Arquivo da categoria: História da Arte

O mundo da arte é incomum e fascinante. Pode-se viajar através dele em todas as épocas da história da humanidade — desde o alvorecer dos povos pré-históricos até os nossos dias —, pois a arte é incessante.

INTERIOR DE INDIGENTES (Aula nº 94 C)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Na arte brasileira, Segall é o artista que dela se ocupou com mais profundidade. (Olívio Tavares de Araújo)

Nunca foi maior e mais sincero o artista do que quando retratou os desamparados e os perseguidos, numa palavra os desvalidos da sorte, tangidos como gado à mercê das circunstâncias. Nessas enormes composições não há revolta ou desespero […]. Em tais momentos, sua pintura alça-se por sobre o plano meramente estético, para atingir a esfera da moral. (José Roberto Teixeira Leite)

O pintor Lasar Segall (1891-1957) era o sexto dos oito filhos do casal Abel Segall e Ester Segall, tendo nascido em Vilna, na Lituânia, quando o país ainda se encontrava sob o jugo do império russo. No decorrer da Primeira Guerra Mundial, Vilna foi invadida pelos alemães que ali permaneceram três anos e, após esse período, os russos retomaram à cidade. Segundo o próprio pintor, houve lutas entre lituanos, poloneses e russos pelo domínio de Vilna que ora ficava nas mãos de uns, ora nas mãos de outros, até ser incorporada à Polônia definitivamente. Por isso, ele sempre se sentiu como um apátrida. Sua família era judia e, como as demais, vivia à margem da sociedade, no gueto. Ele foi ali instruído pelo pai escriba do Torá (livro sagrado do judaísmo), com quem viveu até os 15 anos de idade.

A composição intitulada Interior de Indigentes é uma obra do artista que era muito sensível às questões sociais, dono de uma vocação humanitária e religiosa. Encontra-se no acervo do MASP desde 1950. O quadro em questão pertence ao seu período expressionista em que ele exterioriza os estados íntimos de sofrimento, usando uma dramática simplificação das linhas e das tonalidades principais da composição.

O casal encontra-se numa casa muito humilde, cujo chão é assoalhado. Em primeiro plano está a mulher, encarando o observador, como se lhe mostrasse sua miséria, trazendo o filho nos braços. Em segundo plano encontra-se o homem sentado diante de uma pequena mesa, com o braço esquerdo descansando sobre ela, perdido em seus pensamentos, sem saber o que fazer da vida.

A mulher é magra e seus olhos díspares repassam um grande sofrimento. Seus seios caídos são perceptíveis através do vestido de mangas compridas. Sua boca fechada traz a sensação de que não tem mais voz para alardear a sua pobreza,  o seu eterno sofrimento. Ela apenas mostra o filho raquítico, talvez morto, enquanto faz um gesto com a mão direita. O homem traz o rosto sério, mergulhado na sua própria insignificância e impotência, aniquilado diante da miséria. Seu olhar de desesperança está voltado para a direita. Sua postura é de conformismo, como se não houvesse mais nada a fazer, senão aceitar e aceitar até que seu fim chegasse.

A sensação repassada ao observador é a de que ele também faz parte deste drama, caso traga consigo um rasgo de sensibilidade e seja capaz de ser tocado pelo sofrimento dos desvalidos, impotentes diante da crueza de um mundo estratificado.

Ficha técnica
Ano: 1920
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 83,5 x 68,5 cm
Localização: Museu de Arte, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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RETIRANTES (Aula nº 94 B)

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962) demonstrou no ano de 1944 uma grande preocupação com a situação social do trabalhador brasileiro, tanto é que criou a “Série Retirantes”, uma denúncia social com influências expressionistas, composta por Criança Morta, Emigrantes, Retirantes e Enterro na Rede (presentes no site). Essa série mostra o sofrimento dos trabalhadores nordestinos que eram sempre açoitados pela seca.

