O BUDISMO E A ARTE CHINESA (Aula nº 21)

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Autoria de Lu Dias Carvalho                                                                             

      

                                                     (Clique nas figuras para ampliá-las.)

Embora saibamos muito pouco sobre os primórdios da arte chinesa, excetuando o fato de que os chineses era exímios na técnica de fundir o bronze, tendo ornado seus templos com vasos de bronze que remetem ao primeiro milênio antes de Cristo, é certo que o choque da religião sobre a arte foi ainda mais forte na China. Está comprovado que nos séculos imediatamente antes e depois de Cristo, esse povo fazia uso de costumes fúnebres que lembravam os do povo egípcio. Em suas câmaras mortuárias diversas cenas mostram o modo de viver dessa gente nesses tempos tão remotos.

Presume-se que alguns dos mestres chineses acreditavam que a arte era um importante meio de relembrar ao povo os exemplos de virtude que existiam em eras passadas, como mostra a primeira ilustração acima, cujo tema diz respeito à acusação injusta do marido a sua esposa. Vê-se aqui que o artista chinês já era capaz de representar o movimento, algo extremamente difícil para aquela época.

O budismo (religião altamente espiritual nascida na Índia, vindo a espalhar-se pelo Tibete e posteriormente pela China) exerceu grande influência na arte chinesa. Os monges e outros seguidores de Buda eram frequentemente representados em realísticas estátuas. Os artistas chineses usavam delineamentos curvos para formar as orelhas, lábios e faces, como mostra a segunda ilustração deste texto. O budismo, além de oferecer novas atividades aos artistas, também foi responsável por dar à pintura uma visão totalmente nova e uma deferência ao trabalho do artista jamais vista em outros lugares. Os chineses, ao contrário de outros povos até agora estudados, viam seus artífices com distinção, sendo a criação artística algo excepcional.

A arte religiosa na China — provavelmente em razão das práticas meditativas — acabou sendo usada muito mais para narrar as lendas do Buda e dos mestres chineses, ou seja, para ajudar na prática da meditação do que para doutrinar, como acontecera com a arte cristã. Como a arte ajudava na prática meditativa, poderia indagar alguém? Os artistas budistas representavam a água, as montanhas, os pinheiros e outras coisas mais da natureza num espírito de profunda humildade e respeito, no intuito de oferecer meios que levassem à meditação. A eles não interessava a arte com a finalidade decorativa ou instrutiva, como faziam outras culturas.

As composições dos artistas chineses eram feitas em rolos de seda que eram guardados com o maior zelo em recipientes especiais e valiosos. Só eram trazidos à vista, ou seja, estendidos para serem apreciados, em momentos de grande serenidade, quando podiam ser contemplados, induzindo à meditação. As maiores pinturas chinesas de paisagens, criadas nos séculos XII e XIII tinham como único objetivo ajudar na meditação, como mostra a terceira ilustração acima. Suas paisagens não eram reais. Os artistas usavam o método de meditação e concentração para criar seus trabalhos, sem se preocupar com a representação da realidade.

Os artistas chineses adquiriam primeiro a habilidade de “como pintar pinheiros, nuvens, rochas, água, etc.”, através do estudo das obras de grandes mestres, mas sem recorrer à própria natureza. Somente após ganhar destreza na representação desses elementos é que passavam a viajar e a observar as maravilhas naturais, objetivando divisar a essência da paisagem. Ao retornarem para seus lares, buscavam a alma daquilo que observaram, unificando as imagens apreendidas (pinheiros, nuvens, rochedos, etc.), tal como um poeta maneja seus versos. Assim, suas criações não retratavam a realidade tal e qual a viram.

Aos mestres chineses importava a habilidade adquirida na lida com o pincel e a tinta, responsáveis por dar vida àquilo que vira, enquanto a inspiração ainda estava presente na memória. Era comum o fato de escreverem alguns versos junto à composição no mesmo rolo de seda como vemos nas gravuras acima. Ainda hoje os chineses buscam nas pinturas do artista os traços de seu arrebatamento ao criar.

