Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÍNDIA – MISERABILIDADE X ESPIRITUALIDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Alguns escritores, sem nunca ter colocado os pés no subcontinente indiano, apregoam em verso e prosa que ali está o lugar espiritualmente mais rico do mundo. E alegam que essa espiritualidade existe como forma de contrabalançar a sua extrema pobreza material. Como se a espiritualidade fosse o produto principal da miséria. Sem mesmo se darem conta de que a privação material absoluta destrava os projéteis da superstição, do fatalismo, do servilismo e dos engodos da mente. Separam matéria e espírito (ou mente, para alguns) em compartimentos blindados, como se o êxito de um não dependesse do sucesso do outro. Como se a matéria não fosse responsável por suprir o espírito. E vice-versa.

Mesmo que se adote a visão de que a matéria é irrelevante e transitória, em absoluto ela pode faltar ao espírito na sua passagem terrena. Nunca conheci ninguém que fosse só espírito ou só matéria, mesmo quando vive como poeira, relegado ao descaso absoluto, ou supostamente santo. Ainda que se confirme que o espírito é duradouro, perpétuo, mesmo assim ele necessita da matéria para ganhar vida, enquanto faz sua passagem pelo planeta Terra. É uma capa que deve ser bem protegida e da qual o espírito não pode se desgarrar, sob o perigo de trazer para si as maldições que o acompanharão em outra dimensão, se houver.

Imagino que, se há um Ser Absoluto, Ele deve ser muito sábio. E jamais poderá colocar na mesma balança um espírito que teve um corpo material bem nutrido, e outro que carregou um esqueleto miseravelmente raquítico, durante sua passagem terrena.  Eles terão balanças diferentes para serem pesados. Não diz o livro dos cristãos que “A quem muito foi dado, mais lhe será cobrado?”

Não sei como se pode exigir espiritualidade onde grassa a miséria. Se assim fosse, o planeta estaria protegido por um halo de espiritualização, se juntados quase 2/3 dos seus pobres e miseráveis. Teríamos a redoma da espiritualidade em quase a totalidade do campo de força da Terra. O poderio atômico que ameaça a desintegração da Terra jamais deixaria um gosto amargo em nossa boca. Nem mesmo o lixo espacial e os meteoros, que gravitam sobre nossas cabeças, seriam páreo para a maioria dessa humanidade tão espiritualizada (?). A prevalecer o raciocínio desses profetas de ar condicionado, ou dos miseráveis nus que acocoram pelo mundo, chegaremos à conclusão de que a extinção dos dinossauros foi resultante da falta de espiritualidade.

Tanto uma vultosa riqueza espiritual ou uma esmagadora pobreza são maléficas ao homem, pois nenhuma deixa perceber as misérias humanas, nas suas mais diferentes vestimentas. Sem o equilíbrio, tudo desanda. Melhor seria se à riqueza espiritual complementasse a material, e vice-versa. Não é à toa que muitos ascetas acabam loucos varridos, e um número alarmante de ricos tomba sob o no vazio da futilidade e do excesso.

Três grandes sábios da Antiguidade: Aristóteles, Buda e Confúcio reconhecem em seus ensinamentos que o extremismo é a execração à harmonia, quer em nós quer nos outros. Fecho a minha elocução com um belo pensamento de Confúcio, que penso resumir tudo aquilo que pretendi dizer:

“Ir além é tão errado, como ficar aquém.”

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ÍNDIA – HIJRAS: HOMENS OU MULHERES?

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Embora saibamos muito pouco sobre os hijras aqui no Ocidente, a definição encontrada é de que não são homens e nem mulheres, mas, sim, um terceiro sexo. Dentre os vários  rituais pelos quais passam está a castração. Muitos hijras só se consideram “verdadeiros” após tal cerimônia, que é um ritual proibido e protegido pelo grupo por um complexo código de silêncio. Portanto, para se tornar um hijra é preciso remover o pênis e os testículos, para que se pareça o máximo possível com uma mulher, mas sem a reconstrução da vagina, como acontece com os transexuais.