Na obra Retirantes, ilustrada acima, o conjunto de personagens é formado por quatro adultos e cinco crianças, todos esquálidos. O grupo é composto por imensas figuras que ocupam o primeiro plano da composição. A obra possui o formato piramidal, cujo vértice superior é formado pela trouxa que a mulher carrega na cabeça. A fisionomia dos personagens demonstra tão profundo abatimento que chega a doer no coração de quem as observa.

A figura do velho que leva um cajado e a do bebê escanchado na cintura da mulher à sua frente são descarnadas, lembrando esqueletos ambulantes. O homem idoso é retratado como se fosse um santo penitente, tamanha é tristeza e o desalento que repassa. Na parte direita da composição um garotinho, vestido apenas com uma camisa, traz à vista uma enorme barriga, evocando a presença de vermes. No centro do grupo uma mulher carrega uma trouxa na cabeça, enquanto traz no braço esquerdo um desmilinguido bebê, cujo rostinho repassa uma extrema piedade.

O homem de chapéu traz um saco na ponta de um pau escorado em seu ombro esquerdo. Com a mão direita ele segura um desalentado garotinho, usando também um imenso chapéu. À sua esquerda estão presentes duas outras crianças. Homem e crianças parecem fixar tristemente o observador, como se lhes pedissem socorro. Todas as gerações são mostradas na composição, sendo afetadas pela seca.

A terra escura está salpicada de ossos, enquanto aves negras de rapina espalham-se pelo céu esquisito. Todo o grupo é composto por tipos magérrimos e acinzentados, aparentando sujeira, e descalços. O sol mostra-se tão feio e sujo quanto os retirantes, figuras que nos trazem a impressão de serem palpáveis.

A paisagem, atrás dos retirantes, é seca, triste e desolada, onde não se vê uma folha verde. Mais ao longe montanhas nuas e ressequidas complementam-na. Existem poucas tonalidades fundamentais na tela (brancas, cinzas e pardas) que têm por objetivo colocar em evidência o contexto estrutural, avivado em poucos pontos com tons mais quentes que possuem valor meramente decorativo.

Ficha técnica
Ano: 1944
Dimensões: 190 x 180
Técnica: Óleo sobre tela
Localização: Acervo MASP, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Fontes de pesquisa
Portinari/ Coleção Folha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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O GRITO (Aula nº 94 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

       
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Eu caminhava pela estrada com dois amigos. O sol estava se pondo. De repente, o céu ficou vermelho sangue. Exaurido, eu me recostei na balaustrada e fiquei ali parado, tremendo de medo, enquanto meus amigos seguiam caminhando. Eu senti um grito agudo e interminável atravessar a paisagem. (E. Munch)

Ele se impressionava ao ver os animais sendo abatidos e o lamento dos pacientes do hospital. (Sue Priedeaux)

A composição expressionista O Grito, obra do norueguês Edvard Munch, foi inspirada num ataque de pânico sofrido pelo artista, enquanto caminhava com dois amigos. Nela estão explícitos os tormentos psicológicos do pintor. Munch tinha o costume de fazer várias versões de seus quadros. E com O Grito não foi diferente. Existem quatro versões da composição que apresentam mínimas mudanças, mas em todas está presente este sentimento universal, que tanto abala a humanidade – a angústia. É por isso que o personagem principal não apresenta sexo, idade ou identidade. A figura maior, aqui exposta, é a mais conhecida de todas as versões.

O Grito traz-nos a impressão de que produz som através das ondas de choque à direita. E o som é tão agudo que o personagem tapa os ouvidos, fica com o corpo desvirtuado e grita. Atrás dele caminham calmamente outros dois personagens que não apresentam nenhuma mudança física ou comportamental, totalmente alheios aos acontecimentos vivenciados pela figura principal. Conclui-se, portanto, que o grito agudo e assustador do personagem central é ocasionado apenas por sua mente, sem nenhuma correlação com o espaço físico. O pavor vivenciado por ele é tão grande que seu copo físico sofre uma repentina mudança: torna-se alongado e o rosto toma a forma de uma caveira, com os olhos saltados e a boca aberta. Seus olhos encaram o observador que também é envolvido pelo terror.

