Arquivo da categoria: Janelas pro Mundo

Artigos excêntricos de diferentes partes do mundo

ÍNDIA – DENÚNCIA FEITA POR UM DALIT

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Babula BHERWA, camponês de 50 anos e membro da delegação de Campanha pelos Direitos Humanos dos Dalits (NCDHR), os intocáveis, durante o Fórum Social Mundial, faz a sua denúncia durante a realização do Encontro.

Levei mais de um mês para vir aqui, mas queria absolutamente estar presente para mostrar ao resto do mundo a realidade dos dalits (intocáveis) neste país. O sistema de castas foi oficialmente abolido, mas ainda somos tratados como sub-humanos.

No meu vilarejo, no Rajastan, não temos o direito de usar o mesmo poço d’água potável, nem de entrar nos templos ou de tocar qualquer coisa que pertença a uma família de casta superior. Até pouco tempo, não tínhamos sequer o direito de tomar banho na mesma lagoa que eles. Até as vacas e os cachorros têm o direito de se lavar nessa lagoa.

Em 2001, decidi protestar contra essa injustiça, já que nossa lagoa tinha secado e não podíamos tomar banho. Então, eu e meu sobrinho pulamos na lagoa das altas castas. Na mesma noite, cinquenta pessoas vieram a nossa casa para nos bater. Felizmente conseguimos impedi-los de entrar. Chamei a polícia, mas fui eu quem levou a bronca. Perguntaram-me por que eu ia contra as tradições. Depois, as altas castas tentaram me fazer pagar uma multa e assinar uma carta de desculpas, mas eu recusei. Tentaram fazer com que eu fosse rejeitado pela comunidade. Ninguém mais queria me emprestar o trator e, no mercado, ninguém queria me vender mais nada. Até as outras famílias de dalits eram ameaçadas se falassem comigo.

Finalmente a NCDHR veio me ajudar e, como minha história foi mediatizada, o governo teve que intervir. Agora, nós temos o direito de nos lavar. As outras discriminações continuam, mas a prova existe de que e possível lutar contra o sistema de castas.

Se todos os dalits se unirem, então poderemos forçar a mudança do sistema. Muitos dentre nós têm medo de represálias se contestarem as discriminações. Espero que nossa presença aqui (no FSM de Bombay)  faça com que o resto do mundo bote pressão sobre o governo indiano, já que as autoridades não fazem nada para nos ajudar.

Nota: Imagem copiada de http://eusr.wordpress.com

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JAPÃO – AS BONECAS KOKESHI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Se a Rússia possui as suas famosas bonecas matrioska ou mamuska, ambicionadas por colecionadores e compradores de suvenires, o Japão possui as suas kokeshi, também cobiçadas por colecionadores e turistas em visita àquele país.

As kokeshi tradicionais, cujo tamanho pode variar de alguns centímetros a mais de um metro de altura,  são feitas à mão, em madeira torneada, geralmente de forma cilíndrica, e pintadas também à mão. Possuem um tronco simples, uma cabeça grande, o rosto pintado com linhas finas, sendo o corpo geralmente decorado com motivos florais. São envernizadas com uma camada de cera e trazem sempre a assinatura do artista. O mais interessante é que uma boneca não tem o rosto igual ao de outra.

Essas bonecas surgiram há cerca de 150 anos, quando as famílias de camponeses, no norte de Honshu, a maior ilha do Japão, que antigamente tinha o nome de Hondô, aproveitavam as longas noites de inverno para criá-las. Assim como as matrioska russas, as kokeshi também não possuem braços e nem pernas, mas ao contrário dessas, a cabeça muitas vezes gira. Mas as bonecas não se encaixam umas nas outras, como no caso das primeiras.

Atualmente existem mais de 250 tipos de kokeshi, de acordo com o número de famílias artesãs, que por sua vez são classificadas em 10 tipos principais, de acordo com o lugar de origem: Kijiyama, Nambu, Narugo, Hijiori, Sakunami, Tsuchiyu, Tôgatta, Tsugaru, Jajirô e Zaô. Essas famílias vivem, principalmente, nas montanhas e nos povoados do norte de Honshu.

