Arquivo da categoria: Flagrantes da Vida Real

Casos do cotidiano

SIRIGAITA ESCALAFOBÉTICA

Autoria de Alfredo Domingos

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– Que sirigaita escalafobética, esta Juju!

A frase motivou risada da turma, na esquina das ruas Bartolomeu de Gusmão e Indaiá. Juju é conhecida no pedaço. Inclusive, já namorou alguns dos rapazes da roda de conversa. Ela mora no nº 38 da Bartolomeu. Seu caminho, então, é por ali.

Sem dúvida, é espevitada, sempre tramando espertezas. Fica à frente das novas ideias. Lidera as iniciativas. Promoveu comemorações durante os jogos da Copa do Mundo de Futebol; agitou festas juninas e julinas também; arrecadou fundos para vizinho que perdeu tudo em incêndio na residência; e daí em diante. Para completar, não leva desaforo para casa. Responde na lata, em cima da bucha. É um tanto extravagante, estrambótica! A excentricidade inicia pelo cabelo vermelho, curto, e pelos piercings espalhados pelo corpo e termina na extensa tatuagem sobre a pele alva. De pernas longas e finas, vai de passo largo, traçando rumo, embora sem régua e compasso. Mas segue firme, não há o que lhe segura.

Pronto! Nos parágrafos acima, foi explicada, bem no feitio do “Aurélio” e na linguagem da rapaziada, a expressão sirigaita escalafobética. Legal, eu mesmo gostei! Fiquem à vontade para criar coisas do gênero, recomendo.

Nota: imagem copiada de www.elo7.com.br

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BRASILEIRA NÃO TEM ODOR DE FÊMEA

Autoria de Lu Dias Carvalhomap12

A paixão do brasileiro pelo banho está ligada aos índios, pois, se dependesse de nossos irmãos portugueses, nossa conta de água seria bem mais barata. E olhem que, segundo as más línguas, são os franceses os menos chegados a jogar o líquido inodoro, incolor e insípido no corpo. Mas para quê, se possuem tanto perfume? Brincadeirinha, pois nada há que substitua uma água límpida descendo pelo corpo. Que delícia de frescor!

Certa vez, minha prima e eu viajamos para Salvador e lá ficamos num certo hotel, onde estavam hospedados dois donairosos franceses. Custamos para compreender o porquê de nunca encontrarmos dois lugares numa mesa de quatro pessoas, durante o café da manhã, já que as outras refeições eram feitas fora dali. Ou melhor, somente a mesa de Pierre e Michael possuía os tais lugares. Os moçoilos estavam sempre a sós, como se não quisessem interagir com os demais hóspedes. E, como descíamos mais tarde para o salão, só nos restava a companhia dos distintos “garçons”.

Coitadinhos, coisíssima nenhuma! E não me refiro à companhia dos nossos perfumados garçãos, mas aos moços franceses com suas inhaca. Ninguém aguentava o mix de perfume e suor que exalava dos dois “hommes”. Os moços eram lindos, mas tinham um cheiro azedo de não sei o quê com deus me livre do bodum.  Depois descobrimos que as pessoas desciam em grupo, de modo a encher as mesas, sem deixar espaço para os dois sebosos. Também passamos a descer mais cedo. E, quando só havia um lugar em cada mesa, nós nos sentávamos separadas. Era impossível aguentar a companhia dos dois moçoilos, apesar de lindos, era malcheirosos.

Outro fato curioso envolvendo água aconteceu com certo espanhol. Estava havendo um congresso internacional em minha cidade e meu irmão trouxe um “muchacho”, colega de profissão, para nossa casa, para passar um dia conosco. Papo vai, papo vem, perguntei-lhe o que achou das mulheres brasileiras.

Ele me olhou bem nos olhos, para depois soltar, na maior inocência:

– As mulheres brasileiras são maravilhosas, sensuais e deslumbrantes. Só possuem um defeito: não têm cheiro de fêmea, porque são muito lavadas, tomam muito banho.

Pablo não poderia ter me dado uma resposta mais enriquecedora do que esta, sobre sua cultura. Ah! Se eu tivesse intimidade…

Nota: imagem copiada de regianetscardoso.blogspot.com

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COMPAIXÃO – UM BELO SENTIMENTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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                                     Hoje é o Dia Mundial da Luta Contra o Câncer

 Maria Eduarda Souza, conhecida carinhosamente como Duda, 13 anos de idade, é um exemplo de quão generoso pode ser o coraçãozinho de uma adolescente, apesar de ela se encontrar numa fase em que a vaidade feminina costuma dar o tom, levando muito a sério a opinião dos amigos.

