Arquivo da categoria: História da Arte

O mundo da arte é incomum e fascinante. Pode-se viajar através dele em todas as épocas da história da humanidade — desde o alvorecer dos povos pré-históricos até os nossos dias —, pois a arte é incessante.

NOVO ESTILO – A ARTE DO SUPREMATISMO E CONSTRUTIVISMO (Aula nº 107)

Autoria de Lu Dias Carvalho

O período revolucionário russo produziu um grande dinamismo criativo. Os artistas — pioneiros da arte abstrata não objetiva — colocaram-se a serviço das novas mudanças, deixando de lado a influência mercadológica e dando à arte um papel social mais relevante e acessível. Desse grupo faziam parte: Kasimir Malevich, Liubov Popova, Vladimir Tatlin e Alexander Rodchenko que já traziam na bagagem o conhecimento das últimas tendências culturais e artísticas que aconteciam em Paris (França) e Berlim (Alemanha).

Kasimir Malevich definiu o Suprematismo como a “supremacia do sentimento ou da percepção puros na arte criativa”. Ele fazia uso de formas monocromáticas e geométricas que pareciam flutuar sobre um fundo branco. Sua arte acabou influenciando artistas como Liubov Popova, Ivan Kliun e El Lissitzky.

O Construtivismo, por sua vez, foi desenvolvido de acordo com os objetivos da revolução russa, almejando um tipo de arte menos espiritual que a contida no Suprematismo. Suas sementes foram semeadas em 1914, quando Vladimir Tatlin conheceu o atelier de Pablo Picasso em Paris. O artista russo teve a ideia de modificar os planos pintados, vistos nas obras cubistas do espanhol por “materiais reais em um espaço real”. Tatlin em seus trabalhos usou materiais comuns, como barbante, madeira, metal e plástico. É dele o desenho e modelo de uma formidável estrutura espiral conhecida como “Monumento à Terceira Internacional” que não foi construída em razão dos elevados custos.

O destaque dado ao uso de materiais comuns ocasionou um grande impulso na arte construtivista, levando os artistas a identificarem-se com o material usado pelos operários na indústria e, assim, a fortalecer os laços entre eles e os trabalhadores. Dentro daquela visão até mesmo as pinturas não objetivas podiam ganhar uma forma construtivista.

O Construtivismo contou com o apoio do Partido Comunista a partir de 1919, contudo, nos anos de 1920 e 1921 o grupo de artistas responsáveis pelo movimento viu-se dividido em razão de divergentes posturas políticas. Uma parte do grupo rezava que os artistas deviam manter um envolvimento pessoal com o processo criativo, enquanto a outra parte defendia que os artistas eram “trabalhadores intelectuais” e, portanto, deviam trabalhar sob esse ponto de vista. O fato é que alguns artistas deixaram a Rússia, buscando lugares onde pudessem ter um envolvimento pessoal com sua criação, enquanto outros puseram sua arte a serviço das exigências econômicas e políticas de seu país, ali permanecendo.

Nota: a ilustração acima, intitulada O Peixeiro (1913) é uma obra do pintor russo Vladimir Tatlin.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

NOVO ESTILO – MODERNISMO INGLÊS (Aula nº 106)

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                               (Clique na imagem para ampliá-la)

O início do Modernismo inglês aconteceu na virada do século XIX para o século XX, antes que a Primeira Guerra Mundial — iniciada em 1918 — pusesse fim a todo o otimismo de uma geração de pintores e escultores, cuja maioria era formada por alunos da Slade School of Fine Art, situada em Londres — a mais famosa escola de arte do país. Sendo ela uma instituição conservadora, dava muita importância ao desenho, principalmente àquele feito com modelos vivos. O Modernismo inglês subdivide-se em três vertentes:

Comden Town Group — o grupo formou-se em 1911, tendo como líder Walter Sickert. Surgiu como uma sociedade expositora do conservador New English Club. Seus principais membros foram: Harold Gilman, Spencer Gore, Charles Ginner e Lucien Pissarro (filho do impressionista francês Camile Pissarro). O grupo fez uma espécie de retorno ao Impressionismo francês, dando grande importância à qualidade da luz na cena, além disso, pintava usando toques de tinta. Seus temas prediletos eram direcionados às ruas e aos jardins londrinos, interiores domésticos pobres e mulheres na cama ou fazendo sua toalete. O grupo findou em 1914.

