Autoria de Lu Dias Carvalho
Lupicínio Rodrigues canta a dor de cotovelo (…) cornitude (…), algo bem concreto, identificável e estreitamente relacionado como uma situação definida. (…) Nelson Cavaquinho é cantor da melancolia e da angústia existenciais, ambas ligadas ao grande mistério da vida e seu corolário inevitável – a morte. (José Novaes, professor de psicologia da UFF)
Existencialista? Beatnik? Hippie? Punk? Ninguém pode chamar de carreira artística, no sentido formal, a trajetória errante do bardo carioca Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho. (Tárik de Souza, jornalista de música)
O compositor, cantor, violonista e cavaquinhista Nelson Antônio da Silva nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1911. A lavadeira Maria Paula da Silva e Brás Antônio da Silva, tocador de tuba da Banda da Polícia Militar, eram seus pais.
A influência do pai e de um tio violinista logo se fez presente na vida do menino, mas como a família passava por dificuldades, ele teve que começar a trabalhar cedo. Chegou até mesmo a tentar ser jogador de futebol. Acabou conhecendo músicos como Juquinha, que o adestrou no cavaquinho chorão, Mazinho do Bandolim e Edgar Flauta da Gávea. Alguns dos músicos conhecidos formaram um conjunto e convidaram o garoto para tocarem juntos, de modo que aos 16 anos de idade, ele assinou a sua primeira composição, o choro Queda. Quando trabalhava como bombeiro hidráulico, passou a frequentar uma roda de choro e ali ficou conhecendo os irmãos Romualdo e Luperce Miranda.
Ao se casar com Alice Ferreira Neves, Nelson Antônio da Silva viu-se em dificuldades financeiras. O pai levou-o então para a Cavalaria da Polícia Militar, para que o filho malandro tivesse um emprego fixo. Mas o serviço levava-o ao mundo da música. Quando patrulhava o Morro da Mangueira, parava nos botequins para encontrar os sambistas Carlos Cachaça, Zé com Fome e Portela, dentre outros. Segundo contam, certa vez, sua montaria voltou sozinha para o quartel, enquanto o dono bebia todas. O soldado boêmio acabou recebendo baixa devido às suas inúmeras punições. Depois disso acabou trabalhando com curtume.
Dois profissionais gabaritados do mercado musical, Rubens Campos e Henricão, entraram como parceiros em Não Faça a Vontade Dela, mas o disco não obteve sucesso, pois, só saiu em edição particular, de modo que, sem dinheiro, Nelson foi obrigado a vender parcerias, coisa muito comum na época, muitas vezes para pessoas que não tinham nada a ver com música.
Nelson iniciou sua carreira musical com o choro, mas acabou se mudando para o samba, após o convívio com os sambistas do Morro da Mangueira, trocando o cavaquinho pelo violão.
O carioca Guilherme do Ponto foi um dos parceiros mais importantes de Nelson, que preferia um lugar no Cabaré dos Bandidos, ao efervescente meio musical carioca. Era tão avesso a horários, que sua mãe morreu e foi sepultada sem que disso ele tivesse conhecimento. Encontrava-se em uma de suas triplas noitadas. E, em razão de sua vida boêmia, separou-se da esposa, deixando três filhos, todos homens.
Nelson começou a sair do semi anonimato, quando participou de uma roda de música, proposta por Cartola e que acabou dando origem ao Zicartola (ver texto sobre Cartola), onde se reuniam antigos e jovens compositores, assim como intelectuais, jornalistas e artistas das mais diferentes áreas.
Nara Leão, musa da bossa-nova, foi a responsável por revelar Nelson Cavaquinho para a classe média, ao gravar no seu disco, em 1964, a canção Luz Negra, feita de parceria com Amâncio Cardoso. Daí para frente, não lhe faltavam intérpretes, sendo admirado, inclusive, por Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) que produziu seu primeiro “Song book”.
Durvalina Maria de Jesus foi a última esposa de Nelson Cavaquinho que, além de beber, fumava compulsivamente. Morreu aos 75 anos de idade, em 1985, de enfisema pulmonar. Beth Carvalho é a principal intérprete do músico.
Nota
Acessem o link abaixo para ouvirem Folhas Secas
http://www.youtube.com/watch?v=kV8SyD2QF9w
Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo
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