A cena ocorre num golfo estreito e profundo de Oslo, na Noruega, entre montanhas altas. Próximo dali estava um matadouro e um hospício onde estava internada a irmã do pintor. As linhas onduladas do golfo e do céu contrastam com a diagonal com forte declive da estrada e com um pôr do sol perturbador em cores quentes, contrastando com o azul do rio, cor fria, que ultrapassa a linha do horizonte. Tudo resulta num efeito vertiginoso, torto, excetuando a ponte e as duas personagens ao fundo, o que leva muitos críticos a sugerir que Munch tenha tido um ataque de agorafobia. Ele criou outras obras semelhantes, nas quais ficam visíveis a representação simbólica da morte e da solidão, temas sempre presentes em sua vida. Ao longe na baía veem-se pequenos barcos à vela. É como se a natureza se condoesse com o grito do personagem central e com ele interagisse.

O Grito demonstra o medo e a solidão do Homem, mesmo em meio a um cenário natural que não representa nenhum perigo para ele. E esse grito, ainda que mudo, ecoa desde a baía até o céu, numa violência dinâmica de linhas. Munch acabou por pintar quatro versões de seu quadro, para substituir as cópias que ia vendendo. Ele o pintou quando a psicanálise começava a ficar no auge e, por isso, a pintura logo passou a simbolizar as agruras da alma e, com os desacertos da vida moderna passou também a representar desde o estresss do cotidiano às fobias ecológicas, passando a traduzir qualquer forma de aflição. Para alguns críticos, O Grito é a mais forte representação visual da sensação de receio e apreensão, sem motivo aparente, na história da arte. Encontra-se entre as pinturas mais conhecidas em todo o mundo.

Curiosidades sobre a obra

  • A composição O Grito tornou-se tão forte na história da arte, que ganhou espaço na cultura pop. Pode ser vista no cartaz do filme Esqueceram de Mim e na máscara do assassino da série de terror denominada Pânico.
  • Em 2012, segundo noticiário em todo o mundo, a quarta versão original dessa obra, que se encontrava em mãos de certo proprietário particular, chegou num leilão à cifra estupenda de 119,9 milhões de dólares, tornando-se O Grito o maior recordista de preço num leilão de arte.
  • A obra de Munch, O Grito, em versões diferentes, foi roubada duas vezes de museus da Noruega em 1944 e 2004, trazendo comoção e mais fama ao trabalho do artista norueguês.
  • O sucesso desta obra, enquanto ícone cultural, teve início após a Segunda Guerra Mundial. Com sua popularização O Grito tornou-se um dos quadros mais reproduzidos tanto em pôsteres como em objetos.
  • Foi capa da revista Time em 1961, ilustrando os temas sobre culpa e ansiedade.
  • O artista pop Andy Warhol em 1980 também usou a obra, ao dedicar-lhe uma série de trabalhos.
  • O personagem Hortelino no filme Looney Tunes de Volta à Ação, faz uma expressão semelhante à do quadro numa cena.
  • A série de desenho Os Simpsons mostra o quadro duas vezes: em 1993 e 2005.
  • O quadro aparece na série Os Feiticeiros de Waverly Place, do Disney Channel, etc.

Ficha técnica
Ano:1893
Técnica: óleo, têmpera e pastel em cartão
Dimensões: 91 x 73,5
Localização: Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega

Fontes de pesquisa
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
Munch/ Editora Paisagem
Revista Veja/ 9-05-2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_%28pintura%29

 

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NOVO ESTILO – EXPRESSIONISMO II (Aula nº 94)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Os artistas expressionistas punham grande ênfase na forte reação psicológica e emocional de seus temas e não no tema em si. O que almejavam era atingir o observador através de seu lado emocional. O que mais retratavam eram paisagens, a vida cotidiana, o nu feminino e a vida das ruas de Berlim. Como as obras refletiam a visão interior de cada artista, o movimento jamais poderia ser homogêneo, pois cada artista possuía uma visão de mundo. O escritor e crítico alemão Paul Fechter considerava que havia dois tipos de Expressionismo: um “intensivo” — inspirado na experiência interior, sendo Kandinsky seu principal representante — e outro “extensivo” que procedia de uma relação enriquecida com o mundo exterior, tendo em Max Pechstein seu maior representante.

