Arquivo da categoria: Música

Estudo sobre os grandes nomes da pintura mundial, incluindo o estudo de algumas de suas obras

PEDACINHOS DO CÉU – Waldir Azevedo

Autoria de Edward Chaddad rel1

Waldir Azevedo, ainda menino, aprendeu a tocar a flauta e na adolescência, o bandolim; depois brilhou intensamente com o violão elétrico e o cavaquinho. Todavia, embora tenha sido um extraordinário instrumentista, foi mesmo como compositor que se consagrou, compondo chorinhos, um mais lindo do que o outro.

Entre as composições mais belas e apaixonantes de Waldir Azevedo, podemos lembrar Pedacinhos do Céu, melodia que extravasa puro sentimento, transborda emoções, colhidas lá do fundo do coração, um devaneio de ternura. Divina!

Pedacinhos do Céu foi composta pelo músico para homenagear sua filha, Míriam, logo após o seu falecimento, com apenas 18 anos de idade, em um desastre automobilístico.

Vejam-na, interpretada por Altamiro Carrilho e seu grupo, com a participação das choronas: Gabriela Machado, na flauta, Ana Claudia César, no cavaquinho, Paola Picherzky, no violão de 7 e Roseli Câmara na percussão.

Ouçam:
ttp://youtu.be/U5M1_f7jybA

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Raízes da MPB – LUIZ GONZAGA

Autoria de Lu Dias Carvalho rel1234

Coube ao pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga do Nascimento, um negro semianalfabeto, de cara redonda, em formato de lua, a ciclópica tarefa de colocar um naco substancial da diversidade estética de sua região – o nordeste, então chamado genericamente de norte – no mapa da música popular brasileira. (Tárik de Souza, jornalista de música)

O compositor, cantor e instrumentista Luiz Gonzaga do Nascimento, nasceu em Exu/PE, no ano de 1912. Seu pai, Januário dos Santos, sanfoneiro e consertador de instrumentos, era agregado na fazenda onde vivia com a mulher, Ana Batista (Santana) e uma penca de nove filhos. Não era fácil a vida do casal, tendo que sustentar tão grande prole. Tudo em casa era racionado. Só a música é que vinha com fartura, inclusive, cinco dos irmãos de Gonzaga vieram a se tornar sanfoneiros profissionais.

Luiz Gonzaga de tanto ver o pai tocar e consertar instrumentos, logo, logo já estava afinando-os e tocando também. Quando aprendeu a ler ganhou uma sanfona de “oito baixos” do patrão, para quem trabalhava como assistente em suas viagens. Aos 14 anos de idade, o garoto já era profissional e tinha por ídolo Lampião, cangaceiro e também sanfoneiro.

Ainda muito novo, Luiz Gonzaga começou a se envolver com as namoradas. Uma delas foi responsável por mudar sua vida totalmente. Ao se apaixonar por Nazarena, contou com a oposição do valente pai da moça. O moço rejeitado armou-se de uma faca, tomou uma birita para dar coragem e se preparou para enfrentar aquele que deveria se seu futuro sogro. Mas foi sua mãe, dona Santana, quem lhe deu uma boa sova pelo feio procedimento. Envergonhado, Luiz vendeu a sanfona e foi-se embora para Fortaleza, onde se alistou como voluntário no Exército. Ali chegou a corneteiro, recebendo o apelido de Bico de Aço. Permaneceu no Exército durante dez anos.

No Rio de Janeiro, com sua sanfona Homes 80 baixos, em companhia de um casal  com que fizera amizade, e que lhe deu moradia, tocava e ganhava alguns trocados. Ali teve contato com o acordeonista mineiro, Antenógenes Silva, o mais famoso da época, que lhe deu algumas aulas. Depois foi motivado a tocar músicas da região natal. Relutando a princípio, pois achava que este tipo de música era específico para o fole, compôs Vira e Mexe, com a qual ganhou o primeiro lugar no programa de calouros do famoso compositor mineiro Ary Barroso. O paraibano Zé do Norte levou Luiz para participar do programa “A Hora Sertaneja”, numa rádio.