Exercício

  1. Qual era a função da pintura para os antigos chineses?
  2. O EXÉRCITO CHINÊS DE TERRACOTA
  3. CHINA – CALENDÁRIO CHINÊS E FENG SHUI

Ilustração: 1. Marido repreendendo a esposa, c. 400 d.C/ 2. Cabeça de um Lohan (c. 1000)/ 3. Seguindo o Caminho na Primavera (c. 1200), Ma Yuan.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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Ribera – MENINO DE PÉS TORTOS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco, desenhista e gravador espanhol Jusepe de Ribera (1591 – 1652) embora tenha nascido na Espanha mudou-se muito jovem para a Itália, tendo, portanto, dupla nacionalidade, sendo reivindicado pelos dois países. Entre os italianos recebeu o apelido de “Lo Spagnoletto” (O Espanholinho) em razão de sua pequena estatura. Foi influenciado pela arte de Corregio e de Caravaggio. Foi muito admirado pelos patronos e colecionadores espanhóis, sendo tido, portanto, como um dos mais famosos pintores espanhóis do século XVII, embora não tenha voltado ao seu país de origem. Pintou sobretudo obras religiosas. Foi professor de Luca Giordano, dentre outros.

A composição intitulada Menino de Pé Tortos — e também conhecida como O Aleijado, ou simplesmente O Pé Torto — mostra a evolução do artista que sai do tenebrismo de Caravaggio em direção a um estilo luminoso, sob a influência dos mestres Annibale Carraccio, Guido Reni e Ticiano. Esta obra tem sido associada ao duque Medina de las Torres e à sua esposa Anna Carafa, embora alguns digam que fora encomendada por um comerciante flamengo.

Era muito comum, por parte dos artistas espanhóis, pintar quadros de mendigos, aleijados e idiotas, o que era visto como um tipo de consciência cristã — obras de caridade realizadas com o objetivo de assegurar a salvação. Contudo, levando em conta a admiração do pintor por Caravaggio  que tinha como modelos as pessoas do povo e a sua atenção direcionada às figuras carentes, é provável que a principal intenção do artista fosse a de simplesmente pintar o retrato de um mendigo.

O pequeno esmoler, cujo pé direito é deformado — ele não se apoia no calcanhar, mas na ponta deste pé — foi retratado de uma perspectiva inferior, diante de uma profunda e luminosa paisagem, o que o torna enorme aos olhos do observador — a quem encara —, dotando-o de grande dignidade. Apesar de sua deformidade e condição de vida precária, o garoto mostra-se alegre, exibindo um grande sorriso desdentado que lhe deixa covinhas na face, orgulhoso de estar posando para o artista. É provável que o retratado seja o de um anão, pois esta pintura, antes de chegar ao Louvre (1870), trazia o título de “O Anão”.

O menino traz sua muleta de madeira apoiada no ombro como se fosse uma enxada. Na mão esquerda segura um pedaço de papel com os dizeres em latim: “Deem-me esmola, por amor a Deus” (Da mihi elimonsinam propter amorem Dei). Esta informação passa a mensagem para o observador de que ele é mudo, mas ainda assim tem todo o direito de esmolar, contudo, segundo alguns críticos, não há evidências claras de que seja mudo.  Este tipo de permissão era exigida dos mendigos em Nápoles/Itália.

Ribera pintou o pequeno mendigo como se fosse um príncipe ou um santo, dotando-o de grande dignidade, sem apelar para a piedade. Um céu claro e luminoso desenha-se atrás dele – exemplo da evolução de Ribera em seu período de maturidade. A tela é preenchida com uma luz quase natural. A figura do pedinte – executada com uma paleta mínima de cores suaves – contrapõe-se ao azul vibrante do céu.

Ficha técnica
Ano: 1642
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 164 x 93 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/clubfoot

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A ARTE NO MUNDO ISLÂMICO (Aula nº 20)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                     

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Na aula sobre a decoração das igrejas cristãs nós vimos como tudo acabou se acomodando no Ocidente, contudo, no Oriente Médio as coisas não aconteceram bem assim. Os conquistadores muçulmanos que nos séculos VII e VIII da nossa era dominaram um grande território (Pérsia, Mesopotâmia, Egito, África do Norte e Espanha) possuíam uma religião extremamente radical que proibia terminantemente a feitura de quaisquer imagens. Aos artistas não era permitido a representação de qualquer figura humana. Estaria então a arte fadada a desaparecer no Oriente Médio, conforme a vontade de seus soberanos e religiosos? Isto é o que iremos ver.