A origem exata das bonecas kokeshi é desconhecida, mas a imaginação japonesa é fértil na tentativa de explicá-las, tendo criado muitas lendas. Mas podem estar ligadas a um talismã ou a um amuleto, oboko, com a cabeça feita de papel marchê e cabo de madeira leve, colocado na cabeceira das mulheres em trabalho de parto, para que as levasse a parir um menino, em vez de menina. Essas bonecas também são tidas como símbolos sexuais, provavelmente pela forma fálica, embora os artesãos modernos, encontrados hoje nos grandes centros, venham as criando apenas com fim meramente decorativo.

As kokeshi tradicionais deram lugar a outros tipos criativos, depois da Segunda Guerra Mundial. Esses não seguem a tradição, e o artista tem total liberdade criativa no que diz respeito à forma, material, cores e desenhos. Contudo, apesar dos diferentes estilos, todas as bonecas kokeshi são baseadas na filosofia de que “são a harmonização da beleza e da arte com simplicidade”.

Nota: na ilustração do texto, a primeira imagem refere-se às kokeshi tradicionais e a segunda às criativas.

Vejam o artigo:  RÚSSIA – MATRIOSKA OU MAMUSKA

Fontes de pesquisa
O Japão/ Louis Frédéric
ttp://www.asiashop.com.br

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ÍNDIA – OCIDENTALIZAR OU SUCUMBIR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Fora com o antigo purdah!
Retirai-vos o quanto antes das cozinhas.
Largai as panelas nas prateleiras.
Arrancai a venda dos olhos e olhai o mundo novo.
Deixai que vossos maridos, filhos e irmãos cozinhem para vós.
Muito trabalho nos cumpre fazer para tornar a Índia uma nação.
(Artigo de um seguidor de Gandhi, defendendo as mulheres indianas)

Por mais que alguns povos tentem conservar a pureza de sua cultura, Ocidente e Oriente cada vez mais se aproximam. Os abismos, antes insuperáveis, são agora facilmente contornados pelo desenvolvimento tecnológico, com maior ênfase para a internet. Como nos é de conhecimento, o invasor, sempre mais forte, acaba por se fazer assimilado com mais força, embora não se isente de receber lições do invadido. E neste caso, o Ocidente vem se impondo com maior veemência ao Oriente.

No século XIX, a Índia estava reduzida à pobreza, ainda apegada à revolução dos teares, hesitante quanto à industrialização que se processava no mundo chamado “civilizado”.mMas, tal relutância foi enfraquecendo e o país trilhando os caminhos da modernidade econômica. Hoje, compete no mercado externo com o Ocidente. E o faz com a supremacia de quem tem mão de obra barata e abundante. As mulheres lideram em número o trabalho nas indústrias, enquanto cresce a porcentagem de crianças, abaixo dos 14 anos, nos mais diversos serviços.

A Índia dos pobres vê com tristeza que os patrões indianos apenas substituíram os patrões ingleses (antes de o país ser libertado). A exploração aos concidadãos possui um viés bem mais dramático de que aquela imposta pelos europeus. Dói na própria carne. Trata-se de irmão explorado por irmão.

O sistema de casta só pode persistir numa sociedade agrícola, estagnada e inculta. Ele coloca barreiras nos caminhos que levam ao progresso, pois decepa a esperança e o estímulo, que induzem o crescimento de uma nação. Portanto, ao mudar as suas bases econômicas, a sociedade indiana também está afetando as suas instituições sociais e os seus costumes (cultura). A duração extraordinária das castas passa a ser uma mera questão de tempo, após iniciada a revolução tecnológica. Alguns pensaram que isso se daria com a chamada Revolução Industrial.  Mas as castas se mantiveram firmes. Agora já podemos ver o prenúncio de seu desmantelamento, pois tecnologia e superstições jamais conviveram bem.

