COVID-19: EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

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Hernando D. Martins

Help Brazil, please! (Tedros Adhanom, diretor da OMS)

Nada tem significado que não seja uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nos três pilares. Esses pilares alimentam a verdade. A ciência é a luz. Através dela é que nós vamos sair”.(Luiz Henrique Mandetta)

Como cidadão responsável pela própria vida e pela das pessoas próximas, atendi ao apelo do Ministério da Saúde que, seguindo as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde), pediu que a população cumprisse o isolamento social, a fim de coibir a proliferação do Covid-19. Como dentista autônomo, tinha a certeza de que iria zerar meus ganhos, mas a vida é um bem muito maior do qualquer outra coisa. Sem ela não há economia que sobreviva. Por isso, limitei-me apenas a atender somente casos emergenciais e urgentes, seguindo rigorosamente a orientação do Conselho Regional de Odontologia de meu Estado, antes de efetuar o tratamento.

Vivendo o isolamento, aproveito para cuidar da minha casa, de minhas coisas e do meu pequeno quintal, onde plantei coentro, cebolinha, repolho e outras folhagens, aliadas a algumas árvores frutíferas já existentes e plantas como camarão, alimento muito apreciado pelos beija-flores. Tenho aprendido a fazer pratos simples, mas deliciosos e entrado em contato, via celular ou e-mails, com amigos dos quais há muitos anos não tenho notícias. Também estou pintando e arrumando meu velho porão, onde estão guardados pedaços de minha vida em família, artefatos deixados por meus pais e família. Além de tudo isto, tenho posto a leitura de livros parados num canto da minha estante em dia

Posso afirmar que há muito tempo não sabia o que era tomar um banho de sol de manhã em razão do meu trabalho. Deitado na minha rede com Dolly, a minha dócil cadela aos pés, assisto ao revoar gracioso de pássaros, sobretudo beija-flores, pelas plantas. À noite dedico a mesma atenção às estrelas e à lua. Até mesmo recuperei uma velha luneta dos meus tempos de estudante, quando acampava na Serra do Curral. Como um astrônomo, viajo horas a fio pelo céu estrelado, mas sempre com muito cuidado, evitando os meteoros e os buracos negros. Quando a noite é chuvosa, ela não se torna menos bela. Assento-me na varanda de onde acompanho os pingos grossos batendo no vidro das janelas e o barulho que lhes é peculiar. É o instante que aproveito para me lembrar de meus entes queridos que aqui estiveram junto comigo, mas que já se foram. Lembro-me também dos muitos animaizinhos de estimação que cumpriram sua temporada na Terra e que enriqueceram minha vida.

Dias desses, quando uma chuvinha insistente tomou conta do dia, resvalando-se para a noite inteira, embalei-me num sono profundo, propício ao desenrolar dos bons sonhos. Ela limpou todas as preocupações da minha mente, abrindo espaço para que somente coisas boas aflorassem. Eu, então, sonhei que me encontrava num mundo como o cantado por John Lennon em “Imagine”. Não era necessário falar em paraíso ou inferno, tamanha era a bondade a circular pelos quatro cantos da Terra. Todas as pessoas viviam apenas o agora, cheias de benignidade e banhadas pela alegria. Não havia países, pois todas as fronteiras caíram por terra. Não havia raças, pois toda a humanidade era igual. Não se falava em morte e tampouco em religião. Tudo era bom e pacífico. A fome havia se evacuado da Terra, pois todos os bens eram repartidos, uma vez que a ganância não mais imperava. O que havia era uma irmandade. Tudo era único. Tudo era uno.

Ao acordar e tomar ciência das primeiras notícias, vi que tudo não passava de um sonho. Eu era só um sonhador. Apenas isso!

Vi que a Covid-19 continuava ceifando vidas, enquanto jornais em todo o mundo dizem que Jair Bolsonaro, presidente brasileiro, encontra-se entre os “piores negacionistas do planeta” no que diz respeito ao vírus fatal. Vi esse mesmo presidente, por mera vaidade pessoal, demitir o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, tido por 76% da população como excelente no combate à doença, passando o cargo para Nelson Teich que diz: “Na Saúde, o dinheiro é limitado e escolhas são inevitáveis”, ou seja, será preciso escolher os idosos para morrer e salvar os jovens. Vi o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, assegurar que “Mais importante é que a indústria continue produzindo e vendendo. Ainda que isso cause o colapso de hospitais e do sistema de saúde pública, forçando médicos e escolher quem atender e quem deixar morrer, é um preço razoável a pagar em nome do lucro”. Vi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ironizar, dizendo “Não tá (sic) aparecendo a pilha de mortos que tinham falado que iria aparecer”, mesmo após centenas de vidas serem dissipadas pelo Covid-19. Vi Jair Bolsanaro deixar patente para todo o Brasil que a economia é mais importante do que salvar vidas durante a pandemia. Vi muitos outros horrores…

14 comentaram em “COVID-19: EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

