Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

O BARQUINHO

Autoria de Lu Dias Carvalho duran123

O músico brasileiro Roberto Menescal é um dos criadores da bossa-nova. É também o criador, em parceria com Roberto Bôscoli, de um dos hinos do movimento, O Barquinho. Ele conta como surgiu a música.

Desde criança era apaixonado pelo mar e pela caça submarina. Aos 14 anos, ganhou uns apetrechos para fazer mergulhos. E, mesmo morando no Rio de Janeiro, era no Espírito Santo que se dedicava a seu esporte preferido, durante suas férias.

Roberto Menescal estava de férias em Vitória, quando começou a tocar violão. Ao voltar para o Rio, descobriu que Nara Leão, sua namoradinha na época, também estava tocando violão. E assim, os dois reuniam-se no apartamento dela para tocarem juntos, sem falar nos amigos que para ali iam para tocar e cantar. Em dois anos, o grupo já estava compondo músicas que mais tarde seriam intituladas de bossa-nova e o grupo ficaria conhecido como “a turma da bossa-nova”.

Conta Roberto Menescal que em 1961, resolveu levar sua turma (Nara Leão, Ronaldo Bôscoli, o Samba Trio, Yara e outras garotas) para passar um final de semana no Arraial do Cabo/RJ. Lá chegando, alugaram um barco e começaram a navegar, desfrutando de um dia de céu belíssimo e mar de águas claras e quentes e de poucas ondas. Durante o passeio, ele começou a mergulhar e a pegar alguns pescados, para surpresa de todos. Depois, foram para um local mais raso, onde todos entraram no mar. A seguir, desligaram o motor do barco e foram fazer um lanche, deixando o barco solto.

Quando o grupo voltou do lanche, foi ligar o motor do barquinho e nada de pegar. Foram inúmeras as tentativas e nada. A bateria acabou. Apesar do medo que tomava conta da turma, pois a ilha distanciava-se cada vez mais, Roberto Menescal tentava acalmá-la, enquanto tentava fazer com que o motor pegasse, girando uma manivela. Até cantava, para fingir que tudo corria bem, sem nada que preocupasse.

O pavor da grupo só viu luz no final do túnel quando avistaram uma embarcação de pesca, lá longe no horizonte, rumando para Cabo Frio. Através de roupas coloridas amarradas aos remos, conseguiram chamar atenção do pessoal da embarcação, que mudou de rumo para socorrê-los. O barco foi rebocado até o Arraial do Cabo, para a felicidade de todos.

Quando o grupo voltava, já bem mais tranquilo, Menescal e Bôscoli começaram a cantar um versinho que compuseram ali na hora, só de brincadeira, ironizando o acontecido: “O barquinho vai, e a tardinha cai”, cantando até chegarem ao cais. No dia seguinte, quando Menescal encontrava-se com Ronaldo Bôscoli no apartamento de Nara Leão, em frente ao mar de Copacabana, Bôscoli perguntou:

– Beto, como foi aquela melodia que você fez ontem no barco?

– O barquinho vai, a tardinha cai – respondeu Menescal.

Mas Ronaldo queria saber o que Menescal cantava enquanto tentava fazer o motor pegar. E assim, os dois começaram a compor O Barquinho, que viria a se tornar um grande sucesso da dupla.

O Barquinho

Dia de luz festa de sol
E um barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão e o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar…
Sem intenção,nossa canção
Vai saindo desse mar
E o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis!
Volta do mar desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar!
Céu tão azul ilhas do sul
E o barquinho,coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz tudo isso traz
Uma calma de verão e então
O barquinho vai
A tardinha cai
O barquinho vai
A tardinha cai…

Nota
Ouçam a música através do link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=5qVY8DEbbkE

Fonte de pesquisa
Folha de São Paulo/ 29 de setembro de 2013

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Belas Vozes – DALVA DE OLIVEIRA

Autoria de Lu Dias Carvalho ed12345

Nenhuma outra cantora brasileira terá tido tanto poder de emocionar o público. (…) O agudo dourado de sua voz apaixonada comoveu todas as plateias como o canal inexcedível de vocalização dos assuntos amorosos: afetos e renúncias, êxtases e traições e baixarias da vida dos casais. (Moacyr Andrada – jornalista, escritor e crítico de música popular)

