível diz respeito à volta da mãe com o filho para o interior. E, depois, o lento afastamento que vai surgindo entre os dois. Apu vai passar as férias com a mãe, mas lhe dá pouca atenção. Está quase sempre dormindo ou lendo. Ele resolve partir antes do dia. Ela lhe pede para ficar mais um tempo, mas ele não a ouve. Vai para a estação de trens e de lá volta arrependido para casa, para ficar mais um dia.

O Mundo de Apu (1959) ? é o último filme da trilogia. É voltado para a vida de Apu que se casa, ganha um filho, mas depois tem o coração transpassado pela amargura e desesperança. Foge para a selva até que, ao receber a visita do amigo Pulu, resolve visitar o filho que ainda não conhece. O encontro entre os dois é uma luta entre a rejeição e o amor. E um dos sentimentos acabará vencendo.

Em O Mundo de Apu acontece a mais inusitada das cenas:

Apu, já estudante graduado, é convidado por seu grande amigo Pulu para o casório de sua prima. O dia do casamento fora escolhido de acordo com o mapa astrológico da garota. A família ainda não conhece o noivo. A cerimônia está prestes a começar, quando mãe e filha percebem que o noivo é amalucado. A mãe impede o casamento, mesmo contra a vontade do pai, pois, se a mocinha não se casar naquele dia, ficará amaldiçoada para sempre. Palu, desesperado com a sorte da prima, convence Apu a se casar com ela. Em resumo: ele deixou Calcutá para ir a uma festa de casamento e volta casado, para surpresa dos vizinhos.

Também não é possível deixar de citar o desempenho extraordinário de Chunibala Devi, responsável pelo papel da tia idosa (ou bisavó), totalmente encurvada e enrugada. Ela já havia sido atriz há muitas décadas antes. E, quando se iniciaram as filmagens de A Canção da Estrada (único filme do qual participa), estava com 80 anos e vivia num bordel. Ao ser procurada por Satuajit Ray, ela pensou que ele estivesse à cata de companhia. No filme ela não tem nenhum bem material, a não ser seus trapos, uma esteira e uma tigela. Mas nunca se mostra descontente ou desesperada. Ela apenas aceita a vida tal e qual ela lhe apresenta.

Ao contrário do que poderíamos imaginar, os três filmes que compõem a Trilogia de Apu não foram feitos na poderosa indústria de Bollywood, mas em Bengala, bem longe de Bombaim (ou Mumbai), famosa capital do cinema indiano.

Embora a Trilogia de Apu apresente-nos, à primeira vista, um mundo totalmente diferente do nosso, se olharmos com mais profundidade, perceberemos que a distância não é tão grande assim. Ele mostra o relacionamento entre pais e filhos, que contêm as mesmas verdades, em qualquer que seja a cultura: os pais sacrificam-se pelos filhos anos a fio, até que eles partem decididos, deixando-os para trás. Ou, assim que ascendem a uma condição cultural ou social melhor do que a dos pais, passam a negligenciá-los ou a lhes dar menos atenção. No segundo caso, temos os pais abandonados de filhos presentes. Os três filmes trazem um pouco de cada um de nós, neste mundo cheio de incertezas, em que as tragédias podem estar sempre à espreita.

Caros leitores, a Trilogia de Apu é uma das obras-primas do cinema mundial e que, incompreensivelmente, continua inédita nas três Américas, mesmo aparecendo entre os Cem Melhores Filmes da História do Cinema.

Fontes de Pesquisa:
Tudo sobre cinema/ Sextante
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
1001 Filmes…
Wikipédia

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Filme – TRILOGIA DAS CORES

Autoria de Lu Dias Carvalho

    a tricor   a tricora

Todos os três filmes nos prendem de imediato pela narrativa interessante. São metafísicos pelo exemplo, não pela teoria. Kieslowski narra a parábola, não prega a lição. (Roger Ebert)

Kieslowski amava realmente seus personagens e nos convida a tomarmos consciência tanto de nossas limitações quanto de nossa capacidade de transcendência. (Annete Insdorf)

A cineasta polonês Krzysztof Kieslowski (1941 -1996), deixou seu país por motivos políticos, e também em busca de outro que pudesse lhe oferecer melhores condições financeiras para continuar o seu trabalho. Escolheu a França como nova pátria.

A Trilogia das Cores (1993 -1994) é uma homenagem ao país escolhido, tendo sido cada um dos filmes inspirado nas cores que compõem a bandeira francesa e nos três ideais democráticos por elas representados: liberdade, igualdade e fraternidade. São eles: A Liberdade é Azul (1993), A Igualdade é Branca (1994) e A Fraternidade é Vermelha (1994). Os três filmes são ambientados na França, Polônia e Suíça, e as histórias acontecem num período invernal, com dias cinzentos ou encobertos pela névoa. Não tratam de personagens mirabolantes, mas de pessoas comuns com seus dramas cotidianos. Contam também com a trilha sonora deslumbrante do fantástico compositor polonês Zbiniew Preisner.

Embora lide com doenças, perdas, desencantos e mortes em seus filmes, Kieslowski deixa sempre um espaço para o humor. Em A Liberdade é Branca, por exemplo, é impossível não rir das trapalhadas do imigrante polonês, ao voltar para seu país dentro de uma mala, que acaba sendo roubada. Em suma, a Trilogia das Cores mostra que ainda é possível encontrar sensibilidade, poesia, beleza e emoção no cinema.