Bloomsbury Group — foi criado por um grupo de amigos, contando com a predominância de pintores e escritores. Dele faziam parte, a princípio, o economista John Maynard Keynes e a escritora Virgínia Wolf. A literatura e a filosofia predominaram no grupo no período anterior a 1910, passando a agregar depois a pintura. Roger Fry juntou-se ao grupo um tempo depois, assim como Vanessa Bell e Ducan Grant.

Vórtice — o grupo era composto por pintores e escritores londrinos, dentre eles o pintor Wyndham Lewis e o poeta americano Ezra Pound. O termo “vórtice”, criado por eles, fazia referência a um “turbilhão de energia com um centro estável”. Os vorticistas sofreram influência do Futurismo, mas seu estilo era menos figurativo. O movimento foi até 1915, quando os temas convencionais do Modernismo inglês passaram a ser superados pela abstração na pintura e na escultura.

Os Estados Unidos, por volta de 1900, iam se tornando cada mais urbanizados e a vida nas cidades ficava cada vez mais intensa, transformando-se no tema principal de um grupo de pintores realistas sob a liderança de Robert Henri. O grupo ficou conhecido como Ashcan School (Escola de Lata de Lixo), porque retratava o lado mais sombrio da vida das ruas. Ao fazer da cidade e de seus habitantes um novo tema para a arte, esses artistas tornaram-se os primeiros nomes do Modernismo americano, embora sob o ponto de vista europeu seu estilo fosse classificado como conservador. Dentre os artistas desse grupo podem ser citados: Robert Henri, John Sloan, George Wesley Bellows, Arthur Dove, Marsden Hartley, Max Weber e Charles Demuth.

Nota: a ilustração acima, intitulada Uma Bateria Bombardeada (1919) é uma obra do pintor inglês Wyndham Lewis.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

EU E MINHA ALDEIA (Aula nº 105 C)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Haverá sempre crianças que amarão a pureza, apesar do inferno criado pelos
homens. (Chagall)

Linhas, ângulos, triângulos e quadros levaram-me longe por horizontes encantadores.  (Chagall)

Para os cubistas, a pintura era uma superfície coberta com formas em uma determinada ordem. Para mim, a pintura é uma superfície coberta com representações das coisas… Em que a lógica e a ilustração não tem nenhuma importância. (Chagall)

A composição denominada Eu e Minha Aldeia é uma obra do pintor russo e surrealista Marc Chagall em que se nota as influências cubistas e flauvistas recebidas por ele. Além de ser a tela mais famosa do artista, é também uma das 50 pinturas mais famosas do mundo e de toda a história da arte. O pintor era um homem sonhador e lírico, sendo suas obras carregadas de magia. Nesta tela ele adiciona o moderno e o figurativo, usando um leve toque de magia.

Chagal tomou um ponto central na tela e, a partir dele, construiu raias, que usou para estruturar sua pintura, sequenciando lembranças de sua vida. Assim estão divididas:

1º – Parte de uma face masculina em perfil, provavelmente representando o pintor, trazendo no pescoço um colar de contas com um crucifixo. A face verde está em primeiro plano, ocupando grande parte da margem esquerda da composição. Uma linha reta liga seu olho ao da ovelha em cuja cabeça vê-se uma mulher ordenhando uma ovelha.

2º – Um colorido conjunto de casas ocupa o segundo plano, onde também se encontra uma igreja ortodoxa (o artista era judeu). Duas das casas, uma vermelha e outra verde, estão de ponta cabeça. Uma mulher, também de cabeça para baixo, parece tocar um violino. Já o lavrador, com uma foice no ombro direito, parece caminhar pelos campos russos, pátria do pintor, sempre lembrada em suas pinturas.

Uma árvore, representada por um ramo florido, simboliza a árvore da vida. Os animais também são vistos como uma ligação entre o homem, a natureza e o universo. As formas circulares vistas na pintura lembram o sol, a lua em eclipse (situada no canto inferior esquerdo) e a Terra.

Nesta composição, que foi pintada um ano após a chegada do artista a Paris, ele traz à tona as lembranças de sua aldeia nativa na Rússia, Vitebsk, onde viveu ao lado de camponeses e animais, como mostra a conexão entre o olho do rosto verde do homem e o da ovelha (ou vaca). Sua pintura é como um conto de fadas rural em que tudo se mistura. Todos os detalhes são retirados de sua memória.

