Historiando Fábulas – A BORBOLETA E A CHAMA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Uma borboleta cismou de conhecer outras paragens. Os insetos diziam-lhe que tal aventura seria muito perigosa em razão de sua fragilidade. Ela lhes explicou que trazia nas asas um desenho semelhante ao rosto de uma coruja com grandes olhos abertos, o que amedrontaria seus predadores — tratava-se de um mimetismo para que dela se esquivassem. Assim, a borboleta-coruja que sempre vivera no recôndito da floresta tropical brasileira partiu com mala e cuia em busca de outros ares, a fim de agregar novos conhecimentos à sua vida.

O inseto voou ao longo de muitos crepúsculos, até avistar uma luz resplandecente que se desdobrava em vários halos dourados, quedando-se ele em encantamento, pois nunca vira nada igual. Conhecera apenas   o luzir dos vaga-lumes e os poucos raios solares que se adentravam nos entremeios da densa selva. Pôs-se a voar ainda mais rapidamente para vê-la de perto, antes que findasse seu curto ciclo de vida.

Ao aproximar-se da luz, a borboleta-coruja sentiu o desejo de tocá-la — como fazia com as flores —, mas, ao achegar-se à chama, foi envolvida por um intenso calor que lhe chamuscou as pontas das asas, fazendo-a cair estonteada. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Algo tão encantador jamais lhe poderia fazer mal. Talvez estivesse hipnotizada por sua fascinação. Tentaria de novo, ainda que meio enfraquecida, pois não enfrentara os perigos da noite em vão.

Na sua segunda investida, a borboleta-coruja deu duas voltas em torno da chama, mas, por precaução, manteve dela certa distância. Nada lhe aconteceu. Resolveu aproximar-se mais no intuito de pousar sobre ela. Roçá-la com suas patinhas foi o suficiente para que tombasse agonizante, lamentando sua estupidez e rogando às forças da natureza que destruíssem aquele ser cruel, pois o que tinha em beleza duplicava-se em crueldade. Compungida, a chama tentou alentá-la, dizendo-lhe:

— Minha ingênua borboleta, não se pode abrir mão da prudência em qualquer que seja a fase da vida. É preciso moderação. Observe a busca insana e insensata do homem por bens e poder, o que acaba por levá-lo à ruína. Quem também se aproxima de mim sem cautela, acaba se queimando. A culpa não é minha, pequenina, mas da ambição desmedida do sujeito da ação. Lamento muito a sua morte, mas nada posso fazer!

Moral da História
A precaução é uma das mais importantes vertentes da sabedoria.

Livro à venda
Capa dura, 545 páginas, 170 fábulas (incluindo apólogos)
Contato para compra: Lu Dias  e-mail: ludiasbh@virusdaarte.net
Obs.: 10% do preço de capa que recebo por direito autoral é doado a uma instituição que cuida de animais de rua.

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O CRÍTICO DE ARTE (Aula nº 103 A)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

O artista austríaco Raoul Hausmann (1886–1971) mudou-se para Berlim em 1905, onde estudou numa escola de artes particular. Produziu pinturas expressionistas e escreveu artigos contra as autoridades artísticas. Foi companheiro de Hannah Höch durante sete anos, embora fosse casado. Fundou o Clube Dadaísta de Berlim juntamente com o arquiteto Johannes Baader e o escritor Richard Huelsenbeck. Quando o Dadaísmo começou a fenecer, ele migrou para a fotografia, criando retratos, nus e paisagens. A fim de fugir da perseguição nazista mudou-se para a Espanha e depois para Tchecoslováquia. Durante a Segunda Guerra Mundial mudou-se para a França. Criou fotomontagem satíricas em 1918, como protesto contra as convenções e os valores de uma sociedade burguesa.

A composição intitulada O Crítico de Arte é uma obra do artista em que satiriza jornalistas que vendiam suas críticas de arte ou eram influenciados pelo dinheiro, como mostra um pedaço de célula presente atrás do pescoço do crítico. Trata se de uma fotomontagem através da qual Hausmann faz uma crítica ferina às autoridades do mundo da arte. A nota de 50 marcos alemães, cuidadosamente dobrada em forma de um triângulo, está inserida no colarinho do crítico, levando à suposição de que ele não é imparcial e justo, mas que age em conformidade com o dinheiro que lhe é oferecido.

