Arquivo da categoria: Pintores Brasileiros

Informações sobre pintores brasileiros e descrição de algumas de suas obras

Heitor dos Prazeres – SAMBA NO ASFALTO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Samba no Asfalto é uma obra do compositor, cantor, sambista e pintor brasileiro Heitor dos Prazeres. O artista optou pela arte naïf, também conhecida como arte primitiva ou ingênua.

Um grupo de nove pessoas, composto por duas mulheres e sete homens , diverte-se em frente a uma casa de cor terra, com suas janelas contornadas de vermelho e telhado avermelhado. O poste iluminado, à direita do observador, permite concluir que é noite.

O grupo animado dança no asfalto malfeito, com um sem conta de rachaduras à vista, pintado com um tom mais escuro do que o da casa. Os homens, todos eles bem vestidos, sendo que três deles usam paletós, olham para cima, enquanto as mulheres, com seus vestidos vermelho e verde com bolas brancas, parecem encarar o observador. Cinco dos sambistas usam vistosos chapéus e trazem nas mãos instrumentos musicais. O flautista ocupa a parte central do quadro, dividindo o grupo ao meio.

Ficha técnica
Ano: 1950
Dimensões: 33 x 38 cm
Técnica: óleo sobre eucatex
Localização: coleção da família do artista

Fonte de pesquisa
Heitor dos Prazeres/ Coleção Folha

Pintores Brasileiros – HEITOR DOS PRAZERES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Eu sou carioca boêmio e sambista, meu sangue é de artistas, não posso negar. (Heitor dos Prazeres)

Eu sou o povo/ e sou um homem do povo./ Vejo esse povo que transporto/ pros meus quadros como sinto./ Também sou uma parte desse povo,/ de forma que sinto conforme vivo. (Heitor dos Prazeres)

Sua riqueza interna veio ganhar na pintura a expressão irmã do samba, e seria fácil reconhecer o ritmista na composição dos quadros. (Rubem Braga)

O pintor e músico brasileiro Heitor dos Prazeres (1898-1966) nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Veio de uma família pobre, sendo o pai marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, e a mãe uma costureira para fora, que contava com a ajuda das duas filhas. Mas a morte do pai, quando o menino estava com apenas sete anos de idade, foi um golpe para a família, tendo Heitor que trabalhar como engraxate e vendedor de jornais para ajudá-la.

Antes de a pintura fazer parte de sua vida, Heitor dos Prazeres já era sambista. Vivia pelas bandas da famosa Praça Onze, à qual chamava de “Pequena África”. Ali reunia-se a boemia da cidade, e era também o locol de encontros, onde se festeja e era feita muita cultura popular. Ele foi um grande músico, sendo muito admirado. Chegou a criar mais de 300 composições. Apesar de tocar inúmeros instrumentos musicais era no cavaquinho que mais sobressaia a sua excelência. Esse instrumento foi-lhe ensinado, ainda menino, pelo legendário Lalu de Ouro.  Heitor era tão talentoso no ofício, que editou um método de como se aprender cavaquinho.

À medida que o “progresso” chegava, a população pobre que morava no centro da cidade era empurrada para a periferia, onde passava a viver em cortiços, ocupando a base dos morros. Ali existiam as chamadas “casas das tias”, frequantadas por grandes nomes da música (Pixinguinha, Sinhô, Donga, João da Baiana, dentre outros). E no meio dos bambas encontrava-se também Heitor, que chegou a receber o apelido de Heitor do Cavaco. As “casas das tias” eram também locais de resistência, irmandade e aprendizado, onde se vivenciava a fé, a música e a culinária, numa relembrança das coisas da África. Podemos encontrar toda essa memória na obra de Heitor dos Prazeres,  tanto na música como na pintura, assim como o jongo, o cateretê, o lundo, o coco e outras representações que antecederam o nosso samba, tão bem representado por ele, no que tinha de mais genuíno.

A entrada de Heitor na arte da pintura aconteceu em 1937, após o falecimento de sua primeira esposa, quando já se encontrava com 39 anos. Ele optou pela arte naïf, também conhecida como primitiva ou ingênua. O dicionário Aurélio assim a define: Diz-se de arte, especialmente pintura, desvinculada da tradição erudita convencional e de vanguarda, e que é espontânea e popularesca na forma sempre figurativa, valendo-se de cores vivas e simbologia ingênua. Esse tipo de arte teve no Brasil os pintores José Bernardo Cardoso Júnior (1861-1947), o Cardosinho, como um dos seus percussores, vindo depois Djanira (1914-1979).