Ficha técnica
Ano:1911
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 191 x 150,5 cm
Localização: The Museum of Modern Art, Nova Iorque, EUA

Fontes de pesquisa
Chagall/ Taschen
http://www.theartstory.org/artist-chagall-marc.htm
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.moma.org

O GRANDE MASTURBADOR (Aula nº 105 D)

Autoria de Lu Dias Carvalho

A inspiração do artista para a composição de O Grande Masturbador nasceu ao observar em Paris uma litografia do final do século XIX, em que uma mulher aspirava o cheiro de um lírio. E, como o próprio pintor não conseguia atingir o clímax sexual com outra pessoa, tendo que se valer da masturbação, como ele próprio dizia, tal visão foi o bastante para que sua mente complexa desse vida a esta composição em que ele expõe suas atitudes conflitantes em relação ao ato sexual.

O artista, cuja personalidade era narcisista e exibicionista, ao pintar esta obra expunha a público sua vida particular, ou seja, suas patologias. Para muitos especialistas em Dalí, a obra acima se trata de um autorretrato em que ele se mostra como “o grande masturbador”, assim como o conflituoso relacionamento que travava com a figura feminina.

Na composição um enorme rosto petrificado de perfil apoia-se no solo, através de um gigantesco nariz fálico. Os olhos com imensos cílios estão semicerrados, lembrando o sonho. O cabelo está repartido ao meio. Um anzol pinça o couro cabeludo, arqueando-o. O masturbador não possui boca. Em seu lugar está um gafanhoto cheio de formigas que estão sempre relacionadas com o medo e o putrefato.

Da cabeça do masturbador eleva-se uma mulher de perfil, nua e de cabelos revoltos, possivelmente sua amada Gala. À sua frente encontra-se uma estátua com os genitais bem delineados, debaixo de uma bermuda colante, o que leva o observador a presumir que a mulher esteja prestes a realizar um coito bucal. Ela traz consigo um lírio, símbolo da pureza, embora o pistilo tenha uma forma fálica. Pode querer dizer que o pintor considerava a masturbação, tão condenada à época, como a forma mais pura que ele tinha para chegar ao ápice do gozo sexual.

Encontram-se na obra elementos que amedrontavam o pintor: formigas, leões e gafanhotos. A tela também lembra a infância de Dalí, ao mostrar elementos de seu medo infantil, como conchas e plumas coloridas, assim como a afigura diminuta de um menino acompanhado de seu pai. A cabeça do masturbador é um peixe preso ao anzol. O gafanhoto e o peixe são bissexuais. O objeto dependurado no anzol também tem conotação fálica. Abaixo da cabeça um homem abraça uma rocha que possui a forma de uma mulher. Talvez essa figura petrificada represente a impossibilidade de uma mulher levá-lo ao orgasmo.

O gafanhoto está ligado à infância do pintor que tinha pavor do inseto. Na tela a sua posição lembra o louva-a-deus que tem a cabeça cortada pela fêmea após o coito. A cabeça do leão, semelhante à da Medusa, com uma língua fálica e vermelha de fora, simboliza o desejo sexual mais selvagem. Um pequeno homem vai se afastando da sombra do nariz em direção ao horizonte. Sobre a cabeça do masturbador pedras, uma rolha e uma concha do mar equilibram-se em meio ao delírio da tela. Seu grande rosto está presente em outras obras do pintor.

Uma das declarações de Dalí era a de que nem mesmo ele entendia o que pintava, pois gostava de confundir e provocar. Portanto, podem ser muitas outras as explicações para cada elemento de suas obras ou coisa nenhuma.

Ficha técnica
Ano: 1929
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 110 x 150 cm
Localização: Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Abril Coleções

O LIMIAR DA LIBERDADE (Aula nº 105 B)

Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista francês René Magritte (1898–1967) foi a mais importante figura do movimento surrealista. Suas imagens excêntricas não eram o resultado de sonhos nem de estados psicológicos autoinduzidos, mas, sim, procedentes da observação e das indagações do artista no que diz respeito aos acontecimentos do dia a dia. Para ele a ideia era o resultado do pensamento consciente, e era isso o que importava na pintura.

A composição intitulada No Limiar da Liberdade é uma obra do artista que dela fez duas versões, uma menor (1929) que não trazia o teto cinza e esta que foi encomendada por seu patrono, poeta e colecionador de arte surrealista, Edward James. A obra apresenta oito painéis de parede, todos eles de igual tamanho que retratam: uma floresta, o céu azul com nuvens brancas, a fachada de uma casa, filigranas de papel, um torso feminino, uma textura apresentando as fibras da madeira, sinos e labaredas de fogo.