Os hijras existem na Índia há séculos e podem ser considerados tanto indivíduos pertencentes a uma casta quanto a um culto. Bahuchara é a deusa venerada por eles. Alguns deles são homens impotentes que, para fugirem da vergonha social por não procriarem, função exigida pela sociedade hindu, oferecem sua genitália a essa deusa. No hinduísmo existem deuses hermafroditas e até mesmo aqueles deuses que exigem dos seus seguidores a prática de um comportamento sexualmente controvertido, como a deusa Bahuchara Mata, que exige de seus sequazes (todos homens) o uso de roupas femininas, a castração e o celibato.

Os hijras moram em comunidades pequenas, principalmente no norte do país. Andam em pequenos grupos chefiados normalmente pelo mais velho. Usam vestimentas femininas e maquiagem excessiva, assim como nomes femininos. Eles são tidos como transgêneros e interssexuais. Do ponto de vista da medicina ocidental, eles são considerados transexuais masculinos. Nutrem desejo sexual por homens e não por mulheres. E são, ao mesmo tempo, temidos e cortejados com a sua presença em casamentos e nascimentos, aonde chegam sem precisar ser convidados, pois tanto podem levar bênçãos como azar, segundo a crença, dependendo do modo como sentem que foram recebidos.

Os hijras chegam às festas, onde ficam pouco tempo, sempre acompanhados de muita música.  Dançam e abençoam as pessoas presentes no local. Em troca, exigem um pagamento em prendas ou dinheiro. Segundo a superstição hindu, a praga de um hijra é muito potente e pode trazer infelicidade por muitos anos. Por isso, atitudes agressivas contra os castrados são consideradas de mau augúrio pela maioria dos indianos que, supersticiosa, acredita piamente que a desvirilização traz grandes poderes e que, quem atrapalhar o ritual dos protegidos da deusa Bahuchara será vitimado pelo azar. E ainda, se os pais do recém-nascido ou dos recém-casados não pagarem as bênçãos dos hijras, pragas cairão sobre os bebês ou casal. Atualmente, eles passaram a dançar em festas escolares e despedidas de solteiro.

Se voltarmos a um tempo não muito distante, encontraremos os eunucos, castrados ainda na infância e elevados à categoria de responsáveis pelos haréns. Eram escolhidos para tal tarefa, porque, imaginavam os príncipes e sultões, jamais poderiam seduzir uma de suas escolhidas.

Segundo estudos, nem sempre a cultura indiana foi discriminatória em relação às diferenças sexuais. A própria mitologia desse país está cheia de lendas sobre mudança de sexo:

  • deusas que se transformavam em homens;
  • deuses que se transformavam em mulheres;
  • deuses com atributos, ao mesmo tempo, femininos e masculinos, como a andrógina Shiva.

Os indianos, contudo, não possuem a mesma aceitação para com os homossexuais e lésbicas. A impotência masculina, analisada sob o prisma da procriação, é mais vergonhosa para os hindus de que a homossexualidade. Tanto é que muitos pais, ao perceberem traços de feminilidade nos filhos, ou alguma anomalia genital, entregam-nos para as casas de hirjas, onde crescerão e aprenderão a ser um deles, destino que acreditam estar reservado pelo karma aos efeminados.

Um dos mais importantes testes para a adesão à comunidade hijra no século passado era a prova de impotência. Os hijras em potencial eram postos para dormir ao lado de uma prostituta por um determinado número de dias, para que fossem estudadas as suas reações.

Os hijras casam-se com homens preferencialmente e referem-se a eles como seus maridos. A prostituição dos transgêneros existe há muito tempo, mas não como atualmente. Antes, eles vendiam o sexo nos templos, com finalidade religiosa. Hoje, são incentivados por seus gurus hijras a se prostituírem, em função do dinheiro.

O mais importante evento do calendário dos hijras é o Festival do Koovakan, em que exercem livremente seu poder de expressão. O Koovakan reúne diferentes tipos de pessoas: hijras, homossexuais, bissexuais, heterossexuais, travestis, casais com seus filhos, solteiros, namorados, etc.