Vicentina de Paula Oliveira nasceu na cidade de Rio Claro/SP, em 1917. Seu pai, Mário de Oliveira, também conhecido como Mário Carioca, era marceneiro.  No seu tempo livre, ele tocava clarinete e saxofone nas serenatas e ganhava alguns trocados tocando em matinês dançantes e em clubes sociais. Sua mãe, a portuguesa Alice do Espírito Santo de Oliveira era quituteira e doceira. Nair, Margarida e Lila eram suas três irmãs. O nome de Vicentina foi em homenagem ao irmão que não vingou, que iria se chamar Vicente, mas ela adotou o nome artístico de Dalva de Oliveira.

Mesmo antes de completar oito anos de idade, Mário Carioca já levava a filha consigo para cantar nas matinês dançantes. A garotinha, de pé num banquinho, soltava a voz cantando tango. Mas, após completar 8 anos, ela perdeu o pai, e a mãe se mudou para a cidade de São Paulo com as filhas, indo trabalhar como governanta. As meninas foram estudar num orfanato de freiras. Ali, Dalva começou a aprender piano e dança. Mas teve que deixar o orfanato, quando seus olhos verdes foram acometidos por uma enfermidade. Foi trabalhar como babá na casa em que trabalhava a mãe, onde deu início, ainda criança, a uma vida de trabalhos pesados: cozinheira, arrumadeira, faxineira, costureira e funcionária de fábrica de calçados.

A família de Dalva mudou-se para o Rio de Janeiro, indo morar num cortiço próximo à Central do Brasil. Certa vez, enquanto trabalhava numa fábrica de chinelos, um diretor de estação de rádio ouviu-a cantar, sendo levada por ele para fazer um teste. Ali se iniciava sua vida artística, passando por muitas rádios e cantando canções de grandes compositores. Terminou conhecendo Herivelto Martins que fazia a dupla Preto e Branco, com Nilo Chagas. Dupla que viria a se transformar em Trio de Ouro, com a participação de Dalva.

Quando trabalhava numa academia de dança como faxineira em São Paulo, após o serviço, ela aproveitava o tempo livre para cantar e tocar piano. Descoberta, foi convidada para excursionar pelo interior mineiro junto a um grupo que se desfaria na capital mineira. Em Belo Horizonte, ela cantou na Rádio Mineira e, segundo ela, foi ali que trocou “Vicentina” por “Dalva”, seguindo sugestão de Dona Alice.

Dalva de Oliveira, com sua voz límpida de soprano, sobressaia no Trio de Ouro em meio às duas vozes masculinas. Acabou se casando com um dos componentes do trio, Herivelto Martins. Ao gravar a marchinha “Cecy e Pery”, ela fez tanto sucesso que os fãs pediram-lhe que desse à sua criança, prestes a nascer, o nome de Pery ou Cecy, de acordo com o sexo. Assim nasceu Pery Ribeiro. Dois anos depois chegaria Ubiratan.

Ave Maria no Morro, composição de Herivelto Martins, foi uma das mais famosas das mais de 100 canções de Dalva de Oliveira, gravadas com o trio. Na sua discografia também estão duetos com Francisco Alves, além de canções gravadas somente por ela.

O casamento de Dalva de Oliveira com Herivelto Martins naufragou, desfazendo-se o Trio de Ouro. Imediatamente ela assumiu cantar sozinha, o que a levaria à condição de uma das mais famosas e brilhantes cantoras da época, emplacando um sucesso atrás do outro: Olhos Verdes (Vicente Paiva), Tudo Acabado (J. Piedade/Osvaldo Martins), Errei Sim (Ataulfo Alves), Que Será (Marino Pinto/Mário Rossi), dentre outros.

A separação de Dalva e Herivelto rendeu uma série de réplicas e tréplicas, com a mídia e os fãs tomando partido. Polêmica essa que durou dois anos. Foi eleita Rainha do Rádio, recebendo o cetro das mãos de Marlene. Ela gravou em Londres, depois de ter se apresentado em Portugal e na Espanha. Sua vendagem de disco era excepcional.