A arte não pode ser simplesmente banida ao gosto das religiões ou ao bel-prazer dos mandatários, pois ela é inerente à criatividade e à cultura de cada povo. Não é possível sufocá-la para atender os caprichos dos homens no que diz respeito às suas crenças. Hitler foi um dos exemplos de interferência no mundo artístico com a sua famosa crítica à “arte degenerada” (ver link abaixo sobre o assunto). Mas o que aconteceu com os artistas muçulmanos? Os artífices do Oriente precisavam encontrar uma saída para expandir sua criatividade. Se não podiam representar figuras humanas, teriam que trabalhar com padrões e formas. Foi exatamente o que fizeram, criando magníficos arabescos rendilhados e graciosos nos mais variados padrões decorativos, como vemos na ilustração de uma mesquita acima à esquerda.

Os tapetes orientais alcançaram terras não islâmicas, fazendo com que o mundo ocidental conhecesse uma nova arte — a dos arabescos, como mostra a segunda ilustração. No mundo dos seguidores de Maomé, ao invés de os artistas travarem contato com a realidade, optaram por representar o onírico, usando apenas linhas e cores. Porém, seitas posteriores entre os muçulmanos mostraram-se menos severas na interpretação daquilo que dizia respeito à proibição de imagens. Para elas a reprodução de figuras e ilustrações podiam ser feitas, sim, desde que fossem desprovidas de qualquer cunho religioso, como mostram as representações presentes em romances, fábulas e histórias criadas na Pérsia a partir do século XIV. Mais tarde o mesmo sucedeu na Índia, sob a governança de muçulmanos (mongóis), como mostra a terceira ilustração, inspirada num romance persa do século XV, obra que não aparenta praticamente qualquer ilusão de realidade, como também acontecia com a arte bizantina.

Exercício:

1. HITLER E A “ARTE DEGENERADA” 
2.
RELIGIÃO ISLÂMICA – A ARTE DOS ARABESCOS
3.
OS BELOS TAPETES TURCOS

Ilustração: 1. Pátio dos Leões (1377), Alhambra, Granada, Espanha / 2. Tapete persa (séx. XVII) / 3. O príncipe persa encontra a princesa chinesa Humayn em seu jardim (c.400 a.C.)

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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Ribera – O SONHO DE JACÓ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco, desenhista e gravador espanhol Jusepe de Ribera (1591 – 1652) embora tenha nascido na Espanha mudou-se muito jovem para a Itália, tendo, portanto, dupla nacionalidade, sendo reivindicado pelos dois países. Entre os italianos recebeu o apelido de “Lo Spagnoletto” (O Espanholinho) em razão de sua pequena estatura. Foi influenciado pela arte de Corregio e de Caravaggio. Foi muito admirado pelos patronos e colecionadores espanhóis, sendo tido como um dos mais famosos pintores espanhóis do século XVII, embora não tenha voltado ao seu país de origem. Pintou, sobretudo, obras religiosas. Foi professor de Luca Giordano, dentre outros.

A composição intitulada O Sonho de Jacó é uma das obras-primas do artista — uma poesia lírica do naturalismo. Ribera reafirma neste trabalho o seu delicado senso de cor e a sua grande capacidade composicional. Ele coloca maravilhosamente os volumes de primeiro plano em contraposição diagonal. Também divide a tela em dois reinos distintos: o terrestre e o superior; o dos sonhos e o da espiritualidade. Lança mão de uma passagem do Antigo Testamento (Gênesis 28: 11-19) — que conta a história do patriarca Jacó — para criar o maravilhoso retrato de um homem de meia-idade que se encontra aparentemente adormecido num local solitário. O trabalho do artista mostra, ao mesmo tempo, um grande realismo e uma profunda religiosidade.

Jacó é mostrado, ao parar para descansar na estrada, como um homem humilde, vestido com trajes de pastor. Ele descansa deitado sobre seu ombro esquerdo. Sua expressão pensativa e o céu azul acinzentado, acrescido de uma parte brilhante e adornada por anjos são uma referência ao seu estado sonhador. A sua figura horizontal adormecida, em primeiro plano, trazendo a cabeça sobre um travesseiro de pedras, ocupa quase todo o comprimento da tela e junto com o tronco de árvore, à esquerda, forma um ângulo reto. A composição da obra é muito harmoniosa, como mostra o tronco da árvore que cria uma linha diagonal para contrabalançar o corpo de Jacob. Na pedra situada no canto inferior direito uma inscrição revela: “Jusepe de Ribera, Español. 1639”.

