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ITÁLIA – FAMÍLIAS GOVERNANTES (Aula nº 34)

Autoria de Lu Dias Carvalho

   

Importantes famílias partilhavam o domínio das terras italianas, uma vez que a Itália do Renascimento era composta por um grupo de cidades-estados independentes e belicosos entre si, dominados por ricas e poderosas famílias como os Mentefeltro em Urbino, os Gonzaga em Mântua, os Sforza (em substituição aos Visconti) em Milão e os Medici em Florença (onde havia uma grande fonte de mecenato, inclusive os mercadores financeiros que, para garantir sua salvação, investiam em obras devocionais).  A corte papal governava Roma e diversas famílias principescas reinavam sobre territórios controlados pelo sacro imperador romano e pelo papa. A Itália, portanto, no limiar do Renascimento era uma colcha de retalhos, composta por pequenas cidades/estados independentes.

Muitas dessas famílias granjearam riquezas e ascendência política através do comércio e do sistema bancário, da indústria, do aluguel de seus exércitos e por ter um papa como patriarca (caso dos Bórgias ou Borjas em Roma). Os chefes dessas famílias buscavam alianças estratégicas, usando dois artifícios: o compartilhamento dos exércitos e os casamentos arranjados. Não espanta, portanto, que no final do século XV grande parte dessas prestigiosas famílias estivessem unidas por parentescos e dependências políticas e econômicas, pois é assim que funcionava o mundo da riqueza, do poder e da política. Vejamos algumas dessas famílias:

Frederico de Montefeltro — duque de Urbino — recebeu uma educação clássica, tendo desenvolvido um grande amor pelas artes. Tinha fama de justo e diplomático. Fez uso de seu próprio dinheiro para baixar impostos, socorrer os pobres, criar escolas e hospitais e armazenar reservas de trigo para os tempos difíceis. Possuía grande paixão pelos livros, tendo criado a biblioteca mais completa conhecida até então. Empregou copistas e miniaturistas. Possuía obras clássicas em grego, latim e hebraico, uma belíssima edição da “Divina Comédia” e uma Bíblia encadernada em brocado de ouro. Seu legado cultural foi assumido por seu filho Guidobaldo de Montefeltro e sua esposa Elisabetta Gonzaga — pertencente à família Gonzaga de Mântua. O casal reuniu em tornou de si um grande círculo de intelectuais e artistas.

Os Bórgia (ou Borja) foram uma família nobre hispano-italiana que gozava das graças do papa. Rodrigo Bórgia era tido como “um homem com uma inteligência capaz de tudo”. Era sobrinho do papa Calisto III que fez com que ele se ordenasse aos 25 anos, sendo eleito papa aos 36 anos. Era um exímio homem de Estado, mas sem levar em conta os princípios cristãos que lhe serviram apenas de trampolim para a fama. Durante seu papado reconstruiu a Universidade de Roma. Chegou a nomear mais de 30 parentes para cargos públicos no Vaticano. De uma feita colocou sua filha Lucrécia Bórgia no seu lugar, quando de uma visita a Roma. Ao fazer uso dos engenhos militares projetados por Leonardo da Vinci, acabou apoderando-se de uma parte significativa da Itália central.  Seu filho César Bórgia, líder impiedoso, colocou-se à frente das tropas do pai, tendo executado aqueles que resistiam a ele, muitas vezes recorrendo à traição. Foi capaz de ocupar Urbino, depois de Guidobaldo de Montefeltro — duque da cidade — ter lhe emprestado a artilharia. Foi uma pessoa insensata e odiada. Serviu inclusive de inspiração para a obra de Nicolau Maquiavel intitulada “O Príncipe”. 

A família Este ou Casa d’Este era o ramo italiano de uma importante dinastia europeia de príncipes. Governava a cidade-estado de Ferrara, sendo uma das cortes mais agradáveis e prósperas do Renascimento. Nicolau III foi responsável por seu maior crescimento. Ele abaixou os impostos, facilitou o comércio e fundou uma escola respeitadíssima. Em 1438 (século XV) foi o anfitrião de um concílio de eruditos e prelados que tinha por finalidade aproximar as alas oriental e ocidental da Igreja Católica. Teve 30 filhos, sendo que desses, três sucederam-no no trono. Leonello era o mais velho e o mais culto. Dominava o grego, o latim, a filosofia e o direito e era intensamente dedicado ao humanismo e às artes. Criou bibliotecas públicas e designou fundos à universidade que era visitada por estudiosos de toda a Europa. Desprezava a riqueza em si mesma e amava a cultura.