Dalva casou-se depois com o comediante, dançarino e empresário argentino Tito Clemente. O casal adotou a menina Dalva Lúcia. Mas a felicidade não bateu à porta da nova família, e o seu declínio vocal era iminente. Separaram-se. E, aos 47 anos, ela voltou a se casar. Dessa vez com seu ex-motorista e secretário, Manuel Nuno Carpinteiro, 28 anos mais novo do que ela. Em 1965, quando voltava de uma boate, o carro do casal capotou, matando quatro pessoas que se encontravam num ponto de ônibus. Dalva teve o maxilar afundado, a bacia fraturada e um grande corte no rosto. Ficou no hospital um bom tempo e dele saindo endividada e com uma profunda cicatriz na face. Depressiva, passou a beber muito. Conseguiu dar a volta por cima.

Dentre as novas gravações feitas por Dalva de Oliveira estava Bandeira Branca (Max Nunes/Laercio Alves), tida por pesquisadores musicais como o último clássico da canção carnavalesca e o último dela. A cantora morreu em 1972, aos 55 anos, vitimada por hemorragias ocasionadas por varizes no esôfago.

Nota
Acessem o link para ouvirem Ave Maria com a cantora.
http://www.youtube.com/watch?v=x2ear6xj0oY

Fonte de pesquisa:
Grandes Vozes/Coleção Folha de São Paulo

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Don McLean – VINCENT

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Inspirado na tela Noite Estrelada (Van Gogh), Don McLean, compositor e cantor estadunidense, compôs a canção abaixo (ver link):

Vincent

Noite estrelada
Pinte suas cores de azul e cinza
Olhe os dias de verão
Com olhos que conhecem a escuridão da minha alma
Sombras nas colinas
Desenhe as árvores e os narcisos
Sinta a brisa e os arrepios de inverno
Em cores na terra de neve

Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir
Eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora

Noite estrelada, estrelada
Flores em fogo com chamas brilhantes
Nuvens que giram em uma roxa neblina
Refletem nos olhos azuis de Vincent
Cores mudando de tom
Campos matutinos de grãos âmbar
Rostos cansados com dor
São acalmados pelas mãos afetuosas do artista

Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir
Eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora

Porque eles não podiam te amar
Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro
E quando não havia mais esperança
Naquela noite estrelada
Você tirou sua própria vida,
Como amantes geralmente fazem
Mas eu poderia ter te falado, Vincent,
Esse mundo não foi feito para alguém tão bonito quanto você

Noite estrelada, estrelada
Retratos pendurados em paredes vazias
Cabeças sem porta-retratos em paredes sem nomes
Com olhos que observam o mundo e não esquecem
Como os estranhos que você conheceu
Os homens acabados, com roupas rasgadas
O espinho prateado de rosas sangrentas
Está esmagado e quebrado na neve virgem

Agora eu acho que sei
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir
Ainda não estão ouvindo
Talvez nunca ouvirão.

Nota:
Acessem o link para ouvirem a canção.
http://www.vagalume.com.br/don-mclean/vincent-traducao.html#ixzz1UaW8Spup

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Raízes da MPB – WALDIR AZEVEDO

Autoria de Lu Dias Carvalho waldir

 Eu nunca pensei que pudesse sustentar minha família com um pedacinho de madeira e quatro arames esticados. Chego a pensar que é muita ousadia mesmo. (Waldir Azevedo)

No segundo semestre de 1949, Brasileirinho fez sua escalada rumo ao sucesso, de tal modo que um visitante, que chegasse ao Rio em dezembro daquele ano e fosse ouvir rádio, achava que só havia uma emissora, pois todas tocavam o disco de Waldir. (Henrique Cazes – músico, produtor, arranjador e escritor)

O instrumentista e compositor Waldir Azevedo nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1923, filho de Walter, um funcionário da Light, e de Benedita Azevedo

O pequeno Waldir foi matriculado num colégio eclesiástico, pois era sonho de seus pais que ele viesse a se tornar padre, escolha pela qual o menino não tinha nenhuma vocação, já que seu sonho era ser aviador. Mas ao completar 10 anos de idade, em 1933, o garoto passou a demonstrar interesse pela música. Gostava de ouvir uma flautinha de lata tocada por seu vizinho Marreco. E não tardou a comprá-la após venda de uns passarinhos. Gostava de tocar Trem Blindado, composição de João de Barro (Braguinha).