Luiz Gonzaga sentiu que fazia parte de um novo mundo quando, acompanhado por Garoto ao Violão, foi convidado para gravar quatro músicas, sendo três de sua autoria: Maria Serena, Véspera de São João e Vira e mexe. Daí para frente, ele passou a gravar apenas como instrumentista, sendo suas canções gravadas por outros cantores, até fazer parceria como o letrista Miguel Lima. Para cantar suas músicas, Luiz Gonzaga ameaçou deixar sua gravadora, se ela não concordasse.

A parceria de Luiz Gonzaga com o cearense Humberto Teixeira, embora efêmera, trouxe grande sucessos. Ao ser contratado pela poderosa Rádio Nacional, grandes artistas passaram a gravar suas músicas, desde Emilinha Borba a Ivon Cury. E à medida que crescia o seu sucesso, o número de parceiros e de fornecedores de repertório aumentava. Mas Zé Dantas foi o mais importante dos parceiros, pois, além se ser um estudioso da cultura regional, era fã do trabalho de Luiz Gonzaga.

Uma dúvida para muitos é saber se Gonzaguinha é filho ou não de Luiz Gonzaga. O que se sabe é que o artista nordestino viveu com a cantora Odaleia Guedes dos Santos, que morreu jovem em decorrência da tuberculose. Luiz Gonzaga registrou o filho da cantora como Luiz Gonzaga Junior. Mas as biografias de Gonzagão relatam que ele teria confessado ser estéril. Após a morte da mãe, o filho ficou sendo criado pelo casal Xavier e Dina. Luiz Gonzaga casou-se depois com Helena das Neves Cavalcanti, adotando o casal uma menina de nome Rosa Maria.

Com a chegada da bossa-nova, o antigo dá lugar ao novo, como se ambos não pudessem viver harmoniosamente. Mas com o tropicalismo, Luiz Gonzaga voltou à tona, sendo acompanhado por seu aluno e sucessor, José Domingos de Moraes (Dominguinhos). Em 1968, ele incluiria seu filho Gonzaguinha como parceiro, e com que vivia em conflito, pois, para muitos, Gonzagão era um adulador dos poderosos, enquanto Gonzaguinha era um dos autores mais censurados da época da ditadura.

Ao fazer parceria com o pernambucano João Silva, Luiz Gonzaga voltou a produzir grandes sucessos. Morreu em 1989, aos 77 anos, em meio a uma agenda cheia de shows.

Segundo análise de Tárik de Souza, jornalista de música:

Gonzaga alterou os paradigmas da nordestinidade, ante uma classe média preconceituosa contra os “cabeça-chatas”, como eram então denominados pejorativamente os imigrantes da região. E, ao mesmo tempo, sintonizou a música com uma cultura que já pulsava na literatura retirante de autores como Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo e Rachel de Queiroz. Um cenário mítico de Lampião a Paim Cícero, antecipado no épico “Os Sertões” de Euclides da Cunha.

Nota:
Acessem o link abaixo para ouvirem Asa Branca
http://www.youtube.com/watch?v=cWiJL0_yj9c&oq=asa%20b&gs_l=youtube..0.5j0l9.1463.3750.0.6621.2.2.0.0.0.0.419.736.3-1j1.2.0.eytns%2Cpt%3D-30%2Cn%3D2%2Cui%3Dt.1.0.0…1ac.1.11.youtube.mOLReHAb2cs

Fonte de Pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – LUPICÍNIO RODRIGUES

Autoria de Lu Dias Carvalho baiana1234

Noel Rosa, Orestes Barbosa e Chico Buarque escreveram brilhantes canções sobre o descorno. Mas nenhum soube expressar como Lupicínio a mais acachapante cornitude. Cartola e Nelson Cavaquinho foram mestres supremos do samba-canção. Mas nenhum misturou tão bem o gênero a elementos musicais e poéticos do bolero e do tango. (Arthur de Faria, pianista, arranjador, produtor, compositor e cantor)