Leonello foi sucedido por seu irmão Borso que era totalmente o oposto dele. Prezava a fama e a vulgaridade. Ercole I de Ferrara foi o último dos filhos de Nicolau III a subir no trono. Tratava-se de um homem devoto, amante da música sacra. Foi um mecenas das artes. Triplicou o tamanho da cidade de Ferrara, transformando-a na cidade mais moderna da Europa. Foi casado com Leonora Aragão, uma mulher bem preparada e admirada por seus súditos, tendo sido considerada por muitos como uma administradora mais talentosa do que o marido.

A família Gonzaga governou Mântua durante 400 anos. Possuía uma corte harmoniosa e grande astúcia militar. Tornou-se famosa por possuir um relicário que se acreditava conter gotas do sangue de Jesus Cristo. Fundou uma escola que foi dirigida por Vittorino de Feltre (um humanista, religioso, pedagogo e professor da Universidade de Pádua). O currículo dessa escola estava voltado para as famílias nobres, ali constando desde a educação artística e artes militares até matemática, passando pela pintura, música e religião. A chamada “escola dos príncipes” recebia inúmeros pedidos para o ingresso de jovens de outras cidades e de outras partes da Europa.

Ludovico Gonzaga — filho mais velho do marquês de Mântua — foi um grande mecenas. Encomendou ao arquiteto Léon Battista Alberti o projeto e construção das igrejas de San Sebastiano e Sant’Andrea. Foi responsável por trazer para Mântua o famoso pintor Andrea Mantegna. A esposa de seu neto Francisco II Gonzaga — Isabel do Leste — também compartilhava grande paixão pelas artes, tendo colecionado livros raros. Ela se inclui entre os primeiros mecenas das artes que compraram obras levando em conta o autor e não a obra em si. Embora não fosse da linhagem dos Gonzaga, ela talvez tenha sido a mais importante figura dessa família no século XV, usando sua inteligência na defesa de seu lar adotivo.

O duque Filippo Maria Visconti — governante de Milão — morreu sem deixar herdeiro, extinguindo, portanto, sua linhagem. O jovem general mercenário Francisco Sforza, casado com uma filha ilegítima do duque, tomou o poder e passou a governar Milão. Tratava-se de um homem muito inteligente. Além de ampliar a atividade industrial e comercial, escavou uma rede de canais com o objetivo de aguar extensas zonas de terras cultiváveis. Foi responsável pela construção do Grande Hospital e por acabar as obras da Catedral de Milão. Fez com que a cidade se transformasse na primeira potência militar do norte da Itália.

O filho mais velho de Francisco Sforza — Galeazzo Sforza — sucedeu-o, mas em razão de sua crueldade e tirania acabou sendo assassinado. Como o herdeiro era ainda muito criança, Ludovico Sforza, o outro filho, assumiu o poder. Foi apelidado de “o Mouro” em razão de sua pele escura. Ele deu mais prosperidade a Milão. Casou-se aos 39 anos com Beatriz do Leste e teve inúmeras amantes. Sua esposa era extremamente vaidosa e perdulária. Encomendou, após casar-se, 84 vestidos de cetim bordados a ouro e incrustações de pedras preciosas. Também encomendou a Leonardo da Vinci a construção de brinquedos mecânicos e quebra-cabeças matemáticos para divertir a corte. Aos 22 anos de idade deu à luz um menino que nasceu morto e ela faleceu logo depois. Ludovico, sentindo-se corroído pela culpa e responsável pela fatalidade, caiu em depressão, jamais se recuperando. A França, pouco tempo depois, invadiu a Itália e apossou-se de Milão. O Mouro morreu numa masmorra francesa em 1508.

A pintura que ilustra o texto mostra Ludovico Sforza e sua esposa Beatriz — ajoelhados um de frente para o outro — apresentando seus dois filhos jovens diante do altar da Virgem e seu Menino. A mulher na ilustração à direita, com um arminho, é Cecília Galeranni — poeta, mecenas das artes e uma das amantes do duque (ver link abaixo).

Exercício:
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder as duas questões abaixo e acessar o link:

1. Cite o nome de famílias que governaram cidades italianas durante o Renascimento.
2. Qual dessas famílias você considera a mais importante e por quê?
3. Da Vinci – DAMA COM ARMINHO

Ilustração: 1. Sforzesca, obra de Master of Pala Sforzesca, Itália (ativo em 1490-1520 in Lombardy) /  2. A Dama com Arminho, obra de Da Vinci.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Arte e vida na Itália Renascentista / Coleção Folio

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RENASCIMENTO – ITÁLIA DO NORTE (Aula nº 33)

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                                          (Clique no mapa para ampliá-lo.)