Hoje, em muitas indústrias indianas, homens e mulheres já trabalham lado a lado, sem levar em conta a discriminação de castas. Os partidos políticos já tratam de angariar simpatia em todos os patamares da pirâmide social indiana. As fábricas ocidentais, principalmente as estadunidenses, estão aportando com ferocidade em solo indiano, em busca de mão de obra barata para os seus produtos. O governo indiano sabe, por sua vez, que o contingente de trabalhadores precisa ser cada vez mais especializado, para segurar tais investimentos no país. Por isso, as escolas começam, ainda que lentamente, a se abrir para todos, indiferentemente de castas. De modo que a abolição de todas as distinções de castas pela Constituição indiana, que até então não conseguiu resultado, passa agora a ser uma esperança consistente. Quem sabe agora nasça uma nova classe de homens, deixando as superstições apenas nos livros da História da Índia, apesar da luta dos brâmanes para manter o “status quo”?

O sistema de castas gerou inúmeros males para o país. Dentre eles, a multiplicação, de geração em geração, do número de párias (intocáveis ou dalits), ameaçando o próprio sistema, pois aos párias juntaram-se os escravizados de guerras ou pelas dívidas, os filhos nascidos da união de brâmanes com sudras (corresponde ao antigo filho ilegítimo no nosso país e que hoje inexiste) e os expulsos da religião hinduísta. E, como a pobreza quando é grande em demasia gera filhos, já que nada tem a ganhar ou perder, esse tem sido o maior legado dos párias para seu país: filhos e mais filhos.

O macho hindu vê-se num dilema, enquanto constata a invasão da tecnologia na Índia. Quer ganhar tudo o que pode, mas sem abrir mãos dos seus “direitos”. O que é impossível. Sempre que ganhamos algo de um lado, perdemos do outro. É a balança que dirá qual lado pesa mais, para que a decisão seja tomada. E pelo que ora vemos, na Índia está pesando o lado da ocidentalização. Se assim for, logo é possível ter:

  • a emancipação da mulher;
  • o aumento da idade no casamento infantil (com rigor);
  • a opção de escolha do companheiro;
  • o fim ao constrangimento e crueldade impostos às viúvas.

Revistas, jornais e internet já discutem as questões diárias das mulheres. O controle de concepção já está sendo incentivado sem restrições. Na maioria das províncias, as mulheres votam e assumem cargos públicos. Cada vez mais elas frequentam as universidades. Assim está a caminhar a Índia, embora muito trabalho ainda tenha que ser feito e muitas mentalidades a serem mudadas.

A Índia continua sendo um país de fortes e intrigantes contrastes. É uma terra do futuro, embora muitas partes dela ainda nem chegaram ao presente. É um país de pessoas incalculavelmente ricas e de pessoas desesperadamente pobres. É um país, onde se trabalha com arados de madeira, mas que também possui bomba atômica. Resta-nos torcer para que este país fantástico em muitos aspectos e tenebroso em outros, passe a respeitar os direitos humanos e se torne uma grande nação.

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ÍNDIA – MULHERES E OS TEMPOS DE KALYUGA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Nas grandes cidades indianas já é visível o avanço das mulheres na corrida por empregos. Mas não nos esqueçamos de que estamos nos referindo às mulheres com bom nível de escolaridade, pertencentes às castas ricas. As outras continuam na obscuridade que traz a ignorância. Acerca das mulheres na Índia, podemos dizer que:

  •   o país possui o maior número de mulheres pobres em todo o mundo;
  •  a imensa maioria das mulheres indianas possui funções ligadas ao trabalho doméstico  e agrícola de baixa remuneração;
  •  ainda hoje, menos da metade das garotas indianas chega à escola secundária (Ensino Médio);
  •  o sati, os crimes cometidos por causa dos dotes, ou a prática de matar mulheres que não podem pagar o dote aguardado pelo noivo, embora considerados ilegais perante as leis do país, ainda ocorrem;
  •  o número de abortos de fetos de meninas em todo o país, vem crescendo, até mesmo nas famílias que possuem uma boa renda;
  •  o projeto que determina que 1/3 das cadeiras legislativas devam ser preenchidas por mulheres, ainda não foi votado (pelo menos até 2008), em nível parlamentar, embora em alguns Estados indianos já venha acontecendo seu cumprimento;- mulheres como Naina Lal Kidwai (diretora executiva do banco europeu HSBC),  Kiran Mazumdar Shaw (presidente e diretora executiva da maior empresa biofarmacêutica do país, a Biocon Ltd.), Indra Nooyi (a quarta executiva mais poderosa do mundo), Kalpana Chawla (primeira mulher nascida na Índia a voar para o espaço, integrante da população do ônibus espacial Columbia que explodiu) e Mira Nair (escritora e produtora de cinema: Salaam Bomhay, Mississippi Masal, Casamento Indiano e Nome de Família) vem derrubando no país, o estereótipo de que as mulheres  “não devem ficar arrastando o sári pelo chão do mercado, mas ficar em casa cuidando da família. Não nos esqueçamos de que tratamos aqui de mulheres indianas de prestígio, criadas em ambientes ricos, tendo, na maioria das vezes, estudado no exterior.