O compositor, cantor e boêmio Lupicínio Rodrigues, também conhecido por Lupi, nasceu em Porto Alegre/RS, em 1914. Nasceu numa família modesta de muitos irmãos. Era o quarto da prole e o primeiro dos filhos homens. Durante a infância, ajudava em casa como vendedor ambulante, e outros tipos de trabalho. Seus estudos foram pagos pelo desembargador André da Rocha, de quem seu pai fora agregado. Há, inclusive, suposições de que o artista era filho natural do desembargador. Quando completou o primário, aos 12 anos de idade, já fazia música, sendo depois matriculado num curso profissionalizante de mecânico.

Aos 13 anos de idade, Lupi estreou no Bloco da Moleza como compositor, com a marchinha Carnaval. Aos 15 anos, foi contratado para cantar no conjunto profissional de nome Conjunto Catão. Para evitar que o filho se enveredasse pelo caminho da música, seu pai, apavorado, modificou sua idade de 15 para 18 anos, para que fosse “voluntário” no 7º Batalhão de Caçadores do Exército. Tentativa essa que se tornou inglória, pois o rapazote continuava fascinado pela música.

Quando já era soldado raso, Lupi assistiu encantado ao show dos Ases do Samba, composto por Noel Rosa, Francisco Alves, Mário Reis, Nonô e Pery Cunha. Ficou deslumbrado, mas não teve coragem de falar com eles. Mas, quando se encontrava num boteco com um grupo de amigos, fazendo música, foi surpreendido com a chegada deles. Acabaram se interagindo e Lupi cantou algumas de suas músicas. O grupo visitante ficou encantado com o talento do rapaz, sendo que Mário Reis e Francisco Alves viriam a ser muito importantes para ele no futuro.

Lupicínio Rodrigues tornou-se cabo, mas no carnaval de 1933 passou em frente ao quartel, bêbado e fantasiado.  Como castigo foi mandado para a cidade de Santa Maria, a 300 quilômetros de Porto Alegre. Ali ficou conhecendo sua primeira paixão. Como ficasse enrolando a moça, ela se casou com outro, o que fez com que Lupi pedisse baixa no quartel e retornasse a Porto Alegre, voltando a se integrar ao Conjunto Catão, para tristeza de seu pai, que desejava que o filho seguisse seus passos: funcionário público durante o dia e músico nas horas de folga. Mas a música falava mais alto. Ganhou dois concursos musicais. O conhecido cantor, compositor e violonista Alcides Gonçalves gravou, em 1936, músicas em parceria com Lupicínio Rodrigues, obtendo grande sucesso e levando a música do parceiro para o Rio de Janeiro.

Lupicínio Rodrigues conseguiu um grande sucesso popular com o samba Se Acaso Você Chegasse que foi uma maneira de contar a seu amigo Heitor de Barros que estava com a namorada dele. A Revista Globo homenageou-o, chamando-o de “Doutor do Samba”. Resolveu então que estava na hora de ir tentar a sorte na capital federal, onde tudo acontecia. E, sem comunicar ninguém, partiu de vapor para o Rio de Janeiro, com uma passagem de terceira classe, mas, como passou a cantar no navio, ganhou um camarote, vivendo uma semana de mordomia. No Rio de Janeiro, fez amizade com Wilson Batista e Ataulfo Alves. Depois, ficou conhecendo Ary Barroso, Haroldo Lobo, Nássara e Francisco Alves. Pediram então ao gaúcho que cantasse “um negócio aí”. E Lupicínio atacou de: Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher… e mais outras. Francisco Alves prometeu gravá-las.

No Rio, Lupicínio Rodrigues viveu muitas farras, muitos amores, muitas amizades e também muitas desilusões, mas o dinheiro não entrava. Teve que voltar ao Rio Grande do Sul. E de lá nunca mais partiu. Para sua sorte, até o emprego que deixara estava à sua espera, e nele se aposentou aos 33 anos, sob a alegação de estar tuberculoso, o que jamais foi provado. Oito anos depois, Francisco Alves cumpriria o prometido, gravando músicas suas. Ele entrou no ramo dos negócios, abrindo casas noturnas e se tornando representante regional da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música, por um período de 28 anos.