No que diz respeito ao Expressionismo, o alemão Kurt Pinthus — escritor e crítico — dizia que “na arte, o processo de criação deve ir do interior para o exterior, não do exterior para o interior, pois o importante é retratar a realidade interior mediante os recursos do espírito”. Dentre as características da arte expressionista estão presentes, como elementos essenciais, a distorção linear, a reavaliação do conceito de beleza artística, a simplificação radical de detalhes e o uso de cores intensas. Os artistas expressionistas eram de acordo que, se havia a presença do mal no mundo, ele não poderia ser ignorado, mas, sim, deveria ser retratado.

Os primeiros trabalhos artísticos dos expressionistas foram em geral influenciados por Van Gogh, Edvard Munch e pelos pós-impressionistas, contudo, nos anos de 1905 a 1908 eles acabaram por encontrar um estilo expressionista próprio, quando passaram a pintar, fazendo uso de cores brilhantes e vivas, usando empastamento grossos com pinceladas rápidas e explosivas, criando um efeito tremido. Mesmo trabalhando quase sempre ao ar livre, os expressionistas faziam uso de uma perspectiva limitada e, aos poucos, foram abrindo mão de imitar a natureza.

Os nazistas, ao chegarem ao poder em 1933, coibiram o Expressionismo, assim como outras artes de vanguarda que, para eles, eram vistas como “degeneradas”. Vários artistas europeus exilaram-se nos EUA, permitindo que, a partir dos meados de 1930, o Expressionismo influenciasse inúmeros jovens artistas naquele país. Contudo, essa guerra levou consigo muitas vidas expressionistas, pois muitos desses artistas tiveram que ir para o front. Dentre os mortos podem ser citados os nomes de August Macke (morto em 1914) e Franz Marc (morto em 1916), autor da ilustração acima, intitulada “O Destino dos Animais”.

O Expressionismo alemão atingiu o seu ápice com o Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), mesmo o grupo tendo se desintegrado com o início da Primeira Guerra Mundial. Mesmo assim, a arte expressionista espalhou-se por toda a Alemanha após o final do conflito. No início dos anos 1920, o Expressionismo, ou o que sobrevivera dele, já se encontrava muito mudado. Muitos artistas passaram a tomar um novo rumo. Uma famosa frase do compositor austríaco Arnold Schoenberg que veio a tornar-se um dos slogans do Expressionismo diz que “A arte surge por necessidade, não por habilidade”.

Não se pode esquecer também o nome de outros artistas expressionistas que trabalharam independentemente, não se unindo a nenhum grupo. Em Viena pode ser citado o jovem Egon Schielle que chocou os burgueses com o erotismo carregado de seus trabalhos, sendo inclusive preso sob a pecha de “divulgar desenhos indecentes”. Os trabalhos do austríaco Oskar Kokoschka, outro artista independente, também desagradaram os críticos, por acharem que ele era um “superfovista”.

O Expressionismo influenciou várias artistas no Brasil, contribuindo para estimular o Movimento Modernista. À época houve um grande interesse em expor as realidades social, cultural e espiritual do povo brasileiro. A segunda exposição da artista Anita Malfatti já apresentava traços expressionistas. Lasar Segall — pintor e escultor de origem lituana — tem como destaque sua obra “Navio de Imigrantes”. Candido Portinari criou quase cinco mil obras abordando questões sociais (ver as obras desses artistas presentes aqui neste site).