Naquela época eram muito comuns os saraus, e foi num desses, na casa de um vizinho, que Waldir caiu de amores pelo bandolim. O bandolinista deixou que o garoto experimentasse o instrumento, observando que tinha jeito para tocar o instrumento. Ao tomar conhecimento do feito, sua mãe fez-lhe uma proposta: “Se você aprender a tocar o Fado da Severa, eu te dou um bandolim.”. O garoto deu conta do desafio e a promessa foi paga. E, quanto ao sonho de ser aviador, esse caiu por terra quando se constatou no exame médico, que tinha uma deficiência cardíaca. Assim, antes mesmo de se tornar maior de idade, passou a trabalhar com o pai na Light. Como era apontador, não tinha horários fixos, aproveitando o tempo livre para lidar com música.

Waldir era um garoto curioso. Nutria interesse por vários instrumentos de corda: bandolim, violão, banjo e violão tenor. Chegou a fazer parte do grupo vocal e instrumental Águias de Prata, que chegou a gravar um disco na RCA Victor. Mas foi aos 20 anos de idade que ele passou a tocar cavaquinho, com o qual faria uma revolução na música. Ao executar o choro Cambucá, do saxofonista Pascoal de Barros, ganhou o programa Calouros OK, na rádio Guanabara. Com o sucesso advindo do concurso, ele passou a ser convidado para fazer substituições em regionais que tocavam na rádio Mayrink Veiga.

Waldir casou-se com uma moça a quem foi apresentado – Olinda Barbosa, indo morar nos fundos da casa de seus pais, Walter e Benedita. Nessa época, trabalhou como recepcionista numa oficina que consertava autos. Uma voltinha com o automóvel já era suficiente para que ele detectasse o problema mecânico, com seu ouvido excepcional. O casal teve duas filhas, Miriam e Marli.

Waldir foi chamado para um teste na Rádio Clube do Brasil, após a saída do conjunto dirigido pelo famoso flautista Benedito Lacerda. Dilermando Reis foi responsável por organizar um novo conjunto, pagando bem melhor do que a Light, onde trabalhava. Acabou sendo aprovado e, como Dilermando começava a ficar conhecido como solista de violão, fazendo apresentações fora da cidade do Rio de Janeiro, era Waldir Azevedo quem o substituía. Com isso, foi cada vez mais se aperfeiçoando, chegando mesmo a acompanhar grandes cantores.

O tema de Brasileirinho nasceu quando um garotinho seu sobrinho, pediu ao tio Waldir que tocasse no seu cavaquinho de brinquedo, que continha apenas uma corda. O tema foi posteriormente desenvolvido pelo violonista Jorge Santos, seu amigo e companheiro de regional. Tratava-se de um choro ligeiro, que começava a se propagar através do rádio. Enquanto isso, Jacob do Bandolim deixou a Continental e foi para a RCA Victor. Waldir foi convidado para assumir o lugar.

Waldir Azevedo estreou na Continental, com Carioquinha no lado A e Brasileirinho no lado B. O sucesso de Brasileirinho foi retumbante, sendo o samba tocado em todas as emissoras. E o compositor ganhou tanto dinheiro que sua esposa Olinda achou que ele tivesse assaltado um banco. A vida financeira da família melhorou consideravelmente.

Depois de criar boas músicas, mas nenhuma que superasse Brasileirinho, Waldir criou o baião Delicado, cujos primeiros compassos identificariam o cavaquinho para sempre. Delicado ultrapassou as fronteiras nacionais, indo da Argentina para os Estados Unidos, sendo gravado até pela orquestra de Percy Faith. Uma versão foi feita por Aloysio Oliveira, cantada por Carmen Miranda, e usada no desenho animado do personagem Patolino. Com o sucesso, as músicas famosas de Waldir Azevedo ganharam letra de Miguel Lima, que por sua vez foram cantadas por Ademilde Fonseca.