Francisco Alves voltou a gravar as novas músicas de Lupicínio Rodrigues, em 1948, dentre elas, Esses Moços, escrita por Lupi com a intenção de convencer seu amigo Hamilton Chaves a não se casar. Em 1952, Linda Batista gravou Vingança, que ganhou uma versão em espanhol, em ritmo de tango, gravada por artistas argentinos, virando um sucesso total. Dizem até que a música, com suas imprecações, causou grande reboliço na vida dos amantes infelizes. O fato é que Lupicínio Rodrigues tornou-se um dos compositores consagrados da MPB, mesmo morando em Porto Alegre, longe de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Conta-se que certo dia, Rubens Santos, um carioca parceiro de Lupi em mais de 40 canções, e sócio em restaurantes e bares, irritado com o séquito de mulheres que o amigo levava para comer e beber de graça, reclamou:

– Ô Lupicínio, você parece o São Francisco.

– Mas que bonito, meu camarada. É porque eu vivo cercado de passarinhos? – perguntou Lupi.

– Não, Lupicínio, não é o santo, é o rio. Porque você vive é cercado de piranhas. – respondeu Rubens.

A vida amorosa de Lupicínio foi intensa. Teve uma filha com uma moça chamada Juraci. Como ela estava muito mal de saúde, pediu ao artista que se cassassem para legalizarem a situação da filhinha. Assim, num intervalo de poucos dias, ele se viu solteiro, casado e viúvo. A filha foi morar com Lupi após a morte da mãe. Posteriormente, casou-se com Ceremita que lhe deu o primeiro filho homem: Lupicínio Rodrigues Filho.

Lupicínio tornou-se tão popular, que a capital de seu estado, Porto Alegre, foi chamada de A Capital do Samba-Canção, passando a ser gravado por uma geração nova: Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Nora Ney, Lúcio Alves, Elza Soares, etc. Quando ali esteve, Jamelão e Lupi tornam-se grandes amigos, e o cantor carioca autonomeou-se o principal intérprete de Lupicínio Rodrigues, cantando suas canções até a sua morte.

Com a chegada da Bossa-Nova e da Jovem Guarda, a MPB e os tropicalistas tornaram-se os responsáveis por tirar de cena a geração daqueles compositores, dentre eles Lupicínio Rodrigues. Em 1967, no II Festival Internacional da Canção, sua música No tempo da Vovó nem foi classificada. Mas em 1971, João Gilberto, o mestre da Bossa-Nova cantou Quem Há de Dizer. Caetano passou a cantar Volta em seus shows, depois gravada por Gal Costa, Paulinho da Viola gravou Nervos de Aço, Elis Regina gravou Cadeira Vazia e Maria Rosa. Bruno Barreto colocou Esses Moços como música do filme “A Estrela Sobe”. Não apenas se dando a volta de Lupicínio Rodrigues, mas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, entre outros.

Lupicínio morreu em 1974, aos 60 anos de idade, de insuficiência cardíaca decorrente de diabetes. A partir de sua morte, vem sendo gravado por inúmeros intérpretes.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Vingança
http://www.youtube.com/watch?v=YTyRs8krw9s

Fonte de pesquisa
Raízes da MPB/Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – ADONIRAN BARBOSA

Autoria de Lu Dias Carvalho duran12

Além de decalcar nas letras de seus sambas a pronúncia italiana e o linguajar caipira de tipos populares de São Paulo, de sua época, Adoniran também fez desta cidade um personagem constante em sua obra musical. (Carlos Calado, jornalista e escritor)

Nunca ninguém quis nada comigo. Ninguém me chamava para nada, eu é que ia atrás. Até para tomar café um chamava o outro e eu tinha é que segui-los. (Adoniran Barbosa).