Embora os filmes que compõem a Trilogia das Cores sejam independentes, com histórias e personagens diferentes, podemos encontrar dois elos que os une: o primeiro, a presença de uma pessoa extremamente idosa, carregando uma bolsa ou sacola, tentando jogar uma garrafa descartável num depósito de lixo reciclável, mas a abertura do recipiente é alta demais para que ela alcance seu intento com facilidade. No último filme, Valentine, a personagem principal, acaba ajudando-a. O segundo elo acontece no último filme, durante um acidente trágico na travessia do Canal da Mancha, quando o cineasta reúne os personagens principais da trilogia, os únicos a serem salvos, para surpresa do espectador.

Kieslowski despede-se do cinema com a Trilogia das Cores. Porém, começa a escrever o roteiro da trilogia “Paraíso, Purgatório e Inferno”, baseada na Divina Comédia de Dante Alighieri, mas morre de um ataque cardíaco, aos 54 anos, dois anos após filmar a Fraternidade é Vermelha.

Sinopse dos três filmes:

Antes, eu era feliz. Eu os amava e eles me amavam. Agora entendi que só farei uma coisa: nada. Não quero bens, presentes, amor ou vínculos. Tudo isso são armadilhas. (Julie)

I – A Liberdade é Azul – ao acordar num hospital, após sofrer um grave acidente, Julie fica sabendo que seu marido, um importante compositor encarregado da composição de uma partitura para comemorar a unificação europeia, e filha pequena morreram no acidente. Tomada por extremo desespero, ela tenta se matar, mas não consegue. Então resolve cortar todos os vínculos com o passado, como forma de sobreviver à dor, pois acha que qualquer forma de vínculo é uma armadilha. Com o tempo, vê que terá que fazer uma opção entre enfrentar a vida com seus desafios ou não. Ela é livre para iniciar ou não uma vida nova, depois das dolorosas perdas. Tem liberdade para fazer a sua própria escolha.

Onde está a igualdade? O fato de eu não falar francês é uma razão para o tribunal não ouvir meus argumentos?(O imigrante)

II – A Igualdade é Branca – conta a história de um cabelereiro, imigrante polonês em Paris, que recebe uma intimação para comparecer ao Palácio da Justiça, onde fica sabendo que a esposa está pedindo o divórcio, alegando que ele não consumou o casamento. O imigrante, que nem domina a língua do país, tenta de todo jeito reabilitar a união, mas a mulher continua irredutível, a ponto de chamar a polícia, quando ele tenta se aproximar. Além disso, põe fogo no salão de beleza, onde os dois trabalhavam, e imputa a culpa a ele. Abandona-o, depois de invalidar seu cartão de crédito, deixando-lhe apenas uma mala na rua. Ele enfrenta o frio, dormindo no metrô, onde encontra um conterrâneo rico. Depois de muitas reviravoltas, o marido desprezado volta para a Polônia, fica rico e arquiteta uma vingança contra a ex-mulher, embora continue apaixonado por ela, numa prova de que o amor não resiste à humilhação. Ao se tornar rico, iguala-se a ela e põe em marcha seus planos. Simula sua morte, e doa seus bens à malvada, que logo parte para a Polônia em busca. Lá, ela é acusada de matar o marido.

Não sei se eu estava do lado do bem ou do mal. Aqui, ao menos, sei onde está a verdade. Tenho uma visão melhor do que no tribunal. […] Mas quantos eu poderia ter salvado? Mesmos culpados. Decidir o que é verdade ou não, agora me parece falta de modéstia.(O juiz )

III – A Fraternidade é Vermelha – uma famosa modelo, atropela uma cadela e, ao socorrê-la, encontra o endereço de seu dono na coleira. Trata-se de um juiz amargo, desencantado com a vida, que passa o tempo interceptando as conversas telefônicas de seus vizinhos e os observando pela janela, acompanhando o desenrolar de suas vidas. A princípio, ele recebe Valentine com muita frieza e doa sua cadela para ela, sem se importar com a saúde do animal. Enquanto passeia com Rita (nome da cadela), ela foge para a casa do antigo dono, tendo Valentine que ir atrás. Aí começam as descobertas em relação ao comportamento ilegal do juiz. Mas uma relação de amizade acaba se estabelecendo entre os dois, o que virá a mudar o curso da vida de ambos. Eles possuem uma fraternidade de almas capaz de superar as barreiras existentes entre ambos.

Prêmios

A Liberdade é Azul ganhou o Leão de Ouro em Veneza como melhor filme e melhor fotografia, tendo Juliette Binoche como melhor atriz. O Cesar foi concedido ao filme nas categorias: melhor atriz, melhor montagem e melhor som. E três indicações ao Globo de Ouro: melhor filme estrangeiro, melhor música e melhor atriz.

A Igualdade é Branca deu o Urso de Prata em Berlim para Kieslowski como melhor diretor.

A Fraternidade é Vermelha ganhou em Cannes como melhor filme; o Cesar pela melhor trilha sonora e foi indicado ao Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro e ao Oscar como melhor direção, melhor roteiro e melhor fotografia.

Observação:

Não deixem de ver A Dupla Vida de Veronique que conta a história de duas mulheres de 20 anos, totalmente idênticas. Uma é polonesa e vive em Varsóvia. A outra é francesa e mora em Paris. Todas as duas são cantoras e possuem o mesmo problema de saúde: coração. Uma nada sabe sobre a existência da outra até que, casualmente, elas se encontram durante uma viagem de turismo, o que mudará totalmente o destino de cada uma. E pior, um sacrifício será necessário para que uma delas sobreviva. Imperdível.

Fontes de Pesquisa:
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Tudo sobre Cinema/ Sextante
Cine Europeu/ Folha
Wikipédia

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