As linhas pretas rabiscadas sobre os olhos do crítico — simbolicamente escurecendo sua visão — é um indicativo de que seu julgamento, assim como o de qualquer instituição, é sempre falho. Seu terno elegante e completo mostra que se trata de uma pessoa muito mais chegada ao materialismo capitalista do que à arte. Embora a figura seja anônima, recortada de uma revista, o carimbo presente em sua vestimenta identifica-o como sendo o artista alemão Georges Grosz.

A boca do crítico e seus olhos estão cobertos por garatujas infantis. Os olhos estão vendados, a língua volta-se para uma dama da sociedade à direita. Suas bochechas avermelhadas repassam o entendimento de que seu julgamento será lesado pelo excesso de bebida e que no fundo ele não passa de um chauvinista alemão. O artista inclui seu cartão de visitas na obra, onde é descrito ironicamente como “Presidente do Sol, da Lua e da Pequena Terra (superfície interna)”. Trata-se de uma ridicularização feita às classes políticas na briga pelo poder, com a renúncia do Kaiser Wilheim em 1918. A silhueta de um sujeito bem vestido à direita é feita de notícias impressas em jornal e traz a palavra “Merz” em negrito, numa referência ao artista Kurt Schwitters e suas colagens.

Ficha técnica
Ano: c. 1919
Técnica: litografia e fotocolagem em papel
Dimensões: 32 cm x 25,5 cm
Localização: Tate Collection, Londres, Reino Unido.

Fonte de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante

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POMO DA DISCÓRDIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

pomo

O meu amigo Alfredo Domingos é um grande amante das expressões idiomáticas e dos ditos populares, assim como eu. Nós gostamos de embrenhar-nos pelos vieses de nossa bela Língua Portuguesa em busca de suas mais pitorescas expressões. Num dia desses, num artigo publicado aqui no blogue, ele escreveu acerca do pomo da discórdia que tem sua origem na mitologia grega, ocasião em que nos brindou com uma bela e didática explicação. Vejamos abaixo.

“O motivo de uma briga ou de um incômodo, quando é constante, não contornado, acaba sendo um grande obstáculo entre as pessoas. Tudo que é demais atrapalha e irrita. Pode ser perturbação entre marido e mulher, patrão e empregado, amigos, vizinhos, e por aí vai. Se houver um ponto fraco na convivência, aquilo vira elemento eterno de discussão. Pode ocorrer de isso ser um objeto, não uma ideia”.

Ele engata uma explicação para um melhor entendimento.

“Minha prima Romilda, por exemplo, colocou na entrada do seu quarto uma estante de quina saliente, bem na altura da nossa cabeça. Em resumo, ao entrar no cômodo, todos batem no bico da estante. Sem dúvida, ali existe uma amofinação instalada. Para o termo ‘discórdia’ estamos praticamente resolvidos. Porém, é necessário tratarmos de ‘pomo’, o que é mais complicado. Pomo é qualquer fruto carnudo e de forma quase esférica como a maçã, a pera ou o pêssego.”

O meu amigo continuou a explicar os detalhes sobre o surgimento de tal expressão:

“A origem da expressão pomo da discórdia está na mitologia grega (junção de lendas e lições oriundas da Grécia antiga), que reuniu numa desarmonia Éris – a deusa da discórdia – a única não convidada para o casamento entre Tétis e Peleu – e, ainda, Hera, Atena e Afrodite, essas reclamantes do título de a dona da beleza. Aconteceu que Éris, raivosa, largou sobre a mesa da cerimônia do tal casamento uma maçã de ouro, tendo gravada a mensagem provocativa: À mais bela. Foi dessa forma que o caldo entornou, dando um tremendo quiproquó na cena, pois as mulheres envolvidas reclamaram, cada uma de per si, a condição de serem beldades.