Apesar de toda a diversidade de pensamentos vistos no hinduísmo, o discurso e a prática no país ainda são bastante contraditórios, com muitos resquícios da ocupação britânica. Mesmo assim, a religião hinduísta é uma das mais condescendentes com o público LGBL.

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ÍNDIA – CREMAÇÃO DE UM DIGNITÁRIO

Autoria de LuDiasBH

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No caso da minha morte, ou da minha mulher Sonia em acidente, dentro ou fora da Índia, nossos corpos devem ser repatriados a Delhi e queimados juntos, segundo o ritual hindu, em um lugar a céu aberto. Sob nenhuma circunstância nossos corpos serão queimados em um crematório elétrico. Segundo nosso costume, nosso filho Rahul deverá acender a pira… É meu desejo que nossas cinzas sejam jogadas no Ganges, em Allahabade, onde foram jogadas as cinzas dos meus antepassados. (Instrução deixada por Rajiv)

A política é sempre a mesma em qualquer lugar do mundo: o poder não respeita sentimentos. E foi assim que Rajiv, que jamais tivera ambição pelo poder político, deixou de ser piloto da Indian Airlines, para substituir sua mãe, Indira Gandhi. E, durante uma visita que fazia pelo país, quando focava um de seus temas prediletos, a separação completa entre religião e política, que Rajiv recebeu uma guirlanda de madeira de sândalo em seu pescoço, colocada por Dhanu, durante um comício. Ela fingiu ajoelhar-se, para lhe tocar os pés numa saudação, quando puxou uma corda, que ativou o detonador. Junto com Rajiv morreram 17 pessoas. Dhanu carregava junto a seu corpo uma bateria de nove volts, um detonador e seis granadas envolvidas em um material explosivo plástico.

Segundo a tradição hindu, o filho mais velho é o responsável por acender a pira funerária do pai, responsabilidade que coube a Rahul. Antes de o corpo de Rajiv ser  cremado, houve o ritual purificador da alma:

  • Rahul traz nas mãos uma jarra de água sagrada do Ganges. Descalço, dá três voltas em torno da pira, enquanto vai espargindo gotas daquela água sobre seu pai.
  • Depois, ajoelha-se diante dos restos mortais de Rajiv e chora por dentro.
  • Membros da família dirigem-se à pira, onde colocam, com muito cuidado e acerto,     troncos de madeira de sândalo e contas de rosário sobre o corpo.
  • A esposa Sonia usando um sári branco imaculado, marca das viúvas, deposita sobre o corpo do marido, à altura do coração, uma oferenda que é feita de cânfora,      cardamomo, cravo e açúcar, com a finalidade de ajudar a erradicar as imperfeições da alma, segundo a crença hinduísta. Logo a seguir, toca os pés do marido, em sinal de veneração, ajunta suas mãos à altura do peito e inclina-se, pela última vez diante de Rajiv, retirando-se depois.

Não faz parte do costume hindu que a viúva participe da cerimônia de cremação, principalmente se for de outra religião (Sonia era católica). Os sacerdotes negam-se a lhe dar tal permissão. Contudo, ela não se deixa vencer pelos preconceitos e pelos costumes retrógrados. Permanece perto da pira funerária durante toda a cerimônia, sem desmaiar ou mostrar qualquer tipo de fraqueza.

  • Rahul, com uma tocha acesa na mão, dá três voltas em torno da pira, antes de  depositá-la entre os troncos de madeira e sândalo.
  • Cabe a ele, como filho mais velho, ajudar a alma de seu pai a se libertar do envoltório terreno e alcançar o céu.
  • Milhares e milhares de pessoas cantam cânticos védicos.
  • Tendo às mãos um pau de bambu de três metros, Rahul dá um golpe na cabeça de seu pai, cuja simbologia representa a subida da alma ao céu, à espera de sua próxima reencarnação.
  • Ouve-se um estouro seco. É a cabeça que estoura sob o efeito da pressão do calor.     Após tal som, o ritual acaba, pois a alma do falecido já se encontra livre.
  • As pessoas jogam pétalas de flores às chamas.
  • As mãos de Rajiv ficam expostas e mostram os dedos pretos, que se mexem como se fizessem a sua última despedida.
  • As cinzas de Rajiv são jogadas no Ganges, tendo o mesmo destino que as de seu bisavô Motilal, as do avô Nehuru e as de seu irmão Sanjay.

