Autoria de Lu Dias Carvalho
O pintor francês Honoré Daumier (1808-1879) entrou aos 14 anos de idade para o atelier de Alexandre Lenoir, um antigo aluno de Jacques-Louis David. Também estudou escultura antiga no Louvre e as obras de Ticiano e Rubens. A liberdade de expressão chegou à França após a Revolução de 1830, o que sinalizou para que a arte da caricatura política se tornasse livre e ganhasse grande importância. Como era um grande admirador da República, Daumier passou a trabalhar com esse tipo de caricatura, principalmente com as que satirizavam o rei Luís Felipe. Ficou seis meses na prisão por causa de uma delas. Daumier Iniciou a pintura de quadros aos 37 anos de idade, vindo a transformar-se no maior representante do Realismo Social na pintura. Sua capacidade de síntese era tamanha que nenhum outro pintor do século XIX conseguiu igualá-lo. Morreu na miséria e quase cego numa casa que lhe foi dada. Apesar de ser visto como um exímio gravurista, foi também um dos mais importantes pintores do século XIX.
A composição intitulada Dom Quixote é uma obra do artista que criou cerca de 25 pinturas a óleo, aquarelas e desenhos a carvão para ilustrar a obra de Miguel de Cervantes. Ele ficou maravilhado com as obras sobre Dom Quixote nos seus últimos anos de vida, quando enfrentava a velhice e a cegueira. Compôs uma série inteira sobre o tema. Aqui ele retrata Dom Quixote em seu cavalo num terreno baldio e despovoado, o que aumenta ainda mais a sensação de solidão do cavaleiro magérrimo que cavalga um esquelético cavalo branco, preenchendo a parte central da pintura. O fundo montanhoso e arenoso apenas lembra uma paisagem. Ao observador cabe imaginar o que o cavaleiro enfrenta à sua frente.
Daumier era particularmente fascinado pelos personagens de Dom Quixote, o homem com delírios de grandeza, e Sancho Pança, seu ajudante simples, mas leal. Raramente acrescentava outros personagens em seus desenhos. Começou pintando cenas com os dois personagens viajando e, com o tempo, foi abandonando as referências específicas ao livro e transformou-se em Dom Quixote e Sancho Pança caminhando sozinhos em uma estrada aberta. Ao final da vida, passou a criar apenas a figura de Dom Quixote, fato que, na visão dos historiadores, não significa a eliminação de Sancho Pança, mas a fusão dos dois personagens em um só. Isso lhe possibilitou expressar as duas facetas de sua personalidade: o cartunista sarcástico e o pintor sensível. Seu crescente problema de visão fez com que as imagens fossem se tornando cada vez mais simplificadas.
Dotado de uma invejável capacidade de síntese, Daumier coloca em sua tela apenas os elementos minimamente necessários. Tanto a figura de Dom Quixote quanto a de seu cavalo são estilizadas até chegarem à deformação esquelética. Ele usa a iluminação, não para modelar as duas figuras, mas para eliminar toda a corporalidade tangível, como se ambas não passassem de uma ilusão aos olhos do observador. O fundo do quadro, com seu colorido irreal, repassa a sensação de uma paisagem de outro mundo. O que sugere ser um pequeno triângulo à direita, lembra que o fundo é arenoso e também montanhoso.
O pintor é minimalista no uso da cor. Na tela estão presentes as cores: preta, branca, azul, amarela e vermelha. O rosto e a mão do personagem são marrons, diferente de sua perna esquerda que é branca, como se englobasse os dois personagens: Dom Quixote e Sancho Pança. O uso da luz é bem sutil. Cavalo e cavaleiro deixam uma sombra no chão amarelado. A pincelada simples do artista está ligada ao fato de sua perda de visão. A comprida lança atrai imediatamente o olhar do observador.
Ficha técnica
Ano: c.1868
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 52,2 cm x 32,8 cm
Localização: Bayerische Staatsgemäde – Sammlugen – Munique, Alemanha
Fontes de pesquisa
Obras-primas da pintura ocidental/ Taschen
https://www-artble-com.translate.goog/artists/honore_daumier/paintings/don_quixote?_x_tr_sl=en&_x_tr
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