Magritte apresenta aqui vários pontos importantes de seu trabalho: espaços vazios e a impressão de que existe uma calmaria; pinturas dentro de uma pintura; e colocação de objetos fora de seus ambientes normais, dando-lhes um caráter muito real. Todos os elementos presentes na obra são temas ou desenhos que ele retirou de trabalhos anteriores.

O torso feminino — com curvas e tons de pele naturais — lembra uma obra do Renascimento. Ao apresentar apenas o torso da mulher, o artista torna-a anônima e sem personalidade, sendo vista apenas como objeto sexual. O painel de mogno é como se fosse uma homenagem a seu colega impressionista Max Ernst que usava em seus trabalhos texturas de fibra de madeira.

O único objeto presente na sala é uma densa peça de artilharia que se volta para o torso feminino, reforçando suas associações fálicas. O painel retratando o céu azul, embora convencionalmente seja pintado acima da linha do horizonte, aqui é visto mais abaixo, situando-se entre a floresta e a fachada da casa. O compositor e trompetista norte-americano Mark Isham compôs em 1983 a música “No Limiar da Liberdade” dedicada a esta pintura.

Ficha técnica
Ano: 1937
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 2,39 x 1,85 m
Localização: Museu Boijmans va Beuningen, Roterdã, Holanda

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Magritte/ Editora Taschen
https://www.theartist.me/collection/oil-painting/on-the-threshold-of-liberty/

PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA (Aula nº 105 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Toda a minha ambição no campo pictórico é materializar as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista fúria da precisão. (Dalí)

Sempre me perguntam por que os relógios são moles, e eu respondo: “Um relógio, seja duro ou mole, não tem a menor importância, o que importa é que assinale a hora exata. Se o próprio tempo se curva, por que não os relógios? (Dalí)

A composição intitulada Persistência da Memória é uma obra do artista que nela apresenta um mundo irracional, autônomo e convincente. Inicialmente o observador tem a impressão de encontrar-se diante de uma enorme paisagem vazia, até que seu olhar se detém nos objetos em primeiro plano, principalmente numa série de relógios de bolso que se mostram em vários estados de mudança.  Ao apresentar relógios de metal derretendo-se ou dilatando-se, o artista modifica o entendimento racional do mundo físico.

Depois de jantar, após a saída de sua mulher para o cinema, Dalí notou que um queijo camembert havia derretido, esparramando-se além das bordas da vasilha.  Inspirou-se então no alimento para pintar seus relógios derretidos. Vários dos elementos, que aqui aparecem, estão presentes em outras obras do pintor.

A cena acontece na hora do crepúsculo. Ao fundo, à direita, encontram-se formas rochosas debaixo de uma luz transparente e triste, enquanto à esquerda, vê-se uma oliveira sem folhas. No primeiro plano, no meio da composição, está a caricatura do pintor, com o olho fechado, coberto por grandes cílios, remetendo à contemplação, sono ou morte. Sobre ele se encontra um relógio derretido. A proposta de Dalí é que haja a superação das limitações ditadas pelo tempo “terreno” de modo que as rédeas do inconsciente ganhem espaço.

Quatro relógios estão em cena: um se encontra no galho da oliveira; outro está colocado como uma sela sobre o perfil do artista (já conhecido em O Grande Masturbador); o terceiro desliza-se da beirada de um pedestal em direção ao solo; e o quarto, arredondado e vermelho, também situado no pedestal, está coberto por formigas que simbolizam a putrefação para o pintor. São as únicas criaturas vivas presentes na tela juntamente com a mosca, embora o artista tivesse pavor de formigas.

Mais uma vez o desejo sexual faz parte de uma obra de Dalí, numa relação entre duro e macio: os relógios derretidos e disformes estão ligados à impotência, ao contrário do vermelho, o único duro, mas que não tem serventia, pois está sendo destruído pelas formigas.  Este relógio pode estar fazendo uma alusão ao órgão sexual do pintor. Todos os relógios estão marcando horas diferenciadas, como se não existisse um tempo real, mas apenas a inconsciência, que não tem espaço ou tempo.

Esta é uma das composições mais conhecidas de Salvador Dalí.

Ficha técnica:
Ano: 1931
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 24,1 x 33 cm
Localização: Museum of Modern Art, Nova York, EUA

Fontes de pesquisa
Dalí/ Abril Coleções
Dalí/ Coleção Folha
Dalí/ Coleção Girassol
Tudo sobre arte/ Sextante