Nota: a composição que ilustra este texto, intitulada Cavalo na Paisagem, obra de Franz Marc, criada em 1910, é um óleo sobre tela da fase expressionista. É tida como uma das obras mais maduras do artista, na qual são vistas duas de suas principais características: animais como tema e o uso não convencional de cores primárias brilhantes.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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NOVO ESTILO – EXPRESSIONISMO I (Aula nº 93)

Autoria de LuDiasBH

No início do século XX um movimento artístico, cuja maioria dos artistas era alemã, no qual predominavam os valores emocionais sobre os intelectuais, brotou na Alemanha, tendo por objetivo expressar as emoções humanas através de linhas distorcidas e de cores extremamente fortes num veemente contraste com os movimentos anteriores. Trazia como temática a miséria e a solidão, ou seja, externava as angústias e as amarguras do indivíduo enclausurado dentro da sociedade industrializada moderna, dura e tirânica. O dramaturgo e ensaísta austríaco Hermann Bahr acreditava que o Expressionismo era um movimento que atribuía importância principal ao mundo das emoções internas, contrastando com o Impressionismo que se via sob o jugo do mundo exterior da natureza e dos sentidos.

A Alemanha contou com dois grupos de artistas expressionistas. O Die Brücke (A Ponte) era mais ligado aos temas políticos e seus trabalhos eram mais contundentes, sendo formado por um grupo de quatro amigos, estudantes de arquitetura de Dresden, que tinha por líder Ernst Ludwig Kirchner. Dele faziam parte, além de Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff, Fritz Bleyl e Erich Heckel (o mais intelectual deles). O nome escolhido dizia respeito à ideia do filósofo alemão Nietzsche, para quem “o homem é a ponte para um mundo melhor”, e também porque Dresden era conhecida por suas pontes. O segundo grupo chamava-se Der Blaue Reiter (Cavaleiro Azul) que era mais direcionado aos temas espirituais, tendo dado origem à escola Bauhaus e ao Abstracionismo. Quanto ao nome, Kandinsky escreveu: “Nós dois gostamos da cor azul: Marc, dos cavalos, e eu, dos cavaleiros. Portanto, foi inventado dessa forma”.

Os artistas expressionistas iniciaram seu movimento dando vida a um estilo inspirado em Vincent van Gogh, Edvard Munch e na antiga arte alemã da época dos artistas Matthias Grünewald e Albrecht Dürer. Através de estudos feitos, eles foram convencidos pelo poder persuasivo do preto e do branco e acabaram por revitalizar a técnica medieval da impressão numa matriz de madeira (xilogravura). Rottluff também pesquisou sobre a arte tribal e as máscaras africanas. Pintavam inicialmente paisagens e nus, mas, quando se mudaram para Berlim, os artistas do grupo de Dresden passaram a pintar o cotidiano de suas ruas. Faziam uso de cores ácidas e brilhantes — usadas umas próximas às outras com o objetivo de criar uma ilusão de limites. Seus contornos muito distorcidos distanciavam fortemente da arte do Naturalismo.

A mudança de Dresden para Berlim levou os artistas a focarem em novos temas. Começaram a buscar especialmente os aspectos mais sofridos da vida urbana: o mundo dos artistas de cabarés, das prostitutas e dos bêbados. Desse grupo apenas Kirchner tinha treinamento formal em arte, o que não foi um empecilho, pois seus membros estavam convencidos de que a “nova arte” a que dariam vida não poderia ser aprendida de forma alguma, pois era necessário que primeiro fosse inventada.  Emil Nolde juntou-se ao grupo entre 1906 e 1907, aprendendo com ele a arte da xilogravura e ensinando-lhe a arte de gravar com água-forte.  Já Max Pechstein — reconhecido por seus retratos decorativos e naturalistas no estilo Pós-impressionista — juntou-se ao grupo em 1906. O fato é que os expressionistas deixaram de lado a sociedade convencional e repeliram a imitação cuidadosa da natureza. Esse grupo tão aguerrido dissolveu-se em 1913.