Antes de entrarmos na história da arte renascentista propriamente dita, faz-se necessário conhecermos um pouco mais sobre como se encontrava a Itália nos séculos XIV e XV (os chamados séculos da anarquia feudal), politicamente dividida entre várias famílias. Do século XIII em diante, as cidades do norte da Itália encontravam-se constantemente envolvidas em conflitos entre si (revoluções populares, briga de facções, golpes de Estado e até mesmo invasão de governantes estrangeiros), o que gerava grande instabilidade. O que acontecia no resto da Europa não era diferente do que vigorava na Itália, a exemplo da Guerra dos Cem anos entre Inglaterra e França.

Apesar de tanta turbulência, a Itália do Norte diferenciava do restante da Europa em três pontos importantes: 1. as ruínas romanas  durante os séculos XIV e XV foram responsáveis pelo estudo da Antiguidade; 2. era uma das regiões mais ricas da Itália, onde se situavam as cidades de Gênova e Veneza (controlavam a maior parte do comércio do Mediterrâneo), enquanto Florença (a cidade mais rica do norte italiano) e Milão foram importantes centros de fabricação e de distribuição, possuindo uma significante classe média e um nível de educação maior; 3. essa parte da Itália estava dividida em cidades-estados — diferindo do restante da Europa —, sendo que seus habitantes comungavam os mesmos elementos de orgulho cívico e de identidade — características fundamentais para o surgimento do Renascimento na península italiana.

As inovações no limiar do Renascimento passaram a ser compreendidas pela sociedade. Os eruditos e os artistas da Itália do Norte eram cada vez mais prestigiados, trabalhando para as pessoas mais importantes das cidades que cresciam velozmente com a saída da nobreza do campo. A temática sobre arte e literatura abrangia um público cada vez maior, sendo usada para louvar as dinastias e as façanhas militares.

A máxima de Aristóteles de que “quem não é um cidadão não é um homem, uma vez que o homem é por natureza um ser cívico”, propagou com força entre as cidades italianas. Mais uma vez podemos notar como o desenvolvimento de uma cultura cívica com consciência própria é benéfica a um povo em qualquer que seja o tempo, a exemplo da Itália do Norte, responsável por infundir a concepção de renovação clássica — uma das partes mais interessantes e ricas da história da humanidade, conhecida como Renascimento. Tal estímulo deve ser, sem dúvida alguma,  um dever de todo político que preza o crescimento cultural, econômico e social de seu país.

Enquanto isso acontecia na Itália, a Europa ao norte dos Alpes encontrava-se sob a tutela de governantes territoriais e de uma nobreza rural inculta, envolvida apenas com a “caça, mulheres e banquetes”, desprovida dos valores cívicos que alçavam a Itália a um novo patamar. Entretanto, tornava-se mais fácil para que as ideias renascentistas alcançassem os reinados principescos e aristocráticos da França, da Inglaterra e do norte da Europa, tanto pela passagem de invasores estrangeiros usando a Itália quer pelo desenvolvimento das técnicas de impressão que apressaram a propagação do Renascimento no norte dos Alpes.  O Renascimento italiano, ao atravessar os Alpes, fundiu-se com tendências culturais mais antigas da pintura francesa e da flamenga.

A história do Renascimento fora da Itália está mesclada por grandes mudanças no campo político e religioso da Europa no século XVI. Enquanto na Idade Média a religião católica era responsável pela unificação da Europa, a Reforma de Martinho Lutero (1483-1546), iniciada no século XVI na Alemanha, foi responsável por dividi-la, jogando por terra o ideal de uma república cristã unida. E, como a arte é consequência dos acontecimentos de um determinado tempo, o Renascimento não ficou imune às mudanças. Embora se tratasse de um movimento cultural europeu, tomando o continente como um todo, o Renascimento foi moldado de acordo com as circunstâncias e condições particulares de cada um dos países por onde se irradiou. Assim, não existiu uma uniformidade cultural, mas uma diversidade de movimentos.

Exercício:
Para o enriquecimento deste texto/aula os participantes deverão responder às questões abaixo:

1. Como era a Itália no limiar do Renascimento?
2. Qual foi a importância da Itália do Norte?
3. Como foi o Renascimento na Europa ao norte dos Alpes?