Filho mais novo de Indira Gandhi, a quem sucedeu no governo indiano após seu assassinato por seus guarda-costas sikhs, Rajiv, por sua vez, tal como a mãe, foi assassinado, só que por extremistas tamils, durante a campanha eleitoral de 1991.

Nota: Imagem copiada de http://pt.electionsmeter.com

Fonte de pesquisa:
O Sári Vermelho/ Javier Moro

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ÍNDIA – COMO VIVE UM BRÂMANE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O homem que nasce alto torna-se baixo pelas suas baixas associações, mas o que nasce baixo não se torna alto, por meio de altas associações. (Código de Manu)

Um brâmane ensina os Vedas. Um brâmane se sacrifica por outros e recebe deveres da alma. Comum a todas as castas é a reverência para com os deuses e brâmanes. (Vishnusmriti, 2-1.17)

Os brâmanes sempre gozaram das delícias do poder que só foi um pouco enfraquecido, quando o budismo sacudiu a Índia. Mas esses sacerdotes, com a tenacidade que lhes é peculiar, deram uma volta por cima e reconquistaram o domínio, ainda na dinastia dos Guptas. A partir do século II da nossa era, os registros já mostram grandes doações, principalmente em terras, feitas às castas dos brâmanes. Segundo alguns historiadores, a maioria das escrituras era fraudulenta. E, como não podia deixar de ser, as terras dos brâmanes eram isentas de taxas, mas só até a chegada dos ingleses.

Os britânicos não levaram em conta o Código de Manu, que advertia o rei de que “nunca deverá taxar um brâmane, mesmo quando todas as outras fontes de renda estejam esgotadas, pois um brâmane irado pode imediatamente destruir o rei e todo o seu exército, apenas com a recitação das maldições dos textos místicos.” Está aí o motivo de tanta riqueza e tanto ouro. Além disso, os espertinhos instituíram que “o mais importante elemento em todos os sacrifícios aos deuses era a taxa paga ao sacerdote ministrante; e a mais alta demonstração de piedade era uma gratificação engrossando essa taxa”. Mas a mina do rei Midas não ficava apenas nisso para a casta bramânica. Ela ia muito, mas muito além. Estava presente nos milagres e nas superstições, pois o brâmane podia tudo e contava com a crença do povo:

  • tornar fecunda uma mulher estéril;
  • conduzir negócios por meio de oráculos;
  • levar os homens de loucura “simulada” a confessar ao povo, que estava assim, por castigo, por serem pouco generosos com os sacerdotes (brâmanes);
  • tirar o mau augúrio que levava à doença, ao sonho desagradável, ao mau negócio.

O poder bramânico, muito espertamente, era assentado no monopólio do conhecimento. Cai muito bem para eles o provérbio de que “em terra de cegos, quem tem um olho só é rei”. Os brâmanes eram os reformadores e guardiães de todas as tradições hinduístas. E, polivalentes, eram educadores das crianças, compositores, editores e tudo o mais.

A lei bramânica rezava que, se um sudra (a quarta casta em posição) ouvisse a leitura das escrituras hinduístas, deveria receber, como castigo, chumbo em fusão no ouvido. E se recitasse qualquer coisa dos livros divinos, tinha a língua cortada. Se das escrituras guardasse qualquer coisa na memória, era cortado em dois. O bramanismo era apenas para os iluminados. Tudo era feito para que as castas baixas não tivessem acesso ao conhecimento, pois esse lhes daria poder, questionamento e revolta. Ou seja, quanto mais inculto fosse o povo, maior seria o domínio sobre ele.

Um brâmane estava, por direito divino, sobreposto a todas as criaturas. Devia ser mantido através de doações públicas e privadas. E, que ninguém tivesse a petulância de dizer que era por “caridade”, pois se tratava de uma obrigação “sagrada”. A hospitalidade a um brâmane constituía um alto dever religioso. E, se era mal recebido, retirava-se levando todo o mérito das boas obras do hospedeiro. Todo o poder era mantido através da chantagem e do medo.