Encontrava-se Duda no salão de beleza de sua tia, quando tomou conhecimento de uma campanha televisiva, que pedia às pessoas que doassem suas madeixas para a confecção de perucas para pacientes acometidos pelo câncer, que perderam seus cabelos em razão do tratamento quimioterápico.

A jovenzinha, comovida e solidária,  não pensou duas vezes, resolveu cortar seus longos cabelos para também ajudar na campanha . Havia dois anos que não os cortava, pois as garotas são muito vaidosas e gostam de conservá-los sempre grandes, pintando-os de acordo com a moda da estação. E, como sua tia é cabeleireira, ela andava sempre em sintonia com os novos estilos.

Naquele mesmo dia, sem titubear, Duda determinou o corte de suas madeixas que resultaram num belo buquê de fios aloirados e, que orgulhosamente segurou nas mãos, sentindo-se feliz por “estar fazendo o bem para as pessoas”, conforme me explicou, num misto de inocência e orgulho.

No encontro com os amigos, a reação foi de muita surpresa, por parte deles. “Nossa! Você é louca!”, disseram alguns. “Como você pode fazer isso, amiga?”, questionaram outros. Pelo visto, nenhum deles foi capaz de entender o maravilhoso gesto de solidariedade da pequena Duda. Com o tempo e a maturidade, certamente compreenderão a atitude da amiga e verão que a compaixão é o sentimento mais belo que um ser humano pode ter, em qualquer que seja a idade e o tempo.

Como se carregasse um troféu, Duda entregou seu “rabo de cavalo” ao Hospital Mário Pena, de Belo Horizonte/MG, sentindo-se a pessoa mais feliz mundo. E se sentiu ainda mais bela e charmosa com o seu novo corte de cabelo. Mas ela não é mesmo uma fofura?

Ao tomar conhecimento da ação de Duda, eu fiquei muito emocionada. Como uma jovenzinha, que mal  entrou na pubescência, pode ter tanta sensibilidade em relação ao próximo? Maria Eduarda Souza será no futuro uma grande mulher. Tenham a certeza disso.

 Receba meu abraço, pequena garota de coração de ouro. Faço votos de que muitos adultos sejam como você! E, certamente, teremos um mundo muito melhor.

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DEIXAI VIR A MIM OS PEQUENINOS…

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Final de semana que antecedia o Natal. O shopping estava lotado. Os restaurantes apinhados. Pessoas comiam, enquanto outras esperavam a vacância de uma mesa. O chope gelado rolava solto. Risos expandiam-se. Nos corredores, era preciso cuidado para não se esbarrar nos carrinhos de bebês e nas crianças correndo. Os pais e sua prole compartilhavam a busca pelos presentes. Casais enamorados caminhavam felizes entre beijos e abraços, enquanto outros enchiam as lojas, escolhendo presentes. Homens e mulheres desacompanhados e apressados entravam e saiam das lojas, fazendo parte daqueles que preferem a surpresa do presente.

Em meio ao entra e sai de gente, o casal também comprava alguns mimos, embora o Natal não significasse tanto para eles. Mas sabiam que não era tão fácil fugir dos costumes. Depois das compras, um cineminha para descansar da cansativa tarefa. Hora de voltar para casa. O relógio marcava 20 horas.

Assim que botou os pés fora do shopping, o casal deu de cara com três crianças de rua. Um meninho, que tinha no máximo cinco anos e duas garotinhas com cerca de seis. Os três serezinhos usavam chinelos de dedos e roupas bem gastas pelo uso.  Carregavam uma grande alegria, pois eram somente sorrisos. A maiorzinha carregava na mão uma nota de dez reais. E, felizes, adentraram pelo shopping. Ou melhor, tentaram entrar.

Mulher e marido ainda conseguiram ouvir a voz de um dos seguranças do rico shopping, colocando os garotinhos para fora e uma das meninas dizer que ali estavam para comprar sorvete com o dinheiro que ganharam de um “moço muito bom”. Mas crianças pobres não têm acesso a tais espaços, onde os filhos da classe rica esbaldam-se. De modo que os pequeninos foram enxotados do local.

O casal, antes de entrar no carro, ainda os viu sair humilhados, com os olhinhos amedrontados e os sorrisos agora apagados. Não houve comentário algum. Até é bem possível que o marido não tivesse se dado conta da cena, desatento como é. Mas a mulher percebera tudo e nada fizera. Poderia ter tomado as crianças pelas mãos e as levando para fazer um lanche, culminando com um opulento sorvete. E quem sabe ganhassem chinelinhos e roupinhas?! Ninguém haveria de impedir,porque eles estavam bem vestidos, e é a aparência que conta neste mundo doentio.