O choro Pedacinho do Céu foi composto por Waldir em homenagem às duas filhas. E novamente o compositor viu uma música sua ultrapassar as fronteiras nacionais. Em Buenos Aires, os fãs chegaram a rasgar suas vestes na porta da rádio. Sua vida transformou-se em muito trabalho, sucesso e viagens pelos mais diferentes lugares, tocando cada vez melhor. Até quando esteve na cidade do Cairo, encontrou uma caixinha de música que tocava uma de suas composições, Delicado.

Mas, como a vida é feita de contradições, altos e baixos, as duas filhas de Waldir Azevedo viram-se envolvidas num acidente automobilístico, vindo Miriam, a mais velha, a falecer. O compositor caiu numa profunda depressão, sem nenhum interesse por nada, inclusive pela música. Ficou assim por um período de 3 anos. Começou então a ler e escrever músicas, na tentativa de melhorar sua saúde mental. Quando conseguiu retornar às suas atividades, gravou o LP Delicado.

Em 1971, Waldir Azevedo e Olinda mudaram-se para Brasília, acompanhando o marido da filha que fora transferido. Ali, travou contato com o grupo do choro, do qual fazia parte Francisco de Assis. Ficou muito amigo do violonista Hamilton Costa, que viria a se tornar seu parceiro. Mas em Brasília, morando no Lago Sul, sofreu um acidente. Foi consertar o cortador de grama, cuja lâmina arrancou a ponta de seu dedo anular esquerdo. O pedaço do dedo foi reimplantado e acabou recuperando-se totalmente. Fez o choro Minhas Mãos, Meu Cavaquinho, em agradecimento à sua recuperação.

É lamentável o fato de que Jacob do Bandolim, por inveja, pelo fato de Waldir Azevedo ter vendido mais discos e ter alcançado sucesso no exterior, tenha desmerecido o colega compositor e instrumentista, referindo-se a ele como “o outro”, entre outros títulos grosseiros, até o final de sua vida.

Waldir Azevedo morreu em 1980, aos 57 anos de idade, em razão da ruptura de um aneurisma abdominal.

Nota:
Clique nos links abaixo para ouvir Brasileirinho e Delicado:
http://www.youtube.com/watch?v=Si5y0QGSjTY
http://www.youtube.com/watch?v=7pKF7vTk73M

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – ASSIS VALENTE

Autoria de Lu Dias Carvalho papagaio12

Assis Valente fez todos os sambas, na forma como na essência, dentro da norma carioca – ritmo, na estrutura e na linguagem. São quase sempre crônicas da vida no Rio, o quadro de costumes flagrando invariavelmente o ângulo mais interessante, de preferência com a acentuação do toque lúdico. Nas marchinhas carnavalescas, equilibrou irreverência e malícia, se é que se pode falar de equilíbrio a propósito de categorias tão picantes. (Moacyr Andrade – jornalista, escritor e crítico de música popular)

O compositor, protético e desenhista José de Assis Valente nasceu na cidade de Salvador/BA, em 1911, tendo como pai o descendente de portugueses, José Assis Valente e, como mãe, a negra Maria Esteves Valente. A primeira fase da vida de Assis Valente é bem obscura. Não há clareza nos acontecimentos. Nem mesmo o local de nascimento é confiável. Parece que ele foi morar com os “padrinhos”, dos quais se desligou, indo trabalhar num hospital. Também estudou desenho e escultura, além de concluir um curso de prótese dentária, em que foi excelente profissional. Como desenhista ganhou um prêmio importante que lhe foi entregue pelo governador da Bahia, à época.

Assis Valente deve ter vindo para a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente, em 1927. Ali, ele trabalhou como desenhista nas famosas revistas Fon-Fon, O Cruzeiro e na Shimmy. Também trabalhou como protético. Heitor dos Prazeres, pintor e sambista, aproximou-o do meio musical. Uma de suas composições mais conhecidas é Boas Festas, tendo se inspirado, para compô-la, numa gravura em que uma menininha, com os sapatos sobre a cama, aguarda o presente de Papai Noel. A canção foi gravada por Carlos Galhardo, obtendo um retumbante sucesso.

