A ARTE DO EXPRESSIONISMO (I)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

No início do século XX um movimento artístico, cuja maioria dos artistas era alemã, no qual predominavam os valores emocionais sobre os intelectuais, brotou na Alemanha, tendo por objetivo expressar as emoções humanas através de linhas distorcidas e de cores extremamente fortes num veemente contraste com os movimentos anteriores. Trazia como temática a miséria e a solidão, ou seja, externava as angústias e as amarguras do indivíduo enclausurado dentro da sociedade industrializada moderna, dura e tirânica. O dramaturgo e ensaísta austríaco Hermann Bahr acreditava que o Expressionismo era um movimento que atribuía importância principal ao mundo das emoções internas, contrastando com o Impressionismo que se via sob o jugo do mundo exterior da natureza e dos sentidos.

A Alemanha contou com dois grupos de artistas expressionistas. O Die Brücke (A Ponte) era mais ligado aos temas políticos e seus trabalhos eram mais contundentes, sendo formado por um grupo de quatro amigos, estudantes de arquitetura de Dresden, que tinha por líder Ernst Ludwig Kirchner. Dele faziam parte, além de Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff, Fritz Bleyl e Erich Heckel (o mais intelectual deles). O nome escolhido dizia respeito à ideia do filósofo alemão Nietzsche, para quem “o homem é a ponte para um mundo melhor”, e também porque Dresden era conhecida por suas pontes. O segundo grupo chamava-se Der Blaue Reiter (Cavaleiro Azul) que era mais direcionado aos temas espirituais, tendo dado origem à escola Bauhaus e ao Abstracionismo. Quanto ao nome, Kandinsky escreveu: “Nós dois gostamos da cor azul: Marc, dos cavalos, e eu, dos cavaleiros. Portanto, foi inventado dessa forma”.

Os artistas expressionistas iniciaram seu movimento dando vida a um estilo inspirado em Vincent van Gogh, Edvard Munch e na antiga arte alemã da época dos artistas Matthias Grünewald e Albrecht Dürer. Através de estudos feitos, eles foram convencidos pelo poder persuasivo do preto e do branco e acabaram por revitalizar a técnica medieval da impressão numa matriz de madeira (xilogravura). Rottluff também pesquisou sobre a arte tribal e as máscaras africanas. Pintavam inicialmente paisagens e nus, mas, quando se mudaram para Berlim, os artistas do grupo de Dresden passaram a pintar o cotidiano de suas ruas. Faziam uso de cores ácidas e brilhantes — usadas umas próximas às outras com o objetivo de criar uma ilusão de limites. Seus contornos muito distorcidos distanciavam fortemente da arte do Naturalismo.

A mudança de Dresden para Berlim levou os artistas a focarem em novos temas. Começaram a buscar especialmente os aspectos mais sofridos da vida urbana: o mundo dos artistas de cabarés, das prostitutas e dos bêbados. Desse grupo apenas Kirchner tinha treinamento formal em arte, o que não foi um empecilho, pois seus membros estavam convencidos de que a “nova arte” a que dariam vida não poderia ser aprendida de forma alguma, pois era necessário que primeiro fosse inventada.  Emil Nolde juntou-se ao grupo entre 1906 e 1907, aprendendo com ele a arte da xilogravura e ensinando-lhe a arte de gravar com água-forte.  Já Max Pechstein — reconhecido por seus retratos decorativos e naturalistas no estilo Pós-impressionista — juntou-se ao grupo em 1906. O fato é que os expressionistas deixaram de lado a sociedade convencional e repeliram a imitação cuidadosa da natureza. Esse grupo tão aguerrido dissolveu-se em 1913.

O grupo dos Der Blaue Reiter apareceu em Munique alguns anos depois. Dele faziam parte Wassily Kandinsky, Franz Marc e Alexei von Jawlensky. O nome do almanaque lançado por eles deu nome ao grupo. Certos de que a criatividade não se encontrava na arte acadêmica, esses artistas imprimiram imagens de antigos objetos manufaturados egípcios, desenhos infantis e apresentaram uma sequência de novidades artísticas. Eles queriam devolver à sociedade o estado de harmonia que ela perdera no processo de modernização. Wassily Kandinsky — pintor e advogado russo morando em Munique — concluiu que a melhor maneira de aprender sobre arte era ensinando-a, o que realmente fez, vindo a tornar-se cofundador do grupo que se dissolveu com o início da Primeira Guerra Mundial.

Os dois grupos — Die Brücke e Der Blaue Reiter — cultivaram muitas influências e objetivos em comum, embora se possa dizer que os artistas do Die Brücke fossem mais nietzscheanos em sua filosofia, mais naturalistas na busca do tema e mais compenetrados com a parte prática, enquanto os do Der Blaue Reiter, filosoficamente falando, encontravam-se mais perto de Schopenhauer e eram mais ligados à teoria do que à prática, resvalando-se para a abstração. Ambos os grupos desejavam se distanciar da sociedade urbana, tanto é que alguns dos artistas expressionistas foram viver em comunidades rurais, onde criaram um grande entusiasmo pelas sociedades “primitivas”, o que os levou ao trabalho do artista francês Paul Gauguin que viveu na Bretanha e nas Ilhas do Pacífico, tendo deixado de lado o uso de cores realistas, criando cenas quase sempre imaginárias, com formas simples e planas que mais tarde vieram a caracterizar a pintura expressionista.

Nota: a composição que ilustra este texto, intitulada Dois Homens à Mesa, obra de Erich Heckel, criada em 1911, é um óleo sobre tela da fase expressionista. Foi inspirada no romance “O Idiota”, do russo Dostoiévski. O artista faz uso de desenhos angulares e cores sombrias para compor uma cena amedrontadora.

Obs.: Reforce seus conhecimentos com artigos referentes a este estilo:
A ARTE DO EXPRESSIONISMO (II)
Anita Malfatti – ESTUDANTE RUSSA
Franz Marc – O DESTINO DOS ANIMAIS
Kandinsky – IMPROVISAÇÃO III
Kirchner – DUAS MULHERES NA RUA
Munch – O GRITO
Portinari – RETIRANTES
Segall – NAVIOS DE EMIGRANTES
Teste – A ARTE DO EXPRESSIONISMO

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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