Os brâmanes Nambudri exerciam o “jus primae noctis” sobre todas as noivas de seu território, até tempos recentes. Ou seja, eles se ofereciam para curar a esterilidade das mulheres que passavam uma noite no templo em companhia deles.

Se um brâmane cometia um crime, jamais podia ser morto. O rei exilava-o, mas sem lhe retirar a propriedade. Quem “tentasse” bater num brâmane ganhava o castigo de sofrer cem anos no inferno. E, se o desafortunado chegasse a bater, o castigo passava para mil anos. Os seguidores do hinduísmo acreditavam piamente em tais lorotas.

Se um sudra abusasse da mulher de um brâmane, tinha a propriedade confiscada, e pior, ainda tinha os órgãos sexuais cortados. O sudra que matava outro sudra obtinha o perdão através da doação de dez vacas aos brâmanes, é claro. E, se um  sudra matava um vaicia (pertencente à 3ª casta) tinha que dar cem vacas. Mas, se o sujeito matava um brâmane, estava ferrado e fulminado, porque somente o homicídio de um brâmane era considerado como tal.

Deveres de um brâmane:

  • banhar todos os dias e tomar mais um banho, se o barbeiro pertencer a outra casta;
  • purificar com esterco de vaca o sítio onde vai dormir;
  • nas necessidades fisiológicas precisa seguir um ritual higiênico, usando, nesse sagrado rito, a mão esquerda, ao lavar as partes pudendas com água.

Se um estrangeiro usasse papel higiênico, a casa era considerada conspurcada. O brâmane usualmente lavava mãos, pés e dentes antes da refeição. Comia com os dedos e só usava duas vezes os mesmos pratos e talheres. Ao terminar a refeição, lavava sete vezes a boca. A escova de dente (um fragmento de madeira) era sempre nova. Mascava folhas de bétel (um tipo de planta indiana) para branquear os dentes. Usava o ópio espaçadamente, pois tinha que se abster do fumo e do álcool.

O fato de pertencerem à casta mais alta tornou a posição social dos brâmanes especial, mas a intromissão desses em todos os assuntos do país vem provocando sérias divergências na sociedade indiana. Já na metade do século XX, um grupo de racionalistas insurgiu-se contra o excesso de poderes de tal casta, considerando seus rituais totalmente desnecessários. O sucesso do movimento contribuiu para que algumas mudanças acabassem se processando, principalmente nos estados indianos do sul. Na Índia hinduísta, nenhuma decisão é tomada sem primeiro consultar o sacerdote (pandit), que sempre aproveita dos casamentos e negócios para tirar mais dinheiro das família.

Nota: personagem “pandit” (José Maia) da novela Caminhos das Índias.

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ÍNDIA – COMO SERÁ NO FUTURO?

Autoria de LuDiasBH

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Em 2013, a Índia comemorou sessenta e seis anos de democracia soberana. E de país subdesenvolvido vai adentrando no rol dos desenvolvidos, carregando consigo as mazelas e os pontos positivos do capitalismo. Ela faz parte do Brics (grupo formado pelo Brasil, Rússia, China, África do Sul e Índia).

Ainda hoje, uma imensa parte de sua população vive na pobreza extrema e são muitos os problemas a contornar,  sendo os mais graves: o sistema cruel de castas, a burocracia paquidérmica, a corrupção avassaladora, o alto índice de poluição ambiental, a agiotagem, etc.

Para o turista desavisado, a visão de um trânsito caótico é o primeiro susto. Talvez seja o pior do mundo, onde riquixás, automóveis, bicicletas, motos, automóveis e outras formas esdrúxulas de transporte coabitam ao lado de vacas, macacos, porcos, búfalos, cabras e gente.  A não ser os estrangeiros que levam um susto a cada metro, os indianos parecem viver na mais perfeita harmonia com o trânsito, quer seja nas cidades ou nas estradas. Tudo funciona na base da paciência.