O compositor, cantor, comediante e ator, Adoniran Barbosa, nasceu em Valinhos/SP, em 1910, e por muito tempo usou o seu nome de nascimento, João Rubinato, principalmente na época em que foi comediante e ator. Mas, como ele mesmo disse, “cantar samba com nome italiano não dá!” Portanto, Adoniran Barbosa é um pseudônimo.

Os pais de João Rubinato, Fernando e Emma Rubinato, vieram da Itália como imigrantes para trabalharem em Tietê, no interior paulista. Dali eles se mudaram para Valinhos, distrito de Campinas, onde nasceu Adoniran Barbosa (João Rubinato), o caçula dos seis filhos do casal.

Embora já recebesse cachês como cantor de rádio, nos idos da década de 1930, João Rubinato só foi consagrado compositor a partir da década de 1950. Trabalhou como ator, comediante de rádio, e também fez filmes de comédia e drama, mas foi como compositor de samba que se tornou popularíssimo. Quem nunca ouviu falar de Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro e do clássico Trem das Onze?

O pai de João Donato colocou-o para trabalhar cedo, ainda mais que o menino não era chegado aos estudos, já com tendência para a malandragem. Foi entregador de marmitas de um hotel, mas perdeu o emprego assim que os clientes começaram a reclamar que elas estavam chegando bulidas. Quando a família mudou-se para a cidade industrial de Santo André, João trabalhou em diferentes serviços: serralheiro, encanador, tecelão e balconista.

Quando estava com os seus 18 anos, optou por trabalhar como mascate. Seu itinerário eram os bairros pobres, onde vendia os produtos que comprava na cidade de São Paulo: meia, retalhos de tecido, botões, etc… Gostava de sair livre pelas ruas, cantando e conhecendo novas pessoas. Parecia até que o talento já fazia cócegas na pele.

João resolveu virar cantor no programa Calouros do Rádio, mas foi desclassificado na sua primeira tentativa. Esperto, fez amizade com o diretor que lhe deu outra chance, Acabou cantando semanalmente na emissora e ainda recebendo um pequeno pagamento, mas não tardou em ser mandado embora. Mas ele não era de se dar por vencido. Ao ouvir o locutor dizer que sua voz era “boa para acompanhar defunto”, concluiu que o erro estava no nome que carrega: João Rubinato. E assim nasceu Adoniran Barbosa, fusão de dois amigos que tinha. O fato é que Adoniran conseguiu espaço no elenco de cantores da Rádio São Paulo, e sua marchinha, Dona Boa, em parceria com J. Aimberê, foi campeã de um concurso de músicas carnavalescas.

Embora o universo do samba fosse dominado pelos cariocas, por ocasião do Quarto Centenário do Rio de Janeiro, foi um paulista, Adoniran Barbosa, quem venceu o concurso oficial de músicas carnavalescas, em 1965. A música premiada não poderia ser outra, senão Trem das Onze, na voz do conjunto Demônios da Garoa, gravado inclusive em outros idiomas.

Adoniran Barbosa jamais esqueceu as suas origens, sempre destacando a cidade de São Paulo em seu trabalho, quer através de suas ruas quer através de seus bairros ou de seus pontos turísticos (Rua dos Gusmões, Vila Esperança, Praça da Sé, etc.). Envolvido com as rádios, onde fez inúmeros personagens de humor, e com o cinema, ficou quase uma década sem compor. Popular e bem de vida, voltou a compor em 1945. E em 1951, compôs Saudosa Maloca, inspirado na situação de dois carregadores de feira conhecidos, mas que não foi sucesso na sua voz.

Os Demônios da Garoa eram um conjunto vocal jovem que gravou o samba Malvina, de Adoniran, que terminou ganhando o concurso para o Carnaval paulista. Daí para frente, o conjunto passou a gravar os sambas de Adoniran com grande sucesso, durante décadas.

