Autoria de Lu Dias Carvalho
(Clique na obra para vê-la melhor.)
Como aprendemos na aula passada, a arte pictórica (referente à pintura) usada nos templos cristãos obedecia a certas normas preestabelecidas pelos dirigentes da Igreja. Uma delas rezava que a história bíblica deveria ser apresentada da maneira mais clara e simples possível, omitindo tudo aquilo que pudesse desviar o cristão de seu objetivo sagrado. A arte bizantina (oriunda de Bizâncio) foi célebre na produção de mosaicos que reproduziam composições sacras. Hoje iremos analisar uma obra intitulada “O Milagre dos Pães e dos Peixes”, presente nos Evangelhos.
A obra estudada é um mosaico feito de pequenos cubos de pedra e de vidro. Os fragmentos de vidro dourado são responsáveis por compor o fundo que repassa a sensação de ser de ouro. O mosaico trata-se, portanto, de uma arte decorativa milenar que ajunta pequenas peças de diferentes cores, formando padrões e imagens, após fixá-las numa base de cimento ou argamassa, tendo sido usado inicialmente na decoração de pavimentos. A utilização de peças menores permitia a criação de desenhos mais variados. Além de ser extremamente resistente ao tempo, bem mais do que a pintura mural, o mosaico repassava com clareza as narrativas cristãs, uma vez que a imensa maioria da população à época não sabia ler.
Jesus Cristo é a figura central da obra, posicionando-se um pouco à frente de seus apóstolos. É representado ainda muito jovem, sem barba e pálido — bem diferente da representação do Cristo de nossos tempos. Seus cabelos longos estão jogados para trás, pois era assim que os primeiros cristãos concebiam-no. Usa um manto púrpura que deixa seus pés à vista, cingidos por uma sandália semelhante à dos apóstolos. Seus braços estão abertos numa atitude de bênção. O artista responsável por esta composição representou a cena imbuída de grande solenidade. Cristo olha fixamente para o observador, como se fosse ele a ser alimentado.
Quatro apóstolos com vestes brancas e com as mãos cobertas ladeiam-no. Dois deles ofertam-lhe pães e peixes — simbolizando os milagres narrados pelas Escrituras Sagradas para os cristãos. O fato de terem as mãos cobertas diz respeito a um costume da época, pois era assim que os súditos costumavam usá-las, ao levar tributos para seus senhores. Não existe a impressão de profundidade na composição, por isso, temos a impressão de que é Cristo quem detém os alimentos, como se eles flutuassem debaixo de suas mãos, quando na verdade são os dois apóstolos que os segura.
As cinco figuras estão postadas em rígida posição frontal, não lembrando em nada o movimento e a expressão vistos nas obras da arte greco-romana. Apenas o manto em torno do corpo de Cristo, deixando suas principais articulações visíveis por baixo das pregas, remetem aos artistas gregos e romanos. Chama a atenção o modo como o artista dispõe as pedras e vidros de diferentes tons na sua composição, reproduzindo com maestria as cores da pele dos personagens e da rocha. Ele fez sua obra com tanta dedicação religiosa que até reproduziu as sombras dos personagens no chão, algo surpreendente para a época.
A simplicidade da obra em nada tem a ver com a capacidade e o conhecimento do artista, apenas obedece a um fim predeterminado que no caso era religioso, tendo ele que se ater às regras rígidas da Igreja da época. Não significa, portanto, que o artista fosse primitivo ou não soubesse fazer algo mais elaborado. Ele apenas teve que fazê-lo assim, de acordo com as normas da arte cristã da época. Como podemos concluir, a clareza vista na representação da arte egípcia também se encontrava presente na arte cristã, onde se retratava apenas o essencial, como vemos aqui nesta composição.
Exercício:
Ilustração: 1. São Vital, mosaico, século VI.
Ficha técnica
Ano: c.520
Técnica: mosaico
Dimensões: x
Localização: Basílica de Santo Apolinário, o Novo, Ravena, Itália
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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