Quanta alegria o casal teria dado àquelas magriças crianças, se tivesse saído alguns minutos de seu egocentrismo. Com certeza os infantes falariam disso pelo resto da vida e carregariam a imagem daquele homem e daquela mulher presente em suas lembranças, e lhes mandariam fachos de amor, saúde e prosperidade, sempre que se lembrassem deles.

A mulher sentiu-se tremendamente infeliz por não ter tomado nenhuma atitude, ao ver que as crianças tinham sido afugentadas como cães sarnentos. Apenas continuou seu caminho, como se nada pudesse fazer. Desculpa esfarrapada dos ególatras e omissos. Depois, ela se sentiu mais insignificante do que nunca. E o seu Natal foi muito triste, pois as três crianças estiveram presentes diante de seus olhos todo o tempo.

Um grande Homem, que há mais de 2000 anos passou pela Terra, ao lhe serem apresentadas crianças para que as tocassem, mas vendo que eram impedidas de chegarem até Ele, por seus discípulos, exclamou:

– Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.

Nota: imagem copiada de http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/04/criancas-de-rua

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E SE ELE MORRESSE NAQUELA NOITE?

Autoria de Lu Dias Carvalho ute12

A noite estava fria. O vento zunia nas calçadas levantando papéis e o que ali se encontrasse. A chuva não tardaria a desabar com vontade daquele céu de chumbo. As pessoas corriam apressadas, trombando umas nas outras. Algumas sombrinhas e guarda-chuvas já se encontravam abertos, talvez na tentativa de proteger seus portadores do vento gélido. Os motoristas buzinavam apavorados com a iminência do temporal. Ninguém queria ser pego longe da quentura do lar.

Mulher e marido saíram apressados da sala do dentista. Um táxi não seria a melhor solução, diante do pandemônio que se formava, com as ruas abarrotadas de pessoas e automóveis tentando forçar a passagem a qualquer preço. Caminhar seria bem mais viável para quem morasse próximo ao centro. E assim, o casal alargou os passos, agarrados um no outro, tentando vencer o tempo e a distância de casa.

Ele estava na calçada. Um idoso franzino trajando uma camisa fina e um short velho. Nos pés, apenas um tênis velho, desacompanhado de um par de meias que pudesse lhe aquecer os pés. As pessoas passavam esbaforidas por ele. Talvez nem o vissem. Mas ele estava ali, tremendo, tentando ultrapassar as portas de aço de uma loja já fechada, como se assim pudesse mitigar a frieza do tempo e das pessoas.

A mulher viu-o. Nada comentou com o marido. Seu coração e alma doíam de compaixão. Ela se emudeceu por fora e por dentro encheu-se de porquês que jamais teriam resposta alguma. O casal seguiu em frente, ziguezagueando entre as pessoas, aguardando sinais, atravessando ruas, buscando calçadas, aquecendo seus corpos com os braços, querendo se salvar do temporal que já quase beijava o chão.

Eu vou voltar para levar-lhe um cobertor e comida – martelava a mulher em sua mente compassiva e indignada. Ela chegou à casa junto com o temporal. Juntou-se à família no jantar, depois veio o banho quente, a colônia costumeira, a cama acolhedora e os braços carinhosos do marido. Pela janela do quarto entravam apenas a luz dos relâmpagos que avivam a promessa que fizera a si mesma: levar cobertor e comida para o homem idoso na calçada de uma noite gélida. O marido dormiu, mas a mulher não, com a imagem daquele ser repassando diante de seus olhos, num vai e vem sem fim. E se ele morresse naquela noite? E se ele amanhecesse morto na calçada gélida?

A mente sábia foi acalmando o coração da mulher de mente conturbada pela promessa não cumprida. Era preciso dormir, pois, a madrugada já rompia para dar lugar a um novo dia. Ela dormiu. Acordou pensando no homem na calçada álgida, de uma noite frígida, com um vento cortante em meio a tantos corações gélidos, inclusive o dela.

A mulher teve medo de ler o jornal, no dia seguinte, e de ver os noticiários televisivos. Amedrontava-lhe a ideia de que a morte do homem pudesse se estampar diante de seus olhos. Ela tinha medo de que o tivesse matado pelo seu desamor e pela palavra dada ao coração, descumprida.

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ASSIM É A VIDA!