O sonho do jovem patriarca é sugerido no grande facho de luz que se estende atrás de parte de seu corpo, abrangendo sua cabeça e iluminando seu rosto: dentro da névoa dourada — representando a escada — são vistas silhuetas de anjos que sobem e descem do céu. Tamanha é a habilidade e delicadeza do artista ao pincelar os seres divinos que eles se tornam praticamente invisíveis. É também surpreendente sua capacidade em construir um discurso metafórico. A imagem de um pastor descansando no campo é revertida para uma das histórias bíblicas mais conhecidas. Ribera era um mestre em lidar com transições sutis incríveis entre cores e passagens da luz ao escuro.

Ficha técnica
Ano: 1639
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 179 x 233 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://www.artble.com/artists/jusepe_de_ribera/paintings/jacob’s_dream
http://musmon.com/en/content/129/en/MuseoDelPrado/26
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/jacobs-dream/c84dbc72-

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Mestres da Pintura – JUSEPE DE RIBERA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O meu grande desejo é regressar, mas houve homens de sabedoria que me disseram que na Espanha se perde o respeito pelos artistas que lá se encontram presentes, por ser pátria amantíssima de forasteiros e madrasta cruel para seus filhos. (Ribera)

O pintor, desenhista e gravador Jusepe de Ribera (1591 – 1652), também conhecido por José de Ribera, segundo de três irmãos, era filho do sapateiro Simón de Ribera com Margarida Cuco — filha de um sapateiro local. Pouco se sabe sobre o primeiro terço de sua vida. Sua fase adulta e atividade artística só passaram a ser conhecidas a partir da primeira encomenda recebida — Martinho com um Mendigo — encomendada pela igreja de Parma, quando ele contava com cerca de 20 anos. Dois anos depois ele deixou Valência/Espanha e mudou-se para Roma/Itália, onde foi eleito membro da Academia de San Luca. Poucos anos depois se mudou para Napóles, onde se casou com Catalina Azzolino, filha do pintor Giovanni Bernardino Azzolini, e ali permaneceu pelo resto da vida.

Considera-se que sua educação artística teve lugar na Espanha, tendo ali iniciado sua aprendizagem com Francisco Ribalta, contudo, não se conhece nenhuma obra que tenha feito em seu país natal, o que torna difícil comprovar o seu estudo ali. Aperfeiçoou sua arte na Itália, como mostra a capacidade que tinha de representar a figura humana, tanto no que diz respeito ao desenho quanto à pintura. A prática do dramatismo de Caravaggio foi o seu ponto forte, contudo, ele partiu de um tenebrismo inicial para um estilo mais luminoso e variado, com influências do Renascimento veneziano e da escultura antiga. A fusão de influências italianas e espanholas deu ao artista a possibilidade de criar grandes obras.

Embora tenha nascido em Valência/Espanha, Ribera mudou-se muito jovem para a Itália, fixando-se em Nápoles, onde morou até a sua morte. Em razão disso, foi um pintor com dupla nacionalidade, sendo reivindicado pelos dois países. Entre os italianos recebeu o apelido de “Lo Spagnoletto” (O Espanholinho) em razão de sua pequena estatura e porque reivindicava as suas origens assinando como “Jusepe de Ribera, espanhol”. Foi influenciado pela arte de Corregio e pelo realismo e tenebrismo de Caravaggio. É tido como um dos mais famosos pintores espanhóis do século XVII, embora não tenha voltado ao seu país de origem, mas referia-se a ele com muito orgulho.

Ribera tornou-se um magnífico desenhista e gravador. Seus trabalhos são verdadeiros estudos de desenho anatômico humano, mesmo nas posições mais complicadas ou escorçadas em que ele coloca suas figuras. Sua pintura evoluiu para um estilo mais naturalista e luminoso, como podemos ver na obra intitulada Jacob’s Dream que é a sua obra-prima.

Um dos motivos que impediu o pintor de voltar a seu país natal dizia respeito ao modo como os artistas espanhóis eram tratados. Contudo, sua arte e carreira estavam ligadas à Espanha, onde suas obras eram muito bem aceitas pelos colecionadores e patronos espanhóis. Pintou, sobretudo, obras religiosas e trabalhou com a técnica da água-forte, tendo feito várias gravuras importantes. Suas composições foram copiadas por pintores, gravadores e até escultores de toda a Europa em razão de sua fama.  Foi professor de Luca Giordano, dentre outros.