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann
Arte e vida na Itália Renascentista / Coleção Folio

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Francesco Albani – O RAPTO DE EUROPA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Rapto de Europa é uma obra do pintor barroco italiano Francesco Albani (1578-1660) que nela representa um acontecimento da mitologia grega. Gostava de pintar objetos idílicos de antigos mitos ou representações. Ele trabalhou tanto com assuntos mitológicos e alegóricos quanto assuntos piedosos, como mostram os 45 retábulos criados por ele.

O artista apresenta em sua obra o momento em que Zeus — o deus dos deuses — depois de apaixonar-se pela bela princesa Europa, filha do rei da Fenícia, rouba-a. Para enganá-la e aproximar-se dela, ele toma a forma de um touro branco. Inocentemente, ela monta em seu dorso, deixando-se levar por ele. Só que Zeus leva-a para Creta.

Sete seres alados acompanham Europa e o touro, sendo que uma ave parece indicar o caminho. O deus Hermes — o mensageiro dos deuses — segue-os. Na margem os amigos da princesa mostram-se preocupados ao vê-la distanciar-se cada vez mais.

Ficha técnica
Ano: c. 1639
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76,3 x 97 cm
Localização: Galleria degli Uffizi, Florença, Itália

Fonte de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch

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O LIMIAR DO RENASCIMENTO (Aula nº 32)

Autoria de Lu Dias Carvalho

  

                                                      (Clique nas gravuras para ampliá-las.)

Deixamos para trás a Idade Média e entramos na Idade Moderna que abrange um período conhecido como “Renascença”, palavra que significa “nascer de novo” ou “ressurgir”. Teremos mais aulas relativas a esta fase em razão de seus muitos acontecimentos e transformações políticas, econômicas, religiosas, sociais e culturais. Esse foi um período marcado pelo fim do feudalismo e pelo o início do capitalismo. Foi assinalado sobretudo pelo desejo de revisitar o ideal artístico greco-romano, desejo esse que se iniciou na Itália e depois se expandiu pelo resto da Europa.

Voltando no tempo, lembremo-nos de que o artista italiano Giotto di Bondone — um gênio da arte — foi o responsável por dar uma nova visão à pintura, ao romper com o conservadorismo da arte bizantina, buscando reportar para a pintura as figuras realistas da escultura gótica, inaugurando, assim, uma nova fase na arte pictórica. Ele havia redescoberto a arte de dar vida à ilusão de profundidade numa superfície plana. Foi a partir daí que a ideia do “Renascimento” passou a ganhar vida na Itália. Nessa época, quando as pessoas queriam exaltar o trabalho de um artista, diziam que “a sua obra era tão boa quanto a dos antigos”. As obras de Giotto, portanto, eram comparadas com as dos melhores mestres da Grécia e da Roma antigas.

A ideia de que a arte antiga de gregos e romanos era admirável foi ganhando terreno na Itália, tornando-se cada vez mais popular. Os italianos estavam cônscios de que, num passado distante, a Itália que teve Roma como capital, chegara a ser o centro principal do mundo civilizado, até que tudo teve fim com a invasão das tribos germânicas (os godos) que destruíram o grandioso império. Os romanos ainda sonhavam com o poder e a glória da Roma de outrora, mostrando-se sempre comprometidos com a ressurreição de sua grandeza. Traziam os olhos voltados para a idade clássica e para uma esperançosa nova renascença.

Os sonhos dos italianos, contudo, careciam de uma avaliação mais real sobre como acontece o nascimento de um estilo. Nada se faz ou surge de uma hora para outra. As transformações vão se maturando aos poucos, acontecendo paulatinamente. Só para se ter uma ideia, os godos — acusados de serem os responsáveis pela queda do Império Romano — estavam distantes cerca de 700 anos da arte gótica (chamada de “bárbara” pelos italianos). Também não se pode negar que o “ressurgimento” da arte, após as inúmeras turbulências vividas na Idade Média (também conhecida como a Idade das Trevas, ainda que muitas vezes injustamente), aconteceu gradualmente, tendo o período gótico presenciado o alvorecer dessa ressurgência. Nada apareceu num piscar de olhos como desejavam os adeptos do Renascimento.

