Autoria de Luiz Cruz
O quanto em toda vereda em que se baixava, a gente saudava o buritizal e se bebia estável. Assim que a matalotagem desmereceu em acabar, mesmo fome não curtimos, por um bem: se caçou boi. A mais, ainda tinha araticum maduro no cerrado. (João Guimarães Rosa)
A Serra de São José tem muitos atrativos. Além da paisagem, das cachoeiras e da rica biodiversidade, encontram-se alguns frutos típicos e um deles é o marolo (Annona crassiflora). É uma fruta da família Annonaceae, a mesma da fruta-do-conde. É conhecida também como araticum, bruto e cabeça-de-nego. Ela é composta por três ecossistemas: Mata Atlântica, Campo Rupestre e Cerrado.
O Cerrado sofreu forte impacto devido às atividades agrícolas, ficando poucas manchas de matas junto ao sopé da serra. Embora reduzidas, essas áreas tornaram-se da maior importância para a proteção da biodiversidade. Uma das espécies encontradas nas matas do Cerrado da serra é o marolo, uma árvore de porte médio, variando de 4 a 8 metros de altura, com folhas grossas, troncos retorcidos e bastante resistentes aos incêndios, que ocorrem no ecossistema. Ela consegue desenvolver em áreas de baixa umidade e tem crescimento muito lento. Suas flores são verdes-amarelado, solitárias e carnosas, ocorrendo entre os meses de outubro e novembro. Os frutos em bagas são encontrados entre fevereiro e abril. Podem pesar até 2 kg e, quando maduros, caem sobre o solo. Têm sabor adocicado e perfume bem característico. Possuem elevados teores de açúcares, proteínas, cálcio, ferro, fósforo, vitaminas C, A, B1, B2 e fibras. As sementes são relativamente grandes, espessas e rígidas, para germinar precisam de longo período de dormência. Seus principais dispersores são os animais que se alimentam dos frutos. Infelizmente, devido ao desmatamento, a espécie está cada vez mais reduzida às pequenas manchas de matas.
A variedade dessa espécie é grande, cerca de 25, uma delas é o Marolo de Moita (Annona dioica), que foi descrita pelo viajante francês Auguste de Saint-Hilaire. A fruta tem amplo e tradicional uso na culinária mineira. Pode ser consumida in natura, com sua polpa faz-se licores, biscoitos, bolachas, bolos, sorvetes, picolés, geleias, doces, batidas, e ainda se prepara um creme para rechear os “ovos de páscoa”, pois sua combinação com o chocolate é perfeita! Seu sabor está intrinsicamente ligado ao período da Semana Santa, devido à grande oferta da fruta nesse período do ano.
Quem tiver interesse em saborear marolo não precisa sair procurando pelas árvores atrás da Serra de São José, basta chegar até a Praça São Sebastião, no centro de Santa Cruz de Minas, e encontrar com o José Norberto dos Passos. Ele, já idoso, aos seus 81 anos de idade, mas cheio de energia, sobe a serra, colhe os frutos e os vende em seu carrinho, instalado na praça. Norberto conhece todos os pés de marolo da serra e ajuda na preservação, divulgando essa espécie tão significativa para a culinária mineira e para a biodiversidade.
Nota: Fotografias do autor mostrando José Norberto dos Passos e a fruta marolo
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