Coube a Páris decidir a quem declarar a mais bela. E por artimanhas diversas, praticadas já naquela época, a escolhida foi Afrodite. Em contrapartida, Helena, mulher de outro, foi oferecida a Páris. Assim, por caminhos tortuosos, relacionados à traição e ao poder, vejam bem, tudo resultou na famosa Guerra de Troia, mas aí deixemos pra lá, pois terei que me alongar, entrar em outra seara.”

Ele fecha, enriquecendo ainda mais as suas explicações:

“Fiquemos contentes por atingir a questão essencial, a do pomo da discórdia. A maçã, em especial, transformou-se no agente principal toda vez que queremos indicar que algo emperrou e trouxe desconforto, gerando belicosidade. Não estranhem, contudo, se alguém equiparar esta expressão a outra que significa, no fundo, a mesma coisa: calcanhar de aquiles (serve pra igual efeito). Existe também a expressão pomo de adão ligada à proeminência laríngea (gogó). A origem de tal expressão é curiosa. Ela está relacionada a uma lenda bíblica. Pela lenda, Adão teria tomado de Eva a fruta proibida. E, depois de mordê-la, um pedaço da maçã teria ficado preso em sua garganta, a partir daí todos os homens nasceram com essa projeção”.

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NOVO ESTILO – DADAÍSMO II (Aula nº 103)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Os dadaístas desprezaram os modelos estéticos tradicionais e, por isso, quase nunca faziam uso dos meios comuns da pintura, do desenho ou da escultura. Trabalhavam com as técnicas de montagem (colagem e fotografia) e foram os primeiros a pensar nas facetas do inconsciente, ao fazerem uso de técnicas automatistas, ou seja, inconscientes e involuntárias. Desprezaram a gramática, criaram a “música do ruído” e usaram uma tipografia esdrúxula, ao ordenar as linhas tipográficas de acordo com seus modelos estrambóticos. Achavam também que a ação coletiva era infinitamente mais importante do que a individual, uma vez que tirava do artista a pecha de “gênio solitário” e, em consequência, atingia o público com uma ênfase maior.

As festas dadaístas, assim como suas exposições, quase sempre terminavam em conflitos. Muitas de suas técnicas provocativas foram herdadas do Futurismo, enquanto do Cubismo eles herdaram a colagem, uma vez que desprezavam os materiais sofisticados e a execução refinada. Também foram influenciados pela arte popular, na qual buscaram as técnicas fotográficas, usadas nos cartões postais da Primeira Guerra Mundial — vistas pelos dadaístas berlinenses como a fonte da técnica de fotomontagem, contudo, o escultor e poeta francês Marcel Duchamp foi seu precursor mais imediato.

O Dadaísmo de Nova Iorque mostrou-se menos político, menos agressivo, menos denso e bem mais ingênuo, sob o ponto de vista artístico, possivelmente em razão da distância geográfica do front da guerra europeia, como mostra o artista francês Francis Picabia, ao representar pessoas como máquinas, usando o estilo informativo inexpressivo dos desenhos técnicos. Quando a guerra acabou, os artistas dadaístas deixaram Zurique (Suíça) e a iniciativa do movimento dadaísta e foram para Alemanha e para Paris (França).

A cidade alemã de Berlim, após o término da guerra, vivia num estado crítico, vitimada por crises política, social e econômica. A principal preocupação dos dadaístas era a revolução política. Richard Huelsenbeck — fundador do Clube Dada (1918) em Berlim — achava que era necessária uma arte realista que “representasse os milhares de problemas atuais”. Os dadaístas berlinenses partiram para sátira política e social em que combatiam a hipocrisia e a corrupção presente na sociedade dita “respeitável”. A contribuição mais importante do dadaísmo de Berlim foi a técnica da fotomontagem — uma colagem de fragmentos de fotografias —, meio perfeito para a sátira política e social que tanto usavam.

Max Ernst e Alfred Grünwald fundaram em 1919 “A Conspiração Dadaísta da Renânia”, tendo Hans Arp aderido-se a eles pouco tempo depois. As principais características das obras (colagens, construções e fotomontagens) desse grupo foram o humor irreverente e a fantasia imoderada. O ramo idiossincrático do movimento dadaísta criado em 1918, recebeu o nome de “Merz”. O movimento dadaísta ruiu em 1921 de uma forma muito agressiva, sendo que muitos artistas dadaístas abraçaram o Surrealismo. Seus artistas aceitaram muito bem a sua própria cessação, tanto é que Huelsenbeck, já em 1920, havia escrito: “O Dadaísmo prevê sua morte e ri”.