Em 1943, Heitor dos Prazeres participou de uma exposição latino-americana em Londres, tendo o seu quadro Festa de São João despertado o interesse da então princesa Elizabeth (hoje rainha), sendo adquirido por ela, que também se interessou pelo pintor, fato esse que lhe trouxe grande notoriedade. O artista tornou-se reconhecido no país e no mundo, tendo participado de inúmeras exposições e recebido muitos prêmios e, consequentemente, encomendas, sendo necessário dobrar o número de seus ajudantes no ateliê, uma vez que não dava conta sozinho de tantos pedidos.

Uma das características mais acentuadas desse artista negro e autodidata é mostrar em seus trabalhos de pintura os rostos das pessoas sempre pintados lateralmente, com a cabeça e o olhar para cima.

Heitor dos Prazeres morreu aos  68 anos, vitimado por um câncer no pâncreas, deixando mulher, um filho (Heitorzinho dos Prazeres) e muitas filhas.

Fonte de pesquisa
Heitor dos Prazeres/ Coleção Folha

Tarsila – A NEGRA

Autoria de Lu Dias Carvalho

Tarsila1   (Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)

Se me perguntassem qual o filão original com que o Brasil contribuiu para este novo Renascimento que indica a renovação da própria vida, eu apontaria a arte de Tarsila. Ela criou a pintura “pau-brasil”. (Oswald de Andrade)

Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço por ter passado na fazenda a minha infância. (Tarsila do Amaral)

A composição A Negra, obra da pintora brasileira Tarsila do Amaral, pertence à sua fase “antropofágica”. Foi pintada quando ela estudava em Paris, como aluna de Fernand Léger e nasceu das recordações de sua infância, passada entre as fazendas de café dos pais — período em que vivia cercada de babás, amas de leite, mulheres negras que ali trabalhavam. Quando pintou este quadro, a artista vivia a descoberta da Arte Moderna.

A monumental personagem que se parece com uma escultura ocupa grande parte do plano pictórico. Encontra-se sentada no chão, com as pernas cruzadas e esparramadas, e mostra-se quieta e desalentada. A personagem apenas olha fixamente para o observador. Nua, com um grande seio a despencar-lhe sobre a perna direita, enquanto o outro jaz oculto sob seu roliço braço, a figura apresenta lábios grossos e cabeça desprovida de cabelos, mostrando uma dolorosa sujeição à vida.

As pinturas “Abaporu” e A Negra são parentes, levando em conta o estilo de ambas. As figuras fundem-se harmoniosamente no quadro Antropofagia, recebendo o mesmo tratamento no que diz respeito à cor, à superfície e ao fundo da tela, onde se projeta a flora comum à obra da artista, pertencente unicamente a ela.

Segundo depoimento da pintora, quando criança ela ouvia histórias contadas pelas mulheres que trabalhavam nas fazendas, sobre as escravas que levavam os filhos às costas, enquanto trabalhavam. Para amamentá-los, elas amarravam pedras nos bicos dos seios, de modo a torná-los alongados e passá-los sobre os ombros, pois não tinham o direito de parar o trabalho que faziam. Ao fundo também existe a presença de elementos cubistas, como a folha de bananeira em diagonal semicurvada.

Tarsila fala em entrevista sobre sua pintura A Negra:

Um dos meus quadros que fez muito sucesso, quando eu o expus na Europa se chama “A Negra”. Porque eu tenho reminiscências de ter conhecido uma daquelas antigas escravas, quando eu era menina de cinco ou seis anos, na nossa fazenda, e ela tinha os lábios caídos e os seios enormes. Contaram-me depois que naquele tempo as negras amarravam pedras nos seios para ficarem compridos, e elas jogarem para trás e amamentarem a criança presa nas costas. Num quadro que pintei para o IV Centenário de São Paulo, eu fiz uma procissão com uma negra em último plano e uma igreja barroca, era uma lembrança daquela negra da minha infância, eu acho. Eu invento tudo na minha pintura. E o que eu vi ou senti, como um belo pôr do sol ou essa negra, eu estilizo.

Como é possível perceber, a presença do negro foi uma constante na infância da talentosa Tarsila, de modo que foi muito fácil para ela introduzi-la no seu universo artístico. Foi a primeira artista a apresentar um indivíduo negro em sua obra, como tema principal, com grande pujança e beleza.

Sobre a tela escreve Aracy M. Amaral: “Esse trabalho de Tarsila, pela sua ousadia de deformação e composição, pelo seu relacionamento ecológico direto, e pela sua mensagem de autenticidade, já bastaria para colocar a artista em primeiro plano da pintura feita no Brasil”.