Quem imagina que os animais carreguem um rasgo de medo está muito enganado. São uns verdadeiros paxás, donos da situação. Quem quiser que se desvie do caminho em que eles se encontram. E se você odeia buzina, marque a Índia como o último roteiro de viagem de sua vida. Imagine que ali os motoristas, em vez de escreverem nas traseiras de caminhão “Dirigido por mim, guiado por Brahma”, trazem impressa a recomendação “Please, sound horn!”, trocando em miúdos, “Buzine, quando for ultrapassar!”.

A Índia só fica atrás da China, em número de habitantes, sendo o sétimo país em extensão territorial (Rússia, Canadá, EUA, China, Brasil, Austrália).  Já foi uma das grandes economias do mundo antigo, com suas famosas especiarias. Caiu em declínio, mas vem se recuperando, de modo que alguns economistas já a apontam como uma das grandes potências que se projetarão no século XXI, levando em conta o grande crescimento do mercado de tecnologia de ponta.

Contudo, ao depararmos com a pobreza extrema de grande parte dos indianos, muitos vivendo em condições subumanas, essa projeção parece meio esdrúxula a nós ocidentais. Principalmente quando pensamos num país onde a comida costuma ser servida em folhas de bananeira e consumida com a mão direita.

Pedir uma informação em qualquer lugar da Índia demanda muita coragem. Pois à vista de um estrangeiro, uma dezena de crianças miseráveis e mendigos de todo tipo rodeiam-no, no intuito de lhe tirar a última rúpia (dizem que só aceitam, no mínimo, sete rúpias). E, se os visitantes se encontram de carro, a sensação é de que esse vai ser virado, ou não se safarão daquele embaraço.

Outro ponto de notória dificuldade é decifrar se o indiano está querendo falar “sim” ou “não”. Para os ocidentais torna-se difícil interpretar as viradinhas de cabeça para um lado e para outro, dessa gente. Dizem que tal gesto pode significar “sim”/ “não”/ “talvez”/ “quem sabe”/ “não faço a menor ideia”/ “de jeito nenhum”

Nota: Imagem copiada de http://mochilandopelomundo.wordpress.com

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ÍNDIA – CELEIRO DE SUPERSTIÇÕES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Coube aos nossos visitantes ocidentais ensinar-nos quanto à obscenidade de muitas práticas que, até aqui, inocentemente adotávamos. Foi em um livro missionário que, pela primeira vez li, que o Shivalingam (culto fálico a Shiva) tinha uma significação obscena. (Gandhi)

Em meio ao mosaico de crenças e cerimônias religiosas, as superstições encontraram um terreno fértil na Índia. Dentro dessa seara encontramos tudo que é capaz de tornar o homem “feliz” ou “infeliz”, “próspero” ou “pobre”: oblações, encantamentos, exorcismos, astrologia, oráculos, votos, quiromancia, adivinhação, ledores de fortuna, encantadores de serpentes, faquires, iogues, homens santos, misticismo, feitiçaria, arte divinatória, magias, mantras, receitas encantadas, feiticeiros, nigromantes, videntes, sonhos, sinais dos céus ou de buracos abertos nas roupas pelos ratos, etc.

O hindu acreditava que cada estrela exercia uma influência especial sobre os nascidos sob a sua ascendência. As mulheres menstruadas evitavam tomar sol com medo de que o astro rei pudesse engravidá-las. Palavras desconhecidas eram recitadas para evocar fantasmas, encantar cobras e aves e forçar os próprios deuses a vir em auxílio do mago para ajudar seu cliente. Normalmente, todo cliente tinha uma série de doenças incuráveis e estava cheio de olho-gordo. Mediante umas rúpias, o mago introduzia um demônio no ego do inimigo de seu paciente e expulsava o que havia nesse.

Quando um brâmane bocejava, punha a mão à boca, para evitar que maus espíritos entrassem. O hindu estava sempre em guerra contra o mau-olhado, pois qualquer um poderia ser vitimado pela desgraça, trazida pelos desafetos e invejosos. Bastando que o encantador de serpente colocasse a sua força em ação. O responsável por restaurar a vitalidade sexual, fazer voltar o amor no coração, ou dar filhos às mulheres estéreis era o mágico.