Tempos de Kalyuga corresponde às nossas conhecidas expressões: “fins dos tempos/ tempos ruins/ tempos das trevas/ tempos da destruição/ fim do mundo”. Abaixo um pequeno texto sobre o que acontecerá nos tempos de Kalyuga, segundo a crença hindu, que é bem parecido com o Apocalipse. Observem o grau de preconceito em relação às mulheres e às castas baixas:

Hinduísmo (extratos dos Purânas):

Matam-se os fetos e os heróis.
Os serviçais querem assumir papéis intelectuais, os intelectuais, o dos serviçais.
Os ladrões tornam-se reis e os reis, ladrões.
As mulheres virtuosas são raras.
A promiscuidade propaga-se.
A estabilidade e o equilíbrio das castas e das idades da vida desaparecem.
A terra não produz quase nada em certos lugares e muito em outros.
Os poderosos apropriam-se do bem público e deixam de proteger o povo.
Ninguém viverá mais a duração normal da vida, que é de cem anos.
Os ritos perecerão nas mãos de homens sem virtudes.
Pessoas praticando ritos transviados espalhar-se-ão por toda parte.
Pessoas não qualificadas estudarão os textos sagrados e tornar-se-ão supostos peritos.
Os homens matar-se-ão uns aos outros e matarão também as crianças, as mulheres e as vacas.
Os sábios serão condenados à morte.
Os homens concentrarão os seus interesses na aquisição, mesmo que seja desonesta, da riqueza.
A riqueza substituirá vantajosamente a nobreza de origem, a virtude, o mérito.

Quando os ritos ensinados pelos textos tradicionais e as instituições estabelecidas pela lei estiverem prestes a desaparecer e estiver próximo o termo da idade obscura, uma parte do ser divino existente pela sua própria natureza espiritual segundo o caráter de Brahman, que é o princípio e o fim… descerá sobre a terra…

Sobre a terra, restabelecerá a justiça: e as mentes dos que estiverem vivos no fim da idade obscura despertarão e adquirirão uma transparência cristalina.

Os homens assim transformados sob a influência desta época especial constituirão quase uma semente de seres humanos e darão o nascimento a uma raça que seguirá as leis da idade primordial (krita yuga).

Nota: Imagem copiada de http://www.mylot.com

Fontes de pesquisa:
Microtendências/ Mark J.Penn
Blog Borboletas ao Luar

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ÍNDIA – MINHA CASTA É O MEU DESTINO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Embora a Índia seja um país em franco desenvolvimento, o sistema de castas é desolador, pois a mentalidade da maioria dos indianos ainda é muito atrasada, baseada nos preceitos do hinduísmo. Lá, o que importa é a origem de cada pessoa. O que ela fará depois pouco importa. Não há incentivo à mudança de vida. É a aceitação e submissão total à crença. Trabalho e riqueza não são parâmetros suficientes para que o indivíduo melhore de vida. Nesse país, o chamado regime de castas usa critérios de natureza religiosa e hereditária, para formar seus grupos sociais.

Estudos comprovam que a separação em castas deveu-se, por volta de 600 a.C., à cor da pele (escura) da população invadida, transformada em escravos pelos invasores de pele branca. Recebendo, a seguir, o apoio oficial da religião hinduísta. As quatro castas mais importantes originaram-se da estrutura do corpo de Brahma (deus supremo da religião hindu), segundo a visão hinduísta. Hoje, existem mais de 3.000 sub-castas não oficiais, e que não param de multiplicar.