O fato é que o movimento dadaísta foi muito importante, ao deixar sua marca nos movimentos artísticos que surgiram após a Segunda Guerra Mundial (Pop Art, Action, Painting, Arte Conceitual…) e mais, foi responsável por estimular uma revisão radical dos valores artísticos. Dentre os artistas que fizeram parte do Dadaísmo podem ser citados: Richard Huelsenbeck, André Breton, Hans Arp, Max Ernst, Samuel Rosenstock (Tristan Tzara), Hugo Ball, Man Ray, Alfred Stieglitz, Arthur Cravan, Raoul Hausmann, Max Ernst e Marcel Duchamp.

Nota: L’Oeil Cocodylate (1921), obra de Francis Picabia, feita a partir de saudações e assinaturas de amigos.

Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Manual compacto de arte/ Editora Rideel
A história da arte/ E. H. Gombrich
História da arte/ Folio
Arte/ Publifolha

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SANTO DO PAU OCO

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Autoria de Lu Dias Carvalhosant

Quem não conhece aquele indivíduo fingido, enganador, dissimulado que aparenta exatamente aquilo que não é? Pois esse é o chamado “santo do pau oco”. Quem não conhece o sujeito, compra-o por um bom dinheiro, pois é a falsidade em pessoa. Eles se encontram, sobretudo, no mundo político e religioso.

Na época em que o Brasil vivia sob a tutela de Portugal – Brasil Colônia – suas riquezas, principalmente o ouro e as pedras preciosas, eram levadas para fora do país em direção à metrópole portuguesa. Contrariados com a cobrança do famoso “Quinto”, cobrado em cima de todos os metais preciosos garimpados no seu país, os brasileiros começaram a enganar a fiscalização da Coroa Portuguesa, usando santos ocos de madeira, pois sentiam que estavam sendo roubados pelo governo português.

Os benditos santos eram cheios, sorrateiramente, com ouro ou diamantes, não tendo seu dono que prestar contas às casas de fundição que ficavam sob a fiscalização da gulosa Coroa. Até os escravos, embora fortemente vigiados, burlavam o fisco português, assim como governadores, funcionários brasileiros e clérigos. As imagens dos santos do pau oco eram bem rústicas, esculpidas em madeira e o que ali era guardado permanecia como se fosse um cofre móvel, bem distante do rigor da Coroa Portuguesa que sempre buscava arrancar o couro do povo de sua colônia em benefício da governança portuguesa. Assim, enquanto a santidade era exteriorizada e, com certeza aplaudida pelo governo português, o furto era perpetrado silenciosamente.

Dizem que a expressão santo de pau oco nasceu nas Minas Gerais, celeiro do ouro e das pedras preciosas. E, segundo contam, as imagens eram transportadas em procissões religiosas, no maior fervor, sem que os portugueses desconfiassem de nada. Por muito tempo foi possível encontrar imagens escondidas, cheias de ouro ou diamantes em cidades mineiras como Diamantina, Sabará, Tiradentes, por exemplo, quando velhos casarões eram derrubados. Muitas delas encontravam-se escondidas dentro das paredes, assoalhos ou forros ou nos caibros dos telhados.

Há também uma versão que explica que tal dito diz respeito às imagens de santos que vinham de Portugal, abarrotadas de dinheiro falso, para circular no Brasil. E eu, particularmente, acredito que as duas explicações são verdadeiras.

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HISTORIANDO FÁBULAS

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Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

É com grande satisfação que faço a abertura do livro Historiando Fábulas da escritora Lu Dias Carvalho, grande militante das letras e das artes. É notável a sensibilidade da autora para “sintonizar” as diversas “frequências” em que as palavras “guardam” suas “mensagens”. Em seu livro “Historiando Fábulas”, o leitor irá encontrar significados nunca dantes “navegados” nas fábulas dos grandes mestres do gênero, recontadas por ela numa linguagem transposta para o nosso tempo — sempre acrescentando algo de novo.