  1. Rosa

    Lu e queridos amigos deste espaço maravilhoso,

    eu digo que estou em semi quarentena há uns 43 dias. Chamo de semi pois, como vivo com a minha mãe idosa, eu tenho de sair para comprar comida e ir à farmácia; vou assustada, temerosa, já tive vontade de largar as compras no mercado e vir embora. Resisto, mas a angústia é grande. Além do medo do Coronavírus eu me ressinto do “peso” que é me responsabilizar também por minha mãe. Como disse a uma colega deste espaço, sempre fui ansiosa, nervosa, deprimida. Com a pandemia tudo isso se agravou, durmo e tenho sonhos vívidos, estranhos, às vezes pesadelos. Porém, apenas tomo o meu antidepressivo, o Escitalopram, evito calmantes. Eu tenho consciência que todo mundo está passando pelas mesmas dificuldades, sofrendo com as incertezas deste momento. Para enfrentar com um pouco de equilíbrio a pandemia e o pânico tenho feito meditações, um pouco de Ioga e tomado muito, muito chá, menos o Mate.

    É isso, força para todos nós e para todas as pessoas do Brasil e do mundo. Vamos vencer, se Deus quiser.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Rosa

      Temos que agir exatamente como você, cumprindo a nossa parte e esperando que os governantes cumpram a deles. É fato que estamos todos apreensivos com o momento vivido, pois a preocupação é nacional e global. O cuidado com nossos pais é fundamental neste momento. Se você sai por necessidade, cumprido o estabelecido pela OMS, não há porque ter medo. Isto tudo irá passar e poderemos voltar à nossa vida de antes. O que vemos é a prova de nossa fragilidade diante da vida e é a lição que ficará para todos nós.

      Beijos,

      Lu

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  2. Edward Chaddad

    Hernando,

    há muito eu te admiro, pelo conteúdo magnifico de seus artigos. Desta vez, desnuda com excelência, o estado de ânimo que habita os corações de verdadeiros brasileiros e sonhadores com dias melhores para o nosso país e para o mundo.

    Assim, comungo de seu sonho, pois é de todos:

    “Não era necessário falar em paraíso ou inferno, tamanha era a bondade a circular pelos quatro cantos da Terra. Todas as pessoas viviam apenas o agora, cheias de benignidade e banhadas pela alegria. Não havia países, pois todas as fronteiras caíram por terra. Não havia raças, pois toda a humanidade era igual. Não se falava em morte e tampouco em religião. Tudo era bom e pacífico. A fome havia se evacuado da Terra, pois todos os bens eram repartidos, uma vez que a ganância não mais imperava. O que havia era uma irmandade. Tudo era único. Tudo era uno.”

    Infelizmente, somos humanos e, no fundo, com o predomínio do materialismo doentio. Por isto, é importante a existência do Estado, forte e preocupado com os interesses de todos. A questão, no fundo, acredito ser de um lado os interesses econômicos de poucos e de outro o desastre humano, que se desenvolve em nossa frente, e onde, infelizmente, nada podemos fazer. E, assim, por desejo de poucos, temos a realidade da ideia do Estado mínimo.

    O estado democrático tem que ser forte para atender o povo que é, de fato, a nação. Este é um sonhar com realidade possível. Sendo advogado, lembro a todos, consoante o saudoso e extraordinário jurista Pedro Lessa:

    “Direito é o conjunto orgânico das condições de vida e de desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade, dependentes da vontade humana e que são ou devem ser garantidos pela força coercitiva do Estado.” ( Pedro Lessa).

    Está aí o objeto do direito: garantir as condições de vida e de desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. E devem ser garantidos pela força coercitiva do Estado que tem que existir forte e democrático e não ser o estado mínimo, que nega saúde, educação, ação social e segurança. O Brasil sequer tem condições para garantir as condições de vida e desenvolvimento de cada cidadão e da sociedade. Simples assim.

    É necessária uma pandemia que ceifa milhares de vidas para que os poderes se convençam de que o estado mínimo não pode ser implantado? Em 1965, quando iniciei meus estudos de direito, havia professores corajosos que diziam o que pensavam, mesmo diante da ameaça da ditadura militar. Hoje tenho 50 anos de advocacia e preciso, ainda, repetir a definição de direito de Pedro Lessa, para que muitos acordem!

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  3. Fabiane Marins

    Lu e amigos

    Muito difícil esta nossa fase. O Covid-19 me deixou muito mais ansiosa, acordo a noite toda, tenho pesadelos e durante o dia fico nervosa com tudo. Estou tendo que tomar calmantes além do meu antidepressivo. Mais vai passar.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Fabiane

      Está difícil para todo mundo, principalmente para nós que já carregamos transtornos mentais. Devemos apenas seguir as orientações da OMS e dar tempo ao tempo para que tudo isso passe. Devemos sempre ter em mente que tudo na vida passa, seja bom ou ruim. É normal que você se sinta nervosa, mas nem por isso pode ficar tomando calmantes o tempo todo. Lembre-se que o mundo todo está passando por isso e você não é a única. Força, minha amiga! Procure não complicar seu problema mental com algo que está além de seu alcance. Vamos torcer para que uma vacina surja o mais rápido possível, algo que está sendo pesquisado em quase todos os países do mundo.