As principais castas são:

  •  Brahmin (brâmanes – (a boca de Brahma) compreende os sacerdotes, filósofos e  professores;
  • Kshatriya (xátrias – (os braços de Brahma) – formada pelos militares e governantes;
  • Vaishya (vaixias – (o estômago de Brahma) – composta pelos comerciantes, pastores e agricultores;
  •  Shudra (sudras – (os pés de Brahma) – formada pelos artesãos, operários e camponeses (trabalhadores braçais). Até há pouco tempo, nenhum membro desta casta tinha permissão para conhecer os ensinamentos hindus.
  • À margem dessa estrutura social ficam os dalits (párias, sem casta, ou intocáveis). Para a cultura hinduísta (constituída por mais de 80% dos indianos), eles não pertencem a nenhuma das castas. São apenas a poeira que jaz abaixo dos pés da suprema divindade, Brahm . A eles são entregues os trabalhos mais degradantes e mal pagos.

Minha casta é meu destino! Para os indianos que vivem no topo da hierarquia, tal refrão é muito desejável. No entanto, quando se está na faixa mais baixa da sociedade de castas, é preciso lutar muito para conseguir ser tratado dignamente e ter os direitos respeitados no dia a dia.  E olhem que os dalits não entram aqui, pois não fazem parte de nenhuma das castas. Nem se discute o destino deles. Eles são originários das grandes migrações etíopes e egípcias para o Vale do Indo, há milhares de anos atrás. Sendo depois vitimados pela chamada Grande Invasão Ariana (dos brancos) em 1.500 a.C., quando foi criado o sistema de castas no país (lembrem-se de que os dalits não pertencem a esta divisão), tomando por base a cor da pele, mas revestido hipocritamente de religiosidade, para serem espezinhados pelas castas, esmagados pela sociedade indiana. Embora os dalits tenham cabelos lisos e traços finos, possuem a pele negra. Alguns historiadores dizem que a maior população negra do mundo encontra-se na Índia. O preconceito contra a cor negra é muito grande naquele país.

O projeto Genoma Humano (análise do DNA na composição dos seres humanos) tem produzido evidências científicas, indicando que a origem genética das castas superiores na Índia é mais europeia do que asiática. Ou seja, a Europa tem a sua responsabilidade nessa “mancha de vergonha”, como dizia Gandhi.

Os dalits são muito mais discriminados na Índia e no Nepal do que o negro em qualquer outra parte do planeta. Sendo levados à condição de animais maltratados, e vivem mendigando pelas ruas. Poucas pessoas no planeta têm experimentado um nível de abuso e pobreza, como os milhões de dalits ou “intocáveis” da Índia. Eles têm vivido por 3.000 anos num ciclo de segregação e desespero, sem possibilidades de mudarem de vida, pois devem morrer como nasceram. Aceitam o sofrimento como parte da existência da qual não se podem libertar nesta vida, como reza o hinduísmo, sob pena de voltar como dalits na outra encarnação. Tudo lhes é negado: água potável, empregos decentes, o direito à terra, à casa própria, etc. Para eles, dor e sofrimento são parte do merecimento.

Notícias comprovam que no Estado de Haryana jovens dalits foram linchados por uma multidão, por terem tirado a pele de uma vaca morta, da qual eles tinham legal direito para faê-lo, sem que a polícia interferisse. Embora leis contra a descriminação de castas tenham sido aprovadas, a discriminação continua e pouco é feito para processar os acusados.

Crimes contra os dalits:

  • todo dia, 3 mulheres são estupradas;
  • suas crianças são frequentemente forçadas a se sentarem de costas nas salas de aula, ou ficarem do lado de fora;
  • a cada hora, duas casas são queimadas e duas pessoas assaltadas;
  • a grande maioria das pessoas das castas altas não permite que um dalit prepare-lhe a comida ou fique perto, temendo ficar contagiada pela imundície;
  • são impedidos de entrar nos templos e outros lugares religiosos;
  • 66% são analfabetos e a taxa de mortalidade infantil é de 10%;
  • a maioria deles é proibida de beber da mesma água que os de castas mais altas bebem.