Anoiteceu/ O sino gemeu/ A gente ficou/ Feliz a rezar/Papai Noel/ Vê se você tem/ A felicidade/ Pra você me dar…

Ao completar 21 anos, Assis Valente já estava sendo gravado por Aracy Cortes, rainha do teatro de revista. Ela gravou a música Tem Francisca no Morro, uma crítica ao excesso de estrangeirismos e modismos. Sua segunda intérprete foi Carmen Miranda, por quem nutria uma grande paixão. Foi uma longa parceria, entre compositor e intérprete, até que a diva partiu para a terra do Tio Sam.

Camisa Listrada, E o Mundo Não Se Acabou, e Uva de Caminhão são três das pérolas de Assis Valente interpretadas por Carmen Miranda. O samba Recenseamento foi a última composição do músico gravada por ela, ao voltar dos Estados Unidos. Infelizmente, Carmen se recusou a gravar Brasil Pandeiro, um dos sambas mais populares do autor, inclusive, gravado por inúmeros cantores da atualidade, como Morais Moreira, Pepeu, Baby Consuelo, etc… Para o fato de Carmen ter se recusado a gravar um samba de um compositor que a idolatrava, Abel Cardoso Júnior explica:

“Penso que Carmen não gravou Brasil Pandeiro porque a letra a exaltava e ela, por modéstia ou receio de parecer cabotina a recusou”.

Ruy Castro, biógrafo da cantora, tem a mesma opinião. O samba foi então gravado pelo famoso conjunto musical Anjos do Inferno. Ele lançou também muitas músicas com o conjunto Bando da Lua, dentre elas está o samba Mangueira, em parceria com Zequinha Reis, que é até hoje cantado pela Escola.

Assis Valente, cujo comportamento alternava entre a euforia e a tristeza, e que talvez fosse hoje incluído na categoria de bipolar, resolveu que iria parar de compor, dedicando-se apenas à profissão de protético. Protestos contra tal decisão chegaram de toda parte. Até o jovem Fernando Sabino, em Belo Horizonte, posicionou-se a favor do talento do compositor. Não se sabe se a decisão de Assis Valente era sincera ou se apenas era uma jogada de marketing.  O fato é que ele se desculpou, dizendo que passava por um momento de descontrole, e que iria prosseguir compondo. E, para o bem da música popular brasileira, continuou criando várias pérolas.

Assis Valente casou-se com a datilógrafa Nadyle da Silva Santos que era 15 anos mais nova que o noivo. A situação financeira, sempre mal administrada, levou-o a morar na casa dos pais da mulher. Ali nasceu a filha Nara Nadyle. De tanta alegria, ele pediu que tatuassem o nome da filha no corpo. Mas, três meses depois, Assis Valente abandonou a mulher e a filha, alugando um quarto só para si.

Dizem que quando Assis Valente oferecia suas canções a outras cantoras, elas passaram a recusar, ressentidas com o privilégio que o compositor dava a Carmen Miranda. Mesmo assim, seu samba Fez Bobagem foi gravado por Aracy de Almeida, e Camélia Alves gravou a batucada Quem Dorme no Ponto É Chofer. Também continuou sendo gravado pelos conjuntos vocais, dentre eles Quatro Ases e Um Coringa. Na parceria feita com o conjunto Quatro Ases, lançou mais de uma dezena de títulos. O samba exaltação Onde Canta o Sabiá, em parceria com o compositor e cineasta José Carlos Burle, foi um dos grandes sucessos. E depois veio Boneca de Pano, canção gravada depois pelo cantor colombiano, Carlos Ramirez, num triste “portunhol”. A cantora Marlene, em 1956, gravou um LP com músicas do compositor, com interpretações fantásticas. Última homenagem.

Assis Valente recolheu-se definitivamente da vida, em março de 1958, aos 53 anos, deixando 154 composições gravadas. Seu corpo foi encontrado na Praia do Russel. Envenenou-se com formicida e guaraná. Não foi a primeira vez que tentou se matar, pois, também se atirou do Corcovado, sem grandes traumas. Certa vez, ele chegou a confidenciar a seu amigo embaixador, Paschoal Carlos Magno, a quem chamou num momento de extremo desespero:

(…) Eu vivo obsedado pela morte. Um dia me mato.