Os italianos mostravam-se menos conscientes desse processo gradual que acontece com a arte do que os povos que viviam mais para o norte da Europa. Qual a razão de tal comportamento? Em aulas anteriores nós vimos que a Itália demorou a aceitar o estilo gótico, ao contrário da Alemanha, da Inglaterra e da criativa França onde tal estilo teve origem. E mesmo as realizações Giotto só foram aceitas por algumas cidades italianas que as consideraram uma grande inovação, vendo nelas o que havia de mais nobre e grandioso na arte. Outros centros italianos persistiram com o estilo bizantino, acrescentando-lhes algumas mudanças, só vindo a abraçar as inovações do celebrado Giotto di Bandone muito tempo depois.

Os italianos do século XIV mostravam-se inconformados com a falência de Roma como centro cultural do mundo. Acreditavam que tudo aquilo (arte, ciência e  saber em geral) que havia florescido no período clássico — tendo sido destruído e erradicado pelos povos bárbaros do Norte (povos que não faziam parte do Império Romano) em especial os godos — haveria de voltar. Imaginavam que lhes cabia a incumbência de ressuscitar esse glorioso passado, reintroduzindo, assim, um novo tempo.

O sentimento de esperança e de certeza na possibilidade da criação de uma nova era foi mais forte especialmente em Florença — berço de Dante Alighieri (tido como o maior poeta da língua italiana, autor de “A Divina Comédia”) e de Giotto. E foi exatamente nessa cidade, nas primeiras décadas do século XV que um grupo de artistas se propôs, deliberadamente, a tentar cortar os laços com as ideias do passado e a criar uma arte nova, comprometida com a cultura clássica — o Renascimento.

Exercício
Responda as duas questões e acesse o link abaixo:

1. O que levou os italianos a desejarem o Renascimento?
2. Em que parte da Itália teve início o Renascimento?
3. Giotto – APRESENTAÇÃO NO TEMPLO

Ilustração: 1. Apresentação no Templo, Giotto di Bondone ()/2. Obra de Dante Alighieri/ 3. Mapa da Itália.

Fontes de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann

 

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IDADE MÉDIA E RENASCIMENTO (Aula nº 31)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Durante muito tempo se pensou que o Renascimento tivesse surgido na Itália durante o século XIV com as descobertas de Giotto (c.1266-1337) ou Cimabue (c.1240-1302?), tendo como término o final do século XVI. Contudo, na arte as coisas não acontecem com uma cronologia tão apurada, sendo muito comum dois ou mais estilos coexistirem num mesmo período, como já vimos anteriormente suceder com os estilos românico e gótico. Poucos sabem que muitas das ideias identificadas com o Renascimento já eram encontradas no século XII, sendo possível, portanto, encontrar na Renascença (ou Renascimento)  muitos pontos ligados ao período medieval.

Muitos estudiosos acreditavam que a Idade Média não tivesse passado de um milênio de grande decadência, responsável por deixar para trás — através do esquecimento ou do descuido — o êxito da época anterior (a Antiguidade). Hoje, porém, a idade medieval vem sendo olhada sob um novo prisma. Está provado que a cultura clássica (greco-romana) jamais desapareceu totalmente da Europa durante a Idade Média, tendo havido diversas tentativas com o objetivo de  revivê-la nos séculos que antecederam o Renascimento. Vejamos dois exemplos abaixo.

A primeira tentativa aconteceu no tempo de Carlos Magno, no final do século VIII e início do século IX. O desejo do imperador era restaurar o Império Romano na Europa Ocidental, fazendo renascer a arquitetura e a literatura romanas. Chegou a autorizar a cópia e a propagação dos textos clássicos e juntou um grupo de eruditos com o objetivo de dedicar-se ao estudo da literatura romana. Carlos Magno, mesmo sendo analfabeto, participou dessa realização com grande empenho. Essa tentativa do Renascimento carolíngio teve uma importância muito significativa ao manter viva as ideias clássicas e seus modelos, impedindo que fossem esquecidos. Os copistas da corte contribuíram para conservar os textos dos manuscritos latinos, tanto é que o tipo de letra “romana”, usada em nossos tempos, é carolíngia na origem.

Um segundo Renascimento aconteceu no século XII, quando houve um grande interesse pela civilização romana, havendo um crescimento e difusão de bibliotecas e a procura pela pureza da expressão literária. Buscavam imitar a escultura e a arquitetura clássicas. O contato com o mundo árabe e com as civilizações islâmicas através das Cruzadas permitiu o acesso às traduções de alguns trabalhos científicos e filosóficos da Grécia Antiga, permitindo acesso ao saber de Aristóteles sobre filosofia, física, astronomia, lógica, política e ética — assuntos até então desconhecidos dos eruditos do século XII. A criação das universidades, sobretudo em Bolonha, Pádua, Paris e Oxford, incluiu o estudo da lógica aristotélica, mas acabou por excluir todo o resto da grade de estudos, o que causou uma grande reação nos séculos XVI e XV.

