Arquivo da categoria: Pinacoteca

Pinturas de diferentes gêneros e estilos de vários museus do mundo. Descrição sobre o autor e a tela.

Joseph Heintz – VÊNUS E ADÔNIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor suíço Joseph Heintz (1564-1609) foi possivelmente aluno de Hans Bock, o Velho. Foi nomeado pintor da corte de Rudolf II, em Praga, onde permaneceu por dois anos. Também passou cerca de alguns anos em Roma, onde foi aluno de Johann von Aachen. Suas pinturas incluíam imagens religiosas, retratos e temas mitológicos eróticos.

A composição intitulada Vênus e Adônis, tema mitológico comum a muitos outros pintores, é uma obra do artista. O casal é retratado no momento em que Adônis despede-se de Vênus para ir caçar, mas será morto por um javali, conforme conta o escritor Ovídio em “Metamorfoses”. Este tema esteve muito em voga no fim do século XVI, sendo muito apreciado pelos colecionadores.

A deusa da beleza e do amor, seminua, está abraçada ao jovem Adônis, impedindo que ele parta para a caçada. O olhar do moço, voltado para baixo em direção aos Cupidos e aos cães, indica sua pressa em partir.

Este quadro foi executado por Joseph Heintz quando ele se encontrava na corte do Imperador Rodolfo II, em Praga, um dos mais importantes centros de cultura e arte da Europa. Ali o artista executou inúmeras cenas mitológicas carregadas de sensualidade. O trabalho feito em cobre mostra o nível da refinada pintura maneirista naquela corte.

Ficha técnica
Ano: na segunda metade do século XVI
Técnica: óleo sobre cobre
Dimensões: 40 x 31 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Parmigianino – CUPIDO CORTANDO SEU ARCO

Autoria de Lu Dias Carvalho

                

O quadro é belo em sua coloração, engenhoso na concepção, gracioso no estilo e, portanto, muito apreciado pelos artistas e conhecedores. (Giorgio Vasari)

A composição intitulada Cupido Cortando seu Arco é uma obra-prima do pintor italiano Parmigianino (1503-1540), cujo nome original era Girolamo Francesco Maria Mazzola. Ele teve uma vida muito breve. Recebeu influência de Correggio, Rafael e Michelangelo. Além de pintar retratos e pinturas mitológicas, também pintou afrescos e fez desenhos preparatórios de pinturas. Chama a atenção em suas obras a elegância das figuras e suas dimensões alongadas.

A pintura em estudo, numa apresentação altamente original e detalhista, apresenta um escultural Cupido, o deus do amor, ainda na sua fase infantil, fazendo seu arco que se apoia sobre dois livros, tendo duas pequenas crianças (putti) a seus pés, num segundo plano. Segura uma grande faca com as duas mãos, enquanto trabalha a madeira.

Cupido, nu, encontra-se numa pose criativa, de pé em cima de uma mesa, visto de trás, curvado sobre o fino galho que está a transformar em arco.  Ele traz o peito do pé esquerdo pousado sobre um dos dois livros, inclinando-se para frente, enquanto se firma, com o pé direito, na mesa. Sua cabeça, ornada com dourados cachos a caírem-lhe pelo rosto, volta-se alegremente para o observador.

As duas pequenas crianças (putti), nuas, vistas em meio às pernas de Cupido, brincam indiferentes ao trabalho do filho de Vênus, encostados na mesa. Uma delas, a que olha risonha e cúmplice para o observador, abraça fortemente a segunda, segurando-lhe a mão direita, como querendo obrigá-la a tocar em Cupido. Mas a amiguinha (seria ela uma menina?) resiste, chorando, visivelmente enraivada, pois não “deseja se aquecer com o fogo do amor” (segundo Vasari). Elas podem estar representando as armadilhas do amor não correspondido, numa alusão ao arco de Cupido, ou ainda o amor sagrado e o profano, ou os opostos alquímicos, dentre outras possibilidades.

A cena acontece num espaço pequeno, sem a presença de luz natural. A originalidade do quadro é ampliada com sutis efeitos marmóreos de luz e sombra. O fundo escuro da pintura destaca ainda mais as criativas figuras.

Ficha técnica
Ano: c.1532-1534
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 134 x 65,4 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://artsandculture.google.com/asset/nymph-and-shepherd/CQH3EE_tKa4zWw
https://it.wikipedia.org/wiki/Cupido_che_fabbrica_l%27arco
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Van Valckengorch – INVERNO

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                    (Clique na imagem para ampliá-la.)

O pintor flamengo Lucas van Valckenborch, o Velho (1535-1597), membro de uma grande família de artistas, sendo irmão de Marten van Valckenborch, tornou-se conhecido sobretudo por suas belas paisagens, embora tenha criado retratos e cenas alegóricas. Fez parte do círculo dos pintores Pieter Bruegel, o Velho e Hans Bol, grandes nomes da pintura de paisagens nos Países Baixos. Lucas van Valckenborch tornou-se conhecido principalmente por suas paisagens que retratam cenas existentes e também imaginárias.