É curioso como através de tantos séculos chegaram até nós e continuam vivas aquelas “clássicas” fábulas, como as atribuídas a Esopo — o grego do Séc. VI a.C. — ou as de Fedro — o romano contemporâneo de Tibério e de Nero — e até mesmo as “novas” de La Fontaine — o francês contemporâneo de Isaac Newton (Séc. X VII) e protegido do “delfim” de França —, mesmo essas clássicas aqui ganham um gosto novo e diferente. Há nestas um ingrediente de “causo”, uma mineirice que as torna mais gostosas; mais adequadas para serem desfrutadas ao pé do nosso fogão a lenha e do café com bolo de milho ou pão de queijo.

A fábula está entre as mais ancestrais das artes humanas. Talvez tão velha quanto os primeiros mitos de origem de nossa própria espécie. É certamente a mais velha das formas de literatura. Contar histórias deve ter precedido a mais remota literatura escrita. A fábula poderia ser tomada como uma das manifestações que distinguem a espécie humana das demais que habitam o nosso planetinha Terra. É uma atividade autenti- camente “humana”, manifestação dos “valores” que o homem descobriu ou criou. Antes da fábula, só o episó- dio do “espelho”, ou melhor, do reflexo na água, pode ter sido mais ancestral e significativo.

Durante milênios o homem pode ter visto sua imagem refletida na água sem se dar conta de que “aquele sou eu”. Esse “momento” do reconhecimento de si próprio deve ter sido a grande “virada” da espécie: o início, o “pecado original”. O “esse sou eu” visto de “fora”, deve ter mudado os indivíduos em sua visão de si mesmos e a dos “outros”. Talvez tenha a ver com isso a ideia de “pecado original”, a capacidade de olhar para si próprio, visto de “fora”: o refletir sobre si mesmo — afinal essa é uma das pretensões e objetivo da fábula na sua moral.

 Outro aspecto curioso relacionado às fabulas é que, tanto quanto sabemos em nossa cultura ocidental, elas fazem sua aparição formal com Esopo — no Séc. V a.C. —, embora sua origem mais remota seja — já naqueles dias — atribuída a assírios e babilônios. É desse mesmo cenário e nesse mesmo tempo que a civilização grega parece herdar e começar a organizar e incrementar a herança de assírios e babilônios nos conhecimentos de astronomia. Esopo, Pitágoras e Anaxágoras estão muito próximos nesse cenário e no tempo, além de viverem logo depois de Anaximandro — o explicador dos eclipses. O que fica evidente é que tanto na fábula, Esopo, quanto na astronomia, Anaximandro, são e se dizem herdeiros da cultura mesopotâmica de assírios e babilônios.

Uma das heranças babilônicas mais importantes e mais remotas para a astronomia é a descoberta do “caminho” aparente do Sol e dos planetas por uma estreita faixa do céu a que se chamou de eclíptica. Essa faixa foi dividida — ainda pelos babilônios — em doze partes iguais e a cada uma delas foi dado o nome de uma figura mítica, sugerida pela configuração das estrelas naquele lugar. Essa figura mítica é quase sempre a de algum animal. É quase inevitável, portanto, a associação de uma remota origem comum entre a fábula e a astronomia. Com La Fontaine — companheiro de Racine e de Rabelais — “FABLES”, na forma de poesia, atinge o mais alto grau de prestígio na literatura. Ainda contribuiu para o grande prestígio da fábula o fato de aquela grande edição — dedicada ao jovem Delphim Luis X IV — ter sido decorada com as belas gravuras de Oudry, o pintor da corte da França.

Enfim, desde origens tão remotas as fábulas representam importante forma de expressão, de sabedoria e de preceitos de moral que se materializaram em episódios de fácil entendimento, envolvendo animais para que os homens sintam-se “a salvo”. Essas assumem cores, valores e sabores peculiares nos diferentes meios e culturas. Neste caso — o de nossa mineiríssima autora Lu Dias Carvalho —, elas representam contribuição para uma gostosa leitura, juntando aos preceitos de moral vários sabores novos e bem brasileiros, além de tornar ainda mais popular este gênero fantástico da literatura.

Contato para compra: ludiasbh@gmail.com

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