      Quando se sentir tristinha, venha para cá.

      Beijos,

      Lu

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  4. Moacyr Autor do post

    Hernando

    Os fatos que você relata após acordar do sonho são deveras reais e assustadores. Nas notícias, o que vemos é um total desprezo pelas idosos, pessoas do maior valor e que tanto trabalharam por este país.

    Vi relatos de países como Itália, França, Japão e até mesmo dos EUA em que os médicos diziam a todo tempo: “É preciso salvar nossos idosos!”, enquanto o lema aqui é matá-los, como se para nada mais prestassem e fossem um peso para a economia do Brasil. Lamentável.

    Abraços,

    Moacyr

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    1. Hernando Martins

      Prezado Moacyr

      Realmente é lamentável um gestor ter um pensamento tão medíocre como esse, ao menosprezar aqueles que doaram a sua vida em prol do país no decorrer de tantos anos de trabalho. Muito antes pelo contrário, os idosos merecem todo o respeito de todos. Um país que cuida de seus idosos (a exemplo do Japão),certamente preserva a História e a sabedoria, imprescindíveis para tornar-se uma verdadeira nação.

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  5. Adevaldo Rodrigues

    Hernando

    Parabéns pelo texto e sua publicação no momento em que o mundo está envolvido na pandemia do coronavírus-19. Você está atualizando seus afazeres e com o pensamento no futuro.

    Estamos vivendo no mundo do “salve-se que puder”. Penso que depois que passar essa crise, o mundo vai ter mudanças profundas nas relações sociais, ambientais e econômicas. Vislumbram-se mudanças nas ciências, no modelo de assistência social, na política extremista, na “Nova Ordem Mundial” – suposta sociedade secreta de elite que pretende formar um governo global, no sistema econômico neoliberal, nos hábitos, no sistema de trabalho e até mesmo nas ações da imprensa. Na cultura pode acontecer o início de uma nova literatura de temas como beleza, relacionamento, natureza e arte de viver.

    Um grande abraço,

    Adevaldo

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    1. Hernando Martins

      Adevaldo

      O isolamento é a única alternativa no momento para impedir a disseminação do novo coronavírus,fundamental para minimizar a curva epidemiológica e evitar um caos no sistema de saúde.Esse é o protocolo indicado pela OMS, não existe vacina até o momento, então é necessário que todos colaborarem entre si para evitar o caos total.

      Infelizmente o chefe da nação ainda não entendeu que só tem uma saída: ficar em casa. Temos que adequar a nossa realidade, aproveitar o isolamento e fazer disso algo produtivo, de acordo com as possibilidades de cada um. É interessante ressaltar que Isaac Newton descobriu “as Leis de Newton” num momento de isolamento.Muitas vezes é nos momentos difíceis que surgem as grandes ideias.

      Nada será como antes! O vírus foi capaz de provocar uma guerra mundial sem dar um tiro! Foi capaz de desestruturar toda a economia e sistemas de saúde global. Na verdade ele provocou o caos e, a outra face do caos, é a ordem.

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  6. LuDiasBH Autor do post

    Hernando

    Seu texto sintetiza tudo que nós, brasileiros, estamos vivendo. Com a saída de Mandetta, um homem que se guiava pela Ciência, não vejo luz no fim do túnel, ainda mais quando esse tal que entrou diz que é preciso fazer escolhas, sacrificando os idosos. Todas as citações sobre as autoridades deste governo (ministro da educação, diretor do BC e do próprio Bolsonaro) merecem ser levadas à Justiça.

    Meu abraço,

    Lu

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  7. Maria Claudia

    Hernando

    Que texto perfeito, exatamente como me encontro. Apreciando todo o tempo que tenho disponível no momento e me deparando com as atrocidades sem fim deste desgoverno todos os dias. Tempos sombrios demais…

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    1. Hernando Martins

      Maria Cláudia

      É lamentável a atitude mesquinha de um chefe de estado ao promover uma mudança brusca de um ministro da Saúde extremamente capaz e conhecedor do sistema único da saúde(SUS),imprescindível para enfrentar uma pandemia com um inimigo invisível e com poderes hercúleos,capazes de desestruturar qualquer sistema de saúde e a economia global.

      Além do mais, a curva epidemiologia esta em ascensão, poderia esta pior se não fosse a ação rápida dos governadores e prefeitos no isolamento social,recomendado pelo ministério da saude, até então sob a tutela de Mandetta, de acordo com protocolos da OMS.

      A surpresa maiorfoi a substituição do ministro mandetta por um médico oncologista,empresário da área de saúde, cujas orientações em relação à vida são assustadoras e desanimadoras.

      Acredito que estamos indo na contramão de todas as orientações da ciência que é a única norteadora do controle e possível cura para essa pandemia.

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    2. Hernando Martins

      Maria Claudia

      A natureza tem sua própria sabedoria! A criação tem uma inteligência fenomenal! Será que o mundo não estava precisando desse chamamento para a reflexão em virtude do egoísmo, maldade, falta de solidariedade,concentração de riqueza, enfim, talvez seja um alerta de nossp planeta para que o homem pare de achar que é o senhor de tudo.

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