Autoria de Lu Dias Carvalho
As descobertas feitas pelos artistas da Itália e de Flandres (região atualmente localizada na Bélgica) no início do século XV acabou por revolucionar toda a Europa. O fato de que a produção artística, além de servir aos objetivos cristãos ao narrar passagens bíblicas de uma forma comovente e também ser capaz de levar à reflexão, ao apresentar uma pequena parcela da vida real, deu um novo estímulo aos artistas e mecenas (indivíduos que protegem e apoiam as artes, as ciências e os profissionais que trabalham nessas áreas). Nada como a motivação para mudar o curso da história, rompendo com a estagnação que tantos malefícios traz a um povo nos mais diferentes campos de sua trajetória. E foi exatamente isso que o Renascimento fez.
Os artífices, ao deixar para trás as similaridades de suas obras, começaram nas mais diferentes partes da Europa a pesquisar e a realizar experiências com o objetivo de encontrar novos caminhos artísticos. A arte do século XV, ao fazer uso do elixir do vigor e embrenhar-se no espírito da aventura, marcou seu verdadeiro rompimento com a Idade Média. Todas essas mudanças não teriam acontecido, se também não tivesse existido uma mudança na concepção de vida desses povos, pois a arte é sempre o resultado do que acontece num determinado período da história humana, abrangendo os mais diferentes campos: social, político, religioso e econômico.
Para uma melhor compreensão é bom que nos lembremos que até por volta de 1400 (século XIV) a arte em diferentes partes da Europa evoluía lentamente e de maneira muito igual. Recordemo-nos do chamado Gótico Internacional, quando pintores e escultores góticos da França, Itália, Alemanha e Borgonha limitavam-se a criar obras bem parecidas. O mesmo acontecia no campo do saber e até mesmo no político. Só para se ter uma ideia, os homens cultos da Idade Média falavam e escreviam em latim, pouco lhes importando se transmitiam seus conhecimentos na Universidade de Paris (França), de Pádua (Itália) ou de Oxford (Inglaterra). A nobreza dessa época estava voltada apenas para os ideais da cavalaria — lealdade total ao rei ou ao senhor feudal — sem se ater ao que acontecia com o povo ou com qualquer outra nação.
As cidades, seus burgueses e moradores começaram a prosperar em fins da Idade Média. Os castelos e seus barões estavam perdendo a importância de que gozavam até então. Os mercadores usavam seu próprio idioma, opunham-se aos concorrentes estrangeiros e ganhavam cada vez mais força. As cidades passaram a orgulhar-se de sua posição e privilégios no comércio e na indústria. Começou a brotar entre os citadinos um forte orgulho no tocante à nacionalidade.
Artistas e artesãos passaram a organizar-se em corporações (seriam os sindicatos de hoje), também conhecidas como “guildas”, que zelavam pelos direitos de seus membros, garantindo-lhes um mercado para seus produtos. Contudo, não era qualquer um a fazer parte da chamada corporação de ofício. Essas exigiam que o artista fosse de fato um mestre em seu ofício. Somente, então, tinha o direito de montar sua própria oficina, empregar aprendizes (esses nada recebiam pelo trabalho que ajudavam a realizar) e receber encomendas (retratos, retábulos, estandartes, brasões, etc.). Havia também as guildas que não tinham relevância econômica, mas apenas um caráter religioso, beneficente ou de lazer.
Essas corporações eram de grande importância para a prosperidade das cidades, sendo bem aceitas e com o poder de serem ouvidas. Eram tão consideráveis que corporações como as dos ourives, dos tecelões e armeiros, dentre outras, doavam uma parte de suas verbas à fundação de igrejas, à construção de palácios para as guildas e à criação ou ornamentação de altares e capelas, resultando numa grande valorização da arte. O ponto negativo estava no fato de, ao zelar excessivamente por seus membros, impedir que um artista estranho encontrasse emprego ou fosse aceito entre os do grupo. Para transpor tamanha resistência, o artista precisava ser muito famoso, podendo, assim, viajar livremente de uma cidade para outra, principalmente durante a construção das grandes catedrais.
Exercício:
1. Qual foi a importância das cidades para a arte?
2. O que levou os artistas a romperem com a desmotivação em que se encontravam?
3. Petrus Christus – O OURIVES
Ilustração: O Ourives (1449), obra do artista Petrus Christus
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento – Nicholas Mann
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