Ficha técnica
Ano: 1923
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 100 x 81,3 cm
Localização: Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de S. Paulo, São Paulo, Brasil

Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
Tarsila – sua obra e seu tempo/ Aracy A. do Amaral
Brazilian Art VII

Pedro Américo – A NOITE COM OS GÊNIOS…

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição A Noite com os Gênios do Estudo e do Amor é uma obra do artista brasileiro Pedro Américo, baseada num tema alegórico.

No centro da tela encontra-se a deusa grega Nix, envolvida por dois véus, um branco e outro preto, transparentes e rendados, a lhe cobrir parte do corpo. Um dos seios encontra-se à vista e o outro parcialmente. Sua cabeça tende ligeiramente para sua direita, enquanto os cabelos longos e escuros caem-lhe, esvoaçantes, pelas costas. Com os braços abertos, ela segura na mão esquerda a taça de prata que contém estrelas reluzentes, e com a direita espalha-as pelo céu. Aos pés da deusa, está uma coruja (símbolo da sabedoria e da noite) com suas asas abertas, em postura semelhante à da deusa Nix.

Do lado direito da deusa encontra-se a figura do Estudo, segurando na mão esquerda um livro e na direita uma tocha que ilumina a sua leitura, seus atributos. Do lado esquerdo está a figura do amor, Cupido, munido de arco e flecha, que são os seus atributos. Atrás do conjunto está uma grande e iluminada lua.

Ficha técnica
Ano: 1883
Dimensões: 260 x 195,7 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo do Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de pesquisa:
Pedro Américo/ Coleção Folha

Pedro Américo – MOISÉS E JOCABED

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição Moisés e Jocabed é uma obra bíblica do artista brasileiro Pedro Américo, que representa a história do pequeno Moisés, filho de Amrão com sua esposa Jocabed, que foram escravos hebreus pertencentes à tribo de Levi.

A cena apresentada é aquela em que Jocabed opta por botar seu filhinho num cesto de papiro, e depois colocá-lo nas águas do rio Nilo, a fim de que pudesse ser salvo da ordem do faraó egípcio de matar todas as crianças do sexo masculino. O bebê parece dormir tranquilo no cesto.

Jocabed com seu filho ocupa quase toda a tela. Ela se encontra belamente vestida com uma túnica bordada e com franjas nos braços, cujo longo decote deixa à vista parte de seu busto. Com a mão direita, ela segura o cesto com o bebê, enquanto a esquerda descansa no rosto, numa atitude de profunda pesar. Na cabeça traz um vistoso lenço a cobrir parte de seus longos cabelos.

Ficha técnica
Ano: 1884
Dimensões: 151,2 x 106,5 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo do Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Fonte de pesquisa:
Pedro Américo/ Coleção Folha

Pedro Américo – INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição histórica Independência ou Morte, obra do pintor brasileiro Pedro Américo, foi uma das obras mais reverenciadas no Centenário da Independência do Brasil, em 1922.

Embora pretendesse continuar na Europa, Pedro Américo, com as finanças debilitadas, retornou ao Brasil em 1885, oferecendo-se para pintar a tela Independência ou Morte, contando com o apoio da imprensa.

A obra foi realizada na cidade italiana de Florença, onde foi primeiramente vista pela família imperial e outros visitantes europeus importantes, indo depois para a exposição de Chicago, nos Estados Unidos.

Assim como a Batalha do Avaí, a composição é extremamente movimentada. Estando dom Pedro I ao alto, no topo da colina do Ipiranga, e tendo atrás de si um pequeno grupo de acompanhantes. Vê-se outro grupo de cavaleiros montados em seus vigorosos cavalos, formando um semicírculo em torno dele. Quase todos os personagens que acompanham o imperador erguem as suas espadas, depois do gesto dele. Mas, no grupo que se coloca atrás dele, três erguem apenas o chapéu, um quarto levanta um lenço e três outros não levantam nada.

Na parte esquerda da tela, camponeses acompanham a cena: um homem com duas juntas de boi carregando uma carroça de toras, outro a cavalo, e um terceiro, mais ao longe, com seu burro carregado de balaios. À direita, vê-se uma casa rústica, com alguns homens da comitiva do imperado, de pé, próximos a seus cavalos. Ao fundo, no quintal, divisam-se vários pés de bananeira.

Ficha técnica
Ano: 1888
Dimensões: 415 x 760 cm
Técnica: óleo sobre tela
Localização: Acervo Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

Fonte de pesquisa:
Pedro Américo/ Coleção Folha