Autoria de Lu Dias Carvalho
É preciso estar com extremada raiva para mandar – normalmente aos berros – alguém partir para os quintos do inferno, lugar que ninguém sabe onde fica. Quando se é brindado com um convite desse, o melhor é não perguntar pela passagem ou pelos gastos da viagem e ficar o mais longe possível do sujeito raivoso que fez a oferta, pois certamente se trata do atrevido comandante da viagem.
Como surgiu a expressão vá pros quintos do inferno, já que ninguém até agora conseguiu o roteiro da viagem? Voltemos ao tempo em que o Brasil era colonizado por Portugal, lá pelo século XVIII, quando o nosso ouro, principalmente, aguçava a cobiça dos portugueses da época, deixando sua Corte de olho grande no precioso metal. E ainda havia a cobrança de impostos: 20% (1/5 da produção) do ouro extraído, também conhecido como “Quinto”.
Todo o ouro retirado do solo brasileiro era encaminhado para as Casas de Fundição. Ali era derretido e transformado em barras, nas quais se colocava o selo da Coroa Portuguesa. Era quando se cobrava um imposto: o “quinto”, referindo-se à quinta parte de todo o ouro encontrado.
O ouro arrecadado em nossas terras era levado para Portugal através do mar. E como os portugueses consideravam o Brasil o “fim do mundo” – tamanha era a distância entre a colônia e a metrópole, resultando em meses e meses a fio de navegação –, assim que as naus portuguesas, levando as riquezas brasileiras, apontavam, os portugueses em terra comentavam festivamente:
– Lá vem a nau dos quintos do inferno!
Que inferno danado de bom era o nosso Brasil que enviava tamanha riqueza para além-mar! Mas outras fontes dizem que a expressão nasceu do ódio que o povo brasileiro sentia ao ter que pagar o malfadado “Quinto” e, por isso, apelidou-o de “O Quinto dos Infernos”. Os brasileiros suando, comendo o pão que o diabo amassou, revoltavam-se ao ver seu tesouro partindo para um lugar que nem conheciam.
Uma terceira versão é conhecida. É a de que a dona Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, não morria de amores por nossa terra, cheia de pernilongos e silvícolas, além de morrer de raiva por viver distante da corte e de seus luxos. Por isso, a não tão bela referia-se ao Brasil como o “quinto dos infernos”.
Seja de uma forma ou de outra, o fato é que “o quinto dos infernos” não é um lugar nem um pouco apreciado desde aqueles tempos, não constando no roteiro de nenhuma companhia de turismo, embora esteja sempre em evidência na boca do povo. Se lhe oferecerem uma passagem de graça para tal lugar, o melhor mesmo é agradecer e pedir ao doador que faça tal viagem na companhia de sua família.
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