O grupo dos Der Blaue Reiter apareceu em Munique alguns anos depois. Dele faziam parte Wassily Kandinsky, Franz Marc e Alexei von Jawlensky. O nome do almanaque lançado por eles deu nome ao grupo. Certos de que a criatividade não se encontrava na arte acadêmica, esses artistas imprimiram imagens de antigos objetos manufaturados egípcios, desenhos infantis e apresentaram uma sequência de novidades artísticas. Eles queriam devolver à sociedade o estado de harmonia que ela perdera no processo de modernização. Wassily Kandinsky — pintor e advogado russo morando em Munique — concluiu que a melhor maneira de aprender sobre arte era ensinando-a, o que realmente fez, vindo a tornar-se cofundador do grupo que se dissolveu com o início da Primeira Guerra Mundial.

Os dois grupos — Die Brücke e Der Blaue Reiter — cultivaram muitas influências e objetivos em comum, embora se possa dizer que os artistas do Die Brücke fossem mais nietzscheanos em sua filosofia, mais naturalistas na busca do tema e mais compenetrados com a parte prática, enquanto os do Der Blaue Reiter, filosoficamente falando, encontravam-se mais perto de Schopenhauer e eram mais ligados à teoria do que à prática, resvalando-se para a abstração. Ambos os grupos desejavam se distanciar da sociedade urbana, tanto é que alguns dos artistas expressionistas foram viver em comunidades rurais, onde criaram um grande entusiasmo pelas sociedades “primitivas”, o que os levou ao trabalho do artista francês Paul Gauguin que viveu na Bretanha e nas Ilhas do Pacífico, tendo deixado de lado o uso de cores realistas, criando cenas quase sempre imaginárias, com formas simples e planas que mais tarde vieram a caracterizar a pintura expressionista.

Nota: a composição que ilustra este texto, intitulada Dois Homens à Mesa, obra de Erich Heckel, criada em 1911, é um óleo sobre tela da fase expressionista. Foi inspirada no romance “O Idiota”, do russo Dostoiévski. O artista faz uso de desenhos angulares e cores sombrias para compor uma cena amedrontadora.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

 

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HARMONIA EM VERMELHO (Aula nº 92 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Um único tom não é nada em termos de cor; dois tons são um acorde, são a vida. (Henri Matisse)

Harmonia em Vermelho é uma refinada e elegante composição fauvista do pintor Henri Matisse. É também conhecida com vários títulos, tais como: Toalha de Mesa, ou Mesa Posta ou ainda Quarto Vermelho e ainda A Mesa de Jantar. Embora haja a presença de uma criada arrumando a mesa, o que se destaca na tela e fica impressa na mente do observador é a predominância da cor vermelha que se expande com força.

A princípio a composição era baseada em tons de azul (segundo a Abril Coleções) ou verde (segundo a Taschen) que substituía o vermelho, mas depois de pronta e pendurada na parede de seu estúdio, Matisse não gostou do efeito, não achando a composição “bastante decorativa”, pois, segundo ele, não havia contraste com a paisagem que se via através da janela presente na composição. A tela foi, então, refeita com a cor vermelha, e seu resultado agradou bastante o artista, ao reduzir todos os planos a uma dimensão única.

A parede e a mesa vermelhas presentes na tela são delimitadas por uma fina linha preta. Há na pintura uma corajosa composição das cores primárias: vermelha, amarela e azul, acrescidas do verde, cor secundária. Duas cadeiras estão em volta da enorme mesa, sendo que da presente à esquerda pode-se ver o assento. O marco da janela introduz o observador no jardim, onde se vê uma pequena casa e um céu azulado.

O motivo principal da composição é formado pelo jogo entre o desenho do papel de parede, o pano da toalha da mesa e os objetos sobre ela. Até mesmo a figura humana (observe o penteado da mulher e o modo como ela se inclina, fazendo uma linha curva com os ombros, braços cabeça e parte inferior do corpo), os objetos sobre a mesa e a paisagem (veja a sinuosidade das árvores) lá fora estão desenhadas e pintadas de modo a integrarem-se às flores do papel de parede.

Ficha técnica
Ano: 1908
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 180 x 220 cm
Localização: Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia

Fontes de pesquisa
História da arte/ E.H. Gombrich
Matisse/ Coleção Folha
Matisse/ Abril Coleções
Matisse/ Taschen

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