Entusiasmado com a vitória do seu samba Malvina, o compositor paulista compôs, em parceria com seu amigo Nicola Caporrino, o Samba do Arnesto, que também não havia feito sucesso na sua voz. Mas os Demônios da Garoa trouxeram-lhe mais uma vitória com o samba Joga a Chave, vencendo o concurso carnavalesco daquele ano. E, quando o conjunto gravou no mesmo disco, o Samba do Arnesto e Saudosa Maloca, o sucesso foi acachapante, ultrapassando as fronteiras paulistas, chegando até o Rio de Janeiro.

Outro grande sucesso de Adoniran foi Trem das Onze, na voz do conjunto Demônios da Garoa, que também saiu vencedor num concurso oficial de músicas carnavalescas.

Adoniran Barbosa, já nos últimos anos de sua vida, viu suas composições serem gravadas por vários talentos da MPB. Morreu em 1982, aos 72 anos.

Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Trem das Onze
http://www.youtube.com/watch?v=XoUtxWU8lW8

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – ATAULFO ALVES

Autoria de LuDiasBH baiana123

Certa vez, o poeta e cronista Paulo Mendes Campos perguntou a Ary Barroso qual seria o maior compositor brasileiro de música popular. O autor de Aquarela do Brasil, coerente com a singeleza da pergunta também não titubeou: – Ataulfo Alves (Hugo Sukman, jornalista e escritor)

O compositor, cantor e dirigente de entidade musical, Ataulfo Alves de Souza, nasceu em 1909, Minas Gerais. Diferentemente dos sambistas da época, oriundos do Rio de Janeiro e de São Paulo, Ataulfo Alves era mineiro da cidade de Miraí, outrora distrito de Cataguases, na Zona da Mata, para a qual cantou um de seus maiores sucessos: Miraí.

Cidade Miraiense/ te quero com devoção/ cidade miraiense/ torrão tranquilo e sereno/ tu cabes no meu coração/ torrão bendito por deus/ eu sinto-me tão pequeno/ ora ser um dos filhos teus…

Ataulfo Alves, filho de Severino Souza, também conhecido por Capitão Severino, nasceu pobre. Seu pai, violeiro, acordeonista e repentista trabalhava nas plantações de café para sustentar os sete filhos. E foi ele o mestre do filho na arte de versejar e cantar modinhas mineiras. Aos oito anos de idade, o menino já escrevia versos e trabalhava como leiteiro, engraxate, condutor de bois, entre outros trabalhos. Aos 10 anos de idade perdeu o pai. O mais engraçado no sobrenome de Ataulfo é que o acréscimo de “Alves” foi uma homenagem à família do patrão do pai.

É sabido que naquela época, o Rio de Janeiro era o celeiro do samba. E mesmo compositores, como Ary Barroso, mineiro de Ubá e Geraldo Pereira, de Juiz de Fora, acabavam deixando de lado as origens mineiras, “tornando-se” cariocas. Mas isso não aconteceu com Ataulfo Alves, provando que o samba também poderia surgir das Minas Gerais, contrariando o parecer de Orestes Barbosa de que “mineiro não dá pra samba”.

Ataulfo Alves, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, berço do samba, até então música regional, que começava a transpor as fronteiras da então capital da república. Para ali foi acompanhando um médico de Miraí, para quem trabalhava como ajudante de farmácia. Na cidade, ele teve que passar por diversos empregos, para se manter. Aproveitou também para estudar um pouco de música e se aproximar do pessoal que criava samba, ou seja, a turma do Estácio. Tocava cavaquinho, bandolim e violão.

Bide, uma espécie de padrinho musical de Ataulfo Alves na cidade do Rio de Janeiro, levou-o para uma das grandes gravadoras da época: a Victor. O mineiro foi gravado por dois importantes nomes da época: Almirante e Carmen Miranda. Estava nascendo um dos maiores compositores da música nacional.