Nota
Cliquem no link abaixo para ouvirem Brasil Pandeiro
http://www.youtube.com/watch?v=iTXWpdkAp6Y

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – GERALDO PEREIRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O trunfo de Geraldo não era ser um grande ritmista, pois não se notabilizou por isso, ainda que tenha desempenhado bem a função em rádios e shows. O que ele sabia como ninguém na sua época era fazer o ritmo certo com linhas propositalmente tortas, balançantes. Ao resultado desta maestria se convencionou chamar samba sincopado, também conhecido por samba teleco-teco. (Luiz Fernando Viana – jornalista, editor e escritor)

Geraldo Pereira era tímido, um tímido que usava agressividade para se defender. Era vaidoso e ganancioso. Gostava de mulher e de bebida, mas não sabia ter mulher, nem bebida, nem dinheiro. (Cyro de Souza – amigo e parceiro)

Você vai encontrar a divisão rítmica de João Gilberto, que veio muitos anos depois caracterizar a bossa-nova nas síncopes de Geraldo Pereira (Cyro de Souza, compositor)

O compositor, cantor, ritmista e ator Geraldo Theodoro Pereira nasceu em Juiz de Fora/MG, no ano de 1918. Era filho de Clementina Maria Theodoro e Sebastião Maria. Tinha muitos irmãos, pois sua mãe também tivera filhos com Antônio Manuel Araújo. Quando ela resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, deixou Geraldo aos cuidados de uma tia. E foi da família dessa tia que foi anexado o Pereira ao nome do menino. Como era muito esquivo e afeito a mágoas, ele não gostava de falar sobre sua infância. O que se sabe é que trabalhou na roça, inclusive como candeeiro de boi.

O modo como Geraldo Theodoro chegou à cidade do Rio de Janeiro, entre 1929 e 1931, nunca foi explicado. Ali, foi trabalhar na birosca de Mané Araújo, seu irmão mais velho e padrinho de batismo, filho da primeira união da mãe, responsável por trazê-lo de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro. No morro, ele e seus amigos ficavam ouvindo os compositores da Mangueira (Carlos Cachaça, Cartola, entre outros), enquanto iam aprendendo o abc de como se compor uma música.

Geraldo Pereira tinha um gênio forte. Vivia às turras até mesmo com Mané Araújo que era respeitado por todos do morro Santo Antônio, vindo a se formar juiz de fato do lugar. Resolvia até assuntos referentes à perda da virgindade das moças do local. E foi numa dessas resoluções do padrinho, que Geraldo perdeu sua solteirice. Foi acusado pelo pai de Eulíria Salustiano de ter desonrado a moça, então com 21 anos. E o irmão, para mostrar sua autoridade, acabou dando ordens para que o casório acontecesse. Como não há quem censure o censor, o dito juiz tinha três mulheres oficiais. Apesar da indiferença do marido, o rebento Celso Salustiano veio ao mundo, mas sem registro do pai.

Geraldo era sem responsabilidade. Quando sua mãe estava muito doente, sob os cuidados do filho mais velho Mané Araújo, que ao viajar deixou ao irmão a tarefa de cuidar dela, o sambista foi cantar num teatro, emendando com uma festa. Voltou no dia seguinte e encontrou a mãe morta e o irmão revoltado. Acabou deixando o local onde vivia.

Apesar de só ter feito o primário, Geraldo Pereira era muito inteligente e bom em língua portuguesa. Sua formação musical deu-se através da observação: olhos e ouvidos sempre atentos ao trabalho dos mais velhos. Não perdia um ensaio do conjunto Com Que Roupa?. Aluísio Dias, um dos integrantes do conjunto, ensinou-lhe, tempos depois, os rudimentos do violão. Alfredo Português, padrasto de Nelson Sargento, foi seu mestre e também parceiro. E Jacy de Paula Trindade, sobrinha de Aloísio Dias, além de dominar a língua portuguesa, ainda tinha um piano em seu barraco e também atraía os olhos do rapaz de 17 anos. E foi para ela que mostrou suas primeiras composições.

Geraldo Pereira era muito curioso quanto à música, mas a bebida e as mulheres deixaram-lhe pouco tempo para os estudos musicais. Mas, como já sabemos, não era fácil viver de música naquela época. Para sobreviver, Geraldo também teve que trabalhar em outros ofícios: foi entregador de marmita, soprador de vidros, guarda da Central do Brasil, motorista de caminhão de lixo, etc. Somente a partir de 1940, aos 22 anos, resolveu se dedicar totalmente à música.