Fonte de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Ribera

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O MILAGRE DOS PÃES E DOS PEIXES (Aula nº 19)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                            (Clique na obra para vê-la melhor.)

Como aprendemos na aula passada, a arte pictórica (referente à pintura) usada nos templos cristãos obedecia a certas normas preestabelecidas pelos dirigentes da Igreja. Uma delas rezava que a história bíblica deveria ser apresentada da maneira mais clara e simples possível, omitindo tudo aquilo que pudesse desviar o cristão de seu objetivo sagrado. A arte bizantina (oriunda de Bizâncio) foi célebre na produção de mosaicos que reproduziam composições sacras. Hoje iremos analisar uma obra intitulada “O Milagre dos Pães e dos Peixes”, presente nos Evangelhos.

A obra estudada é um mosaico feito de pequenos cubos de pedra e de vidro. Os fragmentos de vidro dourado são responsáveis por compor o fundo que repassa a sensação de ser de ouro. O mosaico trata-se, portanto, de uma arte decorativa milenar que ajunta pequenas peças de diferentes cores, formando padrões e imagens, após fixá-las numa base de cimento ou argamassa, tendo sido usado inicialmente na decoração de pavimentos. A utilização de peças menores permitia a criação de desenhos mais variados. Além de ser extremamente resistente ao tempo, bem mais do que a pintura mural, o mosaico repassava com clareza as narrativas cristãs, uma vez que a imensa maioria da população à época não sabia ler.

Jesus Cristo é a figura central da obra, posicionando-se um pouco à frente de seus apóstolos. É representado ainda muito jovem, sem barba e pálido — bem diferente da representação do Cristo de nossos tempos. Seus cabelos longos estão jogados para trás, pois era assim que os primeiros cristãos concebiam-no. Usa um manto púrpura que deixa seus pés à vista, cingidos por uma sandália semelhante à dos apóstolos. Seus braços estão abertos numa atitude de bênção. O artista responsável por esta composição representou a cena imbuída de grande solenidade. Cristo olha fixamente para o observador, como se fosse ele a ser alimentado.

Quatro apóstolos com vestes brancas e com as mãos cobertas ladeiam-no. Dois deles ofertam-lhe pães e peixes — simbolizando os milagres narrados pelas Escrituras Sagradas para os cristãos.  O fato de terem as mãos cobertas diz respeito a um costume da época, pois era assim que os súditos costumavam usá-las, ao levar tributos para seus senhores. Não existe a impressão de profundidade na composição, por isso, temos a impressão de que é Cristo quem detém os alimentos, como se eles flutuassem debaixo de suas mãos, quando na verdade são os dois apóstolos que os segura.

As cinco figuras estão postadas em rígida posição frontal, não lembrando em nada o movimento e a expressão vistos nas obras da arte greco-romana. Apenas o manto em torno do corpo de Cristo, deixando suas principais articulações visíveis por baixo das pregas, remetem aos artistas gregos e romanos. Chama a atenção o modo como o artista dispõe as pedras e vidros de diferentes tons na sua composição, reproduzindo com maestria as cores da pele dos personagens e da rocha. Ele fez sua obra com tanta dedicação religiosa que até reproduziu as sombras dos personagens no chão, algo surpreendente para a época.

A simplicidade da obra em nada tem a ver com a capacidade e o conhecimento do artista, apenas obedece a um fim predeterminado que no caso era religioso, tendo ele que se ater às regras rígidas da Igreja da época. Não significa, portanto, que o artista fosse primitivo ou não soubesse fazer algo mais elaborado. Ele apenas teve que fazê-lo assim, de acordo com as normas da arte cristã da época. Como podemos concluir, a clareza vista na representação da arte egípcia também se encontrava presente na arte cristã, onde se retratava apenas o essencial, como vemos aqui nesta composição.

Exercício:

  1. A IMPORTÂNCIA DA IGREJA CRISTÃ NA ARTE
  2. A LIBERTAÇÃO DOS CULTOS
  3. HISTÓRIA DA COR AZUL NA PINTURA

Ilustração: 1. São Vital, mosaico, século VI.

Ficha técnica
Ano: c.520
Técnica: mosaico
Dimensões: x
Localização: Basílica de Santo Apolinário, o Novo, Ravena, Itália

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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