A maravilhosa pintura intitulada Inverno, ou também Paisagem de Inverno, representa uma das quatro grandes telas criadas pelo artista para a série “Estações”. A composição é uma narrativa de tom idílico. A cena é apresentada mais de perto, contendo um número relativamente reduzido de elementos, se comparada a outra pintura do artista com a mesma temática. As pessoas (homens, mulheres, jovens e crianças) transitam apressadas sob a nevasca, todas muito bem agasalhadas, embora algumas brinquem de batalha com bolas de neve, tanto à direita quanto à esquerda.

Em primeiro plano, à esquerda, um casal anda apressado e logo atrás vem um segundo, acompanhado de uma criança. Três pessoas, próximas à grande árvore, transportam lenha na cabeça e, mais ao fundo, dois garotos brincam com a neve. À direita, em primeiro plano, um homem, uma mulher e uma criança transportam feixes de lenha na cabeça. Próximos a eles, um homem conduz uma carroça puxada por uma parelha de cavalos com o que parece ser feno ou lenha. Mais ao fundo, duas pessoas, seguidas de um cão, também transportam lenha na cabeça. São vistos dois esquiadores e três trenós na pintura que apresenta várias edificações com seus telhados brancos, à direita, que trazem várias pessoas nas portas, janelas e frente. Não é possível divisar o que se encontra ao fundo.

Ficha técnica
Ano: 1586
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 117 x 198 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Mestre de Sta. Verônica – SANTA VERÔNICA E O SUDÁRIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O Mestre de Santa Verônica (c. 1395-1415) recebeu este nome em razão de ter pintado o belíssimo retábulo de Santa Verônica. É tido como o mais importante artista de Colônia, embora se presuma que ali não tenha nascido. É admirado como sendo o principal pintor do estilo Gótico Internacional de décadas antes do surgimento do famoso Stefan Lochner. De acordo com as primorosas formas dadas às suas figuras, presume-se que tenha tido contato com as cortes da França e de Borgonha. Suas figuras são quase sempre envoltas por uma roupagem criativa com aparência oriental. O artista alemão usava formas suaves, com contornos brandos e gestual comedido, o que levava sua obra a repassar um toque de sutileza elegância e suavidade.

Sobre a composição denominada Santa Verônica e o Sudário, também conhecida por Santa Verônica com o Sagrado Véu, é possível que tenha vindo da Igreja de São Severino, em Colônia, onde se supõe que tenha sido a porta de um relicário. A temática usada na obra refere-se à lenda que reza que Cristo, ao receber de Verônica um pano para limpar o rosto, durante a sua caminhada com a cruz, acabou imprimindo no sudário a imagem de seu rosto sofrido. A pintura é tida como uma das antigas obras-primas da pintura alemã, responsável por atrair o interesse dos artistas do período romântico para os trabalhos dos artistas primitivos. Também é tida como uma das maravilhosas obras da pintura europeia do início do século XV.

O escritor e filósofo alemão, Johann Wolfgang von Goethe encantou-se com os dois grupos de anjos, arranjados na base do quadro, vendo aí “bastante habilidade artística para satisfazer os mais elevados padrões de composição”. Ele também se admirou com “a capacidade de abstração do pintor, que coloca suas figuras de acordo com a representação tridimensional sem, contudo, deixar de imbuir a obra toda de pensamento simbólico”.

Santa Verônica, com seu olhar tristonho e concentrado no que apresenta, traz os braços abertos, segurando nas pontas dos dedos o sudário (pano com que antigamente,limpava-se o suor, sendo também costume na Antiguidade ocultar a cabeça dos mortos com o mesmo). O manto vermelho que cobre sua cabeça, descendo-lhe pelo corpo, destaca ainda mais a figura escurecida da cabeça de Cristo, circundada pela coroa de espinhos, impressa na parte central do tecido de linho. No chão de ladrilhos brilhantes estão dois grupos de anjos, três de cada lado, com suas longas asas coloridas e cabelos cacheados. O grupo da direita possui um grosso livro de capa avermelhada e o da esquerda segura um pergaminho. A atenção de quatro dos anjos está voltada para a estampa do Mestre.