O sucesso de Ataulfo Alves era lento e firme. Carlos Galhardo, ainda no início de sua carreira, mas já com um bom nome no meio musical, começou a gravar suas músicas. Depois vieram outros grandes cantores como Francisco Alves, Orlando Silva e Sílvio Caldas. Vários grupos também passaram a gravá-lo. Ao ser gravado por Orlando Silva, o Cantor das Multidões, nas duas faixas de seu disco, consolidou-se a carreira musical do mineiro. Para culminar, no carnaval de 1940, seu samba, Oh! Seu Oscar, em parceria com Wilson Batista, na voz de Ciro Monteiro, foi vitorioso. Villa-Lobos e Pixinguinha faziam parte do júri.

Naquela época, havia excelentes cantores com vozes admiráveis. Havia uma clara distinção no mercado musical: compositores compunham e cantores cantavam. Raramente um compositor gravava uma de suas composições. Por isso, foi motivo de surpresa o pedido de Ataulfo Alves à gravadora Odeon para gravar um disco. A gravadora aceitou e Ataulfo gravou de um lado Alegria na Casa de Pobre e do outro, Leva Meu Samba, estreando na última faixa, como produtor e arranjador, o inesquecível Jocob Bittencourt (ou Jacob do Bandolim).

Ataulfo Alves consagrou-se como compositor e cantor, tornando-se muito popular. Grandes sucessos vieram como O bonde de São Januário. Mas Saudades da Amélia, em parceria com Mário Lago, viria a se tornar um clássico, que dividiu com “Praça Onze”, de Herivelto Martins, o primeiro lugar de melhor samba do carnaval de 1942, mudando, inclusive, o sentido da palavra “Amélia”, que passou a ser, segundo o Aurélio, “Mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem.”.

As pastoras compunham um coro afinadíssimo de vozes femininas, acompanhando o cantor principal, no caso Ataulfo Alves, que criou o conjunto musical Ataufo Alves e Suas Pastoras, vindo a fazer shows por todo o país, e até mesmo no exterior.

Ataulfo Alves morreu muito bem de vida, em 1969, deixando viúva sua esposa Judith e quatro filhos, e mais de 320 canções, sendo gravado por vários intérpretes da música popular brasileira.

Nota: Ouçam clicando o link abaixo: Ai que Saudades da Amélia
http://www.youtube.com/watch?v=Z7vV-HUXqfQ

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo

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Raízes da MPB – PIXINGUINHA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Sua imensa contribuição para a formação e o desenvolvimento da música popular brasileira desdobrou-se ao longo de três décadas por meio de diferentes facetas: instrumentista, compositor, arranjador e maestro. Não é fácil avaliar em qual dessas atividades musicais ele teria se destacado mais, já que brilhou e deixou sua marca pessoal em todas. (Carlos Calado, jornalista e crítico de música da Folha)

Ao mesmo tempo em que criou para as suas necessidades de artista genial, foi também o inventor de uma linguagem para os outros. Produziu as suas obras e alicerçou uma cultura. É, sem dúvida, um dos pais da música popular brasileira. Assim, é também um dos pais da nossa nacionalidade (Sérgio Cabral, jornalista).

Assim foi Pixinguinha: o grande paradoxo num país que tantas vezes se apressa em aplaudir medíocres iluminados pela publicidade, e quase sempre precisa de tanto tempo para conhecer os verdadeiros gênios de seu próprio povo (José Ramos Tinhorão, pesquisador e crítico musical)

O compositor, instrumentista, arranjador e maestro Alfredo da Rocha Viana Filho, também conhecido por Pixinguinha, nasceu na cidade do Rio de janeiro/RJ, no ano de 1837.

Como instrumentista, Pixinguinha iniciou tocando flauta, encantando as mais variadas plateias. Anos depois, passou a tocar o sax tenor. Como compositor, criou clássicos da música popular brasileira. Quem não conhece Carinhoso, Lamentos, Naquele Tempo? Para o violonista e compositor, Baden Powell, ele foi o mais importante compositor do século 20, embora a sua modéstia levasse-o a falar de suas obras como “coisinhas simples”.

Raimunda Maria da Conceição, a mãe de Pixinguinha, foi casada duas vezes. No primeiro casamento teve quatro filhos. E, com o pai de Pixinguinha, Alfredo Filho, segundo casamento, ela teve mais nove filhos, sendo o músico, o caçula dos irmãos.