Foi com a canção Se Você Sair Chorando, aos 21 anos, que Geraldo Pereira iniciou sua carreira de compositor, que lhe rendeu certo sucesso no carnaval. Para ele, aquilo era o início da glória. Deixou o emprego público para se dedicar aos clubes, rádios e gafieiras, como forma de propagar seu trabalho. O cantor Moreira da Silva, ao conhecê-lo, gostou tanto dele que solicitou a Wilson Batista que o incluísse no samba de breque Acertei no Milhar, que fez grande sucesso. Seu papel era apenas divulgar a música. Mas naquele mesmo ano, Cyro Monteiro gravou o samba de Geraldo, Acabou a Sopa, vindo a gravar outras canções do compositor. Daí para frente emplacou vários sucessos, como Falsa Baiana.

Geraldo Pereira passou a fazer parte do time dos grandes autores de sambas, sendo gravado pelos Anjos do Inferno, um dos bons conjuntos vocais da época. Também se lançou como cantor de Mais Um Milagre. Atuou no teatro em “Anjo Negro” e no cinema. Mas ele passou a beber muito, chegando até a ironizar a situação em seu samba Bebe Quem Pode. Brigou com o “padrinho” Cyro Monteiro, com os companheiros e amigos, com alguns até fisicamente, e passou a dar calotes, passando os companheiros para trás.

O alcoolismo transformou Geraldo Pereira num homem perigoso que não respeitava ninguém. Na sua loucura alcoólica, achava-se muito valente, topando qualquer parada. O seu tipo, alto e bem arrumado, atraía muitas mulheres. Tinha com elas uma relação ambígua, que variava entre o amor e o ódio. Os contatos com as “irmãzinhas” e “sobrinhazinhas”, como as apresentava, eram geralmente passageiros. Mas Isabel Mendes Silva, com quem viveu junto, foi sua grande paixão. Viviam em meio a tapas e beijos, ciúmes e traições. Para ela fez o samba Liberta Meu Coração.

Geraldo Pereira teve muitos parceiros: Arnaldo Passos, Ary Monteiro, João Batista e outros que viviam de negociar sambas, ou seja, nem sequer conheciam as notas musicais, mas compravam participações, jogando com o sucesso da canção. Também acontecia de obterem a parceria como acerto de dívida. Naquela época, no mundo musical valia tudo. E Geraldo não fugiu à regra. Ganhou dinheiro vendendo seus sambas para pagar suas dívidas de boemia. Mas também gravou sambas de outros companheiros, como se fossem seus, como é o caso de Olha o Pau-Peroba, de Buci Pereira, o que torna difícil saber com exatidão quantas foram as músicas feitas por ele.

Em 1950, Geraldo participou de uma inovação no campo da música nacional – o long-play. Ele gravou, na própria voz, sua composição Ela, que foi muito bem recebida, vindo a realizar com a Sinter Capitol, uma multinacional, novos discos. Os sambas Falsa Baiana e Escurinho foram os seus dois maiores sucessos. Escurinho foi interpretado posteriormente pelos cantores Roberto Silva e Zizi Possi.

Uma lenda criou-se em torno da morte de Geraldo Pereira, atribuindo-a a João Francisco dos Santos, conhecido por Madame Satã. Conta-se que numa briga com o cantor e compositor, Madame Satã deu-lhe um soco e ele caiu, batendo a cabeça no chão. Mas, segundo pesquisadores musicais, o músico sofria de sérios problemas gastrointestinais que foram fundamentais para  sua morte. Inclusive, chegou a contar para os amigos que andava perdendo sangue em suas diarreias. Uma de suas certidões de óbito fala em hemorragia intestinal, enquanto uma segunda fala sobre hemorragia cerebral. O fato é que o dito soco pode ter apenas contribuído para a causa de sua morte, pois, sua situação de saúde já era grave. Geraldo Pereira morreu em 1955, aos 37 anos de idade.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Acertei no Milhar
http://www.youtube.com/watch?v=2eOpqjyjX6I

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

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