O Renascimento foi muito mais do que um período. Foi principalmente um movimento cultural responsável por sinalizar um ponto crucial que se deu na transição da Idade Média para a Idade Moderna. Segundo o artista italiano e historiador de arte Giorgio Vasari (1511-1574), as artes estavam em busca da perfeição, o que levava “a uma recuperação da civilização antiga da Grécia e Roma”. O erudito humanista Marsilio Ficino (1433-1499) referiu-se a uma nova idade dourada em Florença que “tinha restaurado a vida das artes liberais que estavam quase extintas: a gramática, a poesia, a retórica, a pintura, a escultura, a música e o antigo cantar de canções na lira órfica”. Para o poeta e humanista Petrarca (1304-1374), o novo período fez com que “os homens saíssem da obscuridade”.

Ao Renascimento, portanto, não coube o papel de ocupar um vazio cultural absoluto, pois os “Renascimentos” anteriores foram responsáveis em vários sentidos por pavimentar o caminho para o ápice que viria a acontecer nos séculos XV e XVI. O Renascimento italiano foi a culminância de uma diversidade de tendências anteriores e não uma ruptura total com o passado, como se imaginava. Sabemos que a palavra “renascimento” significa “voltar a nascer” e foi com esse sentido que os eruditos e artistas dos séculos XV e XVI viram os acontecimentos no meio cultural do qual faziam parte — o renascer da civilização clássica após um imenso período de definhamento. O movimento renascentista teve um grande impacto em todos os aspectos da cultura, da literatura e da arquitetura, ao tentar, conscientemente, reabilitar e reviver o brilhantismo da Antiguidade Clássica. É fascinante estudar esse período!

Exercício

  1. Pode-se dizer que na Idade Média inexistiu a cultura clássica? Por quê?
  2. Por que o Renascimento carolíngio foi importante?
  3. O que foi o Renascimento italiano?

Obs.: Quem quiser rever alguma aula, basta buscar no ÍNDICE GERAL por ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE   onde se encontram todas as que já foram dadas.

Fontes de Pesquisa
A História da Arte/ E. H. Gombrich
Renascimento/ Nicholas Mann

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Varonese – O RAPTO DE EUROPA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor italiano Paolo Caliari (1528-1588), mais conhecido pelo nome de Paolo Veronese, ou simplesmente Veronese, como lhe chamavam os amigos, é tido como um dos grandes artistas de Veneza. Nasceu na cidade de Verona que era uma província de Veneza à época. Foi educado em sua cidade natal, sendo seu pai, o cortador de pedras Gabriel Caliari, o seu primeiro mestre, ensinando-lhe a modelar o barro. Mas ao perceber o talento do filho para o desenho, enviou-o para o pintor Antonio Badile, aluno de Ticiano.  Veronese tornou-se grande amigo do pintor Battista Zelotti, que também estudara com Ticiano.  Com ele foi tentar a sorte em Siena. Naquela cidade, os dois amigos tiveram a sorte de arranjar serviço com um nobre que lhes confiou a ornamentação de seu palácio. Esse trabalho foi muito importante para Veronese, pois aprendeu com o amigo importantes lições sobre o uso da cor e da composição, ensinadas pelo mestre Ticiano.

A pintura denominada O Rapto de Europa é uma obra do pintor italiano Paolo Varonese que inclui em seus trabalhos inúmeras narrativas mitológicas, como a vista acima.

Varonese pinta a cena mitológica em que a princesa Europa sobe no dorso de um boi — que não é outro senão o próprio Zeus. Três criadas ajudam-na, enquanto uma terceira observa os três pequenos cupidos colhendo flores ou as atirando no grupo. Um deles traz uma guirlanda na mão. Mais adiante, no caminho que leva ao mar, vemos outros cupidos e figuras humanas. É por este caminho que Europa será levada, até alcançar o mar.

Segundo a mitologia grega, Júpiter (Zeus em grego) — o deus dos deuses — rapta a princesa Europa, depois de apaixonar-se por ela. Para enganá-la, ele toma a forma de um touro branco, aproximando-se dela. Inocentemente ela monta em seu dorso, deixando-se levar por ele. Só que Zeus leva-a para Creta, onde a possui.

Ficha técnica
Ano: c. 1580-1585
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 240 x 303 cm
Localização: Palazzo Ducale, Veneza, Itália

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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