O apelido de Pinzindim foi dado ao músico, ainda criança, por sua avó nascida na África. Significava “menino bom”, num dialeto africano. E assim era chamado por toda a família. Anos mais tarde veio o apelido de Pixinguinha, em razão das marcas deixadas pela varíola (bexiga). Nem ele mesmo soube explicar como Bexiguinha ou Bixinguinha transformou-se em Pixinguinha.

A família de Pixinguinha trazia música no sangue. Aqueles que não tocavam algum instrumento cantavam. Seu pai era flautista. E o menino tinha um ouvido tão bom, que aos 11 anos de idade já o acompanhava na flauta, tocando cavaquinho.  Também tomou aulas de música com um amigo da família, Borges Leitão. Em poucos meses não tinha mais o que aprender. Sua família morava numa casa enorme, que além de abrigar a numerosa prole, também acolhia os “chorões” (tocadores de chorinho). Até o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos ali esteve.

Os encontros dos “chorões” fascinavam o menino Pinzindim, que relutava em ir cedo para cama, apesar dos rogos da mãe. No dia seguinte, procurava reproduzir de memória, as melodias ouvidas. O músico Irineu de Almeida, encantado com o talento do menino, tornou-se seu segundo professor, inclusive levando-o as festas, onde era pago para tocar. E, antes mesmo de completar 14 anos, Pixinguinha fazia sua estreia como flautista do conjunto Choro Carioca, em disco.

Ao gravar Já Te Digo, em parceria com o irmão Otávio, o China, Pixinguinha obteve seu primeiro sucesso. O choro Carinhoso, letra de João de Barro (conhecido por Braguinha) e música de Pixinguinha, tornou-se uma das canções mais conhecidas na história de nossa música e uma das mais gravadas. Mas ao compô-la, juntamente com Lamentos, recebeu críticas por estar sofrendo a influência do Jazz. O certo é que essas músicas estavam adiantadas demais para a época em que foram compostas. Outras composições famosas, entre as muitas compostas por Pixinguinha, são: Rosa, Vou  Vivendo, 1 x 0, Naquele Tempo e Sofres Porque Queres.

Naquela época, as gravadoras possuíam as suas orquestras, de modo que Pixinguinha foi contratado pela gravadora Victor para ser arranjador e regente da Orquestra Victor Brasileira, posto que ocupou durante 4 anos. Sendo a sua marca registrada o peso que dava à percussão nos seus arranjos musicais, onde entravam instrumentos como pandeiro, omelê, caixeta, cabeça, prato, faca, etc…

Pixinguinha tinha problemas com o alcoolismo, que lhe trouxe grandes problemas financeiros.  Sem oportunidades de trabalho, praticamente sumiu do cenário musical. Chegava a tomar uma garrafa de cachaça pela manhã, quando trabalhara para a Rádio Mayrink Veiga. Foi ajudado pelo flautista e compositor Benedito Lacerda, apesar de terem feito um acordo que mais beneficiava o novo parceiro, mas que redundou em grande sucesso para a dupla, permitindo-lhes gravar inúmeros discos, onde Pixinguinha toca sax tenor e Lacerda, flauta.

No final dos anos 1950 e nos primeiros anos da década de 1960, com o sucesso da bossa-nova e do rock que contagiavam principalmente os mais jovens, Pixinguinha e seus companheiros viram suas oportunidades diminuídas. E também o álcool e o tabaco, consumidos por ele durante vários anos, começaram a mostrar os estragos feitos na sua vida.

Pixinguinha morreu em 1973, aos 66 anos de idade, dentro de uma igreja, quando se preparava para ser padrinho de uma criança, mas sua música permanece viva até hoje, para orgulho da MPB.

Nota:
Ouçam, clicando no link abaixo, Carinhoso:
http://www.youtube.com/watch?v=Z_7SIRIXFDw

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Folha de S. Paulo

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