Líderes como Ram Raj (líder dalit) têm estado à frente de movimentos, exigindo justiça e libertação da escravidão das castas e da perseguição aos dalits. Uma longa “Carta dos Direitos Humanos dos Dalits” foi redigida, apelando para a Comunidade Internacional e para a ONU, na esperança de que tais órgãos viessem a pressionar o governo indiano. Mas pouco foi feito até agora, pois as garras da cultura têm se revelado mais forte do que a Constituição indiana.

Os líderes cristãos no mundo inteiro comprometeram-se a ajudar esse movimento em massa, apesar dos riscos envolvidos. São  milhões de dalits escravizados e sem esperança, debaixo do jugo do hinduísmo. O casal Rakesh Singh e Chanda Nigam, que batalha contra esse tipo de injustiça, criou uma ONG chamada Safar, para defender os direitos das minorias. Tem denunciado para o mundo todo, as atrocidades praticadas contra as castas inferiores e contra os dalits.

Nota: Imagem copiada de http://lusophia.wordpress.com/page/6/

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ÍNDIA – MANGLIK, A MALDIÇÃO DO AMOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A palavra “superstição” vem do latim “superstitione”. Significa excessivo receio dos deuses. E o Aurélio define-o como “sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes; crendice.”. A Índia é um país extremamente supersticioso em função do grande número de divindades cultuadas. Na lida com o “amor” as coisas ficam ainda mais complexas. Existem naquele país homens e mulheres empesteados pela “maldição do amor”, assim acham eles.

Na tradição indiana o homem que se casa com uma manglik (ou vice-versa), pode ter a vida desgraçada. Acreditam os hindus que a pessoa manglik traz má sorte para a outra parte do casal. Haverá brigas, discórdias, divórcio ou morte (falecimento do esposo ou esposa que não seja manglik). Enfim, o manglik não nasceu para o AMOR. Mas, se os dois membros do casal forem mangliks não haverá problema algum. Atualmente é comum encontrar sites na internet que tratam de casamento de famílias indianas que possuem manglik, para se casar com outro manglik. Quanta superstição!

O mais engraçado é que para tudo as divindades dão um jeito. Não há motivo para desespero. Resta apenas quebrar a maldição. E para quebrá-la, a suposta vítima terá que se casar antes com um objeto inanimado ou animal. Existem milhares de casamentos na Índia, feitos entre humanos e animais ou entre humanos e vegetais, para quebrar a maldição manglik. E isso em pleno século XXI. Dá para crer? A pessoa amaldiçoada deverá se submeter a uma cerimônia chamada de Kumbh Vivah, para poder quebrar a maldição ou dela ficar livre. Trata-se de um casamento com um vegetal, ou com um animal, ou com um ícone do Deus Vishnu. Após o casamento toda a maldição terá acabado, escafedido-se.

As famílias indianas, por prudência, deverão fazer sempre um mapa astral para verificar se o casamento dará certo ou não. Por isso, na Índia é comum verificar o mapa dos noivos antes da cerimônia do Kumb Vivah, para quebrar e se livrar da maldição de ser um manglik. Os pais recebem a confirmação de que o filho ou filha é manglik, como se fosse uma terrível sentença. Em razão disso, muitas mulheres hindus permanecem solteiras pelo resto da vida, pois ninguém as quer como companheiras.

O leitor deve estar se perguntando, como se faz para saber se uma pessoa é manglik, e que diabo significa isso? Em textos anteriores foi dito que tudo na vida do indiano é direcionado pela astrologia. Portanto, são os astros que definem a sorte do indivíduo. E se um homem ou mulher nasce sob a força de Marte, está num mato sem cachorro, segundo a visão indiana, pois é afetado por suas “forças malignas”, tornando-se, portanto, um manglik. Tal descoberta é feita com base no mapa de nascimento da pessoa, com base na hora, data, ano e a posição do local de nascimento na Terra, relativa à longitude e latitude. Dá para crer que uma coisa dessa exista?

Nota: na foto, o homem está se casando com uma cadela, para se livrar da maldição de ser manglik. Imagem copiada de http://www.discovery-of-life.com/2012/01/manglik

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