Parir filhos (machos) era a meta principal de um casal hindu. Sendo que a adoração dos símbolos da reprodução e fecundidade era permanente nos devotos. Siva (Xiva) era a deidade indiana representada por um falo (pênis). Procissões fálicas rodopiavam pelas ruas, com a comitiva usando símbolos fálicos nos braços e pescoço. Em determinados templos, lingas (representação dos órgãos genitais masculinos) de pedra era, diariamente, lavados com a água do Ganges, que depois era vendida aos fiéis.  Tal culto durou até o século XX.

O rito de purificação demandava muito tempo para os hindus. Podiam se tornar impuros pela ingestão de alimentos impróprios, restos de comida, pelo toque de um pária (intocável), pelo contato com um cadáver ou com uma mulher menstruada e por outros milhares de causas. O parto e a menstruação tornavam as mulheres impuras. Elas eram isoladas e passavam por impensável higienização.  Acreditavam também que, se não oferecessem alimentos aos deuses, esses morreriam de inanição.

O hindu impuro tinha que passar pelo rito de purificação, que variava de acordo com o tamanho da “impureza”. Nos casos mais simples, bastava ser purificado com a água sagrada do Ganges. Nos mais complexos, como na violação das leis da casta, tinham que passar pelo Panchagavia: era obrigado a beber uma mistura de cinco substâncias da vaca sagrada: leite, coalhada, ghee (manteiga derretida), urina e excremento. Era comum ver centenas de hindus supersticiosos nos pastos, com um vasilhame nas mãos, seguindo as vacas, prontos para apararem a urina dessas e a levarem ainda quente para casa. Outros a aparavam com as mãos, bebiam um pouco e com o restante lavavam o rosto.

Outras superstições comuns na Índia:

  • Após três semanas de nascimento, o bebê passa pela cerimônia do corte de cabelo. Raspam a sua cabecinha, deixando apenas uma mecha, pois de acordo com a tradição, protegerá a sua memória. Raspar a cabeça tem o significado simbólico de libertar a criança dos restos de suas vidas passadas e prepará-lo para enfrentar o futuro, a nova vida que começa.
  • A urinoterapia é um costume milenar, que consiste em beber, em jejum, todas as manhãs, um copo da primeira urina do dia. Essa terapia ainda é usada por alguns e parece estar ganhando mundo.
  • Os hindus não saem às ruas, quando há eclipses, pois acreditam que esses são prejudiciais porque, simbolicamente, a luz se esconde.

Historiadores como Will e Ariel Durant são firmes em creditar o longo atraso da Índia ao hinduísmo, que levou o povo a buscar seus triunfos nos mitos e na imaginação:

  • ensinava a permanente servidão ao sacerdócio (brâmanes) e ao sistema de castas;
  • criou deuses desocupados da moral;
  • manteve por séculos a brutalidade de costumes, como o suttee (sacrifício humano);
  • pintou a vida como um mal;
  • destruiu a coragem de viver de seus devotos;
  • dividiu o povo em compartimentos estanques;
  • negou qualquer tipo de aspiração ao progresso pelas classes pobres;
  • não aceitavam que todos pudessem crescer espiritual e economicamente;
  • induziu à aceitação sem questionamento;
  • transformou todos os fenômenos terrenos em ilusões;
  • destruiu a distinção entre liberdade e escravidão, entre bem e mal, entre corrupção e progresso;
  • degenerou na idolatria e no ritualismo convencional em que a forma é considerada como tudo e a substância como nada.

Atenção:
Na Índia, dezenas de mulheres são mortas todos os anos, devido ao receio da população de que elas sejam bruxas (mulheres suspeitas de exercerem a arte da feitiçaria). Situação que é mais grave nas zonas rurais, onde o sistema escolar ainda não é eficaz.

Nota: Imagem copiada de http://felipearguello.blogspot.com.br

Fontes de pesquisa:
Um lugar para todos/ Thrity Umrigar
O sári vermelho/ Javier Moro

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