Ficha técnica
Ano: c. 1400
Técnica: painel de pinho
Dimensões: 96 x 48,3 cm
Localização: Pinacoteca de Munique, Alemanha

 Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Veronese – LUCRÉCIA APUNHALANDO-SE

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Paolo Caliari (1528-1588), mais conhecido pelo nome de Paolo Veronese, ou simplesmente Veronese, como lhe chamavam os amigos, é tido como um dos grandes artistas de Veneza. Foi educado em sua cidade natal, sendo seu pai, o cortador de pedras Gabriel Caliari, o seu primeiro mestre, ensinando-lhe a modelar o barro. Mas ao perceber o talento do filho para o desenho, enviou-o para o pintor Antonio Badile, aluno de Ticiano.  Veronese tornou-se grande amigo do pintor Battista Zelotti que também estudara com Ticiano.  Com ele foi tentar a sorte em Siena. Naquela cidade os dois amigos tiveram a sorte de arranjar serviço com um nobre que lhes confiou a ornamentação de seu palácio. Esse trabalho foi muito importante para Veronese, pois aprendeu com seu amigo Zelotti importantes lições sobre o uso da cor e da composição, ensinadas pelo mestre Ticiano.

A composição intitulada Lucrécia Apunhalando-se é uma obra-prima do artista, executada nos seus derradeiros anos de vida. Apresenta a suntuosa figura de Lucrécia, saída de um fundo escuro, inclinada para a sua direita e ornada de ricas joias. Ela é alumiada por uma luz oculta, responsável por dar ênfase à sua pele, aos cachos dos cabelos louros adornados com joias, à blusa que lhe cai pelos ombros e ao cachecol de seda verde-oliva, enquanto o punhal que dará fim à sua vida fica oculto pela sombra.

Conta a história que Lucrécia era a esposa virtuosa de Lucius Tarquinius Collatinus e que, ao ser estuprada por Sextus Tarquinius, optou por cometer suicídio, pois não poderia viver com aquela vergonha, o que garantiu à lendária dama romana um lugar na série de grandes mulheres da pintura europeia, especialmente nos círculos da corte, onde elas eram retratadas como exemplos de virtude.

Ficha técnica
Ano: 1580
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 109 x 91 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Tot Sint Jans – OS OSSOS DE SÃO JOÃO BATISTA

Autoria deLu Dias Carvalho

Heródias havia persuadido a filha, Salomé, a pedir a cabeça de João Batista a seu pai, Herodes Antipas, em troca de ela dançar em sua festa de aniversário (Mt 14: 6-12; Marcos 6: 21-28).

O pintor holandês Geertgen tot Sint Jans (1460-1490) teve uma vida curta e, em consequência uma produção também limitada, o que levou seu trabalho a permanecer na obscuridade, sendo posta em dúvida a autoria de algumas obras consideradas como dele. É tido como o primeiro gênio da escola holandesa. É provável que tenha sido aluno de Albert van Ouwater.

A composição intitulada Os Ossos de São João Batista, também conhecida como A Lenda das Relíquias de São João Batista, é uma obra do artista. Trata-se da face externa do lado direito de um tríptico feito para adornar um altar dos Cavaleiros de São João, na cidade de Harlem. A face externa retratando uma “Pietà” também se encontra no mesmo museu.  Uma das três partes foi destruída durante o cerco de Harlem em 1573.

O artista conta a história dos ossos de São João Batista em cinco episódios:

  1. Heródias esconde a cabeça decapitada de São João Batista no jardim do palácio.
  2. O sepultamento do corpo decapitado é feito pelos seguidores do santo.
  3. O Imperador Juliano ordena que o corpo seja retirado do túmulo e queimado.
  4. O corpo do santo é queimado sob a visão do Imperador e comitiva.
  5. Os ossos que restam da fogueira são levados ao convento como relíquias.

O Imperador Juliano, o Apóstata, encontra-se em primeiro plano, à direita, assistindo à cremação dos ossos do santo que ele mandara matar. Usa uma coroa em formato de chapéu e traz na mão esquerda o cetro, sendo acompanhado por seu séquito e soldados. Dois cães fazem parte do grupo. À direita, dois homens encarregam-se de manter aceso o fogo, enquanto um terceiro, trazendo os ossos numa pá, direciona-se à fogueira.

À esquerda da tela está o grupo dos Cavaleiros da Ordem de Malta, formado por doze cavaleiros, próximos ao túmulo aberto do santo, onde resgatam alguns ossos. No caminho que leva ao convento de São João d’Acre, cinco deles são vistos levando os ossos enrolados num pano branco. A junção de vários episódios sucessivos em uma única composição era muito comum na tradição mais antiga. A iluminação clara e a cor forte da pintura ajudam na explicação dos cinco episódios.

Obs.: Com o grupo de doze figuras em pé, próximas ao túmulo aberto, Geertgen tot Sint Jans acabou criando o primeiro retrato de grupo na pintura neerlandesa.

Ficha técnica
Ano: 1484-1490
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 172  x 139 cm
Localização: Museu de História da Arte, Viena, Áustria

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://artsandculture.google.com/asset/legend-of-the-relics-of-st-john-the-baptist/2wHsU51xGd9knQ