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pequena varanda abria-se para o leste, de onde a mulher podia ver o nascer do sol e o brotar da lua de dentro das montanhas verdejantes de sua Belo Horizonte. Uma larga porta de vidro separava a sala do pequeno terraço, onde beija-flores esvoaçavam em busca de pólen nas touceiras de flores vermelhas e amarelas, e sabiás, bem-te-vis, maritacas, dentre outras aves, passavam em voos rasantes, vindos das muitas árvores que se espalhavam em derredor. Nas tardes azuis, outro céu desenhava-se no vidro da enorme porta, igualzinho ao que se estendia em frente a ela. A mulher sentia-se feliz naquele pedacinho do mundo, onde mantinha contato permanente com as coisas da natureza, embora vivesse no coração de uma cidade grande.

Era tarde de sábado. O céu estava azulado, com algumas nuvens branquinhas como lã de carneiro. Um vento frio balançava as folhas das árvores, chegava até a sacada e ia adentrando pelo apartamento através de uma pequena abertura na porta de vidro. A mulher e o marido liam, acomodados em suas poltronas, enquanto bebericavam vinho tinto com nacos de queijo minas. Três bichanos estendiam-se pelo tapete, tirando uma gostosa soneca. Se aquilo fosse uma amostra do mundo, poder-se-ia dizer que a vida transcorria na mais absoluta paz, numa comunhão entre homens, bichos e natureza.

Um baque surdo interrompeu a paz do ambiente descrito. Homem e mulher levantaram-se assustados, temendo que alguém pudesse ter caído de um dos andares acima. Os bichanos, sempre mais ágeis, tentavam passar pela pequena abertura da porta de vidro. Foi então que marido e mulher viram, ali no chão da varanda, um pombinho com um dos olhos fora da órbita ocular, descendo pela carinha torturada pela dor, mas ainda preso por um nervo que parecia ter se esticado. Meu Deus, o que fazer? O bichinho nem mexia, apenas deixava transparecer um ruído quase inaudível, que aos ouvidos da mulher chegava como um grito desesperado de socorro. Se a dor é torturante nas pessoas que conhecem os meios de saná-la – pensava a mulher- imagine num animalzinho sem nenhum tipo de proteção, solto ao deus dará. A dor foi também tomando conta de seu coração, e ela foi se fazendo mais frágil e impotente. A princípio, pensou que desmaiaria. Isso, não! Era preciso socorrer a avezinha. Teria que tomar as rédeas da situação. Enrolou o bichinho numa fralda limpa, umedeceu sua cabecinha com água fria e, com ele no colo, pôs-se a ligar para os lugares que cuidam de animais. Mas ninguém atendia. Maldito sábado! Pediu socorro aos amigos. Uma amiga falou-lhe sobre um local que ficava aberto permanentemente, num bairro distante.

Agora, era preciso convencer o marido a deixar o jogo do time de seu coração, prestes a se iniciar, e levar o animalzinho ferido até lá. Homem vê sempre as coisas sob outro ângulo, com uma naturalidade que dá raiva. Para ele era apenas mais um pombo, entre os milhares que voam pela cidade. Mas para ela não, era um bichinho que caíra na sua varanda, ao confundir o céu estampado no vidro da porta, com o céu azul verdadeiro. Ela sentia que tinha o dever de salvá-lo. A ave não caíra ali à toa, seu apartamento fora o escolhido. A bondade e o apreço daquela família pela vida estavam sendo testados, pois nada acontece por acaso, pensava ela. Falou disso tudo ao marido, e muito mais, e completou:

– Meu bem, tudo que fizermos de bem, ainda que seja pela menor das formas de vida, receberemos em dobro. Esta é a lei da vida. Lembre-se dos ensinamentos de Cristo e Buda. Portanto, pegue um táxi, pois nem tem ideia de onde seja o local, e leve este bichinho o mais rápido possível. Imagine quanta dor deve estar sentindo!

O marido, um ser humano primoroso, atendeu os queixumes da mulher, para que seu coração pudesse ficar em paz. Tomou o bichinho nas mãos e foi em busca do local indicado, onde ficam animais abandonados. Lá chegando, foi atendido por um veterinário que lhe disse que iria retirar o olho da avezinha, fazer uma curetagem e devolvê-la. Antes que ele pudesse fazer a devolução, o homem partiu, pois não teria onde colocá-la, principalmente porque tinha gatinhos. Ao chegar a casa, ele contou à mulher tudo que havia acontecido e complementou:

– Meu bem, já comecei a receber o que gastei com táxi, conforme sua teoria. Achei R$0,25 (vinte e cinco centavos) na entrada de nosso prédio. O resto foi compensado com os dois gols que meu time fez.

Assim é a vida!

(*) Imagem copiada de giangabriehl.wordpress.com

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